Ministra quer incluir proteção ambiental em contratos com bancos de desenvolvimento

Agência Brasil – ABr – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou em entrevista exclusiva à Radiobras que proporá aos bancos de desenvolvimento ligados ao governo a inclusão de cláusulas que contemplem a preservação do meio ambiente nos contratos de financiamento do setor produtivo.

A idéia, segundo a ministra, é promover o desenvolvimento econômico com responsabilidade ambiental. “Precisamos fazer com que as agência de desenvolvimento do país incorporem nos seus investimentos, sobretudo no setor produtivo, critérios de sustentabilidade”, defendeu. Marina sugeriu empresas como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco da Amazônia (Basa) e até mesmo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal contemplem políticas ecológicas nos seus empréstimos.

Marina Silva também informou que irá trabalhar pela aprovação, no Congresso Nacional, do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia e para que parte dos recursos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) seja destinada à sua pasta. “Os recursos da Cide precisam ser colocados para os ministérios que dele participam”, disse. Ela afirmou que uma importante vitória alcançada já nesse início de governo foi o fato de o ministério do Meio Ambiente ter conseguido um assento no Conselho da Petrobrás. “É uma de nossas metas criar uma argamassa da política de governo envolvendo a política ambiental em todos os setores”, disse, citando a participação, inclusive dos ministérios da área econômica, como Fazenda e Planejamento.

A ministra recém-empossada disse ainda que deseja facilitar o acesso das pequenas comunidades ao Fundo Nacional de Meio Ambiente. “Pretendemos redimensionar o Fundo, sobretudo no sentido de fazer uma simplificação, sem perder os critérios para evitar qualquer tipo de desvio das suas finalidades, para que as populações de comunidades carentes possam ter acesso ao fundo”, justificou.

Edla Lula

Agricultura irrigada X Saúde ambiental: existe um conflito?

Vânia da Silva Nunes (*)

Nos debates atuais sobre o gerenciamento dos recursos hídricos do planeta, chegou-se a conclusão de que sem a irrigação não seremos capazes de produzir toda a alimentação que a população mundial crescente demanda. Mas quanto da água disponível do planeta deverá ser alocada para a irrigação e quanto deverá ser mantida para o funcionamento saudável do ambiente? Este foi o tema do diálogo “Uso da Água na Produção de Alimentos e Segurança Ambiental” que se iniciou na República Democrática do Sri Lanka no final do ano de 2000 sobre como compatibilizar, no século XXI, a competição dos vários usos da água. O que se pretende, a longo prazo, é otimizar o uso da água na produção sustentável dos alimentos e ao mesmo tempo melhorar a qualidade e manter a biodiversidade dos recursos naturais.

Esta discussão é de extrema importância, pois sabe-se que a agricultura irrigada é a que mais desvia água da natureza para as necessidades humanas de produção de alimentos. Isto é verdade, principalmente em países da Ásia e do Saara Africano onde entre 80% e 90% da água doce é utilizada na produção de alimentos.

Atualmente, a irrigação é utilizada em 17% das áreas aráveis do planeta, sendo responsável por 40% da produção mundial de alimentos. A irrigação usa aproximadamente 70% das águas retiradas do sistema global de rios, lagos e mananciais subterrâneos. Os outros 30% são utilizados em outros usos, tais como o industrial e municipal, geração de energia, recreação, etc. Estimativas indicam que até o ano 2025, a irrigação deverá expandir entre 20 a 30% para atender a crescente demanda da população. Assumindo que o padrão de alimentação irá melhorar em vários países, cogita-se que haverá um aumento de 40% na quantidade de grãos que a população mundial necessitará.

Atentos a esta necessidade e ao uso racional da água, os setores de irrigação já contam com tecnologia para atender à nova realidade e divulgam amplamente o conceito “maior produção por gota de água”. Ambientalistas, por outro lado, lembram que o uso racional da água na irrigação, não é só uma questão de utilizar a melhor tecnologia disponível, mas também de ter preocupações ambientais e obter o aval das comunidades locais. Especial atenção deve ser dada também ao uso de técnicas de conservação de solo e a minimização do uso de biocidas na agricultura irrigada, pois essa atividade poderá resultar em um aumento da contaminação não só das águas superficiais como também das águas subterrâneas.

No Brasil a preocupação quanto ao gerenciamento dos recursos hídricos se iniciou em 1934 com o Código de Águas, mas o mesmo só foi regulamentado e plenamente aplicado quanto ao aproveitamento dos potenciais hidráulicos para a geração de energia elétrica. Com a escassez de água mundial, a questão voltou à tona havendo a promulgação da Lei nº 9.433 de janeiro de 1997, instituindo a Política Nacional de Recursos Hídricos e criando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Apesar do Brasil ser detentor de aproximadamente 15% da águas doces do planeta, a maior parte dessa água (70%) está na bacia Amazônica, onde só 7% da população vive. Assim sendo, a maior parte da população nacional tem que dividir os 30% restantes. Outro dado importante é que metade da água consumida no Brasil ocorre na agricultura irrigada, sendo que o país tem só cerca de 5% de área cultivada irrigada.

Devido a isto as águas na agricultura já foram contempladas pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e a Amazônia Legal (MMA) com o desenvolvimento do Sistema de Suporte à Decisão Agrícola (Sisda), que contou também com a colaboração da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Este sistema auxilia o usuário na tomada de decisão sobre o manejo adequado da água na agricultura e tem trazido resultados extremamente positivos no seu uso racional.

Esta iniciativa demonstra que se formos capazes de fazer uma boa administração dos recursos hídricos e manter a sua qualidade, quem sabe num futuro não tão distante poderemos ser exportadores de água? Afinal a água será o ouro deste milênio.

(*) Vânia da Silva Nunes é pesquisadora da Embrapa Pantanal
– www.cpap.embrapa.br – (vania@cpap.embrapa.br)

Ibama e Japão assinam termo de cooperação para conservação do Cerrado

Agência Brasil – ABr – Desenvolver metodologia e técnicas de gestão biorregional e manejo de ecossitemas para o corredor ecológico, capacitar técnicos, aumentar a conscientização da população, monitorar empreendimentos impactantes e fomentar atividades de desenvolvimento e pesquisa, são os principais objetivos do Projeto de Cooperação Técnica para a Conservação do Ecossistema do Cerrado, firmado pelo Ibama nesta semana com a Agência Internacional de Cooperação do Japão (Jica).

Como área contemplada para receber a ação do Projeto, foi selecionado o corredor ecológico – área geográfica terrestre e/ou aquática extensa, definida pelas suas características e identidades biológicas, ecológicas e culturais, cuja gestão biorregional visa conservar a biodiversidade, ordenar o uso sustentável dos recursos naturais e promover a distribuição eqüitativa das riquezas – que envolve a Serra dos Pirineus (GO)/Parque Nacional de Brasília – Estação Ecológica de Águas Emendadas (DF)/Vale do Rio Paranã (GO/TO).

Entre as atividades a serem desenvolvidas estão o Ordenamento Territorial, a partir do zoneamento ambiental feito através de trabalhos com geoprocessamento e checagens de campo, que gerarão mapas de uso da terra, contendo recomendações das atividades mais adequadas para cada área. Serão também identificadas, dentre as áreas remanescentes, as mais importantes para conservação e para a eficácia do corredor ecológico. As atividades de uso da terra e dos recursos naturais serão fiscalizadas e monitoradas através dos escritórios do Ibama na região e o controle ambiental será feito através do acompanhamento dos empreendimentos, especialmente aqueles que causam grande impacto ambiental.

No campo da biodiversidade e do manejo de recursos naturais, através de pesquisas de campo e laboratório, nas áreas de geoprocessamento, ecologia de comunidades e populações, genética de populações, conservação de germoplasma, recuperação de áreas degradadas e levantamentos sócio-econômicos, serão gerados dados que contribuirão para indicar as áreas e espécies prioritárias para a conservação.

Quanto ao setor de Educação, serão identificados os principais problemas educacionais da região, onde a taxa de analfabetismo é alta, dado o fato de que a região do Corredor Ecológico escolhido, Vale do Paranã, se encontra entre as áreas mais pobres do País. As atividades educativas serão implementadas através de cursos de educação ambiental nas escolas, com o apoio das agências estaduais e municipais de educação e da sociedade civil organizada.

A implementação destas ações deverá criar condições para que os recursos naturais sejam utilizados de forma sustentável, assegurando com isso, a manutenção da biodiversidade da região e melhorando a qualidade de vida da população regional. A cooperação técnica terá a duração de três anos a partir de 1º de fevereiro. De acordo com o documento assinado, o Governo do Japão deverá enviar peritos para atuação no projeto, além de fornecer maquinaria, equipamentos e materiais necessários para a implementação do mesmo. Ficará, ainda, encarregado do treinamento, no Japão, de funcionários brasileiros vinculados ao Projeto.

Novo presidente do Ibama

IBAMA – O médico, pesquisador, e professor por quase três décadas no Amazonas, Marcus Luiz Barroso Barros, foi anunciado oficialmente presidente do IBAMA nessa quinta (02.01.03) pela ministra do Meio Ambiente, senadora Marina Silva. Ele dirige o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) há nove meses, onde trabalha como concursado desde 1975. Especialista em Leishmaniose – doença provocada por ratos, descobriu a pentamidina – droga que cura os portadores da doença com apenas cinco injeções, contra a média de uma centena de ampolas de outros medicamentos injetáveis.

O novo presidente do IBAMA foi reitor da Universidade Federal do Amazonas (Ufa) de 1989 a 1993; instalou e dirigiu o escritório técnico regional da fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do ministério da Saúde, também no Amazonas, sua terra natal. É autor e/ou colaborador de 41 trabalhos científicos. Criou o Museu Amazônico para a preservação da cultura dos povos da Amazônia Ocidental, o Centro de Ciências do Ambiente, e o Centro de Artes Hannehman Bacelar. Dos seis concursos públicos que prestou, em cinco foi o primeiro colocado, inclusive para a direção do Inpa, em março/99.

Pronunciamento da Ministra do Meio Ambiente

IBAMA – Texto referido pela ministra Marina Silva em seu discurso de posse no auditório do Ibama. Esse texto, chamado por ela de “discurso oficial”, não foi efetivamente lido, o que foi justificado pela Ministra pela sua dificuldade de visão para leitura.

Lula disse no Parlatório, após a posse, que ele é resultado não de uma eleição, mas de uma história. É o que sinto em relação a minha trajetória pessoal e coletiva. Ela é resultado de valores cultivados nas dificuldades e na união da vida familiar e da influência de três fontes de inspiração: minha fé cristã, meu pai, o seringueiro Pedro Agostinho; e Chico Mendes. E é resultado, particularmente, de minha participação num movimento social que contribuiu decisivamente para a criação do conceito “socioambiental”, ao defender a floresta e as pessoas que nela vivem como um único e indissociável objetivo. A geração que implantou o Governo da Floresta, no Acre, é herdeira dessa luta, que procura levar o desenvolvimento sustentável, em todas as suas dimensões, para o coração dos governos e das decisões de Estado.

Participar do governo Lula é uma honra e um desafio de vida. Estar à frente do Ministério do Meio Ambiente neste governo é uma oportunidade única de honrar nossa história e especialmente os companheiros que no Acre e em vários locais do Brasil deram suas vidas em nome da causa de um mundo com mais justiça social, qualidade de vida para todos e respeito ao meio ambiente. Podemos agora levar à prática, na dimensão do poder executivo federal, o aprendizado resultante de tantas e tão convergentes militâncias.

No meu caso, trago o aprendizado das comunidades eclesiais de base, do movimento social, da participação sindical e dos mandatos públicos até aqui exercidos. Faz parte desse aprendizado a convicção de que o poder tem que fazer um sentido público e coletivo, ou seja, de que ele é tão mais legítimo quanto mais diluído for. É no compartilhar que o poder se fortalece. Ao contrário, quanto mais concentrado, mais se esteriliza, distanciando-se de valores humanos, sociais e espirituais e passando a ser um objetivo em si.

Se o governante não quer para si a doença degenerativa da ambição pelo poder em si, deve ser precavido, em benefício tanto de sua própria essência humana e do sentido maior de sua vida, quanto em nome da sociedade, por um imperativo ético.

Essa precaução implica criar estruturas de formulação, avaliação e decisão mais horizontalizadas, capazes de gerar eficiência menos pelo brilhantismo das individualidades e mais pela operação das competências pessoais num ambiente de respeito pela diversidade de opiniões, culturas e idéias, com dedicação e criatividade. Daí surgirá a competência coletiva de que o País precisa para mudar.

Esse será o princípio geral de minha gestão à frente do Ministério. Não é fácil colocá-lo em prática. Essa deve ser necessariamente uma tarefa consciente e ética que cada membro deste Ministário deve se colocar, antes mesmo de encará-la como tarefa técnica e profissional. Para isso, vamos nos conceder mutuamente um voto de confiança, de modo a fazermos nossa parte na grande aliança pelo Brasil, que é o governo Lula.

O Ministério do Meio Ambiente, a depender de todos nós, pode ser o símbolo da grande mudança estratégica sinalizada pelo presidente da República. Internalizar o Meio Ambiente no coração das decisões de governo é um grande e emblemático desafio que vai do presidente Lula ao conjunto dos ministros e outras autoridades de governo, mas, em primeiro lugar, deve motivar-nos, a nós que aqui estamos e à ampla e diversificada comunidade que há décadas tem levado adiante, em meio a enormes dificuldades, a causa socioambientalista.

É nosso papel induzir, oferecer soluções, despertar consciências, procurar e estimular parcerias, demandar participação em decisões nas quais o componente ambiental deva ser considerado. Devemos mostrar, enfim, a viabilidade de se chegar a uma realidade na qual, ao se falar em políticas públicas, estaremos de fato falando em um projeto de desenvolvimento integrado, nacional, voltado para um futuro melhor para todos, sem descuidar das emergências do presente.

Temos uma alentada agenda de trabalho pela frente com os demais ministérios e devo dizer que já começamos os primeiros contatos para implementá-la com os ministros de Minas e Energia, da Agricultura, da Integração Nacional, da Secretaria de Pesca. A partir de agora, essa agenda será parte importante do nosso cotidiano e temos que nos preparar política e tecnicamente para cumprí-la com humildade, competência e espírito de governo.

Faz parte destacada dessa agenda o trabalho integrado no semi-árido, para o qual a equipe de transição na área ambiental propôs o Sede Zero, como a outra face do Programa Fome Zero anunciado pelo presidente Lula. É no semi-árido que se dá, mais do que em qualquer outra região do País, o encontro da pobreza com a necessidade de uma política ambiental transversal.

O Sede Zero quer, por meio de um conjunto de intervenções integradas de governo, assegurar a cada brasileiro o direito a uma quantidade mínima de água de boa qualidade diária, conforme prevê a Agenda 21. Desse esforço farão parte ações de recuperação das nascentes, das matas ciliares, o combate ao desperdício, medidas de baixo custo para propiciar o acesso à água potável e até a realização de grandes obras de saneamento ambiental.

A ONU proclamou 2003 o Ano Internacional da Água Doce. Em 2004 a Água será o tema da Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, colocando o tema na agenda política da sociedade civil. Estaremos juntos a esses e outros parceiros para enfrentar esse problema, por meio da Secretaria de Recursos Hídricos, da Agência Nacional de Águas e de outros setores do Ministério que possam contribuir.

Com o novo Ministério das Cidades temos também uma parceria evidente e importante para o controle da emissão de resíduos, da ocupação desordenada do espaço, para a expansão para áreas de pobreza e degradação ambiental das tecnologias de controle de emissão hoje usadas basicamente nas áreas mais organizadas e bem aquinhoadas das cidades. É na meio urbano que temos a missão de governo, junto com a sociedade organizada, de fazer justiça ambiental.

Em nossa seara temos a tarefa histórica de processar adequadamente tanto nossa própria necessidade de ação transversal entre os vários organismos e setores do Ministério, quanto a operação do conceito de socioambientalismo. A prioridade expressa por Lula de combate à pobreza nos está profundamente colocada, pois, como sabemos, a tragédia ambiental é, muitas vezes, também a tragédia humana e social.

Convoco a todos para encararmos de maneira enfática, forte e decidida, o nosso papel no combate à pobreza. Temos muito a dizer sobre esse assunto e vamos fazê-lo. Para isso já temos um excelente ponto de partida: a Agenda 21. Na sua combinação de elementos condicionantes da ação sustentável, ela deixa claro que é impossível ver a questão ambiental sem ver ao mesmo tempo a pobreza como problema interligado, ambos objetos da mesma luta.

Está na hora de o Brasil assumir papel estratégico no mundo pela posição privilegiada que ocupa em termos de recursos naturais. Sua biodiversidade excepcional testemunha esta condição. E essa nova postura internacional só acontecerá como reflexo de uma postura interna de governo, capaz de ver com outros olhos esse nosso imenso trunfo para o desenvolvimento. Ele pode e deve ser melhor utilizado para balizar nossas relações no contexto global, na busca de alinhamento ético e troca respeitosa entre os que são ricos em recursos naturais e conhecimentos tradicionais associados e os que detêm tecnologia e recuros financeiros.

Nossa orientação básica será a da busca de parcerias, porém, dentro dos termos de uma política ambiental brasileira estratégica. Queremos apoio financeiro, sim, mas necessitamos também do que se poderia chamar de justiça tecnológica, ou seja, fornecimento de tecnologia em bases justas, com reconhecimento da capacidade do Brasil de também contribuir tecnologicamente para o mundo, tanto pelo trabalho de seus centros de pesquisa quanto pelo conhecimento acumulado por suas populações tradicionais.

Quero reafirmar, ainda, que o papel estratégico do Ministério será exercido em três eixos principais: o da transversalidade interna e externa na construção de políticas públicas de governo; o da participação e controle social, para garantir os benefícios do poder compartilhado e diluído; e o da sustentabilidade, materializado no objetivo de fazer crescer, em nossas ações, a educação para o “como fazer”, reduzindo a necessidade da função punitiva ou proibitiva, embora ela deva ser fortalecida e melhorada – inclusive tecnologicamente – para que, onde se aplique, seja aplicada de maneira conseqüente.

O Ministério do Meio Ambiente deverá ser indutor de boas experiências que aliem competência social e ambiental e, mais do que isso, procurar fazer com que elas se transformem em políticas públicas de desenvolvimento. Dará a elas, portanto, a escala e a integração imprescindíveis para atingir esse objetivo. Também atuará na promoção de pesquisa em manejo; proporá novas normas jurídicas e procurará aperfeiçoar as existentes para atingir o objetivo de internalizar definitivamente a variável ambienta nas decisões tanto do setor público quanto do setor privado.

O IBAMA também pode e deve ampliar a sua contribuição para o desenvolvimento sustentável ao lado de sua inalienável função controladora, fiscalizadora e punitiva. Comando e controle também podem ser entendidos como indução de procedimentos sustentáveis. Todos os que quiserem agir dentro da legalidade terão apoio e estímulo para capacitação e adequação de suas atividades. Com a ilegalidade renitente e delinqüente, será usado todo o rigor.

O Brasil tem um encontro com a floresta. Somos os maiores consumidores e produtores da floresta tropical. 84% da produção comercial de madeira é consumida no Sul e no Sudeste do país. São Paulo é o sexto maior consumidor de madeira do mundo. Assim, não podemos desconsiderar essa realidade e apenas ficar na defensiva frente às iniciativas dos grupos legitimamente interessados. É preciso acolhê-las e exercer, por meio da negociação, as prerrogativas e os deveres de Estado de fazer a lógica econômica integrar-se à lógica maior do interesse público. É preciso lembrar que dentro do conceito de interesse público estão abrigados interesses materiais desde que eles estejam imbuídos da defesa de valores de justiça, ética, eqüidade, bem como dos valores sociais, econômicos e ambientais.

Essa questão, especialmente relevante na Amazônia, me leva a fazer uma convocação a todos os segmentos sociais da região, sobretudo os setores produtivos. Hoje, muitos de seus representantes sinalizam para uma disposição construtiva, legal e sustentável. Vamos juntar ampliar e consolidar essa disposição. A Amazônia é um dos espaços onde teremos que fortalecer especialmente os laços da ação transversal do governo Lula, em diálogo sobretudo com os agentes que financiam o desenvolvimento.

Não procuraremos reinventar a roda na Amazônia, mas talvez seja o caso de produzi-la de maneira sustentável… Para isso temos muito o que nos inspirar nas múltiplas ações em curso de entidades da sociedade civil e em outras que mostram a eficiência da parceria sociedade-governos locais. Vamos, se Deus quiser, transformar o Arco do Desmatamento no Arco do Desenvolvimento Sustentável.

É preciso afastar de nosso horizonte a idéia equivocada de que a defesa de nossos ecossistemas seja algo incompatível com o desenvolvimento. A Mata Atlântica é um exemplo poderoso de que a degradação ambiental é contra o desenvolvimento. Destruídos 93% do bioma, em toda a vasta área por ele abrangido, subsistem a miséria, as desigualdades gritantes, a degradação urbana, mostrando a todo momento que, na verdade, proteção ambiental e uso correto dos recursos naturais é que são os aliados do desenvolvimento. Mostrando também que quando se fala em desenvolvimento é preciso, sim, identifica-lo: é aquele que vale a pena, que promove a qualidade de vida para todos, que dignifica a vida humana.

A Mata Atlântica remete-nos a uma questão de grande magnitude para o País. A nosso privilegiado território marítimo, que não pode mais continuar a ser visto principalmente como solução para lançamento de esgoto. As reservas extrativistas marinhas, em fase de afirmação e crescimento, apontam também para um veio de sustentabilidade promissor.

Da mesma forma há lições a serem aprendidas com o Cerrado – bioma cuja inclusão na Constituição como patrimônio nacional, juntamente com a caatinga, deverá ser objeto de esforço do Ministério. Trata-se de um bioma de importância estratégica para os objetivos do Ministério, graças a sua expressiva economia extrativista sustentável invisível. É um exemplo da viabilidade de compatibilizar conservação e geração de emprego e renda. Ao mesmo tempo é fonte de preocupação, justamente por ser visto como o território quase natural da expansão tradicional da grande economia e pouco como o depositário de uma excepcional biodiversidade e de potencialidade de desenvolver-se a partir dela.

Sempre digo que, se tivermos o propósito ético de nos desenvolvermos com justiça social e ambiental, haveremos de achar as respostas técnicas. Daí ser fundamental que este propósito se construa nos diferentes diálogos que constituirão o grande pacto ambiental da Nação Brasileira.

A I Conferência Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ser realizada ainda em 2003, será instrumento de articulação, sistematização e consolidação da participação social e momento para se estabelecer as grande3s diretrizes de políticas ambientais do governo que ora se inicia.

Para realizar esse propósito, temos como base de sustentação todos os funcionários do Ministério do Meio Ambiente, no âmbito de suas respectivas Secretarias e Programas; do Ibama; da ANA; e do Jardim Botânico, com a imprescindível participação da sociedade brasileira.

Não podemos assumir este Ministério sem registrar um forte reconhecimento ao trabalho da sociedade na área ambiental – das redes de organizações não-governamentais (ONGs), de empresários responsáveis, de comunidades. Proponho que esta parceria continue, se amplie e se organize para que Estado e sociedade, cada um dentro de seus papéis e responsabilidades específicos possam fazer avançar a meta do desenvolvimento sustentável.

Com o mesmo objetivo, estaremos em permanente diálogo com parceiros indispensáveis: os estados, os municípios e o Congresso Nacional, onde certamente teremos uma pauta de trabalho intensiva.

Quero agradecer e registrar a parceria que sempre tivemos, em meu mandato no Senado, com a comunidade do Ministério do Meio Ambiente. Ao mesmo tempo, como ministra – não mais como senadora – cumprimento todos os funcionários do Ministério, do IBAMA, da ANA, do Jardim Botânico, na pessoa do ministro José Carlos Carvalho. Quero lhes assegurar que daremos continuidade aos trabalhos de reconhecido mérito aqui feitos nas gestões do ministro José Sarney Filho e do ministro José Carlos Carvalho.

Por último, o presidente Lula disse que era o homem mais otimista do mundo. Como ele, contrariando as circunstâncias difíceis da vida, também aprendi a ser otimista. Não acredito na preponderância do erro em face da legítima força do acerto. Não acho que deva,os nos render à lógica do possível. O homem feito à imagem e semelhança de Deus deve sempre ter o impossível em seu horizonte.

Talvez o que tenhamos que aprender a fazer seja algo que tenho chamado de “aeróbica da musculatura do acerto”, fortalecendo-a como a melhor forma de combater a “musculatura do erro”. Oferecendo para este último o melhor dos ensinamentos do amor, que é o ato de oferecer a outra face. Para a face da prepotência, a humildade de aceitar-se também como falho. Para a face do descaso, o compromisso que cria e gera alianças. Para a face da vaidade, da voracidade pelo poder e para a autoria das coisas, o compartilhar autorias, realizações, reconhecimentos. E só assim vamos poder fazer o que Lula tem-nos pedido como funcionários, dirigentes e ministros: fazer parte do grande mutirão para mudar o Brasil.

Marina Silva é empossada como ministra do Meio Ambiente

Agência Brasil – ABr – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acaba de receber o cargo de seu antecessor, José Carlos Carvalho, na sede do Ibama. Ao discursar, a ministra ressaltou que as suas metas são, em primeiro lugar, criar uma política setorial de meio ambiente em todo o governo federal; criar as bases instrumentos econômicos para o desenvolvimento sustentável e ampliar cada vez mais a parceria com a sociedade, buscando o controle e a responsabilidade social.

“É um momento de muita emoção. Devido às minhas dificuldades visuais, não vou ler o texto preparado e, sim, falar de coração. A oralidade é às vezes um pouco afoita, já no texto você pensa. Portando, quero agradecer a Deus e ao povo brasileiro por estar vivendo este momento. Não sou resultado de uma eleição, sou resultado de uma história de vida, de dificuldades enfrentadas nos seringais do Acre, que começou em 1958”, destacou, observando que três pontos são fundamentais na sua vida: a fé cristã; os seu pai seringueiro e Chico Mendes.

Marina Silva diz que seu grande desafio será a parceria entre organismos ligados ao meio ambiente

Agência Brasil – ABr – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou hoje ao receber o cargo do seu antecessor, José Carlos Carvalho, que o grande desafio de sua gestão será a parceria entre os organismos ligados ao meio ambiente. Segundo ela, é preciso primeiro implementar uma política transversal na “própria Casa”. “Se errarmos, teremos de ter humildade para, novamente nos colocarmos no caminho certo, e fazermos uma política de país. É preciso dar a outra face, a da diminuição do poder, de dividir as realizações”, enfatizou Marina Silva.

Professora nascida em um seringal, a ministra disse que deseja que o novo governo sempre ofereça a outra face para começar a governar de forma correta e que ele também seja um governo de militantes, onde todos ofereçam um delta a mais. Marina Silva tem 44 anos e quatro filhos.

Ao discursar, a ministra ressaltou que as suas metas são, em primeiro lugar, criar uma política setorial de meio ambiente em todo o governo federal; criar as bases de instrumentos econômicos para o desenvolvimento sustentável e ampliar cada vez mais a parceria com a sociedade, buscando o controle e a responsabilidade social. Tudo isso, segundo ela, no âmbito de uma política social que possa corresponder às necessidades de combate à fome, criando alternativas, inclusive, que possam ser sustentáveis, tanto para os grandes investimentos, como para as pequenas comunidades.

“É um momento de muita emoção. Devido às minhas dificuldades visuais, não vou ler o texto preparado e, sim, falar de coração. A oralidade é às vezes um pouco afoita, já no texto você pensa. Portanto, quero agradecer a Deus e ao povo brasileiro por estar vivendo este momento. Não sou resultado de uma eleição, sou resultado de uma história de vida, de dificuldades enfrentadas nos seringais do Acre, que começou em 1958”, destacou a ministra, observando que três pontos são fundamentais na sua vida: a fé cristã; o seu pai seringueiro e Chico Mendes.

Nascida em 8 de fevereiro de 1958, no Seringal Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre, com o nome de Maria Osmarina Silva Souza, a Marina do PT foi uma menina analfabeta até os 16 anos. Ela aprendeu a ler no Mobral e em quatro anos estava na faculdade. Ficou órfã de mãe aos 16 anos, trabalhou como doméstica e chegou a sonhar em ser freira.

Formada em História pela Universidade Federal do Acre em 1985, no mesmo ano filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e participou das Comunidades Eclesiais de Base, de movimentos de bairro e do movimento dos seringueiros. Foi secretária nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores (gestão 1995/97); e membro do Conselho Editorial da Revista Esquerda 21; membro titular da Comissão de Assuntos Sociais e da Comissão de Educação do Senado Federal; membro suplente da Comissão de Relações Exteriores e da Comissão de Infra-estrutura do Senado Federal.

Em 1984 fundou a CUT no Acre. Chico Mendes foi o primeiro coordenador da entidade e Marina, a vice-coordenadora. Em 1988, foi a vereadora mais votada em Rio Branco e, em 1990, eleita deputada estadual. Em 1994, foi eleita a mais jovem senadora brasileira, sendo reeleita em 2002 como a mais votada do seu estado.

Marina Silva é casada com Fábio Vaz de Lima, tem três filhas, Shalom, de 21 anos; Moara, de 12, e Mayara, de 10; e um filho, Danilo, de 20 anos. Como senadora, a ministra apresentou 43 projetos no Senado Federal. Entre eles, o projeto da Lei de Acesso à Biodiversidade; o projeto que cria reserva de 2% do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal para os estados que tenham, em seus territórios, Unidades de Conservação federais e terras indígenas demarcadas; Projeto do Orçamento Social; e Projeto da Responsabilidade Social.

Entre as personalidades presentes ao evento estavam o ministro da Educação, Cristovam Buarque; o fotógrafo Sebastião Salgado; o escritor e teólogo, Leonardo Boff; deputados; amigos, companheiros e a família da ministra; embaixadores, funcionários do ministério e de outros órgãos governamentais.

O ministro José Carlos Carvalho, ao transmitir o cargo, enfatizou que “hoje a política ambiental é de vanguarda, moderna, na qual os recursos naturais são as molas mestras das diretrizes ambientais no país. E que a obra que realizamos na administração ambiental é coletiva e solidária”.

A ministra Marina Silva foi muito aplaudida por todos os participantes na chegada e no término da solenidade.

Feliz 2003

Este ano começa de forma especial para os brasileiros. Produto das mudanças ocorrida em 2002, o país começa uma nova fase de esperança e otimismo representadas na imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ano inicia com a promessa de maior justiça social e atenção para as minorias. A expectativa é que tenhamos uma administração sensível à questão indígena e meio ambiente.

Da mesma forma, o Rota Brasil Oeste pretende oferecer um serviço cada vez melhor a seus leitores. Entre os projetos para o primeiro semestre estão a reformulação do site, novas imagens da galeria do rio São Francisco, maior número de notícias e matérias especiais. Além disso, estamos preparando propostas de captação de recursos para nossa segunda exposição fotográfica, a primeira com o trajeto completo da expedição.

No final deste ano, também nos despedimos do inspirador dessa iniciativa: Orlando Villas Boas. Que fique registrada mais uma vez nossa homenagem.

Aos leitores, nossos sinceros agradecimentos pela atenção. Graças a este apoio continuamos um projeto que funciona de forma independente mas séria e profissional.

Bruno Radicchi, Fábio Pili, Fernando Zarur e Pedro Borges
Equipe Rota Brasil Oeste

Discurso de posse

Rota Brasil Oeste – Ao ser empossado no Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou a “defesa das populações indígenas e minorias” como uma das prioridades de seu governo. A fala representa uma esperança de maior atenção para uma área tradicionalmente tratada em segundo plano pelos líderes políticos nacionais.

A expectativa é que o novo ministro da Justiça, Márcio Tomaz Bastos, siga a mesma filosofia. Responsável pela Fundação Nacional do Índio (Funai), o ministério é um dos mais importantes para lidar com a questão.

ndios Pankararu dançam para pedir boa sorte para Lula

Agência Brasil – ABr – A tribo indígena Pankararu veio do município pernambucano de Jatobá para homenagear o presidente recém empossado Luiz Inácio Lula da Silva. Há pouco os 165 representantes da tribo fizeram a dança do toré na Esplanada dos Ministérios, para trazer boa sorte à Lula. “É um ritual secreto que costumamos fazer em fevereiro”, contou emocionada Maria Genivan.

Cecília Jorge