Projeto Arcoamazon

Agência Brasil – ABr – A coordenação executiva do Projeto Arcoamazon encaminhou esta semana para a diretora da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), Dorothéia Werneck, nova proposta para a continuidade do Projeto de Horizontal de Promoção no Exterior de Produtos dos Assentamentos da Reforma Agrária da Amazônia.

Conhecido como projeto Arcoamazon, em um ano realizou o levantamento das perspectivas do mercado internacional para produtos de origem sustentável na área de influência de sete Agências Regionais de Comercialização (Arcos) na Amazônia Legal, além de estudos e adequações para produtos em condições reais de serem comercializados.

O mais recente contrato de exportação fechado foi com a maior rede do comércio justo e solidário da Europa, a Alter Eco, na França, que receberá no início de 2003 um contêiner com 22.500 vidros de palmito em conserva. Por meio do projeto, as Arcos já participaram de duas feiras internacionais de produtos orgânicos, em Bolonha (Itália) e em Londres (Inglaterra). Feiras e lojas de produtos orgânicos e de comércio justo (que trabalham com produtos de origem socialmente justa em áreas de desenvolvimento sustentável) foram visitadas na França e na Holanda.

Vacinação contra a febre amarela silvestre reduz número de casos

Agência Brasil – ABr – As ações de prevenção e controle da febre amarela silvestre vêm reduzindo sensivelmente o número de casos da doença no país. Em 2001, foram registrados 41 casos, 54% a menos do que em 2000, quando houve 85 notificações. Este ano a redução foi maior ainda, atingindo 80,5%, com o registro de apenas oito casos de febre amarela silvestre. A febre amarela urbana foi erradicada no Brasil: não há casos desde 1942.

Com relação aos óbitos provocados pela doença, foram 40 em 2000, 22 em 2001 e dois este ano. Este número representa 10 vezes menos casos em 2002 em relação ao ano anterior e 20 vezes menos em relação a 2000.

Para alcançar este resultado, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em parceria com as secretarias estaduais e municipais de Saúde, iniciou em 1998 a imunização em massa de moradores de áreas endêmicas. Também foi recomendada a vacinação para ecoturistas e visitantes dessas áreas. O resultado foi a imunização de mais de 61 milhões de pessoas contra a febre amarela e a conseqüente redução do número de casos.

Como parte da estratégia de prevenção e controle da febre amarela silvestre, a Funasa firmou parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a fixação de faixas nas entradas dos Parques Nacionais e a distribuição de folders aos pescadores, alertando sobre a necessidade da vacinação.

Outra parceria importante foi firmada com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que permitiu capacitar 240 médicos e dentistas que fazem atendimento a caminhoneiros em todo o Brasil. Esses profissionais atuaram posteriormente como multiplicadores junto aos demais médicos e dentistas que atendem nos Centros Assistenciais e Profissionais Integrados dos Trabalhadores em Transporte (Capit).

Dessa forma, foi possível informar a 25 mil caminhoneiros a respeito da doença e orientá-los sobre como repassar as informações nos municípios por onde passam, em especial nas pequenas comunidades. Foram repassados para os caminhoneiros 75 mil cartazes, 75 mil folders, 25 mil camisetas, 25 mil bonés e 25 mil botons para auxiliar a difusão das informações.

Risco – Mesmo com as ações exitosas no controle desta endemia, um caso confirmado de febre amarela silvestre em um morador da cidade San Ignácio, a apenas 100 quilômetros do município de Cáceres, no Mato Grosso, reforça o alerta das autoridades sanitárias brasileiras para a necessidade de vacinação contra a doença.

A Funasa, órgão executivo do Ministério da Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e as secretarias estadual de Saúde do Mato Grosso e do município de Cáceres estão intensificando a vacinação contra a doença. A vacina é segura, protege por 10 anos, é gratuita e está disponível nos postos de saúde. De acordo com dados da Secretaria estadual de Saúde, a cobertura vacinal contra a febre amarela em Cáceres é de 98%.

Além de informar e alertar a população sobre a doença e a vacinação, a Secretaria de Saúde de Cáceres está oferecendo a vacina para os bolivianos que cruzam a fronteira, para evitar um possível surto na comunidade local.

Na cadeia de transmissão da febre amarela silvestre, o macaco é o hospedeiro do vírus que provoca a doença. A contaminação ocorre quando um mosquito leva o vírus do macaco infectado para o homem.

Férias – As pessoas que pretendem viajar de férias para áreas de risco devem se precaver. As secretarias de Saúde dos estados de Goiás e do Rio Grande do Sul informaram sobre a ocorrência de mortes de macacos. Em Goiás, no município de Rio Quente, no final de outubro, um macaco foi encontrado doente e morreu dias depois. A Fundação orientou as secretarias estadual e municipal de Saúde para que investiguem casos humanos suspeitos e verifiquem a cobertura vacinal na região.

Em novembro, foi confirmado um caso de febre amarela silvestre em um macaco guariba capturado no município de Jaguari, no noroeste do Rio Grande do Sul. O município não estava inserido na área de transição do estado. Portanto, a vacinação está sendo recomendada para os moradores dessa região e para aqueles que viajarão para lá.

Além dessas regiões, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão executivo do Ministério da Saúde, recomenda a vacinação contra a doença às pessoas que irão viajar para áreas de matas ou cachoeiras nas férias e nos feriados de Natal e Ano Novo. A mesma recomendação vale para os praticantes de esportes radicais, ou esportes da natureza, os ecoturistas.

Uma extensa faixa de território brasileiro é considerada endêmica para a febre amarela silvestre. O vírus amarílico circula nas áreas de matas em todos os estados das regiões Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), além do Maranhão, na região Nordeste.

Uma outra área que também é considerada de risco abrange faixas territoriais de sete estados: sudoeste do Piauí e região oeste da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e noroeste do Rio Grande do Sul. Recomenda-se a vacinação prévia contra a febre amarela silvestre para todos aqueles que viajarem para essas áreas. A vacina está disponível nos postos de saúde em qualquer época do ano, é gratuita, e deve ser aplicada 10 dias antes da viagem.

Museu do Índio lança livro sobre indigenismo brasileiro

Agência Brasil – ABr – O Museu do Índio, na rua das Palmeiras, 55, em Botafogo, zona sul, lança na próxima sexta-feira (20), às 20h, o primeiro volume da coleção Fragmentos da Memória do Indigenismo – Povos Indígenas no Sul da Bahia: Posto Indígena Caramuru-Paraguaçu.

A publicação pretende promover uma discussão mais ampla dessa questão junto aos diversos setores da sociedade nacional. Além disso, o livro revela o maior volume documental do Museu do Índio – cerca de 20 mil documentos – funcionando como um importante instrumento para entender o modelo de atuação do Estado daquela época junto às sociedades indígenas.

Douglas Correa

Martín Chambi

Rota Brasil Oeste – Filho de família de origem inca, o fotógrafo Martín Chambi foi o primeiro fotógrafo indígena latino-americano. Sua obra são verdadeiras pinturas fotográficas em branco e preto inspiradas no jogo de luz de pintores como Rembrandt e Caravaggio. Com boa parte da obra produzida na primeira metade do século 20, retratou sob ótica singular a diversidade e riqueza cultural de um povo geralmente pouco conhecido.


Foto: Martín Chambi

A origem humilde, de família de agricultores, influenciou diretamente seu olhar sobre o cotidiano peruano. O interesse pela fotografia começou quando seus pais mudaram-se acompanhado o ciclo de ouro e começaram a trabalhar para a mineradora inglesa Santo Domingo. O jovem conseguiu um lugar como auxiliar do fotógrafo oficial da empresa. Anos mais tarde, passou a desempenhar a mesma função para o famoso Max T. Vargas.

Em pouco tempo, Chambi tornou-se independente e começou a ganhar fama em nível nacional. Apesar de ser natural da pequena vila de Coaza e ter desenvolvido o trabalho inicial em Arequipa, a cidade de Cuzco foi a grande musa na maior parte do trabalho. Pouco depois da chegada em 1920, abriu um estúdio na cidade e rapidamente tornou-se o preferido da burguesia local. Todos os eventos sociais cuzquenhos eram registrados por ele. Logo, suas fotografias também começaram a ser publicadas regularmente na imprensa local e internacional, em jornais como “La Nacion” da Argentina.


Foto: Martín Chambi

O lado mais interessante da obra de Chambi, no entanto, está no registro da paisagem andina, dos monumentos incas e no enaltecimento da cultura indígena. Viajando pelo país em lombo de mula, ele dividia o tempo entre os serviços para alta burguesia e trabalhos pessoais. Foi o primeiro a registrar, por exemplo, a cidade de Machu Pichu, descoberta em 1911 por Hiram Bingham. O rosto e as tradições dos índios são outro ponto comum nas fotos.

O trabalho do fotógrafo vai estar exposto em Brasília até o dia 23 de dezembro no Foyer da Sala Martins Pena do Teatro Nacional Claudio Santoro. Entrada franca.

Fernando Zarur

Diálogo aberto

ISA – Reunidos em Brasília em 12 e 13/12, os integrantes do CNCD aprovaram por unanimidade texto louvando a reação positiva das Forças Armadas em relação à elaboração de um termo de convivência cooperativa entre índios e militares

A moção, que será enviada ao Presidente da República, propõe ainda a alteração do decreto 4.412/02 para sanar grave lacuna do texto legal,incorporando expressamente os povos indígenas como interlocutores legítimos na concepção dos termos de convivência e na solução dos conflitos.

O tema dos conflitos resultantes da presença militar em terras indígenas está na pauta do CNCD desde sua criação, em outubro de 2001, e foi recolocado na reunião de 29 e 30 de novembro passado, por iniciativa do ISA (por meio de Beto Ricardo e André Lima, respectivamente conselheiro e suplente) e do Instituto Indígena Warã (por meio da conselheira Azelene Kaingang).

A abertura do diálogo foi bem recebida por todos. “Os defensores dos direitos indígenas no Conselho Nacional de Combate à Discriminação deram aos povos indígenas uma vitória histórica a medida em que conseguiram abrir concretamente o diálogo com as Forças Armadas”, avalia Azelene Kaingang

A Foirn – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – realizará oficina sobre o assunto durante o curso de Direitos Indígenas entre 04 e 08 de fevereiro em São Gabriel da Cachoeira (AM). O objetivo é coletar sugestões das lideranças indígenas da região para apresentar ao Comando Militar da Amazônia (CMA) uma proposta preliminar de termo de convivência na reunião prevista para 19/02/2003, em Manaus.

André Lima

Leia a seguir a moção na íntegra:

“Considerando e louvando o avanço no diálogo entre as Forças Armadas e os Povos Indígenas Amazônicos em face das reuniões havidas em 13 de novembro no Palácio do Planalto e em 09 de dezembro deste ano junto ao Comando Militar da Amazônia em Manaus, onde foi acordada a elaboração de termo de convivência entre militares e indígenas em áreas de fronteira, o Conselho Nacional de Combate à Discriminação reunido em Brasília em 12 e 13 de dezembro de 2002 sugere ao Exmo. Senhor Presidente da República o aprimoramento do Decreto Federal nº 4.412 de 07 de outubro de 2002 nointuito de reconhecer expressamente os povos indígenas como interlocutores legítimos na definição das condições de convivência cooperativa entre militares e índios em Terras Indígenas.”

Pantanal: um bioma ameaçado

Agência Brasil – Abr – O Pantanal, considerado patrimônio nacional pela Constituição Federal de 1988 e, mais recentemente, intitulado patrimônio da humanidade ou reserva da biosfera pelas Nações Unidas, vem sendo explorado segundo antigos conceitos e tradições, sendo praticamente regido pela mesma legislação das demais regiões brasileiras. É considerado a maior área contínua inundável do planeta. A sua integridade, no entanto, está ameaçada por atividades humanas implementadas nos planaltos da bacia do Alto Paraguai nas últimas três décadas.

O Pantanal abrange uma área aproximada de 140 mil km2, o equivalente à soma das superfícies da Bélgica, Dinamarca, Holanda e Suíça, e caracteriza-se como uma planície sedimentar susceptível a inundações periódicas com intensidade e duração variadas; mas que, atualmente, funciona como um grande depósito de sedimentos contaminados por mercúrio e por resíduos de pesticidas.

Apresenta, também, solos predominantemente arenosos (Pdzól Hidromórfico), revestidos com forrageiras nativas. Detém aproximadamente três milhões de cabeças de bovinos de corte, criadas em regime extensivo de exploração em grandes propriedades, o que faz da pecuária sua principal atividade econômica há mais de 200 anos. Esse sistema tradicional de exploração se caracteriza como de baixa agressividade ao ambiente, porém a região pantaneira está sofrendo impactos externos que ameaçam a biodiversidade e, conseqüentemente, colocam em risco a sustentabilidade dos ecossistemas dessa imensa planície.

Quando se observa a tranqüilidade do curso natural das águas do caudaloso Paraguai, o cantar das aves ao amanhecer e o pôr-do-sol, tem-se a impressão de que está tudo em equilíbrio e funcionando às mil maravilhas. Será, todavia, que se os moluscos, peixes, aves, jacarés e demais animais silvestres que habitam os rios, corichos e lagoas falassem, diriam que se encontram alegres e satisfeitos com o que está ocorrendo? Ou que estariam nervosos, impacientes e com muita raiva daqueles que cruzam os braços e fingem não perceberem a gravidade da situação? E é exatamente essa a verdade: a ausência de ação, o “deixa como está para ver o que acontece”; ou seja, ninguém faz nada para mudar essa condição ameaçadora que ora vive o Pantanal.

Então perguntamos? O que devemos fazer para tentar reverter esse quadro de passividade? E onde estão os responsáveis pela manutenção desse “estatus quo”? E as autoridades que têm papel de decisão, também, onde estão? Será que são dignos de serem chamados de responsáveis? Não seriam melhor chamados de irresponsáveis, ou mesmo inconseqüentes, pela desastrosa política de expansão da fronteira agrícola do Governo Federal, que não impôs limites técnicos para o desmatamento e uso do solo? Processo este que, além de reduzir a fertilidade natural do solo pela remoção do horizonte A e lixiviação de nutrientes, está impactando a planície pelas elevadas e progressivas taxas de assoreamento dos rios. Em conseqüência, está provocando grandes e crescentes inundações no Pantanal, em anos sucessivos, o que vem, paulatinamente, inviabilizando a principal atividade sócio-econômica da região.

Parece até que os pecuaristas, de tão desanimados, estão querendo mudar de atividade. Se persistir esse quadro de inundações consecutivas, qual o destino sócio-econômico que deve ser dado ao Pantanal? Implementar o ecoturismo em bases ecossustentáveis ou passá-lo para o IBAMA, e transformá-lo num grande Parque Internacional do Pantanal? Ou a implantação de uma política do Governo Federal direcionada para indenizar os pecuaristas proprietários de terras baixas com problemas de inundações periódicas seria, de fato, uma alternativa viável?

O exemplo mais típico de rio, em Mato Grosso do Sul, com sérios problemas de degradação acelerada é o agonizante rio Taquari. Com o advento do Pólo Centro, Pólo Noroeste, Prodegran, Prodepan e outros programas especiais do Governo Federal, implantados na década de 70, desencadeou-se um rápido processo de desmatamento para implantação de pastagens cultivadas e, posteriormente, de soja em Mato Grosso do Sul. O empirismo e a irresponsabilidade dominantes na época são hoje os grandes responsáveis pelo dano causado a esse rio.

Em Mato Grosso, a extração de ouro, principalmente no município de Poconé, com utilização indiscriminada de mercúrio constitui uma outra grave ameaça ao Pantanal. O mercúrio é biotóxico, bioacumulável nas cadeias alimentares e, comprovadamente cancerígeno, mutagênico e teratogênico. Os rins e o sistema nervoso central são os órgãos mais atingidos. Os organismos localizados no topo das cadeias alimentares são os mais susceptíveis e vulneráveis. Assim, os peixes carnívoros, tais como pintado, cachara, dourado, piranha e traíra são os que têm maior potencial de concentrarem mercúrio na carne. Por isso, a saúde do homem, até mesmo a das populações da bacia platina localizadas a grandes distâncias das fontes emissoras, pode também ficar comprometida definitivamente pela elevada freqüência da ingestão de peixe contaminado. Será também que a adoção de métodos e técnicas modernas de extração de ouro de aluvião sem a utilização de mercúrio não seria interessante? Será que não estamos sendo paulatinamente contaminados pelo mercúrio, mesmo que com doses sub-clínicas?

Diante dos sintomas de “doença ambiental”, pode-se perguntar se essa região, atualmente tão propalada e divulgada na mídia e que se diz que é tão cobiçada pela humanidade, não mereceria receber das nossas autoridades ambientais, da saúde pública e até mesmo daquelas responsáveis pelos fatores de produção maior atenção e melhor tratamento? Será que ela merece o mesmo trato da vala comum? Será que uma política ambiental direcionada para a sustentabilidade de seus recursos naturais não valeria a pena? E uma política de incentivos fiscais e creditícia direcionadas para o manejo e conservação de solo nos planaltos atualmente revestidos com pastagens cultivadas, na sua grande maioria, degradadas também não seria válida?

Todo esse desordenamento espacial e o desrespeito à legislação em vigor é que está colocando em risco a integridade da região. Será que o Pantanal ainda têm fôlego para suportar tantos desmandos e agressões? Se ainda tem, por quanto tempo? E como reagirão futuramente os nossos descendentes com a destruição da reserva da biosfera? E onde está a consciência dos nossos dirigentes e os responsáveis pela preservação e conservação ambiental? Não será um crime contra a humanidade o que estamos observando fazerem com o Pantanal?

(*) Luiz Marques Vieira (lvieira@cpap.embrapa.br) é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Zootecnia e Doutor em Ecologia e Recursos Naturais da Embrapa Pantanal.

Aumenta área protegida do país

Agência Brasil – ABr – O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou, hoje, a criação de 12 unidades de conservação, ampliando em mais de 416 mil hectares o total de áreas protegidas no país. Atualmente, o país tem 6% do território protegido. As novas áreas protegidas são: a Floresta Nacional de Pacotuba (ES), as Reservas Extrativistas Chocoaré-Mato Grosso, Mãe Grande de Curuçá, São João da Ponta e Maracanã (PA), a Reserva Extrativa do Mandira (SP), o Parque Nacional das Sempre-Vivas, na Serra do Espinhaço (MG), a Reserva Biológica da Chapada da Contagem (DF), o Parque Nacional do Catimbau (PE), o Parque Nacional dos Pontões Capixabas (ES) e o Refúgio de Vida Silvestre Veredas do Oeste Baiano (BA).

Fernando Henrique enviou ao Congresso Nacional, também hoje, projeto de lei que institui o regime de Concessão Florestal. Hoje, o instrumento legal usado para regular a exploração dos recursos florestais é a lei de licitações. A lei serve para normatizar a venda de produtos e subprodutos das Florestas Nacionais das regiões Sul e Sudeste, mas não é considerada ideal para contratar a exploração florestal de longo prazo. O empresário, por meio desse tipo de contrato, é obrigado a recompor o estoque do bem explorado e a conservar a floresta, mas as figuras contratuais disponíveis não permitem conciliar direitos e deveres.

A atividade florestal contribui com 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e com 8% das exportações. O Brasil é o maior produtor e o maior consumidor de madeira tropical do mundo.
Cerca de 28 milhões de m³ de madeira em tora são extraídos todos os anos da Amazônia, o que representa 90% da madeira nativa explorada no país. Disso, menos de 5% é extraído sustentavelmente. Para o governo, o projeto asseguraria a aplicação dos recursos obtidos com a exploração em atividades de manejo, tais como reposição de estoque de florestas nativas, pela regeneração natural, ou o enriquecimento de florestas plantadas com o reflorestamento.

Morre o sertanista Orlando Villas Bôas

Agência Brasil – ABr – O Hospital Albert Einstein informou, há pouco, o falecimento do sertanista Orlando Villas Bôas. O sertanista, que estava internado desde o dia 14 de novembro, morreu às 14h27, em decorrência de falência múltipla de órgãos desencadeada por um processo agudo de infecção intestinal.

Orlando Villas Bôas nasceu em 1914, na cidade de Botucatu, interior de São Paulo. Membro de uma família de indigenistas e sertanistas. Villas Bôas deixa a viúva Marina e dois filhos, Orlando e Noel. No comunicado divulgado há pouco, a diretoria da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein estende as condolências à família do paciente. O boletim é assinado pelo médico José Henrique Germann Ferreira, superintendente do hospital, e pelo médico responsável pelo paciente, Sérgio Reynaldo Stella.

Arthur Braga

Biografia de Orlando Villas Bôas

Agência Brasil – ABr – Orlando Villas Bôas era o último sobrevivente de quatro irmãos indigenistas. O sertanista e indigenista nasceu em 12 de janeiro de 1914 em Botucatu, interior de São Paulo e se tornou fazendeiro, a exemplo de seu pai, Agnello. Foi um menino travesso quando estudava no grupo escolar do bairro paulistano de Perdizes, e seu espírito irrequieto predizia o futuro de sertanista e indigenista, sempre em busca de novas fronteiras. Em 1935 Orlando Villas Bôas alistou-se no Exército onde ficou até 1939 e foi expulso porque só obedecia “às ordens que julgava certas”, conforme dizia.

Conheceu o deputado Ulysses Guimarães na escola, a quem apresentou a Jânio Quadros, seu amigo – e Ulysses muito o agradeceu depois, pois se iniciou na política ao conhecer Jânio. Depois de trabalhar numa empresa de petróleo, onde se sentia entendiado e tendo provocado a própria demissão, dirigiu-se para o estado de Goiás, remando durante 22 dias no rio Araguaia e que era o início de uma história de 40 anos pela causa indígena, abraçada depois pelos irmãos Cláudio, Leonardo e Álvaro.

Orlando contava que ao chegar à mata pela primeira vez encontrou os índios amedrontados, se homiziando e lançando flechas. Ele dizia que jamais reagiu às flechadas e procurava ganhar a amizade dos índios transmitindo-lhes um espírito de confiança e amizade.

A criação do Parque Nacional do Xingu em 1961 foi conseguida facilmente por Orlando, dada sua amizade com o então presidente da República, Jânio Quadros. O Xingu tem cerca de quatro mil habitantes divididos entre 13 nações assentadas em 2.800.704,3343 hectares – mais ou menos o tamanho da França e Inglaterra juntas.

Os irmãos sertanistas Orlando, Cláudio, Leonardo e Álvaro Villas Bôas cuidadosamente mapearam seus encontros com as 14 tribos indígenas que encontraram, obtendo sempre permissão para instalar as bases da Fundação Brasil Central. Cientes da fragilidade das comunidades às doenças da civilização ocidental, eles impediram que a política militarista se instalasse entre pessoas armadas apenas com flechas e os fuzis de um Brasil que passo a passo procurava fazer da terra um motivo de exploração econômica.

A esposa de Orlando Villas Bôas, a enfermeira Marina Villas Bôas, conta muitas das suas proezas. Ele a viu pela primeira vez em um consultório médico, e, como precisava de uma enfermeira para a expedição que chefiava resolveu convidá-la. Ela aceitou participar e ficou cerca de 15 anos trabalhando pela missão indígena. “Nesse tempo contraíu malária 15 vezes e Orlando pelo menos umas 200”, conforme diz.

Marina chegou ao parque do Xingu em 1963 e logo no início enfrentou uma epidemia de gripe, além de cuidar de muitos casos de malária. “Os índios tinham o organismo puro, e pegavam com facilidade as doenças de branco, mas conseguimos êxito rapidamente”.

O lazer, no Xingu, era algo restrito a jogos de cartas e passeios nas margens do rio segundo Marina. “À noite, jogávamos baralho ou conversávamos”, relata. “Assim, eu me apaixonei por ele; só que Orlando demorou quase dois anos para perceber.”

Em 1978, Orlando Villas Bôas deixou definitivamente o Parque do Xingu. Em 1984, aposentou-se para viver em sua casa no bairro paulistano de Alto da Lapa, e cultuava, num grande galpão nos fundos de casa, uma espécie de miniatura da Mostra do Redescobrimento (Exposição Brasil + 500, montada no Pavilhão da Bienal no ano 2000), composta de grande variedade de objetos indígenas, guardados em prateleiras, cada um com uma história a contar. Ele, e seus três irmãos eram contrários à ação colonizadora que se iniciara há quatro séculos.

Procuraram descobrir intacto um universo de hábitos e ética inteiramente diferentes. À medida que encontravam novas tribos assentadas às margens do rio Xingu e seus afluentes se deparavam com povos que tinham sua própria cultura e identidade e isso os fascinava e fazia do seu trabalho uma meta de vida. E, ao voltar à vida doméstica, queria conviver com um exemplar da mata, que tinha no reduto de sua própria casa.

Os Villas Bôas contribuíram para preservar vidas humanas, culturas antigas, valores que, depois de perdidos, não podem mais ser recuperado. Garantiram a sobrevivência de nações inteiras no Parque Nacional do Xingu ao consolidá-lo como espaço, com a orientação humanista do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, e o apoio do antropólogo Darcy Ribeiro e do sanitarista Noel Nutel.

Orlando e seu irmão Cláudio Villas Bôas teriam o reconhecimento do seu trabalho no Xingu com a indicação para o prêmio Nobel da Paz em 1976. Sem ter completado o segundo grau, a vivência no Xingu permitiu que Orlando publicasse, em co-autoria com seu irmão Cláudio, 12 livros e inúmeros artigos em jornais e revistas internacionais, como a National Geographic Magazine.

Tanto juntos quanto individualmente, os irmãos receberam honras acadêmicas, reconhecimento de cidadanias e títulos honorários, homenagens à sua atuação na política de proteção à cultura indígena.

Villas Bôas, que completaria 89 anos no próximo dia 12 de janeiro, é, para a grande maioria das pessoas que ouviram falar de suas proezas e de seus irmãos, Cláudio, Leonardo e Álvaro, sinônimos de índio, floresta e Brasil.

Lourenço Melo

Entrevista Orlando Villas Bôas

Rota Brasil Oeste – Realizada em abril de 2001, a entrevista abaixo foi uma das últimas conversas concedidas por Orlando Villas Bôas à imprensa.
Por três dias a equipe do projeto Rota Brasil Oeste colheu relatos sobre a epopéia que foi a Marcha Para o Oeste – maior movimento desbravador realizado no mundo durante o século XX. Aos 87 anos, demonstrava lucidez e memória surpreendente para a idade. Bom de papo e eloqüente, passava horas contando histórias.

Orlando Villas Boas
Sertanista Orlando Villas Boas

Orlando Villas Bôas. Foto: Fábio Pili

A narrativa começa em 1944, quando Orlando abandonou o emprego como contador da Esso em São Paulo para dedicar a vida aos sertões e comunidade indígenas do Brasil-Central. Ao lado dos irmãos Cláudio e Leonardo integravam o quadro de expedicionários se passando por sertanejos analfabetos. Na conversa, o sertanista fala sobre o início da sua vida de mais de 40 anos na selva e os problemas atuais da região.

O que era conhecido do Centro-Oeste brasileiro em 1944?

Do Araguaia até o Rio das Mortes, não tinha ninguém, além dos índios. Nenhuma expedição tinha pisado por lá ainda. Ali, depois do rio Araguaia, ainda tinham alguns sertanejos mas só até o bico da serra (Serra do Roncador). Daí veio o plano da “Marcha para o Oeste”, que o Getúlio criou. A idéia era chegar até o Araguaia e fazer um traçado dali para Manaus, este seria o roteiro da expedição. Foi quando fomos para a vanguarda da expedição. Aí partimos. No rastro nosso, esses acampamentos todos que fizemos, foram se transformando em cidades: Canarana, Água Boa, Garapu e outras. Hoje tem mais ou menos 18 cidades nessa região.

Já se esperava a presença das diversas nações indígenas encontradas no caminho?

Não, descobrimos a presença deles só quando chegamos ao Rio das Mortes e avistamos colunas de fumaça no horizonte. Os xavantes eram conhecidos, mas outros tantos não. O primeiro contato que fizemos, foi com os Kalapalo. Nós ficávamos na praia e eles na barranca do rio. A gente gritava, eles respondiam. Queríamos atravessar, eles ameaçavam com arco e flecha. Ficamos uns dois dias assim. Quando foi no terceiro dia, apareceu na margem um bruto de um índio. Ele chegou, abriu os braços e os outros se afastaram. Atravessamos o rio, subimos a barranca e caminhamos para o lado dele. Ele tremia. Quando chegamos, abraçamos ele. Chamava-se Izarari, o grande cacique, temido. Ele recebeu a gente bem e ali nós fizemos o primeiro posto e campo de aviação.

Entre as personalidades que visitaram a Expedição, está Assis Chateubriand, presidente dos Diários Associados na época. Como foi a estada dele?

A revista Cruzeiro, o Diário da Noite, toda a cadeia associada do Chateaubriand ia para lá, no Xingu. O Chateau sempre ia pra lá. Um dia ele tava tomando banho no rio, e tinha um jornal que era inimigo dele, Samuel Weiner. E um fotógrafo do Samuel Weiner tava tirando fotografias do dr. Assis nu. Aí, o foram correndo, avisando “Dr. Assis, dr. Assis! Tão tirando fotografia do senhor nu!” Ele respondeu: “O quê é que você queria, meu filho? Que eu tomasse banho de casaca?” Ele era terrível! Uma figura formidável! Uma ocasião, ele apareceu no Rio das Mortes levando o genro do Mussollini, um italiano de 2m de altura. Gino Grande. Ele tava na beira do Rio das Mortes e tinha uma canoinha. Ele subiu na canoinha e saiu remando, tava vira, não vira. Aí um sertanejo veio e falou com o dr. Assis: ” Dr. Assis, aquele italianão fornido que o sr. trouxe tá numa canoa e tá que morre!” O dr. Assis disse: “Ô, Orlando! Traduz o quê esse homem tá falando!” E eu disse: “O Gino Grande tá numa canoa perigosa, e é capaz de virar e morrer no Rio das Mortes.” Ele disse “então deixa, deixa! Dino Grande morrendo no Rio das Mortes sob os auspícios dos Diários Associados!” O Assis era uma figura!

Como era a relação de vocês com um dos primeiro chefes da expedição, o coronel Vanique? Porque ele renunciou à chefia?

Ele gostava muito do Rio de Janeiro, não é? Não tinha tino para o mato, nunca entrou no mato. Certa vez estava num teco-teco, sobrevoando a Serra do Roncador. Nós embaixo com 12 homens, e o aviãozinho sobrevoando. Era bom o sobrevôo dele, porque ele jogava um bilhete, dizendo, por exemplo: “Na frente tem um alagado muito grande. Desviem para a direita.” A gente estava fazendo um picadão de 400 km. Ele meteu a cara fora do avião e deixou cair o óculos. E ele então jogou um bilhete pra nós. O avião dava uma rajada de motor para avisar que vinha recado, vinha bilhete. E o bilhete dizia assim: “Perdi meus óculos. Caiu aí. Procurem meus óculos.” Tinham uns 10 trabalhadores, e eu falei: “Procura o óculos do coronel.” Todo mundo fazia de conta que estava procurando. Procurar uns óculos, imagine? Então, veio um segundo bilhete dele: “Mais pra cá.” (risos)

Algumas correntes de antropólogos criticam um pouco a Marcha, o jeito como foi feito o contato com o índio. Como você vê isso?

O índio foi um acidente na marcha da expedição, pois, quando chegamos lá, não sabíamos de nada. Os aviões da FAB sobrevoaram a frente e viram que a área do Roncador era toda ocupada por índios. Índios arredios, que nos atacaram, fizeram miséria conosco. Sem nossa participação, essas cidades surgiram da mesma forma, só que num processo de luta. E fizemos isso em paz. A política mais acertada que nós fizemos foi manter o índio dentro da sua cultura. Hoje, o xinguano fala português. Dentro da comunidade, porém, só usa a língua deles. E lá nós temos 12 idiomas diferentes.

Qual a contribuição das sociedades indígenas ao Brasil e o mundo?

Basta dizer o seguinte: nós vivemos com eles 40 e tantos anos, e nunca vi índios discutindo. Eu nunca vi uma mãe puxar a orelha da filhinha, e nem o pai dar um coque no filho. O velho é o dono da história, o índio é o dono da aldeia, a criança é a dona do mundo! A coisa mais importante de uma aldeia indígena é a criança. Nós perdemos essa noção. A criança hoje, na sociedade em geral, é uma realidade incômoda. Para o índio não. No cerimonial todos eles participam, não tem privilégio. Eles nos dão uma lição de comportamento social que já perdemos e não vamos conquistar mais!

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O fascínio de uma das regiões mais inexploradas do mundo e as visitas ilustres à expedição.

Os momentos de tensão durante os anos da Marcha para o Oeste.

Orlando e sua esposa, Marina Villas Bôas, contam um pouco sobre a família do índio brasileiro, a situação da mulher e da criança na tribo.

Os primeiros passos da Expedição Roncador-Xingu.

Documentário

Ouça o documentário produzido para o Rota Brasil Oeste sobre o trabalho dos irmãos Villas Bôas e a Marcha para o Oeste.

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Bruno Radicchi, Fábio Pili, Fernando Zarur, Pedro Ivo Alcântara