Encontro discutiu implantação do Ensino Médio em escolas indígenas

Funai – A necessidade da construção de escolas de ensino médio nas aldeias indígenas e a formação de professores especializados em educação escolar intercultural, multilíngue, específica, diferenciada e de qualidade para garantir a implantação da educação escolar indígena deste nível marcaram o debate no 1º Seminário de Políticas de Ensino Médio para os Povos Indígenas, que começou nesta segunda-feira (20), no Instituto Israel Pinheiro, em Brasília.O encontro foi promovido pelo Ministério da Educação (MEC) e encerrado ontem (22) à noite teve a participação de representantes da coordenação de Educação da Funai.

Até o ano passado, a política do MEC se empenhou na construção da educação indígena voltada para o ensino fundamental, e que ainda não está totalmente implantada em todas as aldeias do país. A realidade é que há muita resistência por parte dos estados e municípios em destinar o percentual para a educação indígena. Porém, as comunidades e professores indígenas já reivindicam o ensino médio para garantir aos estudantes indígenas a complementação dos estudos na própria aldeia. Hoje, esses alunos têm que se deslocar para as cidades para poderem complementar seus estudos. O impacto desses jovens é sempre muito sofrido. Em Tangará da Serra, a Funai montou um atendimento específico para os estudantes que deixam as aldeias para cursar o ensino médio no município. “Não é o ideal, mas estamos tentando amenizar o impacto e da cidade e da escola não indígena nos jovens que têm que vir para cidade para poderem continuar seus estudos, explica Ivanilde Nascimento Bezerra, que criou uma biblioteca indígena e salas de reforço para os alunos Paresi.

Para Kleber Gesteira Matos, coordenador-geral de Educação Indígena no MEC, “é urgente o desenvolvimento de toda e qualquer ação que garanta a permanência das crianças e jovens indígenas em suas aldeias, com qualidade de vida. A migração de famílias indígenas para a periferia de cidades é um verdadeiro desastre sob todos os pontos de vista. O Estado brasileiro tem a responsabilidade de construir e implementar políticas públicas nesse sentido. Para isso, é indispensável o diálogo permanente com as lideranças e organizações indígenas”. Segundo o coordenado, o Censo Escolar 2003, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), aponta que existem 150 mil estudantes indígenas no Brasil. Desse total, 3% estão no ensino médio. No ensino superior, estão 1.200 índios, sendo que 900 chegaram às universidades pela mesma via que os demais alunos, e não por meio da política de inclusão social e educacional.

Para formular as novas políticas, o secretário de Educação Média e Tecnológica do MEC, Antônio Ibañez Ruiz, disse que será feito cruzamento de dados novos e antigos, levantados pelo Inep, para saber quem são os alunos indígenas e onde estão, entre outras informações que possam auxiliar a política em curso. Das 208 instituições públicas de ensino superior existentes no País, apenas três implantaram cursos para professores indígenas em seus quadros: Universidade Federal de Roraima, Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul e Universidade Federal de Mato Grosso. O professor de Educação Fundamental da Aldeia Taba Lascada, em Roraima, Fausto da Silva Macuxi, conta que o curso de magistério específico indígena, implantado pela Universidade Federal de Roraima em 1994, foi interrompido em 2002 por falta de recursos. Durante oito anos, foram capacitados 470 professores.

Evento em São Paulo exibe produtos para casas ecológicas

Estação Vida – Pela primeira vez no Brasil, produtos ecológicos e tecnologias sustentáveis para construção de casas ecológicas podem ser vistos em conjunto, com explicações gerais sobre sua produção e uso. Começou dia 17, com entrada franca, a 1a Mostra de Materiais Ecológicos e Tecnologias Sustentáveis para Arquitetura e Construção Civil, na Faculdade Cantareira, em São Paulo, capital.

Promovida pelo IDHEA – Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica e Faculdade Cantareira, a mostra ficará exposta até 15 de novembro para que pessoas de outras cidades e Estados possam ter contato com ecomateriais industrializados. A proposta do evento é apresentar produtos ecológicos fabricados comercialmente, prontos para uso em obras de engenharia, arquitetura, decoração e design, explica o coordenador geral da mostra, Márcio Augusto Araújo, do IDHEA. Ele acrescenta: Esta é a primeira oportunidade para se conhecer materiais fabricados em escala e que não são experimentais, todos de acordo com normas e legislação vigente. Quem vier à mostra terá uma grata surpresa, porque perceberá que a diversidade de materiais é tão grande, que é possível ter não apenas um, mas vários modelos de casas ecológicas, para muitas situações e gostos.

Com projeto da arquiteta Lilian Avivia Lubochinski, a 1a Mostra de Materiais Ecológicos e Tecnologias Sustentáveis para Arquitetura e Construção Civil ficará abrigada no hall da Faculdade Cantareira, onde, num percurso batizado como Espaço Casa Ecológica, o visitante conhecerá materiais e tecnologias verdes, acompanhados por displays também produzidos com materiais reciclados, com informações sobre geração, usos e aplicações dos produtos.

Os visitantes têm a oportunidade de ver: argamassas ecológicas, blocos cerâmicos e blocos de concreto reciclados, cal obtida sem emissão de gás carbônico, cimentos fabricados com resíduos industriais, colas de base dágua, base vegetal e sem odor, energia solar e eólica, mini-estações de tratamento e reuso de água e esgoto, painéis divisórios reciclados e de resíduos vegetais, paisagismo sustentável, pisos ecológicos, resinas ecológicas e à base de água, sistemas de captação e aproveitamento de água de chuva, sistemas para controle e gestão dos resíduos domésticos, telhas e cumeeiras recicladas, tijolos sustentáveis, tintas atóxicas, tubos e conexões de plástico atóxico [sem PVC] e de plástico reciclado, vernizes ecológicos.

Os ecoprodutos e tecnologias contam com painéis didáticos feitos de material reciclado, com textos sobre impacto ambiental e benefícios gerais, matérias-primas, processo produtivo e avaliação de desempenho sustentável, com o objetivo de informar, educar e estimular este novo mercado, que é simplesmente fantástico, diz Márcio.

Desafios

O evento traz também o primeiro painel interativo sobre Construção Sustentável no país, Desafios da Construção Sustentável, que segue o mesmo espírito da mostra: os debatedores serão fabricantes e/ou profissionais com realizações práticas na área da Construção Sustentável. Consideramos que, hoje, o desafio não é escrever, falar ou fazer experimentos com materiais e tecnologias sustentáveis, mas sim fabricá-los e usá-los na prática, nas obras, diz o coordenador geral da exposição, Márcio Araújo. Esta é a motivação deste trabalho.

Desafios da Construção Sustentável discute os temas: Reuso de Água no Ambiente Construído [Mini-estações de tratamento e Sistemas de Captação de Água de Chuva]; Produtos Reciclados e Produtos Sustentáveis [Blocos de concreto reciclados e Tubos de plástico atóxico]; Agenda da Construção Sustentável, Selo Verde e Poluentes do Ambiente Construído [Norma e legislação verde, Diretrizes para a Construção Sustentável e Métodos de Controle de Poluentes na habitação]; e Permacultura e Ecovilas [Integração da Construção ao Meio Ambiente e O Desafio de Ser Humano].
 
 

Ibama licencia pesquisa com mamão transgênico

IBAMA – O Ministério do Meio Ambiente anunciou nesta segunda-feira (20/10) o licenciamento do primeiro experimento transgênico de campo no país com regras definidas pelo governo para garantir a segurança da pesquisa. O Ibama autorizou a Embrapa a realizar pesquisas com sementes geneticamente modificadas de mamão para que a planta resista ao vírus da mancha anelar.

O anúncio do licenciamento das pesquisas com o mamão transgênico foi feito pelo presidente do Ibama, Marcus Barros, durante a abertura da oficina de trabalho “Parcerias para a conservação e uso sustentável da biodiversidade e das florestas”, realizada pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas do MMA e a Embrapa. Estavam presentes a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

“É uma marca científica histórica”, afirmou o presidente do Ibama. A Licença de Operação para Área de Pesquisa (Loap) tem duração de três anos e vale para o experimento que está sendo conduzido na unidade da Embrapa em Cruz das Almas (BA), em uma área menor que um hectare.

O presidente do Ibama explica que o licenciamento é essencial para garantir que as pesquisas não venham a prejudicar o meio ambiente, contaminando plantações vizinhas.

A pesquisa servirá para verificar o comportamento do mamoeiro transgênico fora dos laboratórios e o impacto ambiental da cultura alterada geneticamente. O Brasil é o maior produtor mundial de mamão, com 31,6% da produção e o principal problema para o cultivo é o vírus da mancha anelar, que reduz a quantidade e a qualidade da produção.

Atualmente, quando o mamão é atacado pela mancha anelar, plantas infectadas são cortadas e queimadas, pois não existem produtos eficientes para o combate a doença. Para emitir a Licença de Operação para Área de Pesquisa, além das informações da Embrapa, o Ibama realizou visitas técnicas à unidade em Cruz das Almas para avaliar as condições do local, das áreas vizinhas e do cercamento. Esses procedimentos devem garantir que mamoeiros vizinhos não sejam contaminados pelos transgênicos. Todo o procedimento de licenciamento atende à Resolução 305/2002 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e à Instrução Normativa 02/2003 do Ibama.

Segundo a Coordenação de Licenciamento de Organismos Geneticamente Modificados do Ibama, o experimento teve parecer aprovado pela CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Mais de 60 outras solicitações de pesquisa de campo, com organismos geneticamente modificados, da Embrapa e de empresas privadas, já foram encaminhadas ao Ibama. Os pedidos são para pesquisas com culturas como o milho, algodão, feijão, arroz, soja e a batata.

Lula tenta definir plano de biossegurança para o país

Rota Brasil Oeste  – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai intensificar as discussões com membros do governo para definir o projeto de lei que regulamentará a biossegurança no país. O objetivo é chegar a uma solução concreta para os transgênicos, por mais que a pauta ainda divida as opiniões no governo. Enquanto alguns ministros defendem estudos ampliados antes da definição do governo, outros acreditam que o presidente Lula deve decidir logo qual a posição oficial sobre os alimentos geneticamente modificados.

O presidente se reuniu nesta terça-feira (21), no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), com os ministros Marina Silva (Meio Ambiente), José Dirceu (Casa Civil), e com o presidente do Ibama, Marcus Barros. Nesta quarta-feira (22), o presidente vai participar de reunião ampliada com todos os ministros envolvidos no tema.

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, disse nesta terça-feira (21) que a reunião é fundamental para que seja definida de uma vez por todas as questões sobre biossegurança e biotecnologia. “Espero que cheguemos a um consenso”. O ministro também lembrou que os produtores também têm até domingo para assinar o termo de compromisso, declarando se plantam produtos organicamente modificados ou não. “É fundamental que eles assinem o termo. Eu espero que isso aconteça o mais rápido possível, para amanhã resolvermos esta questão”.

com informações da Agência Brasil

Frente Parlamentar vai defender o rio São Francisco

Agência Câmara – A Frente Parlamentar em Defesa da Revitalização do Rio São Francisco foi lançada hoje (21), na sala da Comissão de Defesa do Consumidor Meio Ambiente e Minorias. Composta por 150 parlamentares, a Frente vai acompanhar o projeto do Governo que trata da transposição das águas do rio.

O Velho Chico, como é conhecido o São Francisco, é o eixo principal de 32 sub-bacias hidrográficas, tem 2.017 quilômetros de extensão, percorre quase 10% do território nacional, passando por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, e banha 504 municípios.

Revitalização

O deputado Fernando Ferro (PT-PE), que propôs a instalação da Frente, defende a revitalização do rio, antes de se discutir da transposição das águas. Para ele, é preciso primeiro recuperar as margens ribeirinhas e as matas ciliares do São Francisco, que estão danificadas por práticas agrícolas impróprias.

“A proposta do Governo de transpor as águas do São Francisco para suprir áreas do semi-árido nordestino, que têm carência de água, tem que ser conjugadas com ações de restauração do rio, senão não teremos condições de viabilizar uma obra deste porte. O rio tem limites, pode ser esgotado e degradado ainda mais por esta obra. Então, queremos acompanhar o projeto do Governo, e ao mesmo tempo elaborar as propostas legislativas que poderão garantir a revitalização, como parte de uma política de desenvo
lvimento sustentável” – explica Ferro.

O deputado antecipou que uma das primeiras atividades da Frente será um encontro com o vice-presidente da República, José Alencar, que é o coordenador do projeto de transposição.

Reportagem – Lucélia Cristina
Edição – Luiz Claúdio Pinheiro

 

Recrudesce o conflito entre índios Cinta-Larga e garimpeiros

ISA – Os Cinta-Larga estão cansados. Durante a visita que a Comissão Parlamentar de Direitos Humanos fez à aldeia Roosevelt, em Rondônia, em 9 de outubro último, eles se queixaram aos deputados do assédio que sofrem há mais de 20 anos e da violência a que estão expostos todos os dias. Por isso, estão dispostos a lutar até o fim para não deixar que garimpeiros invadam, mais uma vez, suas terras para extrair diamantes.

Reduzidos a cerca de 1.300 pessoas, dispersas em 34 aldeias de quatro TIs (Roosevelt, Parque Aripuanã, Aripuanã e Serra Morena), os índios Cinta-Larga, que em 1968 eram aproximadamente 5 mil, estão lutando para garantir sua segurança e a de suas terras, localizadas no oeste de Mato Grosso e nordeste de Rondônia. Os garimpeiros, por sua vez, começaram uma campanha de intimidação na qual contam com a ajuda da imprensa de Rondônia, que divulga informações inverídicas, sempre com a intenção de acuar os índios. Por exemplo: na semana passada (de 13 a 17/10), noticiaram com alarde que havia mais de mil garimpeiros acampados nas imediações das terras, prontos para invadi-las.

Entretanto, o administrador regional da Funai em Cacoal (RO), Walter Blós, coordenador do Grupo Tarefa criado no final do ano passado para implementar um plano emergencial junto aos Cinta-Larga (veja quadro abaixo), informou à reportagem do ISA que depois de sobrevoar a região com alguns caciques Cinta-Larga, no dia 17/10, verificou que os garimpeiros acampados próximos das áreas indígenas não passavam de 100. Até ali, alguns poucos funcionários da Funai e os próprios índios, tomavam conta das barreiras para impedir a invasão. No sábado, 18/10, finalmente, a polícia ambiental, que havia sido retirada em setembro a mando do governador de Rondônia, Ivo Cassol, voltou por ordem do mesmo Cassol, para reforçar as barreiras.


Sindicato dos garimpeiros vai averiguar

Ao percorrer as barreiras no domingo, 19/10, Walter Blós encontrou uma comitiva de delegados do sindicato dos garimpeiros de Rondônia. Eles queriam saber quem havia autorizado a volta da polícia ambiental. “Ao saber que a ordem partira do governador, passaram, então, a determinar o que a polícia deveria ou não fazer”, conta Walter. “Que eles não deveriam deixar entrar veículos de índios, que não deveriam permitir a entrada de mantimentos etc”. O comandante lhes explicou que não poderia fazer isso porque as terras eram dos índios e eles tinham o direito de ir e vir.

De acordo com Blós, os sindicalistas filmaram, fizeram gravações e foram embora. Em seguida, ele acionou o delegado da Polícia Federal, em Pimenta Bueno, e pediu ajuda para um policiamento ostensivo nas estradas vicinais do entorno. A PF deverá entrar com os veículos e a Funai com o combustível. Walter acredita que o trabalho conjunto entre Funai, PF, polícia ambiental e índios vai acabar afugentando os garimpeiros.

No início deste ano, os índios, depois das muitas idas e vindas de 2002, conseguiram expulsar os garimpeiros. De janeiro a agosto, as terras e o garimpo ficaram sob o controle dos índios. Mas ao aproximar-se a época das chuvas, os garimpeiros ameaçam retornar.


Degradação ambiental, violência, prostituição

“Hoje, os garimpeiros são 100, mas se houver uma brecha, em 24 horas podem se tornar mil, porque há muita gente nas cidades sem nada para fazer, meio errante”, alerta o antropólogo João Dal Poz, da Universidade Federal de Mato Grosso, que trabalha com os Cinta-Larga. João explica que essa é a época do ano propícia ao garimpo, quando começam as chuvas. “Então, é um assalto programado. Eles entram no garimpo, ficam ali dois meses, retiram R$ 2 milhões e vão embora”.

Deixam atrás de si um rastro de destruição e degradação ambiental. Sem contar que a extração de diamantes atrai para a região traficantes, contrabandistas, prostituição, gerando uma situação de tensão e violência às quais os índios não querem mais se submeter. “É um crime de genocídio que está em curso por conta da violência da exploração econômica em cima do garimpo de diamante”, analisa a indigenista Maria Inês Hargreaves que acompanha o caso Cinta-Larga de perto e há muitos anos.


Todo ano é o mesmo filme

A grave situação que ronda os Cinta-Larga não é nova. Esse é um caso emblemático, que sempre é denunciado por lideranças indígenas em foros nacionais e internacionais. Quando o Relatório Brasileiro sobre Direitos Humanos Econômicos Sociais e Culturais (DhESC) foi lançado em junho de 2003, um dos casos denunciados, foi o do Povo Cinta-Larga. O relator titular para a área de meio ambiente, Jean-Pierre LeRoy, preocupado com as recentes ameaças, enviou ao ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, carta datada de 29 de setembro, em que solicitava providências daquele órgão governamental, por temer um conflito armado iminente.

No dia seguinte (30/09), o governador de Rondônia, Ivo Cassol, também enviava ao ministro da Justiça um ofício, solicitando providências para evitar “um novo conflito com derramento de sangue”. Além disso, colocava o Estado à disposição para fazer uma parceria, encaminhando proposta “para o aproveitamento econômico do diamante no Rio Roosevelt, a ser explorado, através da Companhia de Mineração de Rondônia, CMR…..”. No dia 3 de outubro, foi recebido por Bastos. De acordo com o assessor para assuntos indígenas do ministério, Claudio Beirão, o ofício não foi levado em consideração. “É uma tentativa de legalizar uma situação que é ilegal”, afirmou ele.

Nunca é demais lembrar que a mineração é proibida em terras indígenas, diferentemente da garimpagem, permitida só para os índios e que não é a mesma levada a cabo pelos garimpeiros. Seja como for, a extração ilegal de diamantes colabora com a corrupção, a lavagem de dinheiro, o tráfico de drogas e armas na região.

No dia 9 de outubro, foi promulgada a Lei nº 10.743, pela qual o Brasil tornou-se legalmente credenciado para obter a Certificação do Processo de Kimberley, mecanismo internacional de certificação de origem de diamantes brutos destinados à exportação e importação. Entretanto, o artigo 2º da lei determina que o Processo de Kimberley, na exportação, visa impedir a remessa de diamantes brutos extraídos de áreas de conflito ou de qualquer área não legalizada perante o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM. Situação que se encaixa perfeitamente na questão dos Cinta-Larga.


Versões que não batem

Como se tudo isso não bastasse, na tarde de ontem (20/10), um pequeno avião desceu no garimpo Roosevelt. Dele, desceu o senhor José Roberto Gonzalez, que se apresentou como funcionário da Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) e membro de uma ONG de Minas Gerais chamada Centro Mineiro para Conservação da Natureza (CMCN). Avisada pelos índios, a Funai de Cacoal foi até a área e Gonzalez foi encaminhando pela polícia ambiental à Polícia Federal em Pimenta Bueno.

Ali, de acordo com informações do delegado Fabiano Bordignon, Gonzalez foi ouvido e declarou estar no garimpo para entregar aos índios uma proposta em nome da Companhia de Mineração de Rondônia. Em seguida, foi liberado. Hoje pela manhã, o delegado estava ouvindo o piloto do avião que transportou Gonzalez até o garimpo. Já a presidente da Companhia de Mineração de Rondônia (CMR), Leandra Vivian, que também é chefe de gabinete do governador Ivo Cassol, ouvida pela reportagem do ISA, confirmou que Gonzalez era assessor para assuntos comercias da companhia, mas que desconhecia o fato de ele haver estado com os Cinta-Larga e que teria sido levado para Pimenta Bueno. “Falei com ele ontem e hoje e não fiquei sabendo disso”, afirma.

Se de um lado, esse episódio exemplifica que o caso Cinta-Larga ainda está distante de uma solução que leve em conta a lei e os direitos dos índios, de outro, mostrou também que os índios estão atentos e que a Funai está presente, acompanhando cada capítulo dessa história, com apoio da polícia ambiental de Rondônia e da Polícia Federal.


Uma força-tarefa para os Cinta-Larga

No ano passado, depois que várias tentativas de desintrusão dos garimpos Cinta-Larga falharam, um Plano Emergencial foi criado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para criar progrmas de saúde, educação, comunicação e para fazer um diagnóstico da área. “O objetivo era um só: resgatar a dignidade dos Cinta-Larga”, relata Walter Blós, administrador da Funai em Cacoal (RO). Os recursos foram liberados em novembro. A Polícia Federal que estava na área, acabou se retirando a pedido dos índios, e em 25 de janeiro, não havia mais nenhum garimpeiro na área. De 30 de janeiro até 2 de agosto o garimpo ficou fechado.

Barreiras foram formadas por funcionários da Funai e índios para que nenhum branco entrasse. Nesse período, a Funai promoveu um fórum Cinta-Larga com a presença da Coordenação Indígena da Amazônia Brasileira (Coiab), do Conselho Indigena de Roraima (CIR) e várias lideranças indígenas de outros estados da Amazônia. De sua parte, os Cinta-Larga foram a Roraima ver como funcionavam as associações indígenas. Na opinião de Walter Blós, todo esse processo ajudou as verdadeiras lideranças a se fortaleceram, se sentiram seguros e a auto-estima aumentou muito.

ISA, Inês Zanchetta, 21/10/2003.

Manifestação fecha Transamazônica

Estação Vida – Extrativistas do Pará vão bloquear a Rodovia Transamazônica a partir de hoje [21] até a próxima quinta-feira [23], no município de Anapu, no Pará. Cerca de mil pessoas estarão protestando contra o desmatamento, trabalho escravo e a expulsão de comunidades tradicionais. A principal reivindicação é a criação de duas reservas extrativistas [Resex] e a implantação de Projetos de Desenvolvimento Sustentáveis [PDS] em Anapú. Os movimentos sociais denunciam a falência, sucateamento e inoperância dos orgãos públicos e o descaso do Estado na criação de Unidades de conservação.

O distrito tem hoje cerca de 20 mil habitantes e convive com problemas ambientais e sociais há décadas, num processo agravado pela grilagem de terras públicas, ameaças, assassinatos, espancamentos, prisões arbitrarias e pistolagem. Durante o bloqueio, as pessoas estarão usando camisetas com a frase: A morte da floresta é o fim da nossa vida. Coordenado pelo Conselho Nacional dos Seringueiros [CNS] e o Grupo de Trabalho Amazônico [GTA], o movimento espera garantir a criação da Resex de Bacajá [Anapu]. A área de 80.564 hectares beneficiará quatro mil famílias, com expectativa de produção de frutos, essências florestais e exploração sustentável de madeira. A segunda Resex de Riozinho do Anfrizio, no município de Terra do Meio, ainda em fase de estudos, revelou em sua área ter potencial para produzir pescados, castanha, madeira, óleos e borracha.

Os problemas vividos na região começam no Mato Grosso, de onde avança para o sul e oeste paraenses. Os dois governos estaduais privilegiam a soja como alternativa de desenvolvimento e isso apenas abre caminho para madeireiros ilegais e grileiros de terras. Por esse motivo, a Rede GTA e o CNS estão promovendo essa iniciativa de movimentos locais.

Além da manifestação, a comunidade realizará uma plenária para discutir a situação dos trabalhadores rurais da região. Na pauta, manejo da floresta e os casos irregulares, como controlar o desmatamento, debate sobre as reservas extrativistas, a violência na região e a recuperação da Transamazônica.

No dia 16 de outubro passado, os movimentos sociais de Anapu entregaram ao ouvidor Agrário Nacional, Gercino José da Silva Filho, um documento contendo uma série de denúncias sobre invasões e grilagem de terras e reivindicando providências para regularização fundiária. A comunidade está preocupada em proteger a floresta por meio de programas que garantam o manejo sustentado voltado para o benefício das famílias da região.

A região está entre as que sofrerão impacto da hidrelétrica Belo Monte, no Rio Xingu. Além do questionamento da qualidade do estudo de impacto ambiental, o CNS e organizações ambientalistas querem que haja um debate mais amplo sobre a real necessidade deste e de outras hidrelétricas na região.
Floresta e reforma agrária Existem três modalidades de projetos de reforma agrária, administrados pelo INCRA: PA – Projeto de Assentamento; PAE – Projeto de Assentamento Extrativista; e PDS – Projeto de Desenvolvimento Sustentável. Além destes, há ainda as Reservas Extrativistas, administradas pelo IBAMA, por meio do CNPT. O PDS é uma modalidade que, diferentemente das outras, atende populações não tradicionais mas que partilham das mesmas preocupações de conservação e manejo sustentável da floresta amazônica.

Somente na região Amazônica já foram criadas 18 reservas extrativistas florestais, correspondendo a uma área de 4.845.721 hectares e 28.914 famílias e outras cinco Resex marinhas, com 100.531 hectares e 5.819 famílias. O programa de reservas extrativistas é hoje coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Populações Tradicionais – CNPT do IBAMA.

Reservas extrativistas do Pará
– Verde para sempre, no município de Porto de Moz;
– Mapuá, no município de Breves;
– Anilzinho, no município de Baião;
– Mutum, no município de Novo Repartimento;
– Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna;
– Josinópolis, no município de Marabá;
– Renascer, no município de Prainha.
– Soure, no município de Soure. 
 

Assentamentos de reforma agrária terão licenciamento ambiental

Os ministérios do Meio Ambiente (MMA) e do Desenvolvimento Agrário (MDA) deram hoje o primeiro passo para assegurar o desenvolvimento socioambiental nos projetos de assentamento de reforma agrária do Incra. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado entre os dois ministérios e a Procuradoria Geral da República, prevê que em três anos o Ibama e o Incra realizem o licenciamento ambiental dos assentamentos de reforma agrária.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o objetivo é permitir que os assentados possam desenvolver atividades sustentáveis nos aspectos econômico, social, ambiental e cultural. Ela destacou que o TAC deve ser encarado com uma transição entre o modelo antigo de fazer assentamento, sem preocupação ambiental, para um novo modelo, no qual a variável ambiental é incluída no processo desde o planejamento. “Tivemos uma política equivocada em relação à reforma agrária e meio ambiente durante todos esses anos e a partir deste TAC queremos resolver o passivo ambiental e criar um processo virtuoso para os assentamentos”, afirmou a ministra.

Dos 4.528 projetos de reforma agrária cadastrados no Incra, 95% não têm concluídos os procedimentos e estudos necessários para a efetivação do licenciamento ambiental. O licenciamento é condição necessária para a concessão de crédito rural aos pequenos agricultores assentados nos projetos de reforma agrária criados pelo Incra. É a partir do licenciamento que serão definidas as áreas que o produtor rural poderá desmatar para exercer suas atividades econômicas ou de subsistência.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, afirmou que as questões ambientais não devem ser tratadas como um problema para os assentamentos rurais. Ele explicou que os problemas ambientais devem ser resolvidos de forma positiva, adequando os assentamentos ao licenciamento ambiental e realizando o licenciamento nos novos empreendimentos. “Não é coincidência que a degradação ambiental dos assentamentos venha acompanhada de sua degradação econômica”, disse o ministro.

O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, considera importante a utilização de instrumentos como o TAC, que possibilitam a correção de distorções sem a necessidade de ações na Justiça. “O Ministério Público está sempre pronto para dialogar com as instituições governamentais”, afirmou o procurador.

O TAC prevê a realização de um levantamento preliminar de dados dos Projetos de Assentamento; a adequação das normas de licenciamento ambiental dos projetos de assentamento e a negociação de acordos, convênios e termos de cooperação entre Ibama e Incra ou entre eles e os órgãos estaduais de meio ambiente para diminuir custos gerais e acelerar trâmites dos licenciamentos. Segundo o acordo, o Incra terá prazo de três anos para solicitar o licenciamento ambiental dos projetos de assentamento que ainda não tenham passado pelo procedimento. 
 
 

Sequestro de carbono pode ser fonte de renda na Ilha do Marajó

Embora uma boa parcela das famílias que formam núcleos habitacionais na Ilha do Marajó, no Pará, não entenda completamente o que seja seqüestro de carbono, decidiu participar dessa iniciativa proposta a elas por instituições envolvidas com as questões ambientais, entre elas a União Européia. Até porque, aprendeu e entendeu que essa atitude não apenas proporciona melhoria em suas vidas, mas propicia uma vida mais saudável para grande parte do planeta.

Os moradores da maior ilha fluvial-marítima do mundo, com 50 mil Km² de área, estão sendo esclarecidos sobre as formas adequadas de continuar a tirar seu sustento da floresta, porém sem destruí-la e, assim procedendo, melhorar as condições de vida nos núcleos ribeirinhos. Conscientizam-se também de que as ações articuladas de sustentabilidade geram ganhos ambientais que vão refletir até em outros países.

“Todos que derrubam e queimam a floresta estão prejudicando todo o planeta”, já aprendeu João Monteiro de Oliveira, morador da comunidade de Bom Jesus de Aramaraquiri, município a cerca de 40 quilômetros de Curralinho. A comunidade é uma das participantes da “Iniciativa Curralinho-Marajó”, incluída no Projeto Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia (Poema), da Universidade Federal do Pará (UFPA), que tem aporte financeiro da Comunidade Européia (CE).

Entre as metas do projeto está a de seqüestrar até 4.200 toneladas de carbono da atmosfera por ano com a ajuda das 70 famílias que se comprometeram em preservar 20 hectares de suas propriedades para a preservação ambiental. Isso tudo dentro do estabelecido pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), definido pela Convenção de Mudanças Climáticas e Protocolo de Quioto, “embora nem todas as cláusulas estejam totalmente definidas”, lembra o sociólogo Thomas Mitschein, coordenador geral do Poema.

A proposta é que em troca da preservação ambiental daquela área, cada família receberia uma fatia do que for arrecadado com a venda de créditos de carbono.

Para permanecer no projeto a pessoa não pode derrubar ou queimar a mata preservada por dez anos. “Então é justo que cada um receba uma recompensa por deixar a mata em pé”, sentencia Manuel Geoval de Matos, presidente da Cooperativa Agrícola de Bom Jesus do Aramaraquiri. Esse apoio vem, por exemplo, com a implantação de sistemas agro-florestais (Safs) na área, que consiste na introdução de culturas consorciadas com árvores frutíferas, como caju e cupuaçu, de madeiras de uso comercial e apicultura.

Essa produção é direcionada ao consumo local, todavia, será canalizada também à comercialização. As frutas serão aproveitadas para polpas ou compotas, as castanhas de caju e do Pará para beneficiamento e a madeira manejada vendida para a indústria da região.

Essas técnicas de cultivo consorciado, manejo florestal e aproveitamento sustentado, como é o caso do palmito do açaí, já processado em pequena escala ainda na comunidade de Bom Jesus de Aramaraquiri, são ensinadas por especialistas do Poema por meio de cursos e palestras.

Uma vez preparados os monitores, eles repassam as informações aos produtores das 13 comunidades envolvidas, que recebem kits para desenvolver avicultura, agricultura, piscicultura e apicultura, o que representa um investimento mensal de US$ 2 mil com cada família por um ano. Para 2004, de acordo com Mitschein, o objetivo é expandir a iniciativa para mais comunidades marajoaras chegando a 500 famílias.

Segundo o sociólogo, ainda não existe um projeto estruturado de como vender os créditos de carbono, “mas o importante é estar com esse objetivo traçado enquanto essa questão se ajusta entre os países dentro do Protocolo de Quioto”, diz ele.

Mitschein lembra que o projeto ainda não alterou significativamente a vida das famílias no sentido econômico, mas no que concerne a infra-estrutura, por exemplo, alguns avanços já foram conquistados. Hoje, a comunidade de Aramaraquiri, onde o acesso só é possível pelo rio Amazonas, “já tem um barco de médio porte, um escritório, telefone, antena parabólica e acesso a Internet”, ressalta Geoval de Matos.

Ele diz que antes do apoio da Comunidade Européia a situação era precária e “muitos produtores destruíam a floresta para garantir sua sobrevivência. Agora, ainda há quem explore madeira na ilha, mas em escala bastante reduzida”.

O número de famílias participantes ainda é pequeno em sua opinião. Ele acredita que muitos produtores já percebem a mudança que se processa na vida daqueles que aderiram a iniciativa e começam a procurar informações de como participar. “À medida que os resultado positivos forem sendo alcançados mais e mais famílias virão se somar ao projeto”, ressalta Geoval com entusiasmo.

Um dos entraves que emperram parte dos projetos de desenvolvimento sustentável na região amazônica é a posse da terra. A totalidade dos extrativistas não tem documentação das áreas ocupadas. “Essa é uma barreira que desacelera os projetos ambientais até porque dificulta a aprovação de financiamentos para os produtores e o apoio de instituições estrangeiras e Ong’s”, diz Mitschein.

O conselheiro da CE, Thierry Dudermel, destaca que o entrave burocrático para que os produtores obtenham documentos de posse contribui para desanimar a adesão de algumas famílias aos projetos de preservação ambiental. “Essa questão também não deixar de trazer embaraços para a liberação de recursos por parte da Comunidade Européia”, lembra Dudermel, afinal há sempre o envolvimento de diversos governos nessas ações.

Esse item burocrático acaba tendo reflexos em algumas fases dos projetos, como é o caso da instalação das agroindústrias para processamento de castanha do Pará, de caju e do palmito colhido pelas comunidades filiadas ao projeto Curralinho-Marajó. Há quase dez meses a cooperativa formada aguarda por documento do Ibama liberando seu funcionamento. Enquanto a autorização não chega os produtos são comercializados só na região e em pequena quantidade.

Esse emaranhado burocrático termina por se constituir num contra-fluxo para os projetos levados para a região. Isso porque a grande maioria que vive do extrativismo vegetal (90% da receita tributária de Curralinho) frente a barreiras que lhe pareça intransponível volta rapidamente ao antigo roteiro predatório, pois é assim que entende sua sobrevivência.

O prefeito de Curralinho, Álvaro Aires da Costa, acha que toda essa ajuda da CE é muito importante para a preservação do meio ambiente e das famílias da região. Todavia, coloca que com o alicerce fixado para que os produtores mantenham a floresta, também se consegue garantir uma base segura para que a cultura popular local não desapareça com o tempo.

Curralinho, com pouco mais de 20 mil habitantes e embora distante 30 minutos de avião de Belém, ou até 4 horas de barco, não está imune aos ataques dos malefícios da vida moderna. Como forma de prevenção, desenvolve um projeto de valorização e manutenção da cultura regional, como é o caso do folclórico carimbó, agregando os estudantes do município.

Na visão do prefeito Costa, enquanto estudam e pesquisam sobre as manifestações culturais da Amazônia, os jovens e adolescentes estão afastados do convívio com as drogas e a violência.

Assentado na mesma premissa de desenvolvimento sustentável, mas sem a vertente do seqüestro de carbono, está o projeto de implantação de bases integradas para a proteção do meio ambiente. Ele é parte do Projeto Demonstrativo (PDA) que por sua vez é um subprograma do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio da secretaria de Coordenação da Amazônia.

Um de seus exemplos é a Associação dos Produtores Rurais e Criadores de Peixe da Comunidade de Coroca (Aprucipesc), que há 8 anos congrega 26 associado

s (17 famílias) da comunidade instalada a cerca de 3 horas de barco de Santarém (PA), na margem esquerda do rio Arapiuns.

O PDA tem como alvo contribuir para a preservação e conservação da Amazônia, da Mata Atlântica e de seus ecossistemas associados com a manutenção do homem como gerenciador dessas ações. Essa iniciativa por sua vez deve permitir e oferecer condições para sua permanência com a família nas áreas que ocupa.

Em Coroca, além da introdução dos Sistemas Agroflorestais (Safs), ou seja, a reunião consorciada de várias culturas, também se desenvolve a criação de Tartarugas-da-Amazônia. Os quelônios são criados num viveiro no lago Coroca que também abriga 4 mil tambaquis. As 3.500 tartarugas de hoje são alimentadas com produtos derivados das ações agroflorestais e também com ração produzida com farinha obtida a partir da carcaça de peixe.

Como a carne de tartaruga é um dos pratos da culinária amazônica, a Aprucipesc pretende ter um restaurante em Coroca para oferecer a iguaria aos turistas. Para sua concretização, que infelizmente não deve ser para este ano como desejava a comunidade, são necessários R$ 44 mil, verba que não faz parte dos US$ 4 milhões que a CE já alocou para a primeira fase dos projetos.

Além da lagoa Coroca, a piscicultura também ocupa parte do leito do rio Arapiuns, onde são mantidas gaiolas para a engorda de várias espécies. Para alimentar os viveiros também se usa a ração produzida na comunidade. Tanto os peixes, quanto à farinha e os demais produtos conseguidos pelas famílias, como biscoitos, frutas e mel são comercializados na região.

O mel, cuja meta é chegar aos 900 litros este ano (em 2002 obteve-se 300 litros), é produzido por abelhas com e sem ferrão. A apicultura é desenvolvida dentro do Safs para facilitar a coleta de néctar por parte das abelhas. São 25 colméias espalhadas pelos dez módulos de 6 hectares cada que pertencem aos associados da Aprucipesc.

Embora acompanhem as atividades diárias dos pais e sejam incentivadas a dar prosseguimento ao projeto, as crianças da comunidade de Coroca freqüentam, com outras da região, escolas municipais para onde se deslocam em barcos, cujo manejo iniciado ainda na tenra idade, permite se estabeleça uma simbiose perfeita entre os rios e os ribeirinhos.

Gelo a partir do sol

Jornal da Ciência – Pesquisadores da UFPB e da UFCG desenvolveram um fabricador de gelo que funciona usando exclusivamente a energia solar. Trata-se de um equipamento que armazena a energia proveniente da luz solar em um carvão especial e transforma essa energia em frio durante a noite, período em que o gelo é fabricado

Não utiliza motor nem compressor, nem qualquer forma de energia elétrica para funcionar. O sistema foi projetado para fabricar até 10 kg de gelo por dia, usando uma placa de 1 m2 de coletor solar, em climas típicos do litoral do Nordeste, podendo ter uma produção ainda maior na região do semi-árido.

Quanto maior a diferença de temperatura entre o dia e a noite, maior será a produção de gelo do refrigerador. Seu funcionamento é simples e pode ser operado por qualquer pessoa.

O fabricador de gelo solar poderá ser usado em cooperativas agrícolas e colônias de pescadores, produzindo a conservação dos produtos com custo operacional zero – sem o insumo eletricidade – agregando valor na sua comercialização.

Poderá também ser usado para a conservação de alimentos e vacinas em comunidades não servidas pela rede elétrica.

Além de não consumir energia elétrica, o fabricador de gelo solar utiliza um fluido – o metanol – não agressivo ao meio ambiente, ou seja, não ataca a camada de ozônio, nem contribui para o efeito estufa (aquecimento global do planeta).

Este tipo de refrigerador solar vem sendo estudado desde 1999 no Laboratório de Energia Solar – LES da UFPB, em João Pessoa, por uma equipe de pesquisadores coordenada por Antonio Pralon Ferreira Leite, do Depto. de Engenharia Mecânica da UFCG.

Participam da equipe os professores e pesquisadores do LES Francisco Antonio Belo e José Maurício Gurgel, os técnicos do LES João de Deus Nunes e Luiz Francisco da Cruz, os alunos do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFPB Marcelo Bezerra Grilo e Rodrigo Ronelli Duarte de Andrade e o Bolsista de Iniciação Científica do Curso de Engenharia Mecânica da UFCG Jorge Luis Formiga Peixoto de Moura.

A pesquisa tem recebido apoio financeiro do CNPq e do Banco do Nordeste, que viabilizaram o projeto e a construção de uma unidade piloto que se encontra em fase de testes no LES.

Os primeiros resultados são animadores; nos testes realizados no último mês de setembro o refrigerador solar produziu 6 kg de gelo/dia a uma temperatura de – 3 oC.

Esses resultados e o funcionamento do refrigerador solar serão apresentados em dois congressos internacionais este ano, em Portugal e na China.

A próxima etapa da pesquisa será a realização de testes de campo em dias representativos de todos os meses do ano, para avaliar o comportamento do equipamento conforme as variações climáticas.

Uma outra fonte de energia que poderá ser usada no equipamento, em dias de muita nebulosidade ou chuva, é o gás natural, que é um combustível abundante no Nordeste, barato e pouco agressivo ao meio ambiente.

Este é o tema do próximo projeto de pesquisa da equipe do LES, que está sendo encaminhado ao CNPq e à Petrobras.

Mais informações pelo e-mail: margrilo@hotmail.com