Cinta Larga em pé de guerra

Rota Brasil Oeste – A Funai esta em alerta total na região de Cacoal, RO. Cerca de cento e cinqüenta garimpeiros estão acampados à mil metros da Terra Indígena Roosevelt, como forma de intimidar a etnia dos Cinta Larga. O clima é tenso, segundo o indigenista Walter Blós responsável pelo Grupo Tarefa que está na região tentando negociar o impasse.

“Não se acua uma onça e os Cinta Larga são guerreiros Tupi, se os garimpeiros pensam que estão amedrontando os índios enganam-se, por isso faremos tudo para evitar uma reação”, ressalta Blós. Como medida de prevenção a administração da Funai de Cacoal solicitou apoio ao Governo do Estado que colocou quinze policiais ambientais para acampar nas barragens que dão acesso à área.

Os garimpeiros receberam promessa de políticos de que seria permitido o garimpo na terra indígena, o que serviu de incentivo para pressionar a invasão da terra indígenas. Mas o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, divulgou nota oficial garantindo que não será permitido nenhum tipo de exploração nem a presença de garimpeiros em terras indígenas.

Os Cinta Larga tem apenas 30 anos de contato com a sociedade nacional e a invasão de seu território para exploração mineralógica acarretou sérios problemas de saúde, ambientais e culturais. Desde o início da invasão da reserva Roosevelt, no final de 1999, já aconteceram quatro operações envolvendo várias instituições. Segundo Walter Blós, elas não obtiveram êxito por ter caráter repressor: “Nossa ação no momento é recuperar a auto estima dos Cinta Larga e incentivar o retorno de suas práticas, o que já acontecendo. Inclusive as mulheres que haviam casado com não índios, acabaram com esses casamentos e retornaram”.

Com informações da Funai

Massa de gelo na terra está diminuindo bruscamente

O gelo no entorno da Antártica está diminuindo de forma rápida e brusca. A conclusão é dos resultados mais relevantes dos estudos e observações realizados pelos cientistas brasileiros no Programa Antártico (Proantar), projeto de pesquisas científicas que o Brasil desenvolve há 21 anos no continente gelado. Os estudos mais recentes do programa foram apresentadas, nos últimos três dias, no XI Seminário sobre Pesquisa Antártica, no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP).

“Hoje, na província Antártica, que é a região onde o Brasil atua, está evidente que as geleiras estão recuando e que a massa de gelo acumulada na terra está diminuindo”, afirma o coordenador científico do Centro de Pesquisas Antárticas da USP, Antonio Carlos Rocha Campos, que esteve na base brasileira este ano.

O Brasil, desde 1982, conta com uma estação de pesquisas permanente no continente, a base Comandante Ferraz, localizada na baía do Almirantado, na Ilha Rei Jorge. A região onde está instalada permite uma visualização bastante nítida do recuo da camada de gelo. “Cabe agora perguntar, e essa é a grande questão que a comunidade internacional formula, se se trata de uma variabilidade natural do meio ambiente ou se isso foi induzido pelo homem, possivelmente associado a um processo de aquecimento global”, afirma o coordenador de glaciologia do projeto, Jefferson Cadia Simões.

Segundo ele, as conseqüências dessa diminuição da camada de gelo ainda não são totalmente conhecidas, mas podem influir no clima. Simões chama atenção para a possibilidade de, a partir dos estudos do Proantar, o país começar a incluir o nível de gelo da Antártica em suas equações de modelos climáticos, usados para a previsão do tempo, o que permitiria uma margem de erro menor do que as previsões atuais.

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Simões dirige a Rede 1 do programa Antártico, frente de pesquisas voltada à análise de questões como a evolução do buraco da camada de ozônio, o aquecimento global e seu impacto nas geleiras da Antártica. Segundo ele, as pesquisas brasileiras devem voltar-se mais para assuntos de grande importância sócio-econômica. “A nossa frente de pesquisa é uma tentativa de direcionar o programa Antártico brasileiro para questões pertinentes à nossa realidade. Queremos levar para o cotidiano dos nossos estudos questões importantes da agenda internacional, trazidas à tona pelo protocolo de Quioto e pelos protocolos de preservação da camada de ozônio”, afirmou.

No próximo dia 29, o navio Ary Rongel, da Marinha, sai do porto do Rio de Janeiro, levando mais uma tripulação brasileira ao continente. É a XXII Operação Antártica. A base brasileira na Antártica é formada por 60 módulos. No próximo verão austral, serão desenvolvidos 25 projetos científicos, envolvendo 138 pesquisadores. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia os trabalhos por meio do Proantar. A Marinha mantém no local um grupamento com 10 homens e a Aeronáutica realiza sete vôos por ano para transportar equipamentos e pesquisadores. O Ary Rongel intercala com o navio Barão de Tefé o transporte de pesquisadores e pessoal de apoio, do Brasil, ao continente gelado. Informações adicionais sobre o seminário estão no endereço www.igc.usp.br/subsites/cpa.

Encontro irá debater Ensino Médio Indígena

MEC – O evento reunirá durante três dias, em Brasília, lideranças, organizações e professores indígenas de todo o país, além de secretarias e conselhos estaduais de Educação, órgãos governamentais, como o Ministério Público, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e o Conselho Nacional de Educação (CNE), além de organizações não-governamentais.

O objetivo do encontro é dar início a uma ampla discussão para a formulação de política para o ensino médio, dirigida aos povos indígenas, que respeite as conquistas da educação escolar indígena identificadas pelos grupos que atuam com a questão em todo o território nacional.

Existe uma significativa demanda indígena pelo ensino médio, principalmente no Sul do Brasil, no Nordeste, no Mato Grosso do Sul e na Amazônia, afirma a professora Marise Nogueira Ramos, diretora de Ensino Médio da Secretaria de Ensino Médio e Tecnológico (Semtec), do MEC.

Além de suas necessidades, queremos ouvir o que eles têm a dizer sobre sua experiência educacional.

Ao final do seminário, será elaborado um documento, contendo sugestões sobre a concepção, o formato e as estratégias para um ensino médio indígena, e feita uma análise da relação entre ensino médio e ensino superior para os povos indígenas.

O documento vai subsidiar a proposta de programas do MEC, como o Programa Diversidade na Universidade, e a política do Ministério da Educação, que visa à diversidade étnica em todos os níveis de ensino no Brasil.

Programação:

1º dia (20/10)

Abertura com o ministro Cristovam Buarque
Tema do dia: A formulação e a implementação de políticas de ensino médio para os povos indígenas no contexto da coordenação da educação escolar indígena pelo MEC (posição e propósito da Semtec).

Palestrantes:
Secretário de Educação Média e Tecnológica – Antonio Ibañez Ruiz
Diretora de Ensino Médio – Marise Nogueira Ramos
Diretor de Educação Profissional – Ivone Maria Elias Moreyra Seif/CGEAI

Trabalho em grupo: Conquistas da educação escolar indígena identificadas pelo grupo; como um ensino médio para os povos indígenas se encaixaria no quadro das conquistas da educação escolar indígena identificadas; levantamento das experiências de ensino médio vividas pelos diversos povos indígenas.

2º dia (21/10)

Trabalho em grupo: ensino médio, identidade e sustentabilidade indígena; ensino médio e magistério indígena; relação entre ensino médio e ensino superior para os povos indígenas.

3º dia (22/10)

Trabalho em grupo: concepções, formato e estratégias para um ensino médio indígena.
Redação do documento final.

Local: Instituto Israel Pinheiro, Brasília

Rosa Pecorelli

Funai atua em área dos Cinta Larga

O coordenador do Grupo Tarefa, criado pela Funai para a proteção aos índios Cinta Larga, Walter Blos, relatou a ação da Funai, à comissão de deputados federais que esteve na aldeia Roosevelt. A ação do órgão indigenista foi desencadeada em janeiro deste ano, com o objetivo de proteger os Cinta Larga. Até o início do plano emergencial que envolveu diversos órgãos governamentais, os índios estavam sendo cooptados por garimpeiros e madeireiros, que e a desagregação de suas aldeias ameaçava a integridade física, já que os conflitos foram inevitáveis, dada a ilegalidade das ações.

Blos explicou que a ausência do estado fez com que essas atividades ilegais se instalassem com facilidade no interior das terras indígenas Roosevelt, Parque do Aripuanã, Serra Morena e Aripuanã. Estradas foram abertas no interior do estado por garimpeiros e madeireiros.

"Com o dinheiro fácil do tráfico de diamante e madeira de lei, logo vieram os conflitos, crimes, prostituição e doenças. A comunidade indígena sofreu sérios danos, entre eles, a paralização das aulas nas escolas e o início da desagregação da cultura Cinta Larga. Esses índios têm apenas 30 anos de contato com nossa sociedade. Hoje, a situação é outra e os Cinta Larga não aceitam mais as propostas dos garimpeiros e madeireiros. Há um trablaho sério sendo desenvolvido junto às comunidades de todas as terras indígenas ameaçadas. Os índios agora querem a garantia da ação do governo federal em sua proteção", explicou Walter.

O Grupo Tarefa da Funai, centralizado na Administração Executiva Regional (AER) da Funai em Cacoal, faz consecutivos relatórios junto à presidência da Funai e ao gabinete do Ministério da Justiça e trabalha com o apoio da Polícia Federal. Durante toda esta manhã (15), Blos e agentes federais fizeram a vigilância nas estradas vicinais, abertas no passado pelos garimpeiros e madeireiros para investigar boatos sobre a invasão e fechamento das estradas por garimpeiros. A determinação do atual presidente, Mércio Pereira Gomes, é a continuidade da ação do Grupo Tarefa para a proteção dos povos que habitam as terras indígenas ameaçadas.

Usina de cana é multada em R$ 10 milhões por Ibama

Ibama – A Gerência Executiva do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis de São Paulo (Ibama/SP) multou hoje (15/10) em R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) a Usina de Pedra, no município de Serrana (SP), responsável pelo vazamento de mais de oito milhões de litros de melaço. Subproduto da cana-de-açúcar, o resíduo atingiu os Rio Pardo e, posteriormente, o Rio Grande, em 29 de setembro deste ano.

Tendo como base um laudo técnico expedido pelo Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais (Cepta/Ibama), a Usina da Pedra foi multada ainda por ter provocado a mortandade de 27 espécies de peixes do Rio Grande, de vários tamanhos e em diferentes estágios de desenvolvimento, numa extensão de, aproximadamente, 130 Km. Estima-se que foram mortos cerca de 1.641.203 peixes. A multa também foi procedida considerando a interrupção do abastecimento público de água na cidade de Colômbia por dois dias consecutivos. Mais informações: Gerência Executiva do Ibama/SP: 11.3066.2633 (Ramal: 2723)

Música erudita e popular nas margens do São Francisco

Agência Brasil – Foram 3,7 mil quilômetros rodados e um público de 50 mil pessoas. Essa foi a turnê do pianista Arthur Moreira Lima, “São Francisco, um Rio de Música”, que levou o melhor da música erudita e popular a 12 cidades e municípios que margeiam o rio. Arthur está em Brasília, onde faz, hoje à noite, show que marcará o encerramento do projeto.

A experiência lembra os antigos circos do interior nordestino, que levantavam a lona, faziam o espetáculo e depois desarmavam tudo e seguiam viagem para outra cidadezinha, onde começavam tudo novamente. A diferença é que a aventura do pianista levava na bagagem um piano de cauda, instrumento não conhecido por muitos brasileiros desse imenso país. “O mais interessante era o contraste entre a cultura musical. Numa cidade como Cabrobó, que tem 20 mil habitantes, 8 mil pessoas foram assistir ao show”, diz Murillo Corrêa, técnico de som e iluminação.

O repertório foi inédito para a maioria do público. Músicas de Bach, Beethoven, Lizst, Chopin e Astor Piazzola misturadas a compositores brasileiros como Pixinguinha, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth e Luiz Gonzaga. “Nos emocionou, todo o tempo, ver o povo abandonado, sem oportunidade de conhecer outras coisas. Velhos e crianças acostumados a ouvir ‘axé-music’ e que têm sede de cultura. As pessoas só não bebem cultura porque não se mostra cultura a eles”, denuncia Murillo.

É um engano pensar que as pessoas que nunca foram a um concerto ou a uma ópera não sabem aplaudir ou se comportar diante de uma obra erudita. “O público mais humilde bate palma quando se sensibiliza e as crianças ficam fascinadas. Eles não aplaudem só para fingir que conhecem a peça”, conta Carlos Gustavo Kersten, afinador do piano.

Depois de quase um mês viajando juntos, de 13 de setembro a 4 de outubro, a equipe de técnicos e músicos virou uma grande família pois, para chegar ao show e aos aplausos finais, foi preciso muito trabalho. Imagine 23 pessoas viajando juntas, acordando juntas, almoçando juntas e trabalhando juntas todo o tempo. Para sobreviver ao cansaço, muita diversão garantiu a turnê, que passou por momentos difíceis. O maior problema encontrado foram as estradas esburacadas. Com dois caminhões, um ônibus e três carros, os resultados foram doze pneus furados, motor superaquecido, problema nas mangueiras e o vidro de um dos veículos quebrado por uma pedra. Horas de paciência nas estradas vazias esperando a ajuda do borracheiro mais próximo, da cidade vizinha. Isso sem contar as duas viagens de balsas e o medo do peso dos caminhões durante a travessia.

Problemas à parte, o saldo da turnê foi de muita diversão, aplausos e histórias para contar. Na primeira cidade, São Roque de Minas (MG), a rádio local telefona pedindo uma entrevista. O nome do veículo, “Rádio Chapadão”, soou diferente engraçado aos músicos. A viagem continua e um homem, que não conhecia Arthur, o pára, vendendo flautas feitas de latas de margarina. O pianista convida o rapaz para tocar com ele no show “Ah! O senhor é músico?”, pergunta. No espetáculo, o flautista entoa “Tico-tico no Fubá” e se empolga, “Vai uma Aquarela também?”, conta Arthur sem conseguir controlar o riso.

Mas nem sempre era diversão. Na maior parte da turnê, o trabalho era sério. O caminhão-palco levava quatro horas para ser montado e o piano foi quem mais sofreu. Vindo de Santa Catarina, demorou a se acostumar com a temperatura alta – em Petrolina, por exemplo, o calor era de 47º – e afiná-lo também era uma tarefa demorada. Gustavo Kersten ficava de duas a cinco horas para cumprir a missão. Os shows eram realizados à noite e na manhã seguinte, Arthur Moreira Lima visitava as escolas. Com um pequeno piano dava aula às crianças sobre o instrumento e a música erudita. “Em algumas cidades, as pessoas nunca tinham visto um piano”, conta Arthur. Era atração na certa.

Além da música, um projeto paralelo esteve na bagagem. Enquanto Arthur tocava e ensinava, sua esposa, a odontóloga Margareth Garrett, distribuía pastas e escovas de dente. “Tinha criança que entrava na fila três vezes”, emociona-se o pianista. Junto à distribuição, Margareth dava noções de higiene bucal, fazendo do “São Francisco, um Rio de Sorriso”.

A idéia de andar por esse “Brasilzão” afora foi do próprio Arthur que, com um financiamento para compras de caminhão, obteve o seu. Aos pouquinhos, foi transformando a carroça em um palco com piso e decoração. Hoje, há até um espaço para o camarim, com direito a uma cama. “Eu sempre quis fazer algo assim, palco sai caro para a prefeitura e demora a ser montado e desmontado. O bom do caminhão é poder rapidamente transformar qualquer lugar num centro cultural”, revela o pianista aventureiro.

A viagem seguiu pelo leito do Rio São Francisco, escolhido por Moreira Lima, que o considera o marco mais representativo da geografia nacional. “O Rio São Francisco é agredido há séculos”, reclama Arthur. “Mas fiquei contente de saber que as pessoas já têm uma consciência ambiental, é como o cinto de segurança”, conta o músico comparando as campanhas de preservação do meio ambiente às do Detran que, com o tempo, levaram as pessoas a usar naturalmente o cinto, por saber que pode preservar sua vida.

A viagem teve apoio do governo federal e foi patrocinada pela Caixa e pelos Correios. Começou em Minas Gerais e foi seguindo por Bahia, Pernambuco e Sergipe até chegar a Alagoas. São Roque de Minas (MG), Pirapora (MG), Montes Claros (MG), Januária (MG), Bom Jesus da Lapa (BA), Ibotirama (BA), Paulo Afonso (BA), Juazeiro (BA), Petrolina (PE), Cabrobó (PE), Propriá (SE) e Penedo (AL).

“Foi uma experiência única, extremamente cansativa, mas gratificante. Você se sente mais cidadão que artista e é uma honra trabalhar pelo meu país. A pessoa que mais se realizou com isso fui eu”, diz, emocionado, Moreira Lima.

Alessandra Bastos

ndios Kaiapós consolidam território

Funai – O Ministério da Justiça informa que a portaria nº 1.487 contribui para consolidar a área de 14 milhões de hectares do território Kayapó, composto pelas áreas indígenas Baú, Badjonkore, Las Casas, Kayapó, Makragnotire, Panará e Capoto-Jarina. A iniciativa de reformulação da área foi dos Kayapó, que tinham como objetivos principais o estabelecimento da fronteira do território e a proteção do rio Curuá.

A consolidação da área resultou de um acordo entre líderes Kayapó, fazendeiros e trabalhadores rurais e a prefeitura de Novo Progresso. O Kaiapó Megaron Txukarramãe, que é administrador da Funai em Colíder/MT, foi mediador da reunião e, após encontro com os líderes da terra indígena Baú, afirmou que a consolidação foi uma decisão coletiva. A Terra Indígena Baú ocupa uma área de 1,54 milhão de hectares o que, segundo as lideranças, atende às suas necessidades.

Brasil poderá exportar urânio enriquecido até 2014

Agência Brasil – O Brasil estará efetivamente enriquecendo urânio a partir do início de 2004, quando a primeira das dez cascatas que serão adotadas na fábrica de Resende (RJ) entrar em funcionamento, embora só ao longo do ano o processo atingirá uma escala que permita seu aproveitamento comercial nas usinas do país.

A informação é do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Oldair Dias Gonçalves. Segundo ele, já este ano, as centrifugadoras da primeira cascata da unidade de Resende entram em fase de teste, mas operando sem o urânio. Golçalves explicou que com apenas 30% do seu território prospectado, o Brasil já tem a terceira maior reserva mundial de urânio, com cerca de 600 mil toneladas.

“Temos um enorme potencial exportador de urânio enriquecido. Para se ter uma idéia, nossas reservas são suficiente para tocar as nossas usinas por cerca de mil anos. No entanto, descasos de governos anteriores fazem com que hoje, o minério utilizado em Angra 1 e 2 saia de Catité, na Bahia, vá para o Canadá, onde é convertido em gás, seguindo depois para a Europa, onde é enriquecido, e volte em forma de gás para Resende, onde é transformado em pastilha”.

O presidente da Cnen lembrou ainda que apenas seis países no mundo dominam a tecnologia de ultracentrifugação: Rússia, China, Japão, e um consórcio europeu (Urenco) formado por Holanda, Alemanha e Inglaterra – e é justamente este consórcio que abastece as usinas nacionais. Até mesmo a França e os Estados Unidos utilizam uma tecnologia considerada ultrapassada pelos cientistas. Estes dois países desenvolvem pesquisas no sentido de adotar a tecnologia por centrifugação.

Pela cronologia divulgada esta semana nas Indústrias Nucleares Brasileira (INB) o Brasil reúne potencial para exportar até US$ 12,5 milhões ao ano em Urânio enriquecido, já a partir de 2014
Ao entrar para o seleto grupo dos países que dominam a tecnologia de enriquecimento do urânio e, com a terceira maior reserva do mundo, o Brasil passa a ser o sétimo país a dominar o processo de ultracentrifugação industrial e comercial.

Ao comentar as informações o ministro Roberto Amaral, da Ciência e Tecnologia, destacou a economia de divisas para o país da ordem de US$ 11 milhões a cada 14 meses. Hoje, o gasto nacional no mesmo período chega a US$ 19 milhões. “A meta é chegar a 2010 produzindo 60% do urânio enriquecido utilizados nas duas usinas, e já a partir de 2014 as instalações de Resende terão a possibilidade de exportar serviços e tecnologia autônoma nuclear, além de produzir todo o urânio a ser empregado em Angra I e II e, muito provavelmente, também em Angra III, que com certeza nós construiremos”, disse o ministro.

Na avaliação do ministro, a incompreensão do Estado Brasileiro com os seus programas estratégicos prioritário atrasou a entrada do país no seleto grupo das nações que dominam a tecnologia de enriquecimento do urânio via ultracentrifugação. “Está incompreensão levou a que nos últimos dez anos o Programa Nuclear Brasileiro não recebesse os recursos necessários. Por isto, mesmo dominando a tecnologia de enriquecimento desde a década de 80, o país ainda não pode realizar o aproveitamento industrial e comercial que o domínio poderia lhe possibilitar”.

Roberto Amaral disse que governo do presidente Lula fez a opção pelo desenvolvimento da tecnologia nuclear para fins pacíficos e vem tornando isto claro para o país. “A decisão do presidente é clara pela retomada do Programa Nuclear Brasileiro por considerá-lo estratégico para o país. E o programa nuclear não pode ficar, assim como a ciência e o desenvolvimento, a espera das elocubrações dos contadores e burocratas de plantão”.

Nielmar de Oliveira

Cidades históricas podem ter águas contaminadas

Rota Brasil Oeste – No Quadrilátero Ferrífero, um dos principais distritos minerais do Brasil, encontra-se parte das bacias hidrográficas do rio Doce e do rio das Velhas, duas das mais importantes de Minas Gerais. A região foi responsável por toda a riqueza e prosperidade vividas, durante séculos, pelo estado. Estes méritos, no entanto, vieram acompanhados por uma triste herança deixada pela própria existência dos depósitos minerais e também pela atividade mineradora: a contaminação das águas, solos e plantas por metais pesados.

Recentemente pesquisadores do Laboratório de Geoquímica Ambiental (LGqA) da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), detectaram problemas ligados aos 300 anos de exploração aurífera na região das cidades históricas de Minas. O pricipal deles é a possível contaminação das águas dos municípios da região por arsênio.  A questão é levantada por estudiosos, mas ainda não foi confirmada cientificamente.

A presença do arsênio foi detectada em 1999 pelos pesquisadores do LGqA em amostras de água coletadas em alguns pontos da região, como na Mina da Passagem, local onde já foram extraídas, oficialmente, 35 toneladas de ouro, durante 284 anos de exploração, e que, hoje, é aberto à visitação turística.

O professor Hermínio Arias Nalini Júnior, coordenador do LGqA, acredita que possa existir, sim, um risco alto de parte das águas de Ouro Preto e Mariana estar contaminada, mas enfatiza que ainda não foram levantados dados suficientes para se tirar qualquer conclusão. “Será necessário, no mínimo, um ano de estudos para que possamos dizer qual a real situação dos recursos hídricos dos municípios no que se refere à possível contaminação por metais”, afirma ele. “Ainda assim, a cada ano, deveremos coletar amostras para controle, já que podem ocorrer mudanças físico-químicas no meio”, acrescenta.

O arsênio, elemento químico comumente presente nos sulfetos (arsenopirita), é encontrado nos depósitos de ouro da região de Ouro Preto. Com a exploração secular do ouro da região, grande quantidade de arsenopirita foi colocada em contato com o ar e, conseqüentemente, sofreu o processo de oxidação, liberando o elemento. A contaminação pode atingir lençóis freáticos, cursos d’água superficiais e, em determinados casos, se acumular nas plantas e animais. Os efeitos do contato prolongado com o organismo humano vão desde problemas estomacais até o desenvolvimento de câncer de pele.

Segundo o pesquisador, um fator preocupante é que muitas pessoas encontram água no fundo do quintal, às vezes em galerias antigas de minas de ouro, utilizando-a para o abastecimento doméstico. “Precisamos conscientizar a população a respeito dos problemas que podem ser trazidos pela ingestão do arsênio e de outros metais pesados”, alerta.

Ao longo de 2003, serão coletadas amostras de águas em alguns chafarizes e bicas e em todas as captações de água da prefeitura de Ouro Preto. A análise do material permitirá conhecer a concentração de metais nas águas da cidade e, posteriormente, a elaboração de um modelo de gestão e remediação apropriado, caso as suspeitas sejam confirmadas. Os tratamentos de água para retirada de arsênio podem envolver, por exemplo, a utilização de materiais ricos em hidróxidos de ferro, devido a sua alta capacidade de absorção de metais.

As pesquisas deve ser agilizadas graças a aprovação de novos projetos de pesquisa na área. A Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), por exemplo, financiou a aquisição de um equipamento, de quase US$ 100 mil, que analisa elementos químicos em soluções. O objetivo é poder realizar com rapidez os disgnóticos sobre possíveis elementos prejuficiais à saúde no meio-ambiente. Com apoio das análises e pesquisadores do LGqA, a prefeitura de Ouro Preto promete elaborar um modelo geoambiental apropriado para o município.

O Ciclo do Ouro

Por volta de 1695, a bandeira comandada por Manoel Garcia de Almeida Cunha, “o Velho”, ao buscar água no Córrego Tripuí, deparou com um material desconhecido que chamou de “granitos cor de aço” e que mais tarde constatou ser “ouro de fino quilate” revestido por camada de paládio. Tal fato marcou o início de uma verdadeira corrida às minas gerais e da ocupação e exploração aurífera em toda a região, que em 1711 seria elevada à categoria de Vila Rica de Albuquerque e, posteriormente, em 1823, Ouro Preto, nome dado devido ao tipo do ouro descoberto.

O Ciclo do Ouro brasileiro marcou definitivamente a história do país e do mundo, ao dominar a produção global de ouro durante todo o século XVIII. Das 1.421 toneladas produzidas nesse período, a capitania das Minas Gerais contribuiu com nada menos que 700 toneladas, ou seja, 50% da produção mundial.

A situação durou até por volta de 1800, quando o ouro passou a ocupar um plano secundário na economia nacional, sem deixar, no entanto, de ser explorado com fervor ao longo do século seguinte. No auge do Ciclo do Ouro, as cidades de Mariana e Ouro Preto foram construídas pelas mãos de artistas e escravos, com a suntuosidade digna das mais abastadas colônias da época. As ostensivas igrejas, com seus altares dourados e anjos barrocos, ao lado das ladeiras de pedras e do casario colonial, formam o maior conjunto homogêneo da arquitetura barroca do país. Motivo pelo qual, em 1980, Ouro Preto foi declarada pela Unesco “Patrimônio Cultural da Humanidade”.

Com informações da Agência Brasil

Diretor do Museu Goeldi diz que soja ameaça a Amazônia

Agência Brasil –  “A Amazônia está passando por um processo danoso para a região”. O alerta é de Peter Mann de Toledo, diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi (Mpeg), em Belém (PA), em entrevista ao Programa Revista Amazônia, da Rádio Nacional da Amazônia, da Radiobrás, quando falou sobre os 137 anos de existência da instituição, completados na 2ª feira (6). Ele se referiu especificamente ao fato de que “a floresta está dando lugar à pastagem e ao plantio de soja”.

Toledo comentou também que “por mais que a soja apresente, no momento, uma vantagem econômica, mais cedo ou mais tarde nós vamos colher o mau uso da terra”. Ele esclareceu que a questão sobre a soja transgênica não é tema de estudo pelos cientistas do Museu Goeldi e que este assunto está mais ligado à Embrapa. “O que nós estamos fazendo é estudar por que este avanço da soja está acontecendo na Amazônia, quem está envolvido nisso e, principalmente, qual é o principal interesse econômico”.

O diretor lembrou que os cientistas do museu acompanham o que acontece na região há mais de 100 anos e que, por isso, têm muito o que dizer. Para Toledo, é preciso “usar os recursos da Amazônia com objetividade mas levando em consideração que tudo tem um preço a ser pago e que é preciso pensar no futuro”. Ele explicou que se forem dadas alternativas para se manter a floresta em pé, “a longo prazo isto vai gerar mais benefícios ao país, como um todo”.

Ainda esta semana Toledo disse que entrega, em Brasília, os resultados de um estudo na chamada Terra do Meio, na região de Marabá e São Felix do Xingu, no Pará, onde se registraram, segundo ele, “altos índices de desmatamento, cerca de 50 mil hectares em apenas um ano, para dar lugar à pecuária e com exploração de apenas duas espécies de árvores”. Ele ressalta que “se não houver um controle mais rigoroso e até uma orientação política, além de assistência técnica, vamos assistir ao desaparecimento da nossa floresta amazônica”.

Em novembro, o Museu Goeldi promove uma discussão a nível internacional. Serão debatidas questões em torno do que Toledo classificou de “rumos que estão sendo tomados na região Norte, definindo então quem é quem, realmente, na exploração da Amazônia”. A partir desse encontro, ele disse que serão definidas outras prioridades nas áreas de pesquisa e de cooperação. “Observamos que a cada dia existe o fortalecimento das instituições amazônicas nacionais e isto é muito importante porque nos deixa mais fortes e menos vulneráveis à intervenção externa, ainda que haja a necessidade de uma cooperação internacional”, comentou Toledo.

O Museu Goeldi é uma unidade de pesquisa independente, desde 1983, e vinculado diretamente ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Fundado em 6 de outubro de 1887, tem em seu acervo um total de 15 mil peças, algumas coletadas há mais de um século, envolvendo as diferentes etnias indígenas da região, inclusive da fase pré-colombiana. Estas peças são preservadas numa Reserva Etnográfica. O acesso via Internet pode ser feito pelo endereço www.museu-goeldi.br.

O Programa Revista Amazônia vai ao ar, de 2ª a 6ª feira, das 7h30 às 8 horas, na Rádio Nacional da Amazônia (Ondas Curtas, 25 Metros em 11.780 Khz; 49 Metros em 8.180 Khz, também via satélite e pela Internet, em tempo real, em www.radiobras.gov.br

Eduardo Mamcasz