Indígenas Paresi ganham novo território

Estação Vida – A Justiça Federal condenou a empresa Elma Eletricidade de Mato Grosso, a Fundação Estadual do Meio Ambiente – Fema , a Funai, a União [ANEEL] e as associações Balitinã e Waimaré de terem iniciado a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica – PCH em território indígena Paresi. A decisão da justiça anula o contrato de concessão feito pela ANEEL, o licenciamento feito pela Fema e acordos firmados com as associações. A área, conhecida como Ponte de Pedra ou Cidade de Pedra, está localizada entre os municípios de Campo Novo dos Parecis, Nova Maringá e Diamantino e é uma antiga reivindicação da nação indígena diante da sua importância para a reprodução e sobrevivência física, cultural e histórica .

Segundo o despacho do juiz federal Jéferson Schneider, da 2º Vara, a solicitação dos Paresi era de conhecimento da Funai e da Fema, que mesmo assim a Fema concedeu Licença Prévia [nº 119/98], independente da análise dos componentes antropológicos e arqueológicos da região. Nos estudos do EIA/RIMA apresentados pela empresa Elma não foram considerados os aspectos culturais e históricos da Ponte de Pedra para a nação Paresi.

A Procuradoria da República solicitou a complementação dos estudos antropológicos na região no qual ficou constatado que toda a região da Cidade de Pedra era ocupada pelos Paresi, expulsos da região durante o processo de colonização de Mato Grosso nas décadas de 60 e 70. Os estudos foram feitos pela professora e doutora em antropologia do Museu Rondon [UFMT] , Maria de Fátima Roberto Machado. Seus estudos comprovam a existência de uma aldeia Paresi no Ponto de Pedra até a chegada de Rondon. Depois os índios foram retirados do local mas até hoje fazem incursões periódicas no local.

O Ministério Público Federal acatou o relatório e o juiz federal reconheceu a importância da área para os Paresi suspendendo o empreendimento. A Fema contestou a ação sustentando o processo de licenciamento pelo fato da área ser particular. Já a Funai contestou a acusão de omissão, pois já havia constituído grupo de trabalho para identificar e delimitar o território reconhecendo–o como área indígena. Assim, as terras indígenas são inalienáveis, indisponíveis e os direitos sobre elas imprescindíveis, sendo nulos e extintos , não produzindo qualquer efeito jurídico, os atos que tenham incidido sobre elas.

A exploração dos recursos naturais em terras indígenas está em discussão no Congresso Nacional através de lei complementar definindo as hipóteses de relevante interesse público da União, edição de lei ordinária definindo ascondições específicas da exploração nas terras indígenas , autorização do Congresso Nacional e ouvidas as comunidades afetadas.

O juiz Jefeerson Schneider decretou a nulidade do contrato de concessão e condenou a Funai a fazer a demarcação das terras no prazo de um ano. Caso a empresa dê andamento às obras da construção da PCH será condenada a pagar multa diária de R$ 100 mil. 
 

Ibama faz parcerias contra biopirataria

Agência Brasil – ABr – Uma parceria entre Ibama, Ministério Público Federal, Polícia Federal e Ministério da Defesa vai aumentar a fiscalização contra a biopirataria e o tráfico de animais nos aeroportos e portos brasileiros. A medida foi anunciada hoje, no início da semana do Meio Ambiente, pela ministra da pasta, Marina Silva. “A biopirataria e a tráfico de animais é uma vergonha para todo o país. Esse convênio vai fazer com que de fato a lei de crimes ambientais seja efetivamente cumprida”, declarou Marina.

A ministra anunciou também a criação de uma instrução normativa que vai regulamentar a produção de transgênicos para estudos científicos. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, presente à solenidade, disse que considera um avanço a medida que permite ao Ibama conceder licenças para lavouras experimentais desse tipo de cultivo. "As pesquisas nesta área estavam paradas e corríamos o risco de perder todo o conhecimento que já havíamos adquirido", disse o ministro, que informou ainda que, brevemente, a Casa Civil da Presidência da República estará terminando o projeto que regulamenta a produção de transgênicos em escala comercial, para ser enviado ao Congresso Nacional.

Rodrigues declarou que o seu Ministério vem sofrendo pressões relativas ao assunto. "Há muitos setores agrícolas, principalmente da região Sul do país, que tem interesses na produção de transgênicos, já que eles sofrem concorrência de agricultores argentinos, onde o cultivo é permitido”, disse. Ele, no entanto, ressaltou que a palavra final sobre o tema será dada pelos deputados e senadores, que vão votar e discutir o projeto.

Segundo o ministro, o governo brasileiro vem mantendo o controle sobre o risco de contaminação da doença da vaca louca, diagnosticada recentemente no Canadá. "Estamos fiscalizando as 3 mil vacas que foram importadas daquele país para o Brasil, e como já fizemos um controle anterior destes animais, cabeça por cabeça, acredito que não há riscos de contaminação do rebanho brasileiro.

As declarações foram feitas, na sede do Ibama, nesta capital, durante café da manhã comemorativo do início da Semana do Meio Ambiente.

André Reis Diniz

Combate à PEC 38/99 é prioridade da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas

ISA – Em reunião realizada ontem (29/05), parlamentares se comprometeram a interceder junto ao senadores para que rejeitem a Proposta de Emenda Constitucional que pretende limitar em 50% a área de cada estado brasileiro passível de ser reconhecida como Unidade de Conservação (UC) ou Terra Indígena (TI) assim como acrescenta entre as competências do Senado a aprovação de demarcações de TIs.

A Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas foi lançada, com a adesão de 56 parlamentares, após sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem ao Dia do Índio, realizada no dia 24/04. Na ocasião, a deputada federal Janete Capiberibe (PSB/AP), uma das idealizadoras da iniciativa, afirmou que as prioridades de trabalho seriam “definidas com os povos indígenas”.

Reunida ontem (29/05) com organizações indígenas, indigenistas e ambientalistas da campanha Áreas Protegidas em Perigo, a coordenação da frente, formada pelos deputados Eduardo Valcerde (PT/RO), Perpétua Almeida (PC do B/ AC), Edson Duarte (PV/BA) e Carlos Abicalil (PT/MT), anunciou que a atuação contra a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 38/99 será a prioridade das próximas semanas.

Alvo da campanha, a PEC, de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti (PPS/RR), está em tramitação desde 1999 e deverá ser votada em primeiro turno no dia 11 de junho.

A reestruturação da Fundação Nacional do Índio (Funai) será outro assunto debatido pela frente, que se reunirá quinzenalmente a partir da próxima terça-feira (03/06).

 

Moratória à demarcação de terras indígenas no MT

Formad – O Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD vem a público manifestar-se acerca da posição assumida pelo governo do Estado de Mato Grosso no tocante à demarcação das terras indígenas, consubstanciada na correspondência do governador Blairo Maggi ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na qual propõe uma esdrúxula moratória das ações administrativas dos órgãos federais, e as recentes declarações da coordenadora de assuntos indígenas, Carmem Maria Castaldo, publicadas pelo jornalista Onofre Ribeiro no jornal A Gazeta.

Ressuscitando velhas cantilenas, como a de que há muita terra para pouco índio [o que não é verdade, pois a densidade demográfica indígena eqüivale-se àquela das propriedades rurais], ou que as terras indígenas são um obstáculo ao desenvolvimento econômico, o governo do Estado está a reivindicar não apenas o descumprimento dos procedimentos democráticos que orientam os processos demarcatórios, mas o desprezo aos princípios constitucionais que asseguram aos índios direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, sendo competência da União Federal sua demarcação e proteção [art. 231 da Constituição Federal]. Segundo a nossa Constituição, são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. E ainda, sancionaram nossos legisladores, as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.

Neste sentido, o reconhecimento e a regularização administrativa das terras indígenas não passa de um processo de natureza técnica, baseado em estudos antropológicos e fundiários, cujo objetivo é identificar os limites do território de ocupação indígena e os recursos naturais necessários à continuidade da vida da comunidade e dos seus valores culturais. Uma das etapas desse processo, que foi regulamentado pelo Decreto 1775/96, é a chamada fase do contraditório, que assegura ampla publicidade e conhecimento do processo demarcatório em curso e concede um prazo dilatado para a sua contestação por qualquer pessoa, empresa, órgão público e, inclusive, estados e municípios que se sintam prejudicados. Assim sendo, não encontram amparo na realidade dos fatos as atuais [embora anacrônicas] alegações do governador Blairo Maggi de que as demarcações das terras indígenas no Estado de Mato Grosso acontecem à revelia das autoridades ou dos detentores de títulos dominiais concedidos pelo Governo de Mato Grosso.

Confia o FORMAD que, neste momento importante da vida nacional, os princípios legais e democráticos que reconhecem os direitos indígenas e os instrumentos administrativos necessários à sua implementação sejam plenamente respeitados pelos governos estadual e federal, em todas as suas instâncias. É este também, como indicam recentes pesquisas de opinião, o desejo da maioria do povo brasileiro, índios ou não.

Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Formad

 

Câmara discute projetos para o rio Madeira, na Amazônia

Agência Câmara – O projeto energético e de navegação do rio Madeira, na Amazônia, que envolve a construção de uma hidrovia e duas hidrelétricas, foi debatido hoje em audiência pública conjunta das Comissões da Amazônia e Desenvolvimento Regional; de Minas e Energia; de Viação e Transportes; e de Agricultura e Política Rural.

O superintendente de Empreendimentos de Geração da Furnas Centrais Elétricas, Antônio de Pádua Benfica Guimarães, informou que há dois anos foi feito um consórcio entre Furnas e a construtora Norberto Odebrecht para aumentar em 4.200 quilômetros a navegação na região banhada pelo rio Madeira e incrementar a produção de energia no Brasil.

Segundo ele, o consórcio previa a realização de um estudo de verificação do potencial energético do rio e das possibilidades de desenvolvimento sustentável da região por meio do transporte fluvial, já que há um trecho entre Porto Velho e o distrito de Abunã, em Rondônia, que não é navegável. O estudo concluiu pela viabilidade da implantação de duas usinas hidrelétricas – Santo Antônio e Jirau -, que teriam capacidade de gerar 7.800 megawatts de energia. Outra constatação foi a de que a navegabilidade no trecho proporcionaria saídas fluviais para Manaus, Rio Branco e Cuiabá, e permitiria a integração energética entre Brasil, Bolívia e Peru.

Preservação Ambiental

O assessor de meio ambiente da Furnas Centrais Elétricas, Acyr Jorge Teixeira Gonçalves, explicou que os reservatórios das hidrelétricas a serem construídas no trecho são mais baixos do que os construídos em outras regiões do País, o que contribuirá para a preservação de várias espécies de peixes e reduzirá a área de alagamento. A região, explicou, teria um nível de alagamento 40% menor do que o verificado na área no período da cheia. Já o percentual de desmatamento, segundo ele, só será quantificado pelo estudo de viabilidade ambiental que está em curso.

Gonçalves apresentou ainda um diagnóstico econômico da região que demonstra a necessidade de investimentos em infra-estrutura para estimular a economia, já que os solos são de baixa fertilidade, não há programas de incentivo para a pesca comercial e a base econômica é constituída por microempresas. Para o assessor, a ampliação da estrutura energética e das potencialidades de navegação do rio Madeira constituiriam um estímulo importante para o desenvolvimento econômico da região.

Rios Interligados

O diretor de Contratos da Odebrecht, José Bonifácio Pinto Júnior, explicou que o projeto da empresa em parceria com Furnas vai tornar navegável quase toda a extensão do rio Madeira e garantirá a interligação com afluentes da Bolívia, como o rio Mamoré. A construção das hidrelétricas previstas no projeto garantiriam também a navegação em trechos dos rios Mamoré e Guaporé, viabilizando uma saída para o Pacífico.

Bonifácio lembrou que o Mato Grosso produz 3 milhões de toneladas de soja que hoje precisam ser escoadas por rodovias até chegar ao porto para serem exportadas. O projeto permitiria o escoamento dessa produção por via fluvial, o que reduziria os custos de frete. Ele assinalou ainda que a produção interna de grãos poderia aumentar em 25 milhões de toneladas em Rôndonia e Mato Grosso, já que existem atualmente 7 milhões de hectares de áreas agricultáveis nestes estados que não são cultivadas devido ao alto custo do transporte.

Populações atingidas

O deputado Miguel de Souza (PL-RO), autor do requerimento que deu origem à audiência pública, manifestou preocupação com o impacto ambiental do projeto na região e questionou os representantes de Furnas e da Odebrecht sobre as medidas de compensação pelo alagamento e de deslocamento das populações ribeirinhas. Em resposta, o superintendente de Empreendimentos de Geração da Furnas, Antônio de Pádua Benfica Guimarães, explicou que o consórcio está montando uma equipe em Porto Velho para identificar as populações que terão que ser removidas, acrescentando que os programas para redução do impacto ambiental da obra serão desenvolvidos em parceria com o Ibama e a Universidade Federal de Rondônia.

A preocupação com o impacto ambiental também foi manifestada pela deputada Ann Pontes (PMDB-PA), ao lembrar que, em Tucuruí, as conseqüências do alagamento até hoje são sentidas, com o desaparecimento de várias espécies de peixes. Já o deputado Eduardo Valverde (PT-RO) questionou os representantes do consórcio responsável pela obra sobre os custos da energia para a população, que, segundo Antônio de Pádua Benfica Guimarães, seguirá a média brasileira e terá capacidade instalada entre 50 e 60 megawatts.

Por Rosalva Nunes/ RO

 

Programa Regional Indígena do Amazonas

ISA – Depois de dois dias de oficina patrocinada pela Fundação Estadual de Política Indigenista do Amazonas (FEPI) e realizada em parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), 30 lideranças indígenas da região do alto e médio Rio Negro aprovaram documento com recomendações ao governo estadual (veja documento na íntegra abaixo), no âmbito do Programa Regional de Desenvolvimento Indígena Sustentável do Rio Negro.

As linhas gerais do Programa Regional de Desenvolvimento Indígena Sustentável do Rio Negro, dirigido originalmente ao Governo Lula, foram formuladas e aprovadas por uma Assembléia Geral da Foirn no final de 2002. A oficina promovida pela FEPI em São Gabriel da Cachoeira, encerrada hoje (29/05) na maloca da Foirn, faz parte de uma série de eventos semelhantes em várias sub-regiões do Estado do Amazonas, como etapa preliminar de mapeamento de propostas e demandas dos povos indígenas ao governo do Amazonas, as quais serão consolidadas em uma proposta articulada a ser levada ao governador Eduardo Braga no final de julho.

Como parte de uma nova atitude em relação aos povos indígenas, considerados parceiros potenciais de um programa de desenvolvimento sustentável do interior denominado “Zona Franca Verde”, o governador Eduardo Braga entregou a direção da FEPI a uma liderança indígena rionegrina, Bonifácio José Baniwa. Em reunião com os prefeitos do Estado, ocorrida recentemente em Coari, o governador chamou a atenção dos prefeitos que ainda continuam tratando os índios baseados em conceitos do século XIX.

No encerramento da oficina, os participantes receberam a visita do deputado Luis Castro, Secretário de Produção do Amazonas, que estava acompanhado de alguns técnicos, entre eles Amilton Gadelha, ex-prefeito de S. Gabriel e atual assessor do Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do estado, o engenheiro florestal Virgílio Viana. O ISA e a Foirn aproveitaram para lançar o mapa-fôlder que elaboraram em 2002 com apoio do Ministério do Meio Ambiente com os resultados do macrozoneamento participativo das terras indígenas do alto e médio Rio Negro.

Beto Ricardo


Proposta dos povos indígenas do Rio Negro ao Governo do Amazonas

Prezado governador Eduardo Braga

Inicialmente gostaríamos de manifestar nossa satisfação pela iniciativa do Governo do Amazonas abrir uma possibilidade de diálogo, através da FEPI e pela disposição do senhor para receber e considerar as nossas propostas e recomendações.

Aqui no alto e médio Rio Negro vivem 23 povos indígenas diferentes, que somam pelo menos 35 mil pessoas e constituem a grande maioria da população. Representamos cerca de 10 % da diversidade e da população indígena atual do Brasil e ocupamos tradicionalmente uma parte significativa do território do Estado do Amazonas (cerca de 7%). Estamos organizados em comunidades e 49 associações, formando uma Federação. Boa parte das nossas terras – cerca de onze milhões de hectares – já foi reconhecida e demarcada pelo governo federal, como determina a Constituição de 1988. Outras terras indígenas na bacia do Rio Negro estão em processo de reconhecimento pelo governo federal. Mas o Brasil não está preparado para conversar conosco, respeitar nossos direitos coletivos, escutar as nossas línguas e as nossas visões e propostas para o futuro. Ao contrário, o velho Brasil se preparou para integrar e assimilar os povos indígenas do Rio Negro, reprimindo nossas culturas, reduzindo nossos direitos e tentando colonizar nossas terras. As relações com o governo do Amazonas e com as prefeituras locais não têm sido diferentes.

Nós não aceitamos esse rumo e depois de 15 anos de luta da FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), já tivemos algum reconhecimento dos nossos direitos e já temos algumas soluções para resolver os principais problemas que nos afetam, mas muita coisa precisa melhorar rapidamente. Não adianta apenas uma demarcação no papel e algumas boas ações isoladas das políticas públicas. As nossas terras estão situadas em vários municípios, cujo poder está controlado por setores que não reconhecem nossos direitos e fica muito difícil coordenar os recursos das políticas públicas federais e estaduais que passam pelo canal da municipalização.

Assim sendo, a nossa proposta principal é que o governo do Amazonas e o governo federal criem as condições institucionais para conversar conosco de maneira adequada, para apoiar o que nós chamamos de PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO INDÍGENA SUSTENTAVEL DO RIO NEGRO (PRDIS-RN).

Este programa deveria reunir um conjunto de ações integradas, sejam das políticas públicas federais e estaduais, sejam das demais parcerias não-governamentais, de forma a construir e implementar um tipo de desenvolvimento que tenha o nosso jeito de ser e de trabalhar e que valorize a nossa diversidade e os nossos conhecimentos e garanta um novo patamar de bem estar para as nossas comunidades . Não queremos apenas um programa com os nossos assuntos e algumas das nossas palavras, mas um programa que seja executado de acordo com as nossas determinações e prioridades, valorizando o nosso controle social e a nossa participação direta na sua execução.

Em relação ao PRDIS-RN gostaríamos que o Governo do Amazonas considerasse as seguintes propostas:

1. valorizar as demarcações das terras indígenas, incluindo informações em todos os materiais oficiais de divulgação, considerando-as adequadamente no zoneamento ecológico-econômico do estado e viabilizando a participação do IPAAM de forma integrada com a rede de proteção e fiscalização das instituições federais, especialmente para as áreas de entorno das terras demarcadas.

2. desistir definitivamente da ação judicial no STF (Recurso em Mandado de Segurança n º 22.913) contra as demarcações das terras indígenas Rio Téa e Médio Rio Negro I .

3. criar um programa de formação continuada de agentes indígenas de saúde, com a valorização da medicina tradicional e assumir as responsabilidades na manutenção e funcionamento dos hospitais de Iauaretê, Pari-Cachoeira e Assunção do Içana, assim como implantar uma rede de saneamento básico e tratamento de lixo em Iauaretê.

4. desenvolver programas para que as nossas tradições culturais sejam valorizadas e tenham espaço na agenda cultural do estado, com linhas de apoio para o registro, formação e gerenciamento de acervos próprios, bem como a construção de espaços públicos adequados para as nossas manifestações culturais nas cidades de S. Gabriel da Cachoeira, S. Isabel e Barcelos. Seria desejável o estabelecimento de parcerias com o Ministério da Cultura.

5. valorizar as experiências-piloto de escolas indígenas autônomas da nossa região, reconhecendo e apoiando as escolas Pamaáli Baniwa-Coripaco, Escola Indígena Utapinopona Tuyuka e o Centro de Revitalização Tariana – e outras escolas indígenas desse tipo que venham a ser criadas – com recursos para manutenção e produção de material didático; criar os sub-sistemas de ensino indígena no sistema estadual; criar programas de ensino técnico-profissionalizante no ensino fundamental e médio nas áreas de interesse das comunidades (por exemplo, piscicultura, manejo agroflorestal, educação e vigilância ambiental, enfermagem, odontologia, arte e artesanato, gestão e administração);

6. criar um programa de bibliotecas para as escolas indígenas, articulado com oficinas de produção de materiais didáticos nas línguas indígenas.

7. iniciar a implantação de cursos superiores voltados para as áreas temáticas de interesse das comunidades indígenas.

8. instar o poder municipal a destinar os recursos da merenda escolar para a gestão direta das associações de pais e mestres das escolas indígenas.
9. acompanhar, através da FEPI, o processo de redefinição e reestruturação da Escola Agrotécnica Federal de S. Gabriel da Cachoeira.

10. apoiar a nossa proposta para que o SEBRAE nacional faça um programa especial de apoio para povos indígenas, começando por implantar em 2003 um processo de planejamento participativo em Iauareté, através da adaptação da metodologia DLIS (Desenvolvimento Local Integrado, INDÍGENA e Sustentável) .

11. criar, através do IDAM/AFEAM , uma linha especial de apoio aos povos indígenas do Rio Negro, valorizando a nossa agrobiodiversidade e nossas formas de manejo dos recursos da floresta, criando uma linha de crédito e apoio de infraestrutura para a segurança alimentar e a comercialização da nossa produção. Queremos transporte e mercados indígenas livres nas cidades regionais.

12. apoiar e financiar a construção do Centro de Capacitação e Comercialização da FOIRN na cidade de S. Gabriel da Cachoeira, com base no terreno e projeto de arquitetura já existentes.

13. apoiar a instalação de energia no entreposto comercial da OIBI (Organização Indígena do Içana) na cidade S. Gabriel da Cachoeira, ponto de apoio importante para o gerenciamento do projeto Arte Baniwa e outros produtos.

14. estabelecer uma parceria, através da Secretaria de Pesca do AM, com as organizações que vêm desenvolvendo um projeto-piloto pioneiro de piscicultura e manejo de recursos pesqueiros na Terra Indígena do Alto Rio Negro, a saber: FOIRN/ISA/ATRIART/COIDI/OIBI, com apoio do CEPTA/IBAMA.

15. criar postos permanentes do PAC (Pronto Atendimento ao Cidadão) nas sedes municipais do Rio Negro e em Iauaretê e ampliar os serviços itinerantes de documentação, contribuindo dessa forma com o Balcão da Cidadania Indígena do Rio Negro, que a FOIRN vem mantendo em parceria com o Ministério da Justiça, o qual tem permitido que as pessoas das nossas comunidades mais remotas tenham acesso à documentação básica e às informações sobre seus direitos.

16. articular uma parceria com a OAB-AM para viabilizar a instalação de defensorias públicas para a região do Rio Negro.

17. apoiar, em cooperação com o Ministério das Relações Exteriores, as nossas iniciativas de intercâmbio cultural e técnico com nossos parentes e contrapartes da Colômbia e Venezuela.

18. instar as empresas de telecomunicações para que instalem telefones públicos em todas as comunidades.

19. apoiar um programa de energia solar e outras formas alternativas com baixo impacto ambiental para todas as comunidades, especialmente para os edifícios de uso comum, como escolas, centro comunitários e de saúde.

Foirn – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro –
S. Gabriel da Cachoeira, 29 de maio de 2003

 

Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente

ASCOM/MMA – O Ministério do Meio Ambiente abre no próximo dia 5 as inscrições para o Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente, que tem por objetivo valorizar os trabalhos realizados e desenvolvidos em prol da conservação do meio ambiente da Amazônia. O Diário Oficial da União desta quinta-feira (29) publica o regulamento da segunda edição do concurso que premiará seis categorias: Liderança Individual, Associação Comunitária, Organização Não-Governamental, Negócios Sustentáveis, Ciência e Tecnologia e Arte e Cultura. Cada um dos primeiros colocados receberá R$ 20.000,00. As inscrições, que são gratuitas e terminam no dia 3 de outubro, devem ser feitas obrigatoriamente por remessa postal registrada endereçada ao “Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente”, Caixa Postal nº 3564, Brasília/DF, CEP 70.084-970.

O Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente foi criado no ano passado pela Secretaria de Coordenação da Amazônia do MMA para valorizar agentes propulsores do processo de melhoria da qualidade ambiental na Amazônia, identificando práticas bem sucedidas desenvolvidas individualmente, em grupo, em comunidade ou através de instituições privadas. Segundo a secretária Mary Allegretti “o prêmio ajuda a identificar e a difundir as experiências e projetos que têm contribuído para o desenvolvimento social e ambiental sustentável na Amazônia brasileira”.

No ano passado, a senadora Marina Silva (PT-AC), hoje ministra do Meio Ambiente, foi a vencedora do prêmio na categoria Liderança Individual, por suas atividades em defesa da Amazônia ao longo dos anos, em favor de modelos sustentáveis de desenvolvimento econômico e social. Os vencedores das outras categorias foram: a Associação dos Moradores e Produtores do Projeto de Assentamento Chico Mendes, do Acre, (Associação Comunitária) o Instituto Socioambiental (Organização Não-Governamental), a Organização Indígena da Bacia do Içana (Negócios Sustentáveis) e a Universidade Federal do Acre (Ciência e Tecnologia).

De acordo com o regulamento, o resultado será divulgado no dia 10 de dezembro e o prêmio será entregue em cerimônia a ser marcada entre os dias 15 e 30 de dezembro. Mais detalhes sobre o regulamento na edição do Diário Oficial da União de hoje, 29 de maio, e no site do MMA (www.mma.gov.br) .

 

Invasões na Terra Indígena Uru-eu-wau-wau

ISA – Uma operação conjunta envolvendo diversos órgãos públicos — Polícia Federal, Funai, Ibama, Incra, Batalhão de Polícia Florestal e Secretaria de Segurança Pública do Estado de Rondônia — e a ONG Kanindé, realizada no último final de semana (24-25/05), retirou do local os invasores da Terra Indígena (TI) Uru-eu-wau-wau, que lá estavam desde fins de abril. Integrantes de uma auto-nomeada ‘Liga dos Camponeses Pobres’, os invasores não ofereceram a resistência armada que prometiam contra a operação de retirada. Segundo Ivaneide Bandeira, da Kanindé, a operação foi precedida por um sobrevôo à área feito pela PF e Funai, em que panfletos descrevendo a liminar de desintrusão foram lançados sobre os invasores. O caráter pacífico da ação só foi possível porque foi feito um cerco aos focos de entrada de alimentos para os assentamentos que montaram na terra indígena, e isso teria inviabilizado a permanência dos invasores na área.

A retirada dos invasores da TI Uru-eu-wau-wau constava como um dos pontos de reivindicação do documento final do encontro,que representantes indígenas realizaram em Luziânia (GO) no final de abril. O texto foi entregue à Presidência da República, aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, aos ministérios da Justiça, Educação, Saúde e Meio Ambiente, ao Supremo Tribunal de Justiça e à 6ª Câmara do Ministério Público Federal.

O eterno retorno dos mesmos

A TI invadida ­­reúne aproximadamente 350 índios Uru-eu-wau-wau e mais algumas dezenas de pessoas de um povo isolado, ainda não contatado por antropólogos ou indigenistas. Possui uma extensão de 1.867.177 ha, 37,42% dos quais também decretados como o Parque Nacional de Pacaás Novos (de 704.356 ha). Localizada no município de Monte Negro, área de influência de Ariquemes, na região centro-oeste de Rondônia, a TI tem sido objeto de constantes agressões por parte da sociedade local.

Nos últimos anos, têm ocorrido sucessivas invasões, por parte de posseiros, madeireiros e garimpeiros incitados por políticos locais e proprietários de terra interessados na abertura de pastos sobre a área indígena. A mais recente invasão, no entanto, mobilizou uma quantidade nunca vista de ocupantes. Diversas fontes relataram a presença de uma multidão de cinco mil invasores no local (dos quais 1.500 já haviam ocupado a área semanas antes), armados e dispostos ao enfrentamento com os índios e com a polícia.

O movimento de ocupação em massa da TI teria começado em 20 de abril, e os principais responsáveis por sua organização seriam o funcionário do Ibama, Martim Mund e a ex-juíza classista do TRT do Acre, Marines Aut. Ambos teriam recebido apoio financeiro de um grupo de fazendeiros, madeireiros, políticos locais, empresários e comerciantes da região de Ariquemes e Monte Negro.

A operação de desintrusão havia sido anunciada na semana passada pelo superintendente da Polícia Federal em Rondônia, Marcos Aurélio Pereira de Moura. Segundo ele, os invasores estavam sujeitos a prisão em flagrante pela infração de vários preceitos do Código Penal Brasileiro, como formação de quadrilha, usurpação de terra pública, esbulho possessório e crimes ambientais. Os dois principais líderes da invasão, Martim Mund e Marines Aut, foram presos no dia 09 deste mês, mas há um terceiro que ainda está foragido, segundo informações da PF em Rondônia. Esta tomada da TI acontece logo após a conclusão do trabalho de reaviventação de seus limites demarcatórios, desenvolvido a partir da parceria entre a Associação Indígena Uru-Eu-Wau-Wau/ Jupaú e a ONG Kanindé. O trabalho de reaviventação consistia na recolocação de placas sinalizadoras defeituosas e também daquelas retiradas propositalmente por invasões anteriores por 274 km de linha seca (o perímetro total da TI é de 870 km). Para Rogério Vargas Motta, integrante da Kanindé, a reaviventação realizada não foi prejudicada.

Além do grande número de pessoas envolvidas, uma novidade da recente invasão foi a estratégia dos ocupantes de se auto-denominarem ‘Liga dos Camponeses Pobres’, numa tentativa de associação simbólica às esquerdas camponesas da década de 60, em luta pela reforma agrária. A senadora Fátima Cleide (PT-RO), em discurso no Congresso, denunciou que esta ação criminosa faz parte de um conjunto mais amplo de iniciativas protagonizadas por uma “quadrilha de terras públicas”, que se apropriaria de “símbolos do PT, do MST e do governo federal para dar respaldo a suas ações criminosas”. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) de Rondônia, por sua vez, estabeleceu um pacto com o movimento indígena organizado do Estado, comprometendo-se a jamais invadir as terras indígenas e a colaborar para a sua integridade e proteção.

Cenário pessimista

As perspectivas para a integridade da TI Uru-eu-wau-wau não são nada promissoras. A longa saga de invasões a que ela tem sido submetida irá, aparentemente, continuar no futuro próximo. A equipe da Kanindé informa que a ‘Liga Camponesa’, que provocou graves danos ambientais ao território, já está arregimentando novos candidatos para uma próxima invasão.
A área do Burareiro – onde o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) assentou ilegalmente mais de 60 agricultores no início dos anos 80, ignorando um decreto de interdição do território – representa um importante foco de ameaça à TI. O Burareiro abriga 122 lotes rurais, sendo que aproximadamente metade deles ainda é ocupada por colonos.

O cenário macro-político é ainda mais desfavorável aos índios. O senador pelo Estado de Rondônia Amir Lando (PMDB), um dos mais conhecidos representantes dos interesses anti-indígenas no país, é o mais novo líder do governo federal no Senado. Ele teve seu nome associado à invasão da TI Omerê (RO), na década de 80, e sua assessoria parlamentar é suspeita de envolvimento na invasão em massa da TI Uru-eu-wau-wau. O senador é também o relator da Proposta de Emenda à Constituição nº 38, que visa submeter o processo de reconhecimento legal das TIs ao Senado e propõe também o estabelecimento de uma regra que impossibilita que as Terras Indígenas e Unidades de Conservação ultrapassem 50% da superfície territorial de cada estado.
Conheça e participe da campanha contra a aprovação dessa proposta.

Marcos Pereira Rufino

 

Novas regras para pesca amadora

Ibama – A portaria nº 30 do Ibama, publicada no dia 28 de maio no Diário
Oficial da União e que entra em vigor em 30 dias, atualiza a última
regulamentação que contava com 14 anos de vigência. “O pensamento em relação aos
recursos pesqueiros evoluiu e hoje a pesca amadora inclui necessariamente os
aspectos sócio-ambientais”, afirma Rômulo Mello, diretor de Fauna e Recursos
Pesqueiros do Ibama. Segundo ele, a nova portaria facilita os procedimentos
legais para a pesca amadora e ainda aprimora os mecanismos necessários à
conservação do meio ambiente.

As regras

Além das categorias de pesca embarcada e desembarcada, a nova legislação cria
a modalidade de pesca subaquática, que vinha sendo praticada sem uma
regulamentação específica. A licença para a pesca amadora continua obrigatória.
Para facilitar o acesso ao documento, o Ibama disponibilizou o formulário para
pagamento da licença no endereço: http://www.ibama.gov.br/pescaamadora.
A licença vale em todo o território nacional pelo período de um ano.

Aposentados, maiores de 60 anos (mulheres) e 65 anos (homens), pescadores
amadores desembarcados que utilizem vara simples e anzol e linha de mão e
menores de 18 anos ficam isentos da licença. Os isentos, porém, passam a contar
com uma licença especial e permanente, que servirá como uma espécie de
identificação, conforme solicitações dos pescadores.

As entidades representativas dos pescadores terão que se inscrever no
Cadastro Técnico Federal para funcionarem legalmente. O cadastro é uma obrigação
legal para quem utiliza recursos naturais e pode ser feito em qualquer unidade
do Ibama. A realização de provas e competições de pesca amadora devem ser
informadas às Gerências Executivas do Ibama com trinta dias de antecedência, no
mínimo. Mas a entidade que propuser esse tipo de evento não necessita mais ser
filiada a uma Federação ou Confederação.

Evitar a pesca predatória

Para restringir ações predatórias durante a prática da pesca amadora, o Ibama
decidiu proibir de vez o uso de tarrafas, tolerada na legislação anterior.
Também diminuiu a cota de captura de 30 quilos para 10 quilos, mais um exemplar,
para a pesca em águas continentais e 15 quilos, mais um exemplar, para águas
marinhas. O uso de garatéias só será permitido com iscas artificiais nas
modalidades de arremesso e corrico, o que garantirá ao pescador a segurança de
poder utilizar suas iscas artificiais.

Para atender às recomendações da Comissão Internacional para a Conservação do
Atum Atlântico (ICCAT), da qual o Brasil faz parte, a nova portaria também exige
que sejam reservadas vagas a bordo das embarcações de pesca esportiva para a
presença de observadores de bordo voluntários credenciados pelo Ibama. O
objetivo do embarque dos observadores é o monitoramento dos dados de captura e
esforço de pesca das pescarias esportivas e a obtenção de estimativas dos
percentuais de soltura e também o exame das condições de sobrevivência dos
peixes liberados.

Pequenas hidrelétricas invadem rios de Mato Grosso

Estação Vida – Gerar energia com baixo custo e sem entraves ambientais tem sido uma das principais alternativas para os grandes agricultores em Mato Grosso . A saída tem sido as pequenas centrais hidrelétricas – as PCHs. Em 2001 Mato Grosso teve autorização para a construção de seis PCHs. Em 2002 esse número quadruplicou e grandes empresas como a Amper Construções Elétricas Ltda e Maggi Energia S.A estão construindo grandes conglomerados de PCHs num mesmo rio. No caso da Amper, a central fica no rio Braço Norte IV , nos municípios de Guarantã do Norte e Mundo Novo , próximas de outras três PCHs.

Na região de Sapezal e Campos de Júlio, o chamado Consórcio Juruena [empresas: Maggi Energia S/A, MCA Energia e Barragem Ltda e Linear Participações e Incorporações Ltda] estão construindo 8 PCHs, somando um total 153,30 MW. As pequenas centrais hidrelétricas, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL podem gerar até 30MW e ter um reservatório de no máximo 3 Km2 . O Código Ambiental de Mato Grosso fez uma adaptação às normas da ANNEL e em 2000 modificou as regras do licenciamento ambiental [art. 24] eliminando a obrigatoriedade de EIA/RIMA para as PCHs com até 30MW e 3km2 de reservatório . Agora, o deputado estadual Pedro Satélite apresentou em abril passado projeto de lei que altera novamente o Código Ambiental onde elimina-se a apresentação de EIA/RIMA para licenciamento de hidroelétricas com reservatório superior a 3 Km2. Coincidentemente, a própria ANEEL estuda a revisão do conceito de PCHs e deve ainda este ano publicar resolução com novas regras.

Técnicos , ambientalistas e autoridades da área ambiental são unânimes em afirmar que as pequenas centrais hidroelétricas são bem menos impactantes por não necessitar de obras nos rios e grandes reservatórios provocando alagamentos e modificando cursos de água. Outro ponto conciliador é que as PCHs são de baixo custo , baixo impacto ambiental e geram energia para pequenas comunidades ou áreas rurais.

Hoje estão em fase de construção 7 pequenas hidrelétricas em construção: no rio Rochedo , município de Novo Mundo, no rio Braço Norte , em Guarantã do Norte, no rio Jauru, em Indiavaí, e no rio Caeté, em santo Antônio do Leverger Já ficaram prontas a PCH do Alto Jauru, em Jaurú, a braço Norte III, no rio Juruena, em Guarantã do Norte e a PCH Cabixí II , no rio Lambari em Comodoro. Também ficaram prontas as UHEs do rio Jauru, do grupo Queiroz Galvão, em Araputanga, com 110 MW, e a Guaporé da rede Cemat, no município de São Domingos, com 120 MW.

As pequenas usinas , mesmo sem a obrigatoriedade de fazer um EIA e RIMA precisam de licenciamento ambiental. Segundo o chefe do departamento de Infra Estrutura da Fundação Estadual do Meio Ambiente – Fema, Lourival Alves Vasconcelos, a possibilidade de ampliar a área do reservatório acima de 300 hectares pode representar riscos. Do ponto de vista ambiental isso não é bom porque aumenta o desmatamento que influencia na qualidade da água e da fauna. Passaria a ter mais impacto, disse. Mas Lourival diz que os rios de Mato Grosso que nascem no planalto tem vazão regularizada , muitas quedas e bom desnível entre a nascente e a foz o que facilita construir pequenas centrais hidrelétricas sem a necessidade de reservatórios.

Com relação aos conglomerados de PCHs como no rio Juruena, Lourival diz que este rio não tem ictiofauna rica por causa dos impedimentos naturais como as cachoeiras. Além disso não há uso do rio para irrigação e nem turismo. Mesmo sem EIA/RIMA a Fema tem solicitado vários estudos e diagnósticos ambientais obrigatórios para o licenciamento. É o caso de três PCHs que estão sendo construídas no córrego Saia Branca, da empresa Maggi Energia S/A , no município de Jaciara.

Segundo Lourival, esse córrego é afluente do rio Tenente Amaral, um dos importantes rios para o ecoturismo e abastecimento de Jaciara. A Fema solicitou alguns programas ambientais ; um plano de recuperação de áreas degradadas , controle de erosão , controle da variação do nível de vazão , educação ambiental e programa de qualidade da água. Nos diagnósticos quase tudo que pede um EIA/RIMa é avaliado; meio físico, biológico e sócio-econômico. São averiguados os impactos ambientais e as medidas de controle. A única diferença é que o custo é bem menor nestes estudos e não há audiência pública, que demora em média 40 dias para avalizar o empreendimento, comenta Lourival.

O ex-secretário de Meio Ambiente da Fema, Frederico Muller, que junto com a Assembléia Legislativa do Estado promoveu mudanças no Código Ambiental ampliando de 10 para 30 MW as centrais hidrelétricas que não precisem de EIA/RIMA acha que uma nova modificação passando para 50MW e ampliando ainda mais a área do reservatório é preocupante. As PCHs são muito menos impactantes e movimentam a economia mas ampliar os reservatórios seria necessário novos estudos de bacias. É preciso analisar com cuidado, diz. Frederico acha que o mais importante é que exista o licenciamento ambiental que já solicita vários estudos de impacto, principalmente se estiver numa área sensível.

Ongs acompanham mudanças junto a ANEEL  
 
Em abril deste ano, grupos brasileiros da sociedade civil organizada, reunidos no Grupo de Trabalho Energia do Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento elaboraram um documento a partir do encontro nacional das organizações do GT Energia, reunidas de 21 a 23 de maio de 2002. O documento faz várias recomendações ao Governo Federal e recomenda à ANEEL a revisão do conceito de PCHs e a exigência de estudos integrados e estratégicos das bacias hidrográficas antes da liberação de autorizações e concessões para o aproveitamento hidrelétrico, entre outras. O GT Energia congrega 24 entidades brasileiras. A coordenadora do grupo e integrante da ong internacional Coalizão Rios Vivos, Lúcia Ortiz diz que a proposta do GT Energia é que seja considerada a bacia hidrográfica como um todo e não apenas um empreendimento. se você tem um conglomerado de PCHs é óbvio que o rio não vai correr naturalmente e haverá impacto na biodiversidade , diz ela. No próximo mês o GT Energia se reúne para debater alernativas de modelos energéticos .

O professor Klemens Laschefski, especialista em energia e residente em Belo Horizonte diz que a função social das PCHs é preciso ser reavaliada. Na sua opinião as PCHs estão servindo mais para as horas de pico do alto consumo de energia e complementar os geradores de energia de grande porte de grandes empreendimentos e não para promover o desenvolvimento das comunidades rurais carentes. Ele diz também que as PCHs causam impactos ecológicos específicos como, por exemplo variações diárias no npivel de água em trechos extensos a juzante da barragem. Para aproveitar uma maior queda de água geralmente a casa de força é situada distante da barragem, recebendo a água através de um túnel . Assim , por alguns quilômetros trechos dos rios ficam secos impedindo a migração de peixes , alertou.  

Josana Salles