Unicef quer apoiar ações nas reservas indígenas de Dourados

Agência Brasil – ABr – O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) vai apoiar o desenvolvimento de ações dentro das reservas indígenas de Dourados e de outros municípios do Estado. Para fazer um diagnóstico da situação, o professor e coordenador do programa Kaiowá/Guarani, da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Antônio Brand, reuniu-se com professores, enfermeiros e lideranças indígenas para levantar os principais problemas da comunidade indígena. Os trabalhos só deverão ser concluídos no mês de agosto, quando será apresentado um relatório geral sobre as condições de vida nas aldeias do município.

Segundo Antônio Brand, o desafio é saber o que está faltando para a população indígena. Brand fala que o Unicef quer participar apoiando diversas ações, mas para isso quer maior clareza no desenvolvimento dos projetos. “Temos que saber a real situação das nossas aldeias”, disse.

O indígena Sílvio Ortiz, que é funcionário da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), disse que as aldeias enfrentam muitos problemas. “Temos que lutar para resolver questões como violência, suicídio e desnutrição. Dar comida é importante, mas não resolve o problema. A parceria que vem sendo feita com a Funasa é importante, tanto que o número de mortes, que antes era de 100 em cada mil crianças nascidas, hoje caiu para menos de 50″, afirmou.

O coordenador de Assuntos Indígenas da Prefeitura de Dourados, Anastácio Peralta, disse que, apesar dos inúmeros projetos levados para dentro das aldeias, as pessoas continuam vivendo quase da mesma forma. “Temos que nos unir, fechar o cerco em torno de um único projeto voltado para o bem-estar de toda a comunidade indígena. É importante a participação de toda a comunidade na discussão das questões” disse Peralta.

A gestora de educação indígena, Teodora de Souza, disse que é preciso o engajamento de toda a comunidade e de entidades que lutam pelos direitos dos índios. “Acredito que nós, professores, agentes de saúde, enfermeiros e lideranças, devemos estar unidos e promovendo constantes reuniões com a comunidade”.

O médico da Funasa que trabalha nas aldeias indígenas, José Lico, lembrou que muitos projetos precisam ser discutidos na comunidade. “É preciso resgatar a auto-estima dos nossos indígenas, e isso não acontece através de decreto. É necessário todo um trabalho envolvendo entidades, governos e, principalmente, os indígenas”, falou.

A professora da Aldeia Bororó, Zélia Benitez, disse que é preciso haver união de todos para evitar que continue ocorrendo evasão escolar, e que as bebidas alcoólicas sejam de fácil acesso para os indígenas. “A situação é bastante complicada. Muitas vezes encontramos mulheres com crianças de nove meses nos braços e que já está grávida de seis meses. Por isso, é preciso que se busquem alternativas para melhorar a situação”.

Segundo o professor Antônio Brand, o que se pretende é saber quais os projetos que já existem, quais os que estão dando resultados e saber porque a maioria não gerou resultado positivo. Isso só será conseguido, segundo ele, a partir de pesquisa feita com as comunidades.

arília de Castro

Comissão Interamericana de Direitos Humanos realiza audiência inédita com lideranças indígenas

ISA – Instância da Organização dos Estados Americanos receberá de representantes brasileiros, na terça-feira (25/02), documento detalhando as violações a direitos humanos na Terra Indígena (TI) Raposa/Serra do Sol (RR) e nas TIs dos Cinta Larga (MT e RO). Evento acontece durante a reunião especial do Grupo de Trabalho responsável pelo Projeto de Declaração Americana sobre Direitos dos Povos Indígenas.

Lideranças indígenas estarão reunidas em Washington (DC), nos Estados Unidos, entre 24 e 28/02 para participar da reunião especial do Grupo de Trabalho (GT) instituído há mais de uma década pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para elaborar o Projeto de Declaração Americana sobre Direitos dos Povos Indígenas.

Além da participação na reunião, a expectativa gira em torno de um outro evento, da audiência com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que, pela primeira vez, se reúne exclusivamente com representantes de povos indígenas das Américas, no dia 25/02. A comissão é a instância da OEA responsável pelo recebimento e investigação de denúncias de violações praticadas por autoridades governamentais aos direitos humanos protegidos pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que o Brasil, como um dos 35 países membros da OEA, ratificou em 1992.

O grupo dos representantes indígenas brasileiros conta com a presença de Paulo Pankararu, advogado do Warã Instituto Indígena Brasileiro; de Azelene Kaingang, presidente do Warã Instituto Indígena Brasileiro; de Sebastião Manchineri, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Cuenca Amazônia (Coica); de Vilmar Guarani, da Coordenação Geral da Defesa dos Direitos Indígenas (CGDDI); e de Joênia Wapichana, advogada do Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Eles são alguns dos responsáveis pela elaboração do documento intitulado Povos Indígenas no Brasil: violações à Convenção Americana sobre Direitos Humanos na OEA, que relata os conflitos e casos de violência gerados por invasões à TI Raposa/Serra do Sol (RR) e pelos garimpos de diamante nas TIs dos Cinta Larga (MT e RO) e será entregue e apresentado por Joênia Wapichana durante a audiência.

Omissão e violência na TI Raposa/Serra do Sol (RR)

O relatório detalha os problemas causados pela omissão do governo federal em reconhecer oficialmente e homologar a TI Raposa/Serra do Sol, em consequência da forte pressão de uma classe política minoritária em Roraima, que conta com o apoio do governo estadual. Apesar dos interesses anti-indígenas, a advogada Joênia Wapichana declara que não há possibilidade jurídica de revisão ou reversão do processo demarcatório, que já foi devidamente concluído.

O documento narra também a negligência das autoridades locais em averiguar ilegalidades, ameaças, invasões ou crimes ambientais, assim como as situações de conflito entre militares e comunidades indígenas, que incluem desrespeito pelas tradições indígenas e lugares sagrados, abusos sexuais de soldados contra mulheres indígenas, lixões mantidos pelo Exército e as manobras e exercícios militares, que representam uma interferência externa prejudicial à organização social cotidiana das aldeias.

O que ocorre em Roraima não é novidade para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A instância da OEA já esteve no Estado e detalhou no Relatório Sobre a Situação dos Direitos Humanos no Brasil, aprovado em setembro de 1997, o que ocorre por lá: “A procrastinação e dificuldades no reconhecimento da integridade do povo Macuxi e da plena posse de suas terras, assim como a criação de municípios que se soprepõem às mesmas e que debilitam suas autoridades e estruturas tradicionais, detonam a incapacidade do Estado brasileiro para defender estes povos das invasões, abusos de terceiros e de combater as pressões políticas e de policiais estaduais para reduzir sua plena segurança e gozo de direito”.

Entre as recomendações sugeridas à época pela instância da OEA estavam: complementar e homologar as terras dos Macuxi, com pleno respeito a suas propriedades e suas instituições e costumes ancestrais, e paralisar toda a decisão de municipalização que atinja Terras Indígenas, inclusive daquelas em processo de demarcação e homologação, de acordo com os preceitos constitucionais vigentes. Nenhuma delas foi acatada pelo governo brasileiro.

Os Cinta-Larga e os garimpos de diamante

Em relação aos Cinta-Larga, o documento dos povos indígenas destaca o saque e a espoliação econômica de recursos das Terras Indígenas, especialmente os garimpos de diamantes, que, envolvem assassinatos, tortura e semi-escravidão de índios e garimpeiros. Outros pontos importantes são a disseminação de alcoolismo e de prostituição entre as comunidades indígenas e o aumento da ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), desnutrição e mortalidade infantil. Esta grave situação coloca os Cinta-Larga como o único povo cuja população vem diminuído nos últimos anos, em contraposição ao aumento geral da população indígena no Brasil.

Segundo Paulo Pankararu, os índios esperam que, após a audiência, as autoridades brasileiras se dediquem a resolver as violações, tratando com mais seriedade e respeito os direitos dos povos indígenas. Com a riquíssima sociodiversidade brasileira, o advogado indígena defende que o país deveria dar exemplo para as Américas. “Estamos participando desta audiência para fazer com que isso aconteça.”

Cristiane Fontes

CIR divulga dossiê sobre situação dos índios de Roraima

Agência Brasil – ABr – Para alertar a opinião pública e os próprios índios sobre as sucessivas agressões e impunidades ocorridas em Roraima, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) divulgou hoje um dossiê sobre os crimes cometidos contra os povos indígenas. O conteúdo do documento, elaborado por Ana Paula Souto Maior, está no site do Conselho, www.cir.org.br , apresenta um histórico do processo de demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, iniciado pela Funai em 1978, com portaria declaratória do Ministério da Justiça publicada em 1998.

O dossiê mostra uma síntese dos atentados, ameaças, violências e assassinatos cometidos por polícias, exército, fazendeiros, garimpeiros e políticos contra os índios. A violência em Roraima registra 21 tentativas de homicídio, 54 ameaças de morte, 51 agressões físicas, 80 casas destruídas, 71 prisões ilegais, 05 roças queimadas e 05 cárceres privados.

Ibama considera inviável ambientalmente a construção da Usina Itumirim

Ibama – A Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental (Diliq), do Ibama, divulgou parecer técnico nesta quinta-feira (20/02), considerando inviável a localização proposta para a instalação da Usina Hidrelétrica de Itumirim, no Rio Corrente, em Goiás. O Instituto entende que a formação do reservatório causará impacto à fauna do Parque Nacional (Parna) das Emas e seus ambientes de transição. Foi a segunda vez que o Ibama manifestou-se contrário à instalação da usina.

Na primeira ocasião, em 26/03/01, o parecer técnico da Diliq considerou que o Parque Nacional das Emas e o local determinado para a construção da usina – rio Corrente, próximo ao povoado de Itumirim, entre os municípios de Aporé e Serranópolis – são algumas das últimas áreas em bom estado de conservação do bioma de cerrado com características únicas de fauna e flora deste ecossistema.

Apontou também que o empreendimento causará impacto no Parna e que antes da instalação de qualquer empreendimento no entorno do mesmo seria necessária a definição da área de amortecimento, conforme a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). Em função disso, a localização proposta pelos empreendedores foi considerada inviável, uma vez que a formação do reservatório impactaria diretamente na fauna do Parna e seus ambientes de transição.

Diante de nova solicitação de avaliação ambiental feita pelo empreendedor, desta vez pedindo a análise da viabilidade de construção da usina com um rebaixamento da cota proposta anteriormente, foi feita uma outra vistoria no local. “O objetivo era avaliar a possibilidade de ganho ambiental na redução da cota máxima de 680 metros para 678 metros e também da nova cota de operação de 675 metros. Os técnicos procuraram avaliar o ganho de área que deixaria de ser submersa e a flora destas áreas”, explica o coordenador geral de Licenciamento Ambiental do Ibama, Leozildo Tabajara Benjamim.

A conclusão apresentada desta vez no parecer técnico do Ibama aponta que com a implantação da usina seria formado um reservatório de 4.659,84 hectares, ocasionando o alagamento de 77,667 hectares “de extrema importância ecológica para a fauna da região e do Parque Nacional das Emas”, aponta o coordenador.

Finalizando, Benjamim explica que o ideal é que todo processo licitado para beneficiamento de energia seja antes viabilizado ambientalmente. “É necessário que a Aneel faça um Estudo de Impacto Ambiental ou um estudo mais abrangente da bacia onde se localiza o empreendimento e verifique a sua viabilidade ambiental. Assim, quando o trâmite chegar para a análise do Ibama, poderemos apontar a sua viabilidade ambiental sem inviabilizar um empreendimento que a Aneel já licitou”, concluiu o coordenador.

ndios mantêm funcionário da Funasa como refém em Santa Catarina

Agência Brasil – ABr – Os índios Gerinpanko estão mantendo como refém um funcionário da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), como forma de pressionar o órgão e a Funai para que garantam a assistência de saúde à tribo. Os índios argumentam que os funcionários da Funasa responsáveis pelo Programa de Saúde da Família atendem apenas as comunidades brancas, não indo as áreas indígenas. Eles afirmam ainda que os prefeitos utilizam os agentes de saúde e as verbas destinadas aos índios para atender seus eleitores. Eles informam que só libertarão o funcionário, quando a Funasa e a Funai se manifestarem.

Sérgio Oliveira

Soja avança a leste do Parque do Xingu e os Suyá ameaçam reagir

ISA – As plantações estão cada vez mais próximas do limite do parque. À medida que avançam, deixam pelo caminho um rastro de destruição caracterizado por erosão, desmatamento e poluição dos rios. Os índios Suyá que vivem na área ameaçam reagir caso a soja invada suas terras.

A empresa multinacional Cargill, que beneficia soja, está implantando novas unidades de armazenagem em Mato Grosso – uma em Canarana e outra, já praticamente pronta, em Querência. E anunciou ainda a contrução de outra unidade na sede da fazenda Gabriela, a 40 km do Parque Indígena do Xingu (PIX), no Alto Xingu, Mato Grosso. Quem anda pela estrada que liga Canarana ao parque não pode deixar de notar a expansão das plantações de soja e o aumento dos desmatamentos associados. Os índios Suyá estão alertas para a ameaça de invasão de suas terras.

Por causa da luminosidade, ideal para o desenvolvimento de plantas de soja, aquelas terras têm alta produtividade, potencialmente acima da média brasileira. Além da Cargill e suas novas instalações, a empresa Bunge Alimentos, outra multinacional de peso, possui um grande armazém em Querência.

Na região há dois caminhos para a expansão dessa cultura: em áreas já abertas e pela conversão de pastagens em plantações de arroz antes de iniciar o cultivo da soja. Como os solos são de baixa fertilidade natural, precisam de calcário e adubos. Porém, por causa do inadequado sistema de conservação do solo e de sua grande susceptibilidade graças às suas características físicas, a erosão corre solta em muitas áreas. Contudo, o plantio direto (técnica de plantio sem aração) ainda tende a predominar nas lavouras e como parte deste sistema de produção os herbicidas, Roundup em geral, são usados extensivamente. É bom lembrar que a soja transgênica, embora proibida no Brasil, é resistente exatamente a este herbicida. Apesar da proibição, o contrabando de sementes transgênicas é uma realidade no país todo.

Conta parcial: adubos + venenos + erosão = rios poluídos. Embora a pesquisa agrícola, desenvolvida pela Embrapa, unidades estaduais e particulares, tenha investido muito tempo e dinheiro em manejo e controle biológico de pragas e doenças, outra parte do pacote mais adotado na região inclui os inseticidas e fungicidas. Na Fazenda Rica, o plano é separar lotes de 3 mil hectares e arrendar para plantadores do sul. Lá eles ainda estão negociando, pois oferecem a terra por 5 anos e os plantadores querem contratos de 15. Em outras fazendas estão sendo implantados esquemas similares. E o desmatamento segue, incluindo as matas ciliares, sem efetiva fiscalização dos órgãos competentes.

Os Suyá, que ocupavam toda a região até as cabeceiras do rio Suyá Missu, relatam que na antiga fazenda Macuco, o novo proprietário tem promovido desmatamentos até a beira dos rios. Segundo um dos fazendeiros do eixo Canarana-Querência, a área desmatada só para a safra atual é de espantar. Se espanta um fazendeiro, o que dizer de outros atores? Assim, o preço da terra foi para a estratosfera, praticamente triplicado. Em Canarana, está em torno de R$ 3 mil por hectare e nas proximidades de Querência, região dos Suyá chega a cerca de R$ 1,3 mil/hectares. Com tudo isso, a conta só faz crescer: grandes áreas + desmatamentos + venenos aplicados de avião = detonação de rios e do ambiente em geral.

Os Suyá dizem que mudaram a aldeia para o Ngojwere porque (entre outros motivos), o rio Suyá Missu está sujo e próximo de suas terras só existem dois rios limpos. O avanço está deixando o pessoal da aldeia assustado, com medo. Não querem a soja por perto. Neste momento, querem enviar um aviso aos vizinhos e autoridades, denunciando a invasão da soja na vizinhança de suas terras. E ameaçam: “Se vier máquina plantar soja aqui, nós vamos lá quebrar tudo”.

Geraldo Mosimann da Silva

Exposição "Cesteiros de Januária" mostra artesanato de MG

Agência Brasil – Abr – A cestaria como marca principal da rica produção artesanal de Minas Gerais é objeto da exposição Cesteiros de Januária, cidade situada na margem esquerda do Rio São Francisco, ao norte do estado. Durante um mês, 356 peças, entre cestos e balaios de fibra de bambu, poderão ser admirados e comprados, com preços entre R$1,00 e R$25,00 na Sala do Artista Popular do Museu de Folclore Edison Carneiro, na Rua do Catete,179, centro do Rio.

As peças estarão expostas até 23 de março, reunindo a produção de artista das comunidades rurais de Estiva, Lapão e Tábua que pertencem ao município de Januária, famoso pela qualidade da cachaça que produz. O destaque alcançado pelas cestarias da cidade deve muito aos irmãos Valdivino e Valdomiro Campos, mestres artesãos, que aprendram a arte de trançar o bambru com o pai Domiciano e repassam o ofício para aprendizes nas oficinas de repasse de saber promovidas pelo Projeto Cestaria de Januária, que atua na região, desde 2002, com o apoio de parceiros locais.

A produção reúne 27 moradores das comunidades que se encontram na sede da Associação Comunitária para aprender a arte e garantir sua preservação para gerações futuras e, ao mesmo tempo, permitir a melhoria de suas condições de vida e geração de renda com a comercialização.

As visitas à exposição poderão ser feitas de terça a sexta-feira, das 11h às 18h; e sábados, domingos e feriados, das 15h às 18h. O Projeto Cestaria de Januária resulta de parceria entre o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Funarte, Ministério da Cultura e o Programa Artesanato Solidário/Comunitas, com recurso da Petrobrás, via Lei de Incentivo à Cultura.

Norma Nery

Marina Silva fala sobre diretrizes da política ambiental do governo

Agência Brasil – ABr – A transversalidade das ações na área de política ambiental, o desenvolvimento sustentável, o controle social e o fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente são as quatro diretrizes básicas da política ambiental do novo governo. O anúncio foi feito hoje pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que abriu a primeira reunião do ano de secretários estaduais do Meio Ambiente, no auditório da sede do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Marina Silva informou também que, no segundo semestre deste ano, será promovida a 1ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, com a possibilidade de realizar-se também uma conferência infanto-juvenil sobre o tema.

A ministra afirmou que é fundamental que as ações relacionadas à política ambiental passem por todos os setores do governo. “O nosso desafio é colocar a política ambiental no coração do governo”, destacou Marina, acrescentando que tem recebido o apoio de vários ministérios, como os do Desenvolvimento Agrário, das Cidades e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Incluir a sociedade nas discussões também é um dos pontos considerados que a ministra considera essenciais para que a nova política ambiental tenha êxito. “O governo, para lidar com a idéia do controle social, tem que ser altamente transparente”, enfatizou, ao defender um diálogo efetivo com diferentes segmentos da sociedade. “Vamos sair da fase do não pode para o como pode ser feito da forma correta”, informou.

Além da sustentabilidade ambiental, a nova política do Ministério do Meio Ambiente dará ênfase ao desenvolvimento sustentável sob os aspectos econômico e social, de acordo com Marina. Outra prioridade da Pasta é fortalecer o Sistema Nacional de Meio Ambiente, buscando uma gestão compartilhada entre os governos federal, estaduais e municipais. “Temos a clareza de que isso é fundamental para que possamos ter as respostas necessárias de uma política ambiental integrada e eficiente”, explicou a ministra.

Além desses quatro eixos para o trabalho do ministério nos próximos quatro anos, Marina falou sobre a importância de dar uma nova dimensão às ações do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e de valorizar a comissão tripartite, formada por representantes do ministério, dos estados e dos municípios. Ela lembrou que, desde que a comissão foi criada, há cerca de dois anos, seus membros só se reuniram duas vezes. “É fundamental que se estabeleça a periodicidade dessas reuniões, porque isso pode se constituir numa sinalização concreta do que será a relação com os estados e municípios nessa nova política do governo”, afirmou a ministra.

Também participaram do encontro o secretário-executivo do ministério, Cláudio Langone, e o presidente do Ibama, Marcus Barros. Um dos pontos tratados por Barros foi a liberação dos transgênicos, organismos geneticamente modificados. Ele destacou que o licenciamento desses produtos só poderá ser feito com base científica.

Juliana Andrade

Funai reforça equipe que mantém garimpeiros afastados de área indígena

Agência Brasil – ABr – Já estão em Cacoal (RO) quatro servidores da Administração Executiva Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Cuiabá, todos com experiência em ações de extrusão em terra indígena, para reforçar a equipe da fundação que, desde o início de janeiro, mantém afastados das terras indígenas Roosevelt e Parque do Aripuanã mais de cinco mil garimpeiros de diamantes. O coordenador do grupo-tarefa que está atuando em Rondônia, Walter Blos, esteve com o presidente da Funai, Eduardo Almeida, e garantiu que o órgão indigenista dará continuidade às ações de proteção aos Cinta Larga e poderá ter reforço da Polícia Federal e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). As comunidades indígenas têm participado de todas as ações desenvolvidas até agora.

Líderes indígenas desmentiram ontem (18), em todos os veículos de comunicação, uma série de notícias veiculadas com informações distorcidas, avisando sobre mortes e sobre a volta dos garimpeiros. Segundo os índios, a situação merece cautela, mas está sob controle. Não houve qualquer violência na retirada dos garimpeiros, que tiveram prazo até 25 de janeiro e saíram pacificamente. Foi a primeira vez que a Funai realizou uma ação indigenista, sem a participação das polícias locais. Somente o posto da Polícia Federal, localizado fora das terras indígenas, deu apoio à ação.

Entrevista: Oswaldo Reis

Jornal do Brasil – Em julho de 1967, o médico Oswaldo Reis chegava à Brasília como um dos fundadores do Departamento de Ciências de Saúde da Universidade de Brasília (UnB). Na época, empolgado com a proposta inovadora do novo curso superior, o jovem doutor de 30 anos deixou seu trabalho com medicina tropical em países da América Central pela Organização Mundial da Saúde para se dedicar ao projeto na Nova Capital.


"O que a gente fez primeiro era evitar que isso não fosse um turismo. (…) Eu não queria isso, então eu criei atividade curricular. Todas as áreas da universidade tinham um estágio rural não obrigatório." Foto: Fábio Pili

Dois anos mais tarde, Reis assumia como Decano de Assuntos Comunitários, cargo que manteve até 1976. Nesse período, montou o campus avançado da UnB em Aragarças, MT. O ponto recebia estudantes que participavam do Projeto Rondon e serviu como uma importante base de apoio para o desbravamento da região localizada próxima ao Parque Indígena do Xingu. Os universitários prestavam assistência para garimpeiros, pioneiros que fundavam novas cidades e aos índios que habitavam uma região ainda pouco conhecida.

O médico conversou com o Jornal do Brasil e Rota Brasil Oeste sobre os desafios e a importância da interiorização da saúde pública no Centro-Oeste.

– Como foi a implantação do Campus Avançado da Universidade de Brasília?

– Em 1969, eu fui para o Chile, logo que retornei, criei o campus avançado da Universidade de Brasília, que era parte do projeto Rondon. Mas eu era crítico da maioria dos outros campi. Tinha um teco-teco na UnB, ganhado na época do Darcy, que foi exatamente para fazer trabalhos antropológicos. E esse teco-teco estava encostado, inclusive tinha um piloto da universidade que não fazia nada. Então a gente recuperou esse teco-teco, que se chamava Espírito de Filadélfia e o piloto era o Custódio, muito conhecido na região. Comecei então a trabalhar, indo de teco-teco para a região todo fim de semana e comecei a montar o campus avançado.

– E como era a preparação para os alunos que ia à região?

– O que a gente fez primeiro era evitar que isso não fosse um turismo. Era muito comum o cara conhecer a região amazônica e bater foto com índio, com papagaio ou com macaco. Eu não queria isso, então eu criei atividade curricular. Todas as áreas da universidade tinham um estágio rural não obrigatório. Quem quisesse aquela disciplina, tinha de ter interesse e supervisão docente. Eles iam para lá por períodos determinados, de acordo com cada estágio, de cada carreira. Eu tinha dois médicos docentes permanentes na área. Eles eram professores assistentes da universidade e ficaram morando lá e coordenavam localmente as atividades.

– O campus era multidisciplinar?

– Sim, todas as áreas da UnB. Por exemplo, o pessoal de pedagogia ia para lá para treinar as professoras leigas, capacitá-las. Então tinha um professor da UnB, que é o Paulo Vicente Guimarães, que era também o que dava suporte na região. O fundamental, para nós, era que eles não substituíssem o pessoal local, que era contrário à filosofia que o Projeto Rondon tinha de levar aluno para substituir os locais. O nosso objetivo era treinar indivíduos, fazer treinamento em serviço. Enfim, todas as áreas da UnB atuaram lá, o pessoal de geologia também, que fazia estudos mineralógicos naquela região toda, e faziam com os alunos.

– Como funcionava a assistência no caso da saúde?

– Nós treinávamos estudantes para ser médicos rurais. Criei um programa de educação continuada, pegando esse aluno formado, interiorizando-o em cidades do Centro-Oeste. Os municípios que tinham o interesse, eu estudava as condições para ver se era viável e fazia um chamado consórcio intermunicipal. Isto é, para reunir recursos de vários pequenos municípios para manter um profissional em tempo integral na região. Isso foi um trabalho de interiorização e de saúde pública. Eram médicos treinados com a patologia, com os problemas de medicina tropical.

– Como era a estrutura?

– Nunca me preocupei em conseguir equipamentos sofisticados para a região. O que eu queria era mostrar como era um hospital rural. Eu podia pegar equipamentos do hospital de Sobradinho, ou do meu laboratório de pesquisas do minhocão e colocar lá. Mas não me interessava. Queria um hospital real, fazer os exames comuns de qualquer cidade do interior. A preocupação nossa era não artificializar. O cirurgião trabalhava lá com as condições de roça.<~/p>

– Quais eram os atendimentos mais comuns?

Aragarças estava dentro do paralelo para ganhar incentivos fiscais, aquelas grandes fazendas iam nascendo. Empresários do sul estavam comprando terras lá e começaram a entrar para fazer a sua exploração. Eu reunia essas pessoas e mostrava que seria um investimento com alto retorno se ajudassem os nossos hospitais. Ali é uma zona de malária, de leshmaniose, de febre amarela. Um indivíduo com malária perde vários dias de trabalho. Isso tem um custo. Nós mostramos que se eles permitissem a gente treinar um capataz da fazenda para as coisas mais elementares. Aí, através de rádio eu dava instruções. E toda vez que precisasse internar um peão de uma fazenda dessas também não era gratuito. Tinha uma lista de soro, de seringas, de gases, de remédios. As vezes, os fazendeiros se reuniam e me davam uma quantia em dinheiro para comprar material.

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O atendimento às comunidades indígenas

Fernando Zarur