Agência Brasil – ABr – O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou, hoje, a criação de 12 unidades de conservação, ampliando em mais de 416 mil hectares o total de áreas protegidas no país. Atualmente, o país tem 6% do território protegido. As novas áreas protegidas são: a Floresta Nacional de Pacotuba (ES), as Reservas Extrativistas Chocoaré-Mato Grosso, Mãe Grande de Curuçá, São João da Ponta e Maracanã (PA), a Reserva Extrativa do Mandira (SP), o Parque Nacional das Sempre-Vivas, na Serra do Espinhaço (MG), a Reserva Biológica da Chapada da Contagem (DF), o Parque Nacional do Catimbau (PE), o Parque Nacional dos Pontões Capixabas (ES) e o Refúgio de Vida Silvestre Veredas do Oeste Baiano (BA).
Fernando Henrique enviou ao Congresso Nacional, também hoje, projeto de lei que institui o regime de Concessão Florestal. Hoje, o instrumento legal usado para regular a exploração dos recursos florestais é a lei de licitações. A lei serve para normatizar a venda de produtos e subprodutos das Florestas Nacionais das regiões Sul e Sudeste, mas não é considerada ideal para contratar a exploração florestal de longo prazo. O empresário, por meio desse tipo de contrato, é obrigado a recompor o estoque do bem explorado e a conservar a floresta, mas as figuras contratuais disponíveis não permitem conciliar direitos e deveres.
A atividade florestal contribui com 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e com 8% das exportações. O Brasil é o maior produtor e o maior consumidor de madeira tropical do mundo.
Cerca de 28 milhões de m³ de madeira em tora são extraídos todos os anos da Amazônia, o que representa 90% da madeira nativa explorada no país. Disso, menos de 5% é extraído sustentavelmente. Para o governo, o projeto asseguraria a aplicação dos recursos obtidos com a exploração em atividades de manejo, tais como reposição de estoque de florestas nativas, pela regeneração natural, ou o enriquecimento de florestas plantadas com o reflorestamento.
Rota Brasil Oeste – Realizada em abril de 2001, a entrevista abaixo foi uma das últimas conversas concedidas por Orlando Villas Bôas à imprensa.
Por três dias a equipe do projeto Rota Brasil Oeste colheu relatos sobre a epopéia que foi a Marcha Para o Oeste – maior movimento desbravador realizado no mundo durante o século XX. Aos 87 anos, demonstrava lucidez e memória surpreendente para a idade. Bom de papo e eloqüente, passava horas contando histórias.
Orlando Villas Bôas. Foto: Fábio Pili
A narrativa começa em 1944, quando Orlando abandonou o emprego como contador da Esso em São Paulo para dedicar a vida aos sertões e comunidade indígenas do Brasil-Central. Ao lado dos irmãos Cláudio e Leonardo integravam o quadro de expedicionários se passando por sertanejos analfabetos. Na conversa, o sertanista fala sobre o início da sua vida de mais de 40 anos na selva e os problemas atuais da região.
O que era conhecido do Centro-Oeste brasileiro em 1944?
Do Araguaia até o Rio das Mortes, não tinha ninguém, além dos índios. Nenhuma expedição tinha pisado por lá ainda. Ali, depois do rio Araguaia, ainda tinham alguns sertanejos mas só até o bico da serra (Serra do Roncador). Daí veio o plano da “Marcha para o Oeste”, que o Getúlio criou. A idéia era chegar até o Araguaia e fazer um traçado dali para Manaus, este seria o roteiro da expedição. Foi quando fomos para a vanguarda da expedição. Aí partimos. No rastro nosso, esses acampamentos todos que fizemos, foram se transformando em cidades: Canarana, Água Boa, Garapu e outras. Hoje tem mais ou menos 18 cidades nessa região.
Já se esperava a presença das diversas nações indígenas encontradas no caminho?
Não, descobrimos a presença deles só quando chegamos ao Rio das Mortes e avistamos colunas de fumaça no horizonte. Os xavantes eram conhecidos, mas outros tantos não. O primeiro contato que fizemos, foi com os Kalapalo. Nós ficávamos na praia e eles na barranca do rio. A gente gritava, eles respondiam. Queríamos atravessar, eles ameaçavam com arco e flecha. Ficamos uns dois dias assim. Quando foi no terceiro dia, apareceu na margem um bruto de um índio. Ele chegou, abriu os braços e os outros se afastaram. Atravessamos o rio, subimos a barranca e caminhamos para o lado dele. Ele tremia. Quando chegamos, abraçamos ele. Chamava-se Izarari, o grande cacique, temido. Ele recebeu a gente bem e ali nós fizemos o primeiro posto e campo de aviação.
Entre as personalidades que visitaram a Expedição, está Assis Chateubriand, presidente dos Diários Associados na época. Como foi a estada dele?
A revista Cruzeiro, o Diário da Noite, toda a cadeia associada do Chateaubriand ia para lá, no Xingu. O Chateau sempre ia pra lá. Um dia ele tava tomando banho no rio, e tinha um jornal que era inimigo dele, Samuel Weiner. E um fotógrafo do Samuel Weiner tava tirando fotografias do dr. Assis nu. Aí, o foram correndo, avisando “Dr. Assis, dr. Assis! Tão tirando fotografia do senhor nu!” Ele respondeu: “O quê é que você queria, meu filho? Que eu tomasse banho de casaca?” Ele era terrível! Uma figura formidável! Uma ocasião, ele apareceu no Rio das Mortes levando o genro do Mussollini, um italiano de 2m de altura. Gino Grande. Ele tava na beira do Rio das Mortes e tinha uma canoinha. Ele subiu na canoinha e saiu remando, tava vira, não vira. Aí um sertanejo veio e falou com o dr. Assis: ” Dr. Assis, aquele italianão fornido que o sr. trouxe tá numa canoa e tá que morre!” O dr. Assis disse: “Ô, Orlando! Traduz o quê esse homem tá falando!” E eu disse: “O Gino Grande tá numa canoa perigosa, e é capaz de virar e morrer no Rio das Mortes.” Ele disse “então deixa, deixa! Dino Grande morrendo no Rio das Mortes sob os auspícios dos Diários Associados!” O Assis era uma figura!
Como era a relação de vocês com um dos primeiro chefes da expedição, o coronel Vanique? Porque ele renunciou à chefia?
Ele gostava muito do Rio de Janeiro, não é? Não tinha tino para o mato, nunca entrou no mato. Certa vez estava num teco-teco, sobrevoando a Serra do Roncador. Nós embaixo com 12 homens, e o aviãozinho sobrevoando. Era bom o sobrevôo dele, porque ele jogava um bilhete, dizendo, por exemplo: “Na frente tem um alagado muito grande. Desviem para a direita.” A gente estava fazendo um picadão de 400 km. Ele meteu a cara fora do avião e deixou cair o óculos. E ele então jogou um bilhete pra nós. O avião dava uma rajada de motor para avisar que vinha recado, vinha bilhete. E o bilhete dizia assim: “Perdi meus óculos. Caiu aí. Procurem meus óculos.” Tinham uns 10 trabalhadores, e eu falei: “Procura o óculos do coronel.” Todo mundo fazia de conta que estava procurando. Procurar uns óculos, imagine? Então, veio um segundo bilhete dele: “Mais pra cá.” (risos)
Algumas correntes de antropólogos criticam um pouco a Marcha, o jeito como foi feito o contato com o índio. Como você vê isso?
O índio foi um acidente na marcha da expedição, pois, quando chegamos lá, não sabíamos de nada. Os aviões da FAB sobrevoaram a frente e viram que a área do Roncador era toda ocupada por índios. Índios arredios, que nos atacaram, fizeram miséria conosco. Sem nossa participação, essas cidades surgiram da mesma forma, só que num processo de luta. E fizemos isso em paz. A política mais acertada que nós fizemos foi manter o índio dentro da sua cultura. Hoje, o xinguano fala português. Dentro da comunidade, porém, só usa a língua deles. E lá nós temos 12 idiomas diferentes.
Qual a contribuição das sociedades indígenas ao Brasil e o mundo?
Basta dizer o seguinte: nós vivemos com eles 40 e tantos anos, e nunca vi índios discutindo. Eu nunca vi uma mãe puxar a orelha da filhinha, e nem o pai dar um coque no filho. O velho é o dono da história, o índio é o dono da aldeia, a criança é a dona do mundo! A coisa mais importante de uma aldeia indígena é a criança. Nós perdemos essa noção. A criança hoje, na sociedade em geral, é uma realidade incômoda. Para o índio não. No cerimonial todos eles participam, não tem privilégio. Eles nos dão uma lição de comportamento social que já perdemos e não vamos conquistar mais!
Agência Brasil – ABr – Orlando Villas Bôas era o último sobrevivente de quatro irmãos indigenistas. O sertanista e indigenista nasceu em 12 de janeiro de 1914 em Botucatu, interior de São Paulo e se tornou fazendeiro, a exemplo de seu pai, Agnello. Foi um menino travesso quando estudava no grupo escolar do bairro paulistano de Perdizes, e seu espírito irrequieto predizia o futuro de sertanista e indigenista, sempre em busca de novas fronteiras. Em 1935 Orlando Villas Bôas alistou-se no Exército onde ficou até 1939 e foi expulso porque só obedecia “às ordens que julgava certas”, conforme dizia.
Conheceu o deputado Ulysses Guimarães na escola, a quem apresentou a Jânio Quadros, seu amigo – e Ulysses muito o agradeceu depois, pois se iniciou na política ao conhecer Jânio. Depois de trabalhar numa empresa de petróleo, onde se sentia entendiado e tendo provocado a própria demissão, dirigiu-se para o estado de Goiás, remando durante 22 dias no rio Araguaia e que era o início de uma história de 40 anos pela causa indígena, abraçada depois pelos irmãos Cláudio, Leonardo e Álvaro.
Orlando contava que ao chegar à mata pela primeira vez encontrou os índios amedrontados, se homiziando e lançando flechas. Ele dizia que jamais reagiu às flechadas e procurava ganhar a amizade dos índios transmitindo-lhes um espírito de confiança e amizade.
A criação do Parque Nacional do Xingu em 1961 foi conseguida facilmente por Orlando, dada sua amizade com o então presidente da República, Jânio Quadros. O Xingu tem cerca de quatro mil habitantes divididos entre 13 nações assentadas em 2.800.704,3343 hectares – mais ou menos o tamanho da França e Inglaterra juntas.
Os irmãos sertanistas Orlando, Cláudio, Leonardo e Álvaro Villas Bôas cuidadosamente mapearam seus encontros com as 14 tribos indígenas que encontraram, obtendo sempre permissão para instalar as bases da Fundação Brasil Central. Cientes da fragilidade das comunidades às doenças da civilização ocidental, eles impediram que a política militarista se instalasse entre pessoas armadas apenas com flechas e os fuzis de um Brasil que passo a passo procurava fazer da terra um motivo de exploração econômica.
A esposa de Orlando Villas Bôas, a enfermeira Marina Villas Bôas, conta muitas das suas proezas. Ele a viu pela primeira vez em um consultório médico, e, como precisava de uma enfermeira para a expedição que chefiava resolveu convidá-la. Ela aceitou participar e ficou cerca de 15 anos trabalhando pela missão indígena. “Nesse tempo contraíu malária 15 vezes e Orlando pelo menos umas 200”, conforme diz.
Marina chegou ao parque do Xingu em 1963 e logo no início enfrentou uma epidemia de gripe, além de cuidar de muitos casos de malária. “Os índios tinham o organismo puro, e pegavam com facilidade as doenças de branco, mas conseguimos êxito rapidamente”.
O lazer, no Xingu, era algo restrito a jogos de cartas e passeios nas margens do rio segundo Marina. “À noite, jogávamos baralho ou conversávamos”, relata. “Assim, eu me apaixonei por ele; só que Orlando demorou quase dois anos para perceber.”
Em 1978, Orlando Villas Bôas deixou definitivamente o Parque do Xingu. Em 1984, aposentou-se para viver em sua casa no bairro paulistano de Alto da Lapa, e cultuava, num grande galpão nos fundos de casa, uma espécie de miniatura da Mostra do Redescobrimento (Exposição Brasil + 500, montada no Pavilhão da Bienal no ano 2000), composta de grande variedade de objetos indígenas, guardados em prateleiras, cada um com uma história a contar. Ele, e seus três irmãos eram contrários à ação colonizadora que se iniciara há quatro séculos.
Procuraram descobrir intacto um universo de hábitos e ética inteiramente diferentes. À medida que encontravam novas tribos assentadas às margens do rio Xingu e seus afluentes se deparavam com povos que tinham sua própria cultura e identidade e isso os fascinava e fazia do seu trabalho uma meta de vida. E, ao voltar à vida doméstica, queria conviver com um exemplar da mata, que tinha no reduto de sua própria casa.
Os Villas Bôas contribuíram para preservar vidas humanas, culturas antigas, valores que, depois de perdidos, não podem mais ser recuperado. Garantiram a sobrevivência de nações inteiras no Parque Nacional do Xingu ao consolidá-lo como espaço, com a orientação humanista do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, e o apoio do antropólogo Darcy Ribeiro e do sanitarista Noel Nutel.
Orlando e seu irmão Cláudio Villas Bôas teriam o reconhecimento do seu trabalho no Xingu com a indicação para o prêmio Nobel da Paz em 1976. Sem ter completado o segundo grau, a vivência no Xingu permitiu que Orlando publicasse, em co-autoria com seu irmão Cláudio, 12 livros e inúmeros artigos em jornais e revistas internacionais, como a National Geographic Magazine.
Tanto juntos quanto individualmente, os irmãos receberam honras acadêmicas, reconhecimento de cidadanias e títulos honorários, homenagens à sua atuação na política de proteção à cultura indígena.
Villas Bôas, que completaria 89 anos no próximo dia 12 de janeiro, é, para a grande maioria das pessoas que ouviram falar de suas proezas e de seus irmãos, Cláudio, Leonardo e Álvaro, sinônimos de índio, floresta e Brasil.
Agência Brasil – ABr – O Hospital Albert Einstein informou, há pouco, o falecimento do sertanista Orlando Villas Bôas. O sertanista, que estava internado desde o dia 14 de novembro, morreu às 14h27, em decorrência de falência múltipla de órgãos desencadeada por um processo agudo de infecção intestinal.
Orlando Villas Bôas nasceu em 1914, na cidade de Botucatu, interior de São Paulo. Membro de uma família de indigenistas e sertanistas. Villas Bôas deixa a viúva Marina e dois filhos, Orlando e Noel. No comunicado divulgado há pouco, a diretoria da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein estende as condolências à família do paciente. O boletim é assinado pelo médico José Henrique Germann Ferreira, superintendente do hospital, e pelo médico responsável pelo paciente, Sérgio Reynaldo Stella.
A polêmica ‘revitalização x transposição’ do Velho Chico se arrasta por alguns anos e ainda é motivo para acaloradas discussões. Mesmo que a primeira posição prevaleça, a segunda continua viva e com ferrenhos defensores, tanto nas possíveis cidades afetadas quanto no Congresso e órgãos do governo.
Independente disso, grandes obras com o intuito de levar água ao semi-árido brasileiro já se encontram em funcionamento ou em construção, a maioria sob a responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Estes projetos, principalmente os de irrigação, ajudam a reestruturar parte da economia, do cotidiano e da natureza da região.
A poda de uvas menores é uma técnica utilizada para aumentar o espaço e melhorar a qualidade dos cachos. Foto: Fernando Zarur.
Um dos mais importantes projetos de irrigação está na região das cidades vizinhas de Juazeiro-BA e Petrolina-PE. Os perímetros de Bebedouro-PE e Mandacaru-BA foram inaugurados pelo governo em 1968, e em 1979 foi construído o de Senador Nilo Coelho. Ao todo, são aproximadamente 100 mil hectares ocupados por fruticulturas, explorados pela Codevasf e iniciativa privada.
O resultado dessa iniciativa na economia local foi enorme. Hoje, as duas cidades compõem a maior metrópole ribeirinha do Vale do São Francisco, com cerca de 400 mil habitantes. Estimativas indicam que mais da metade da população trabalha nos projetos de irrigação, que geram, para cada hectare irrigado, um emprego direto e dois indiretos.
Complementar ao cultivo de frutas, também foi introduzida a criação de peixes. A partir de 1982, diversos projetos de piscicultura alavancaram o desenvolvimento de alternativas econômicas para cerca de 80 municípios da região. Hoje tanques e lagos servem como criadouro de espécies locais, como o curimatã, piau e pacumã, e exóticas (tilápia).
Seo Expedito é um exemplo de pequeno agricultor que mudou de vida com a irrigação. Antes de comprar seu primeiro lote na área do Bebedouro, ele trabalhava em um curtume e mantinha uma roça de subsistência. Na década de 70, ao lado de 153 outros colonos, começou sua produção de fruticultura. Com boa administração, atualmente conta com maquinário próprio para tratar seus 10 ha de plantações de uva, manga e coco. “Hoje em dia a gente tira mais ou menos R$12 mil por hectare, mas o lucro já foi bem maior. Os insumos estão cada vez mais caros”, reclama.
Por outro lado, cerca de 30% dos colonos locais, principalmente os mais antigos, sofrem com problemas financeiros. É comum entre esses agricultores a falência por causa de dívidas bancárias e as reclamações pela carência de apoio ao setor. A migração para as cidades das gerações mais novas também é um problema, pois acarreta na falta de continuidade do trabalho dos primeiros colonos. O fato é que hoje, muitas propriedades não conseguem se sustentar e são comercializadas.
Estes projetos, no entanto, serviram de modelo para outras iniciativas do tipo. Uma região que promete dar um grande salto nos próximos anos é a de Xique-Xique, na Bahia. Ali estão em andamento as obras do projeto Baixio do Irecê, área similar às de Juazeiro e Petrolina, que deverá irrigar 60 mil hectares de plantações e levar investimentos para a área.
Mesmo com o cronograma atrasado e orçamento estourado (a primeira fase, avaliada em R$ 560 milhões em 1999, estava prevista para dezembro deste ano, mas foi extendida por 12 meses por causa da desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar), as obras devem beneficiar até o ano de 2015 uma população de mais de 170 mil pessoas e gerar 85 mil empregos diretos. Em pleno funcionamento, a produção de frutas deverá chegar a 2,4 milhões de toneladas, com um valor líquido estimado em quase R$ 500 milhões/ano.
Problemas e soluções para o meio-ambiente
Os projetos de irrigação desenvolvidos no sertão nordestinos, além de benefícios, também acarretam em custos. O aumento do sal no solo e o uso de agrotóxicos são dois problemas típicos enfrentados pelas regiões beneficiadas.
Para evitar o fenômeno da salinização, foi implementado um sistema de drenagem que ameniza boa parte dos efeitos. Técnicos das Codevasf explicam que o processo está hoje sob controle e somente atingiu lotes mais antigos.
O uso correto de agrotóxicos é uma questão mais complicada, pois depende essencialmente da conscientização dos produtores locais. Muitos colonos, por falta de informação, chegam a utilizar dentro de casa as embalagens usadas de produtos químicos. O descuido e a desinformação já resultaram em registros de doenças relacionadas a estas substâncias.
Para tratar do problema, foi inaugurado em Petrolina-PE o Centro de Recebimento de Embalagens e Tríplice Lavagem de Agrotóxicos do Vale do São Francisco. O galpão tem capacidade para receber lixo tóxico de toda a produção local.
Canal principal do projeto Baixio de Irecê. Quando concluído, terá 87km de extensão e fornecerá água para irrigação de cerca de 60 mil hectares. Foto: Bruno Radicchi
ISA – Enquanto a mídia brasileira está preocupada com a indicação de um nome para a presidência do Banco Central, o presidente Lula anunciou hoje, no National Press Club, em Washington(EUA),que a senadora Marina Silva (PT-Acre) será a ministra do Meio Ambiente e Antonio Palocci, o coordenador do governo de transição, ocupará a pasta da Fazenda. Lula falou à imprensa depois de ter se reunido com o presidente norte-americano George W. Bush.
A indicação da acreana Marina Silva é, sem dúvida, uma excelente notícia para o movimento ambientalista brasileiro. Afinal, ela tem uma longa trajetória de atuação em defesa da conservação, preservação e da sociodiversidade do país. Ex-seringueira, companheira de luta de Chico Mendes, assassinado em 1988, Marina Silva, 44 anos, é uma incansável batalhadora pelo desenvolvimento de modelos de sustentabilidade econômica e social. Eleita no final de 1994, aos 38 anos, foi a senadora mais jovem da história da República. Reeleita este ano para mais um mandato, sua atuação concentra-se nas áreas de Direitos Humanos, Cidadania, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Entre seus projetos de lei mais importantes destacam-se o PL nº 306/1995 de Acesso a Recursos Genéticos e o PL nº 116/1999 de Moratória de 5 anos para os transgênicos.
“O primeiro sinal que eu dei a todo o mundo de que a Amazônia será tratada diferentemente no meu governo foi que escolhi uma companheira que a imprensa brasileira já cansou de citar o nome. Mas certamente a companheira Marina, com quem vou conversar nesses dias, vai tomar conta da política ambiental no meu governo”, disse Lula.
“Estou convicto de que ela vai promover uma política de desenvolvimento sustentado para a Amazônia, que combina ao mesmo tempo a necessidade de preservação ambiental com a criação de empregos para as mais de 20 milhões de pessoas que moram na região. Precisamos entender que a maior riqueza da Amazônia, que é a sua biodiversidade, é a grande fonte de riqueza para o povo que mora na região”.
Valorização do Meio Ambiente
No início de novembro, 140 organizações ambientalistas, com o apoio de políticos, cientistas, pesquisadores, professores e representantes do setor empresarial enviaram carta ao presidente eleito Lula defendendo a nomeação da senadora como forma de valorizar um Ministério que tem sido pouco reconhecido e não raro desvalorizado.
“O fato de Lula indicar uma pessoa comprometida de forma inequívoca e de ser um dos primeiros ministérios a ser anunciado, quebra uma tradição”, diz João Paulo Capobianco, um dos coordenadores do Instituto Socioambiental (ISA). “O Ministério do Meio Ambiente era um dos últimos a serem anunciados e sempre foi motivo de negociações entre os partidos. É um sinal de mudança, de que a questão ambiental passa a ter uma nova inserção na estrutura de governo”.
Diante da perspectiva de novos tempos para o ambientalismo, vale lembrar uma das epigrafes que inspiraram a fundação do ISA, em 1994, de autoria do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, também sócio-fundador do instituto: “Devastamos mais da metade de nosso país pensando que era preciso deixar a Natureza para entrar na História: mas eis que esta última, com sua costumeira predileção pela ironia, exige-nos agora como passaporte justamente a Natureza”.
Ganhadores do Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente
Liderança Individual
– Marina Silva, senadora do PT-Acre (1º)
– Raimunda Gomes da Silva, quebradeira de coco no Tocantins (2 º)
– Muriel Saragoussi – liderança ambientalista e dirigente da ONG Fundação Vitória Amazônica (3º)
Associação Comunitária
– Associação dos Moradores e Produtores do Projeto Assentamento Chico Mendes, em Xapuri (AC) por seu trabalho de recuperação em áreas degradadas (1º)
– Associação dos Seringueiros do Seringal Cazumbá de Sena Madureira (AC) por lutar pela criação da Reserva Extrativista (2º)
– Conselho Indigenista de Roraima (CIR) por seu trabalho pela demarcação da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol (3º)
Organização não-governamental
– Instituto Socioambiental pelo projeto educacional junto a comunidades indígenas no Parque do Xingu (MT) (1º)
– Comissão Pró-Índio do Acre, de Rio Branco, por mais de 20 anos de atuação em apoio aos povos indígenas da região (2º)
– Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), que reúne trabalhdores extrativistas da Amazônia, com sede em Rio Branco (3º)
Negócios Sustentáveis
– Arte Baniwa dos índios Baniwa do Alto Rio Negro, conquistado pela Oibi (Organização Indígena da Bacia do Içana), com sede em S. Gabriel da Cachoeira (1º)
– Associação dos Pequenos Agrosilvicultores do Projeto RECA, de Nova Califórnia, em Rondônia pelo pioneirismo no processamento e comercialização de produtos como palmito e polas de frutas, que ecompõem o ambiente da floresta úmida (2º)
– Couro Vegetal da Amazônia S/A, com sede no Rio de Janeiro, por valorizar a borracha natural (3º)
Ciência e Tecnologia
– Universidade Federal do Acre por conta das pesquisas que realiza sobre uso sustentável de recursos naturais para recuperação de áreas florestais alteradas (1º)
– Juan Revilla, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), de Manaus, por seus estudos e publicações sobre plantas de potencial medicinal na Amazônia (2º)
– Projeto Tipitamba, da Embrapa Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, com sede em Belém, pelas pesquisas desenvolvidas que resultaram alternativas concretas para evitar o uso do fogo no preparo de áreas de capoeira para atividades agropecuárias (3º).
Agência Brasil – ABr – O sertanista Orlando Villas Bôas permanece em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Albert Einstein, na zona sul desta capital. O boletim médico divulgado agora há pouco informa que Villas Bôas está sedado e respirando artificialmente em virtude da falência de múltiplos órgãos. Ele está internado desde o último dia 14 de novembro, com um quadro agudo de infecção intestinal.
Agência Brasil – ABr – Garantia de autonomia e respeito aos direitos dos povos indígenas das Américas é o tema que está sendo discutido hoje por lideranças de 60 etnias na “Pré-Bienal dos Povos Indígenas das Américas”, realizada no auditório do Espaço Cultural da Câmara dos Deputados. A coordenadora do evento, Laís Aderne, disse que o encontro é uma preparação para a primeira Bienal dos Povos Indígenas das Américas prevista para setembro de 2003, em Brasília.
A Pré-Bienal faz parte do Fórum de Direitos Humanos dos Povos Indígenas. De acordo com a coordenadora, o fórum tem como objetivo elaborar documentos sobre as questões indígenas como demarcação de terras indígenas, estatuto do índio, construção de hidrelétricas e rodovias em terras indígenas e preservação cultural. O documento final será entregue ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro termina no próximo dia 12.
Agência Brasil – ABr – O Projeto Jejy, elaborado pelos índios Guarani, com o apoio da Funai, ficou entre os cinco primeiros classificados no Prêmio Gestão de Cidadania, da Fundação Getúlio Vargas, e receberá R$ 20 mil. Ao todo, cerca de 900 projetos de todo o país foram encaminhados para participarem do Ciclo de Premiação 2002 da Fundação Getúlio Vargas para o Programa Gestão Pública e Cidadania.
Dos 900, 100 foram escolhidos numa primeira etapa e 20 na fase final. Os 15 restantes, entre eles o projeto de Produção de Material Didático para Educação Escolar Indígena dos Macuxi, em Roraima, receberão R$ 6 mil cada, com os recursos aplicados e acompanhados pela FGV e BNDES.
Segundo o chefe do Posto Indígena de Rio Silveira, Márcio Alvim, os jurados declararam, ao informar o resultado da premiação, que pela primeira vez sentiram muita dificuldade em decidir pelos cinco primeiros devido ao altíssimo nível de projetos concorrentes.
A Premiação da Fundação Getúlio Vargas para o Programa Gestão Pública e Cidadania tem como objetivo disseminar e premiar iniciativas inovadoras introduzidas pelos poderes públicos estaduais e municipais e organizações dos povos indígenas.