Funasa elabora norma que vai avaliar qualidade de água para consumo humano

Agência Brasil – ABr – Os técnicos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) estão finalizando os detalhes de uma nova norma de avaliação que vai garantir a qualidade da água para consumo humano. Essa nova regra, que deverá entrar em vigor a partir do próximo ano, será estabelecida pela Funasa, que vai acompanhar a aplicação das medidas.

O coordenador Geral de Vigilância Ambiental em Saúde, da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Guilherme Franco Netto, afirmou, durante seminário sobre Vigilância Ambiental em Saúde, no Hotel Kubitschek Plaza, nesta capital, que os técnicos da Fundação irão fazer, também, levantamento nas cidades que enfrentam problemas de poluição atmosférica , para elaborar um estudo de modo a melhorar a qualidade de vida das pessoas que moram próximo as áreas de solo contaminado por produtos de grande risco à saúde.

Segundo Franco Netto, existem hoje, em várias localidades do Brasil cerca de cinco milhões de pessoas vivendo perto de locais contaminados por produtos como benzeno, chumbo e resíduos de postos de gasolina. Ele explicou que essa contaminação poderá causar a má formação do feto, o aborto e até câncer, e citou como exemplo de áreas mais contaminadas por esses produtos as cidades de Santo Amaro da Purificação (BA) e Cidade dos Meninos (RJ).

Nesse caso, o coordenador frisou que a Funasa está monitorando essas áreas e fará recomendações aos governos estaduais indicando mecanismos de controle, que vão desde a retirada das famílias das áreas de risco até o uso de eequipamentos de proteção.

O encontro, que prossegue até amanhã (3), visa avaliar o desempenho do setor em 2002 e vai discutir as perspectivas e o planejamento das atividades a serem desenvolvidas em 2003. Participam do seminário representantes dos 27 estados responsáveis pela vigilância ambiental de saúde, representantes das coordenações regionais da Funasa, da Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), representantes do Ministérios do Meio Ambiente e da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes).

Socorro Sindeaux

Presidente da Funai faz balanço das atividades do órgão

Agência Brasil – ABr – O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Artur Nobre Mendes, abriu a comemoração dos 35 anos da entidade, hoje de manhã, fazendo um balanço das vitórias obtidas pelo órgão, como a regularização fundiária, demarcação de terras indígenas, proteção dos povos indígenas ameaçados de extinção e aprovação do estatuto do índio, em 1973.

O presidente da Funai destacou, entretanto, que a principal dificuldade enfrentada pelo órgão está relacionada com a “remodelagem” de modo a atender os novos desafios colocados a partir da Constituição de 1988. “A participação e a inserção dos povos indígenas na vida econômica e política nacional, além do aproveitamento dos recursos naturais, como solo e mineração, continuam sendo grandes desafios para a Funai”, ressaltou.

Para comemorar a data também foi inaugurada a exposição fotográfica “Frentes de Atração – O Começo de um Bom Programa” , com 25 fotos de Setsuo Mikami, no centro de exposição e venda Artíndia, na sede da Funai. A exposição fica aberta até o próximo dia 6, das 9h às 17h, sendo que também pode ser vista a exposição permanente da loja, com artesanato de cerca de 60 etnias. A mostra é uma homenagem às pessoas que trabalham na implantação do Programa Artíndia e às equipes de atração.

Atualmente, no Brasil, vivem cerca de 358 mil índios, distribuídos entre 215 sociedades, que representam 0,2% a 0,4% da população brasileira. Artur Nobre acrescentou que esse dado populacional considera somente os índios que vivem em aldeias. Há a estimativa de que, além desses, mais de 200 mil vivam fora das terras indígenas, inclusive, em áreas urbanas. Também existem indícios da existência de mais ou menos 53 grupos ainda não contatados e de grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista.

Lucia Ramos, coordenadora de Promoção Cultural da Artíndia, explicou que a exposição procura reviver pela fotografia o lado positivo e alegre do início do relacionamento do povo Parakanã com a equipe do Departamento de Índios Isolados da Funai. “O lado triste, perdas, dores e gritos, do povo foram abafados pela distância e isolamento da selva. As fotografias são de 1983 e 1984. Elas foram tiradas pelo fotógrafo japonês e fazem parte do acervo do indigenista Sidney Possuelo”, frisou, lembrando que só no Pará existem 34 grupos indígenas, com uma população total de 20.185 mil índios.

Ramos contou que a Frente de Atração é uma equipe formada pela Funai, antigo Serviço de Proteção ao Índio, que tinha a finalidade de manter contato com os grupos isolados, especialmente, quando surgia uma necessidade de expansão territorial. “Era constituída uma comissão, uma frente de atração, composta de um coordenador, um chefe de frente, pessoal da saúde, e índios intérpretes. No momento do contato era colocado um brinde industrializado, do tipo facão, apreciados pelos índios. Durante o período de aproximação o índio deixava alguma coisa da sua cultura, como arcos e flechas. Ou seja, a Frente de Atração é um trabalho de aproximação com o índio”, salientou.

A programação da Semana da Funai inclui a apresentação do Vídeo Hetohoky – A Festa do Menino Karajá, amanhã (3), no auditório Gilberto Pinto de Figueiredo, na sede da Funai, 1º andar; pronunciamento de fim de ano do presidente da Funai, na quarta-feira (4), às 16 horas, no mesmo auditório e reapresentação do vídeo Hetohoky, às 10 horas, 14h30, 17h15 e 23h15, pela NBR, TV a cabo da Radiobrás. Dia 5, dia do aniversário, haverá a inauguração do Centro de Cultura e Convívio dos Povos Indígenas, pelo ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, e o presidente da Funai, na área especial 09, quadra 03, em Sobradinho, no Distrito Federal. Às 15h, será lançado o livro “Legislação Indigenista Brasileira e Normas Correlatas”, no Ministério da Justiça, Salão Negro.

Daniela Cunha

Questões para formulação de uma nova política indigenista

ISA – Em documento enviado ao Conselho Indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai), a ABA relaciona pontos, com base na Constituição, a serem considerados pelo governo eleito para estruturar uma nova política indigenista. Leia o documento na íntegra.

Em 18/11/02, o presidente da ABA enviou carta, em nome da associação, aos conselheiros do Conselho Indigenista da Funai. Veja o texto que reproduzimos a seguir.

Ao
Conselho Indigenista
Fundação Nacional do Índio
Brasília – D.F.

Senhores Conselheiros,

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, no plano jurídico, o reconhecimento do caráter pluriétnico e multicultural da sociedade brasileira. Mas apesar de algumas transformações nos modos de relacionamento entre povos indígenas, sociedade nacional e Estado terem seguido as vias apontadas pelo texto constitucional, os avanços estão longe do desejável para um relacionamento mais justo, ético e igualitário. O viés compensatório dos danos da colonização no Brasil, já presente na Constituição, deve ser plenamente assumido ao mesmo tempo em que uma avaliação dos feitos da política indigenista deve presidir as discussões e tomadas de decisão futuras. Na expectativa de um amplo debate nacional, que reflua para a formulação de uma nova política indigenista pautada nos princípios constitucionais, a Associação Brasileira de Antropologia apresenta ao Conselho Indigenista os seguintes pontos para discussão.

Conceber um debate nacional em torno de uma política indigenista leva, em primeiro lugar, a ter os povos indígenas como interlocutores principais – resguardada a sua sociodiversidade, a variedade de suas formas próprias de representação política e a singularidade de seus movimentos políticos e organizações. Reconhecer tal fato implica em aportar recursos para que os povos indígenas possam manter contato entre si, independentemente da presença estatal, reunir-se, debater e estabelecer de modo mais amplo pautas locais e regionais que refluam para uma participação qualificada em foros de caráter nacional no tocante às políticas públicas que os afetem.

Em segundo lugar, significa reconhecer o grande acúmulo de experiências inovadoras desenvolvidas fora das fronteiras da administração do Estado, bem como o fato de que a execução da política indigenista não se esgota num único órgão.
É preciso sublinhar que uma avaliação ampla do que já tem sido feito (por organizações indígenas, ONGs, outros setores do Estado, em comissões paritárias com a participação de indígenas, por articulações entre a FUNAI e a cooperação técnica bilateral), presidida por compromissos ético-morais com os povos indígenas, deveria ser procedida de modo a subsidiar as novas propostas de ação de Estado.

A formulação dessa política deveria caber a um Conselho de Estado de caráter normativo, deliberativo e supervisor cuja vinculação institucional deveria garantir sua independência e alto compromisso com os povos indígenas. Na conjuntura histórica atual, este Conselho é necessário para integrar os ministérios com funções de governo e fiscalização relativas aos povos e terras indígenas. A ele ficariam afetas também a formulação de políticas setoriais como as de saúde e educação e outras que deverão surgir, sob seu estímulo e articulação. Sua composição deveria ter ampla representação indígena, construída de modo responsável com apoio do governo federal, sem soluções simplistas que equacionem o movimento indígena, em sua complexidade e heterogeneidade, a organizações do movimento social. Este Conselho deveria contar, também, com representantes de universidades, associações científicas e ONGs.

A execução de uma nova política indigenista no tocante aos aspectos fundiários, ambientais, de segurança, e de fomento ao etnodesenvolvimento deveria ser responsabilidade de um órgão da administração federal, de caráter eminentemente técnico, surgido de profundas reformas estruturais e dos quadros da atual Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e concebido em diálogo com diversos setores sociais. No processo de sua estruturação, o Conselho acima citado terá papel primordial. É, pois, importante frisar que a escolha do titular deste órgão e de seus cargos principais não devem ser resultado da composição de alianças de governo que firam os interesses dos povos indígenas. Do contrário, o compensatório da política indigenista continuará sendo desfigurado.

O órgão oficial deveria receber recursos políticos, financeiros e de pessoal tecnicamente qualificado em áreas como antropologia, ecologia, direito, lingüística, sociologia, história, geografia, geologia, engenharia florestal, agronomia, formados ao nível de mestrado e dotados de especialização em temas como o etnodesenvolvimento, direitos humanos, direitos e problemas socioambientais. Esses recursos deveriam ser compatíveis com a enorme órbita geográfica e política de sua intervenção. Ultrapassados os marcos tutelar e assimilacionista, não há porque se conceber funções como as exercidas pela FUNAI ainda hoje. O órgão seria, isto sim, um interlocutor das ações de governo. Estas ações teriam também como protagonistas os povos indígenas e suas organizações, os demais segmentos do Estado com atuação indigenista, universidades, ONGs, e os níveis estadual e municipal de governo, resguardadas as bases ético-morais que sustentam as ações geradas por esta interlocução. Sua estrutura interna deverá ser compatível com um princípio essencial para as futuras ações indigenistas: o da flexibilidade das morfologias administrativas, de modo a reconhecer e saber lidar com a sociodiversidade indígena.

A formulação e execução da política indigenista pautar-se-ia, assim, pelo princípio da corresponsabilidade, em que o fortalecimento e a compatibilização das formas de representação política dos povos indígenas fossem matéria de atenção especial. É preciso depurar esta nova política pública das marcas clientelísticas, da cooptação e das práticas corruptas, que têm caracterizado muitas ações de Estado, dentre elas as indigenistas. A execução da política indigenista assim concebida deve ser objeto de controle social atento por instâncias da sociedade civil organizada, pelos movimentos indígenas, pela esfera judicial, e sobretudo pelo Ministério Público Federal.

Para efetivar tais diretrizes, é imprescindível aprovar o Estatuto dos Povos Indígenas, inaugurando-se uma nova regulação infra-constitucional que norteie outros diplomas legais compatíveis, de modo a enfrentar as pressões anti-indígenas – tais como as que se expressam no Congresso Nacional na forma de propostas de emendas constitucionais e projetos de lei ora em tramitação.

A regularização de terras indígenas deve ter continuidade e avançar. É preciso ter consciência que as terras indígenas fora da região-alvo do Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal – PPTAL/Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil – PPG7 não podem continuar sendo desconhecidas, demandando a resolução de inúmeros conflitos crônicos e a obtenção de recursos como aqueles necessários à indenização de benfeitorias de boa-fé de ocupantes não-índios, com vistas à sua extrusão.

A regularização das terras indígenas deve ser pensada também como parte de um processo mais amplo de aporte das condições para a gestão territorial voltada ao etnodesenvolvimento. Isto implica em realizar investimentos de ordens variadas. É, portanto, necessário que existam recursos financeiros do Estado brasileiro tanto para a ampliação do associativismo indígena, para o controle pelos povos indígenas de seus territórios, quanto para viabilizar a exploração sustentável de recursos naturais.

As políticas setoriais para os povos indígenas deveriam ser igualmente reavaliadas com vistas à sua ampliação e melhor execução. Esta reavaliação deveria ser presidida pela assunção plena das responsabilidades do governo federal por sua execução.Seria desejável que outros órgãos da administração pública fossem capacitados para atuar junto aos povos indígenas e que isto ensejasse a concepção de outras políticas setoriais, em consonância com as diretrizes do Conselho e do órgão indigenista. Seriam exemplos destas políticas as para fomento ao etnodesenvolvimento, por parte de órgãos como o BNDES e outros.

Na esfera da política de saúde indígena, tal como vem sendo implantada pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), é absolutamente necessária uma avaliação acurada, implementada de fora do âmbito das instituições dela executoras – seja a própria FUNASA, sejam as instituições a ela conveniadas, seja a FUNAI – de modo a que os problemas fundamentais que até agora têm sido constatados possam ser ultrapassados. A implantação dos distritos sanitários especiais indígenas (DSEIs) deverá se basear no princípio de que as formas administrativas devem se aproximar das realidades indígenas e não o oposto. Para isto a FUNASA deveria ser capacitada a operar a partir de princípios antropológicos e fortalecida de modo mais amplo para executar plenamente suas tarefas.

A FUNASA deverá ficar impedida de municipalizar os seus recursos: entendemos que a execução da política de saúde indígena é primariamente de responsabilidade do Estado brasileiro. A FUNASA deverá, isto sim, desempenhar o papel de capacitar e assessorar as organizações a ela conveniadas em bases sólidas, também do ponto de vista da Antropologia. No mesmo espírito de colocar os interesses indígenas como prioritários, a FUNASA deveria controlar estritamente o uso dos recursos pelas prefeituras envolvidas nos DSEIs.

Para que esta execução seja efetivada, dentre as atribuições do Conselho que delineamos acima estaria a tarefa de participar intensamente no exercício do controle social sobre essas ações de Estado, até agora basicamente afetas ao Conselho Nacional de Saúde, cooperando com os povos indígenas e a sociedade civil organizada na sua realização. Seria preciso, insistimos, que haja investimento na preparação de recursos humanos para atuar na área de saúde, a começar pelos próprios quadros da FUNASA, formando-os nas habilidades e competências necessárias à compreensão e efetiva atuação junto aos povos indígenas. Os fluxos financeiros para execução dessas ações de Estado deverão ser concebidos sob a forma de planos plurianuais e repassados de modo regular e infenso a manipulações políticas.

Da mesma maneira, a política de educação indígena deveria ter seus princípios e execução revistos, em bases análogas às que propusemos antes no tocante à política de saúde. A sua execução pelos estados e municípios deve ser um foco privilegiado de tal avaliação. Pela importância de que esta política vem se revestindo nos dez últimos anos, pelos inúmeros problemas suscitados pela aplicação genérica e, muitas vezes, burocratizada dos “Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Escolar Indígena”, julgamos oportuno uma reflexão densa sobre o que foi feito até agora.

Consideramos que esta é a primeira experiência de política compensatória no campo da educação no Brasil e que, a partir dessa avaliação, seria necessário elaborar um conjunto de medidas que viabilizassem o acesso diferenciado dos povos indígenas aos níveis médio e superior de educação, tendo em vista uma demanda crescente. Do mesmo modo, a formação dos indígenas para o efetivo exercício da cidadania deveria ser enfatizada nas metas da educação para indígenas como tem sido concebida. Nestes termos, seria preciso estudar um melhor enquadramento institucional para a política de educação indígena, compatível com as suas dimensões e metas, bem como as melhores maneiras de efetivar de modo eficaz a participação indígena sem que isto se reduza a uma mera retórica.
Esperamos que os pontos ora levantados subsidiem o estabelecimento de um amplo debate nacional capaz de configurar um novo patamar para as políticas públicas relativas aos povos indígenas, ou aquelas que os afetem, no quadro da transição entre o governo atual e o eleito. Na expectativa de uma relação favorável dos poderes públicos com os povos indígenas, a ABA se dispõe de modo irrestrito a participar desse debate.

Gustavo Lins Ribeiro
Presidente
Associação Brasileira de Antropologia

PDPI aprova projetos, mas não consegue implementar nenhum

ISA – O Programa Demonstrativo dos Povos Indígenas (PDPI), que começou em 2000, organizou oficinas de capacitação, ações de divulgação e analisou projetos indígenas locais na Amazônia Legal, porém nada foi implementado até agora

Pode-se dizer que tem sido muito barulho por nada. Foram 16 reuniões regionais, dezenas de projetos elaborados, sendo oito aprovados e 14 ainda em triagem, além da realização de cursos, atividades de assistência técnica e ações de divulgação em uma longa fase de preparação, iniciada no ano passado. Tendo consumido US$ 500 mil do Fundo Fiduciário para o Desenvolvimento de Políticas e Recursos Humanos (PHRD) do Japão, o processo ainda não resultou na implementação de um único projeto.

A burocracia do Estado é apontada como principal entrave, especialmente a imobilidade do Congresso Nacional e os obstáculos colocados pelo Banco do Brasil. “O ideal seria ter abreviado esse processo, mas temos que seguir o ritmo do governo”, disse Gersem dos Santos Luciano, gerente técnico do PDPI, componente do Subprograma de Projetos Demonstrativos A (PD/A) do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7). Vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, o PDPI financia projetos indígenas locais que contribuem para a sustentabilidade econômica, socioambiental e cultural dos índios na Amazônia legal .

Mas para que essas iniciativas se tornem realidade é preciso que o Congresso Nacional vote o acordo bilateral entre Brasil e Alemanha, firmado em 14/02/00, que prevê o financiamento do PDPI, entre outros projetos de caráter social e ambiental, com recursos do banco alemão KfW. Mesmo tramitando em regime de urgência, não há indícios de que o acordo será votado ainda este ano. “O PDPI esbarra na velha inércia do Estado brasileiro, quando se trata de colocar o índio na agenda da cidadania nacional”, analisa Marina Kahn, coordenadora do Projeto Capacitação em Gestão para Organizações Parceiras Locais do ISA.

A função do Banco do Brasil (BB) de encaminhar os recursos aos projetos indígenas aprovados pelo PDPI também foi motivo de um longo impasse, que chegou ao fim apenas na semana passada. Segundo Gersem, o BB considerava excessivo o trabalho necessário para a realização da operação, em detrimento do baixo retorno esperado, vetando assim a abertura de contas e o repasse de eventuais recursos. Após seis meses de discussões, ficou decidido que parte das funções administrativas e burocráticas ligadas ao repasse de verbas serão feitas pelo próprio PDPI, diminuindo a carga de trabalho do banco estatal, que taxa a operação em 2,2%. “Não quisemos parar o programa por causa desse valor, mas, no futuro, poderá ser rediscutido”, disse Sérgio Sá, assessor técnico do PDPI.

Para garantir que os oito projetos já aprovados sejam implementados, o Subprograma de Projetos Demonstrativos A deverá repassar, ainda em dezembro, R$ 1,5 milhão para seu programa indígena. Caso o financiamento do KfW não seja liberado pelo Congresso Nacional a tempo, o mesmo procedimento será adotado para outros dez projetos que estão em fase final de aprovação.

Assistência in loco

Aconteceu em outubro a primeira reunião dos seis grupos de referência do PDPI formados para promover ações de fortalecimento institucional, com recursos de 2 milhões de libras (aproximadamente R$ 6 milhões) da agência de cooperação britânica DFID. Esses grupos acompanharão a implementação dos projetos, esclarecendo e capacitando as organizações indígenas envolvidas no processo. “Este é um instrumento novo e o ano de 2003 será fundamental para medir a eficiência dos grupos”, disse Gersem Luciano.

O gerente técnico do PDPI considera que a implementação dos projetos poderia ter avançado se os grupos de referência fossem implementados mais cedo. Mas considerou ágil suficiente a fase de preparação do programa, por se tratar de uma iniciativa que envolve a cooperação internacional, o governo e comunidades indígenas. “A experiência mais lenta permitiu às lideranças indígenas discutir e entender melhor o projeto”, completou.

ISA, Ricardo Barretto

Funai comemora 35 anos

A Funai comemora, no próximo dia 5, o seu trigésimo-quinto aniversário com uma programação especial, que irá de amanhã (2) até sexta-feira. Servidores do órgão e lideranças indígenas estão convidados a participar das atividades, que contarão com a presença do ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, na inauguração do Centro de Cultura e Convívio dos Povos Indígenas, em Sobradinho (DF).

As comemorações começam na próxima segunda-feira (02), às 10h, na Artíndia, em Brasília, onde haverá a abertura da exposição Frentes de Atração – O começo de um bom programa. A exposição reúne fotos do contato com os índios Parakanã, do Pará, entre 1983 e 84, organizadas pelo Departamento de Índios Isolados (DEII), chefiado pelo indigenista Sidney Possuelo.

Na terça feira, em dois horários, 10h e 15h, servidores da Funai e convidados assistirão à primeira exibição do vídeo Hetohoky, a festa do
menino Karajá. No dia seguinte (4), o documentário será exibido em todo o
país pela NBR, TV Nacional, pela operadora NET. O vídeo mostra o ritual de passagem e preparação de meninos de 10 a 12 anos para a fase adulta,
ocorrido em março deste ano e que envolveu e mobilizou a aldeia Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal (TO).

A beleza da Ilha e a força da cultura Karajá – pintura corporal com urucum e jenipapo, braceletes de fio de algodão coloridos (oudexi), brincos em forma de flor (kue) confeccionados com dentes de capivara e penas de arara, o rito de furação de lábio, os cantos, entre outros tantos detalhes foram documentados pela jornalista e psicóloga Maria Luiza Silveira.

Ainda na quarta-feira, às 16h, no auditório da sede em Brasília, o residente da Funai, Artur Nobre Mendes, fará um pronunciamento de fim de ano e apresentará um resumo das ações do órgão durante o atual governo. A inauguração do Centro de Cultura e Convívio dos Povos Indígenas, localizado em Sobradinho, marcará as comemorações no dia 05. A partir do próximo ano, o Centro hospedará os representantes indígenas em trânsito em Brasília na busca de solução para os problemas de suas comunidades. O Centro tem capacidade para abrigar 150 índios/dia e proporcionará lazer (quadra de futebol, sala de vídeo), área para produção de artesanato, horta comunitária, biblioteca, e museu com exposições permanentes.

Ainda na quinta-feira, às 15h, no Salão Negro do Ministério da Justiça, haverá o lançamento do livro “Legislação Indigenista Brasileira e Normas Correlatas”, que reúne as leis atualizadas e vigentes do indigenismo, organizado pelo Departamento de Documentação da Funai (Dedoc-DAD).

No Rio de Janeiro, a partir das 8h30 DE SEXTA-FEIRA, no auditório Reginaldo Treiger do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vinte representantes de projetos sociais de municípios e organizações indígenas apresentarão suas ações para a disputa dos cinco melhores ao prêmio Gestão Pública e Cidadania. A liderança indígena Vando Karai, representante dos Guarani de Ribeirão Silveira, São Sebastião (SP), apresentará o Projeto Jejy, para o Reflorestamento de Palmito Juçara, pupunha e açaí, implementado há seis anos, com o apoio da Funai e do governo local. O projeto, apresentado no início do ano junto a quase 900 outros, foi selecionado entre cem, e está agora entre os 20 finalistas. O presidente da Funai, Artur Nobre Mendes estará presente à exposição de Vando Karai, às 12h, para apoiar o projeto.

Terenas participam do Dia Mundial de Luta contra a Aids

Agência Brasil – ABr – Os índios Terena, da reserva indígena de Taunay, participam hoje das atividades pelo Dia Mundial de Luta contra a Aids. É grande a mobilização de todas as nove aldeias da região. Cerca de 3 mil índios se preparam para o 1º Encontro Terena de Prevenção a Aids. Entre as atividades a apresentação do grupo de teatro indígena Eloketi Okowô, outras apresentações artísticas e culturais das várias aldeias envolvidas em palestras com representantes das aldeias.

Trata-se de uma iniciativa dos voluntários indígenas da própria comunidade atuantes na prevenção de combate à Aids e às DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Organizado no âmbito do programa Assumindo as Diferenças: Prevenção às DST/AIDS entre índios Terena do Estado de Mato Grosso do Sul, o projeto é financiado pelo Ministério da Saúde e pela Unesco, com a admoinistração da Organização Não Governamental Inter Ativa, projetos Inter Ativa – Projetos e Intervenção, sob a responsabilidade e coordenação da médica ginecologista Nazira Scaffi.

Em Campo Grande, o Dia Mundial de Luta contra a AIDS está sendo comemorado com diversas atividades. Hoje, a coordenação municipal do programa de combate às doenças sexualmente transmissíveis e AIDS desenvolve mais uma atividade, desde as primeiras horas com a participação de aproximadamente mil pessoas concentradas na Avenida Afonso Pena, altura da Rua José Antonio, para colocação de um preservativo gigante no obelisco. Do local, sairá uma passeata contra a discriminação e o preconceito em direção a praça Ary Coelho.

O ato conta com a presença de representantes de entidades de classe, técnicos das secretarias de Saúde do estado e do município.

Marília de Castro

Parque Nacional de Brasília comemora aniversário

Agência Brasil – ABr – O Parque Nacional de Brasília promove várias atividades para comemorar os 41 anos de sua fundação. Às 9h, com presença do presidente do Ibama, Rômulo Mello, a direção do parque prestará homenagem às escolas e aos colaboradores de destaque do Programa de Educação Ambiental 2002, com a entrega de certificados de conclusão de trabalho voluntário.

Às 10h, haverá apresentação do coral juvenil da Universidade Católica de Brasília, lançamento do Corpo de Voluntários e inauguração da Trilha Cristal Água. Às 11h, será servido aos visitantes um Café Ecológico. Às 11h30, será aberta a exposição Histórias no Cerrado.

Stenio Ribeiro

Decisão política

Rota Brasil Oeste – Proposta de Emenda à Constituição apresentada hoje (27) em plenário da Câmara pelo deputado Ricarte de Freitas (PSDB-MT) retira da Funai a responsabilidade pela demarcação de terras indígenas. Para o deputado, o assunto envolve interesses divergentes e não pode ser tratado por instâncias administrativas de “quarto ou quinto escalão do Executivo”. Segundo o parlamentar, a Constituição exige a aprovação do Congresso Nacional para qualquer ação em terras indígenas. “Nada mais coerente que transferir ao Legislativo a responsabilidade pela demarcação, eliminando os conflitos que o atual processo acarreta”, argumentou o parlamentar. Atualmente o processo de demarcação de uma terra indígena obedece aos critérios definidos no Decreto 1.775/96.

O primeiro passo para qualquer demarcação é um laudo antropológico da área, produzido por um profissional de qualificação reconhecida indicado pela Funai. O laudo produzido é discutido por uma comissão com profissionais de várias áreas e encaminhado para a aprovação do presidente da Funai. Após a aprovação, há um prazo de 90 dias para contestações, inclusive de ordem fundiária, afim de pleitear indenizações ou argumentar contra a demarcação das terras. Após esse prazo, cabe ao Ministro da Justiça aprovar, prescrever novas diligências a serem cumpridas ou desaprovar a identificação da área.
Leia mais sobre o processo de demarcação.

Amazônia
Defendendo os interesses dos produtores rurais, Ricarte de Freitas também questionou Medida Provisória do governo que aumenta de 50% para 80% a área de preservação permanente nas florestas de domínio privado localizadas na Amazônia. Segundo ele, se somados os 50% de toda a área privada da região com os 70% da União, teríamos mais de 80% da floresta amazônica preservada. “O substitutivo aprovado pela Comissão Mista do Congresso resgata o direito adquirido desses produtores rurais, mas até hoje não foi a votação no Plenário”, disse. O deputado defendeu um “pacto que possa zerar a situação” e criar oportunidade para aqueles que quiserem passar à legalidade.

Denúncias
O deputado aproveitou o tema para criticar reportagem publicada pela revista Veja, durante a campanha eleitoral, que o acusa de ter intercedido junto ao Ibama para derrubar uma multa de R$ 7 milhões imposta a um empresário do setor madeireiro de Mato Grosso. “Em nenhum momento patrocinei ou negociei com o Ibama ou qualquer outro órgão do governo mudança de valores de multas por extração ilegal de madeira”, afirmou. Ricarte de Freitas lembrou que, apesar das denúncias infundadas, foi reconduzido à Câmara Federal, tendo recebido votos em 123 dos 139 municípios de Mato Groso. “Recebi, este ano, mais que o dobro dos votos de 1998, o que atestam meu compromisso com o estado”, concluiu o parlamentar.

Senado
Em agosto o Senado discutiu proposta semelhante. De autoria do senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR), o projeto prevê um limite de 50% do território de cada estado para a demarcação de terras indígenas. O autor argumenta que em Roraima, por exemplo, apenas 7% da população é de origem indígena, e mais de metade das terras do estado estão sob domínio da União por meio da criação de reservas. “Da forma como os projetos vêm sendo feitos, apenas o Executivo define a questão, baseado em laudos antropológicos e portarias da Funai. Pela proposta, os estados que estão perdendo terras para a União poderão se posicionar por meio de seus representantes no Senado”, afirma o senador.

Resistência
Na ocasião, vários senadores e ONGs se manifestaram contra a proposta. Eduardo Suplicy (PT-SP) apresentou no plenário um relatório elaborado pelo Instituto Socioambiental (ISA), segundo o qual as demarcações não podem ser baseadas em critérios quantitativos. O instituto afirma que a modificação fere o direito territorial originário já assegurado pela Constituição. Para a senadora Marina Silva (PT-AC), a fixação de limites às terras indígenas inviabilizará o exercício por parte daquelas comunidades de seu direito de se desenvolver a partir de seus próprios referenciais culturais nos territórios originalmente ocupados. “Este assunto deve ser tratado como cláusula pétrea”, afirmou, referindo-se a dispositivos constitucionais que não podem ser objeto de modificação.

Fábio Pili
Com informações da Agência Câmara e Agência Senado

Pesca em pequenos cursos dágua pode ser proibida

Agência Câmara – A Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias aprovou Projeto de Lei 6165/02, que proíbe a pesca profissional em cursos dágua com menos de 50 metros de largura. O autor da matéria, deputado Paulo Lima (PMDB-SP), aponta como principal problema a escassez de peixes nos pequenos cursos dágua. “A destruição das matas ciliares, o assoreamento, a poluição e a pesca predatória estão entre os fatores que provocam redução dos estoques pesqueiros”, afirma.

O PL segue, em caráter conclusivo, para a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação.

Christina Morais/ ACS

Donos de reservas particulares de MS criam associação

Agência Brasil – ABr – Donos de áreas de reserva particular de Mato Grosso do Sul criaram uma entidade civil, com o intuito de estimular a implantação de novas reservas e de participar da elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento do Pantanal. A decisão de criar a Associação de Proprietários de RPPNs do MS (REPAMS) é resultado de discussões que se desenrolaram no II Encontro Internacional de Integração Técnico-Científica para o Desenvolvimento Sustentável do Cerrado e Pantanal, realizado há dois meses, em Corumbá.

O presidente eleito da entidade é Rubens Filinto da Silva, proprietário da RPPN Reserva Ecológica Fazenda Arara Azul, que fica em Corumbá. Segundo ele, os donos de reservas particulares, a partir de agora, terão mais representatividade para participar das discussões em torno do Programa Pantanal/BID. A associação está aberta a novas adesões. Os contatos com a diretoria da REPAMS podem ser feitos pelo correio eletrônico ebrandao@corema.com.br.

As Reservas Paticulares do Patrimônio Natural, que dão a sigla RPPN, são áreas de conservação da natureza, em terras privadas. Qualquer proprietário de terras que quiser reservar parte delas com esse intuito pode encaminhar a proposta ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A inscrição no sistema de RPPNs não acarreta em perda do direito de propriedade.

Lana Cristina