Conflitos na Serra do Traíra (AM)

ISA – Desrespeito às autoridades indígenas locais, não cumprimento de regras, invasão de brancos, entrada de bebidas alcoólicas são alguns dos problemas apontados em carta enviada à diretoria da Foirn por líderes indígenas da comunidade de Vila S. José Mormes, no extremo sudoeste da Terra Indígena Alto Rio Negro

Na carta entregue por portador na sede da Foirn, em São Gabriel da Cachoeira (AM), em 18/11/02, as lideranças indígenas da comunidade Vila S. José Mormes, situada no chamado Garimpo Tukano, nas proximidades da Serra do Traíra, pedem providências para resolver problemas que afligem os moradores: entrada de bebidas alcoólicas, conflitos, desrespeito às autoridades indígenas locais, não cumprimento de regras e invasão de brancos. O capitão da comunidade, Paulo Cristiano Peixoto Veiga e o vice Roberto Ferreira Marcondes, signatários da carta, convidam a Foirn para visitar a região, no extremo sudoeste da TI Alto Rio Negro.?O portador da carta, Agostinho Peixoto, que chegou à São Gabriel da Cachoeira vindo diretamente de Vila Mormes, onde reside, deu mais informações sobre o que está ocorrendo nesse local remoto. Para sair da Vila Mormes e chegar a São Gabriel, ele caminhou dois dias até a comunidade denominada Duhutura. Daí seguiu com motor rabeta até a comunidade S. Luiz, onde conseguiu pegar o barco de linha Dohétiro, que faz a ligação entre Pari-Cachoeira e a sede do município.

Segundo ele, em Vila Mormes residem 35 moradores indígenas, incluindo algumas famílias e grande número de homens solteiros, a maioria deles pertencentes às etnias Desana e Tuyuka, oriundos do alto Tiquié.

Além dos indígenas, vivem na comunidade cerca de 50 não-indígenas – brasileiros e colombianos – envolvidos na extração ilegal de ouro. Essa comunidade é abastecida por sete cantineiros – brasileiros e colombianos – que trazem mercadorias e combustível da Vila Bittencourt, ao sul, e de La Pedrera e Garimpito, na Colômbia, locais onde a produção de ouro é comercializada. O preço do grama varia entre R$ 19,00 e R$ 23,00.

O ouro vem sendo produzido em pequenas quantidades, com o uso de moto-bombas e “moinhos”, que tratam de separar o metal da rocha e do cascalho, com auxílio de dinamites e mercúrio.

A comunidade segue isolada, sem comunicação por radiofonia. Uma equipe Foirn/ISA visitou a comunidade em 1995 e voltou em 1997, durante os trabalhos de demarcação. Em seguida, a Foirn lá instalou equipamentos de radiofonia. Porém, devido a dificuldades de acesso não manteve mais contato. A comunidade recebeu a visita de um helicóptero do Exército em janeiro de 2002, que deixou medicamentos e facilitou uma ação de cobertura vacinal da Funasa )(Fundação Nacional de Saúde). O prefeito do município de Japurá está prometendo construir uma escola no local em 2003. Um pastor evangélico de Vila Bittencourt costuma visitar a comunidade.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) de S. Gabriel, em conjunto com a Foirn, está planejando uma visita ao local nos próximos dias, aproveitando que a Funasa deverá realizar uma operação de vacinação com apoio de um helicóptero. A partir dos dados obtidos nessa visita, seria possível planejar melhor uma operação de retirada dos invasores, com apoio da Polícia Federal sem cometer as injustiças e brutalidades ocorridas no passado com moradores indígenas em situações semelhantes.

Beto Ricardo

Impactos Ambientais no Velho Chico

Se o São Francisco tem problemas desde sua nascente, foi no remanso da represa de Três Marias onde a Expedição Américo Vespúcio encontrou os maiores impactos ambientais. O próprio reservatório, inaugurado em 1961, gera problemas irreversíveis para o rio.

Podemos dizer que este impacto foi calculado, afinal, o país precisa de energia e estamos num momento difícil, em que é necessário rediscutir os modelos energéticos brasileiros. A situação no reservatório, por exemplo, é crítica. Segundo dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a usina está funcionando com apenas 9,6% da capacidade útil, percentual que deve ser comemorado, devido a recuperação do nível da água pelas chuvas. Antes o índice estava abaixo dos 8%.

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Árvores submersas aparecem devido ao baixo nível d´água no reservatório da represesa de Três Marias, MG. Foto: Fernando Zarur

Quando o reservatório chegar a zero, não haverá água saindo para o São Francisco. A barragem continuará com água, mas esta não chegará ao rio porque a represa não tem válvula de pé, uma espécie de saída de emergência para níveis muito baixos. E como a represa chegou a níveis tão baixos? Há várias respostas, mas durante anos Três Marias é a válvula que regula o fluxo d’água para o Velho Chico.

Três Marias deixou de representar muito na produção de energia nacional, abastecendo apenas Belo Horizonte e algumas cidades da região norte de Minas. Sua principal função tem sido regular o nível do lago de Sobradinho, vários quilômetros abaixo no rio. Ainda nesse momento, o volume das águas que entram na represa é de 180 m³/segundo, enquanto as turbinas trabalham com uma vazão de 400 m³/s. A Cemig, dona da represa, garante que não há possibilidade de que o rio pare, mas para quem nunca pensou que a represa estaria tão baixa, ainda restam dúvidas.

Uma das pessoas que mais duvida da real responsabilidade de empresas e órgãos reguladores é Vicente de Paula Rezende, fundador da ong Voluntários Integrados em Defesa Ambiental, Vida. Sobre a represa, ressalta que o negócio ainda é muito lucrativo, e que a água a mais que sai tem destino certo: “a água virou commoditie, estamos trocando água por quilowatts”.

Há algumas ações que podem ser tomadas para reverter esse quadro, mas a maioria se afasta da barragem. Entre o Paraopeba, principal afluente do Velho Chico na região, e o próprio São Francisco, há uma área com cerca de 1600 km², onde 80% dos solos estão expostos e em processo de desertificação. É o que acontece quando há desmatamento e mau uso do solo. Para se somar ao problema, várias áreas foram reflorestadas com eucaliptos, que suga o solo a grandes profundidades, secando nascentes.

Os desmatamentos coincidem com as regiões de nascentes e veredas, as principais fontes de água para o São Francisco e seus afluentes. “Revitalizar o rio é antes de mais nada resgatar as veredas, que são as mães das águas”, defende Vicente. Duas ações são propostas por ele: defender o que ainda está intacto e reter as águas de chuva com pequenas barragens nas propriedades rurais.

Com ele concorda Ruy Jarí, agente de fiscalização do Ibama de Três Marias: entre as ocorrências mais comuns estão garimpos artesanais de diamante, no rio Abaeté, altamente degradantes; carvoarias queimando matas nativas; esgotos de grandes cidades, como Belo Horizonte e Betim; e uso de agrotóxicos à margem do Velho Chico. Para fiscalizar tudo isso, ele conta com apenas dois barcos, um carro e quatro funcionários.

A situação no lago foi agravada em 1968, sete anos após o início das atividades da represa de Três Marias, com a instalação às margens do rio da Companhia Mineira de Mineração (CMM), uma fábrica de zinco de propriedade do grupo Votorantin. Os dejetos eram despejados no rio e, segundo os pescadores, de 1968 até 1990 a mortandade média de pescado no reservatório chegou a 10 toneladas por ano. Em 1991 a CMM iniciou um trabalho de conservação ambiental, retirando a saída de dejetos e tentando recuperar o impacto ambiental.

Ao lado da fábrica há uma verdadeira montanha de lama com altas concentrações de metais. “Nós não escondemos o que fizemos no passado, mas a CMM tem se empenhado em consertar o estrago”, defende-se Edimárcio Araújo Prudente, técnico em meio ambiente que trabalha na empresa, reportando que uma nova área de depósito está em construção, e 260 toneladas por dia de dejetos serão retirados do monte já existente. A operação de retirada deve durar 20 anos.

Comissão espera que Câmara aprove fundo para o São Francisco

Jornal do Senado – A aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que cria o Fundo de Revitalização do São Francisco é fundamental para a implementação das recomendações do relatório final aprovado pela comissão especial que acompanha o projeto de recuperação do rio, segundo afirmou o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). A PEC, de autoria do parlamentar, destina anualmente R$ 220 milhões para o fundo.

Diante disso, a comissão especial aprovou moção solicitando ao presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB-MG), urgência na formação da comissão que vai examinar a PEC naquela Casa.

A iniciativa da moção foi do relator Waldeck Ornélas (PFL-BA). Ele lembrou que a proposta já obteve a admissibilidade na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara. O desejável, na sua opinião, seria que os líderes dos partidos indicassem o quanto antes seus representantes na comissão, para que a análise do mérito da PEC seja feita ainda este ano.

O fundo seria constituído por 0,5% do produto da arrecadação de todos os impostos da União, pelo período de 20 anos, depois de deduzidas as vinculações e participações constitucionais.

Tomando por base o ano 2000, a estimativa é a de que a arrecadação gire em torno de R$ 220 milhões. Para Ornélas, esses recursos poderão ser utilizados como contrapartida para alavancar recursos externos, que serão empregados na implementação das obras indicadas pelo relatório.

Conforme Waldeck Ornélas, a importância da aprovação da proposta aumenta à medida que os recursos previstos no Orçamento para o presente exercício (2002), bem como as previsões contidas no Orçamento de 2003, “comprometem a execução do projeto”.

Senado Federal expõe artesanato indígena de Rondônia

Funai – Cerca de mil peças do artesanato indígena de Roraima estarão expostas até sexta-feira (25) no Salão Branco do Senado Federal. A exposição Mostra de Arte e Cultura do artesanato Indígena de Rondônia será inaugurada, logo mais às 18h, e reunirá exemplares em cestaria, fibras, látex, cerâmica, sementes e plumas. Além de conhecer a riqueza das diferentes culturas de 16 etnias de Rondônia, o público visitante poderá adquirir colares, paneiros, brincos, pulseiras, cocares e outros adornos. O artesanato em exposição pertence aos povos indígenas Zoró, Cinta-Larga, Apurinã, Pacaás-Novos, Guaporé, Akurape, Apuri, Tuparu, Massacá, Canoés, Karitiana, Mutum, Jaboti, Cujubim, Aruá e Apurá.

A Mostra é resultado de um trabalho desenvolvido pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) junto às comunidades indígenas dos municípios de Ji-Paraná, Guajará-Mirim, Porto Velho e Cacoal, com o apoio das administrações regionais da Funai. Conta ainda com a colaboração do Senado Federal, IBAMA, ONG Paca – Proteção Ambiental Cacoalense, COIS – Coordenação das Organizações Indígenas Suruí, Organização Metareilá do Povo Indígena Suruí, Associação Indígena Pangyjej – Povo Zoró, Associação Indígena DUÍ, Casa dos Artesanatos, Centro Despertar – Diocese – Guajará Mirim, Pastoral Indigenista – Diocese – Ji-Paraná, Associação Indígena Karitiana, Associação Nunerimãnê do Povo Indígena Apurinã de Rondônia, Associação Pamaré do Povo Indígena Cinta Larga e Associação Indígena do Rio Guaporé.

Paralelamente à exposição no Senado Federal, o artesanato indígena de Rondônia ficará exposto para comercialização no Conjunto Nacional, também em Brasília. Nos dias 6 e 8 de dezembro, será exposto em Porto Velho e, entre 14 e 15 de dezembro, em Ji-Paraná.

Simone Cavalcante

Programa de Turismo Rural será lançado em MS

Agência Brasil – ABr – O Programa Turismo Rural Cooperativo será lançado amanhã (26), às 19h, na Câmara Municipal de São Gabriel do Oeste (MS),
pelo secretário de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, Márcio Portocarrero.

Também participam da solenidade, autoridades estaduais e municipais, produtores rurais, e representantes do setor turístico. São Gabriel do Oeste foi escolhida para implementar o modelo de gestão em turismo rural devido a sua organização social (quatro cooperativas estão instaladas no município), pelos atrativos naturais e pela diversidade produtiva da região. O município é o maior produtor de suínos, de avestruz e de soja. Além de ser grande produtor de milho, feijão e de ovos, e cerca de 40 produtores já estão engajados no Programa.

Além desse município outras 11 cidades foram selecionadas para desenvolver o programa que será viabilizado através de num convênio entre o Ministério do Esporte e Turismo, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop/MS), as prefeituras, cooperativas e o governo estadual, através da Secretaria de Meio Ambiente, Cultura e Turismo .

Marília de Castro

Comunidades quilombolas do Pará enviam carta aberta ao presidente eleito

ISA – Reafirmando a luta pelos direitos das comunidades rurais descendentes de escravos negros, o documento reivindica que o próximo governo altere medidas em vigor atualmente, que dificultam o reconhecimento das terras quilombolas – um direito estabelecido pela Constituição de 1988. Leia o texto na íntegra.

Carta Aberta dos Quilombolas do Pará ao Presidente Eleito Luiz Inácio Lula da Silva

As comunidades remanescentes de quilombos do Pará, através de sua Comissão Estadual, vêm parabenizar o companheiro Lula e o Partido dos Trabalhadores pela vitória comemorada por todos que lutam pela justiça social e o fim da discriminação racial.

Estamos esperançosos que este novo governo vai de fato fazer valer os direitos das minorias e em especial dos quilombolas.

Somos uma classe ainda pouco conhecida pela Sociedade Brasileira. Mas somos mais de 1.000 comunidades rurais espalhadas por todas as regiões do Brasil. Somente no Pará, existem 200 comunidades remanescentes de quilombos.

Somos um povo que sofre até hoje as conseqüências da escravidão que maltratou os negros. Mas somos também um povo que recebeu como herança dos antepassados a vontade de lutar com garra e esperança.

A Constituição Brasileira de 1988 – que reconheceu no artigo 68 do ADCT o direito dos quilombolas à propriedade de suas terras – trouxe uma grande esperança para nós. Alguns passos foram dados e já temos algumas terras de quilombo tituladas. Mas ainda é uma pequena minoria que tem a sua terra assegurada e livre de invasores.

Desde o ano de 1999, temos assistido e protestado contra várias medidas do governo federal que cercearam nossos direitos e inviabilizaram a titulação das terras de quilombo. As principais foram: Proibição do uso do instrumento da desapropriação para regularização das terras de quilombo. Delegação de competência exclusiva para titular as terras de quilombo para o Ministério da Cultura.

Com estas medidas, o governo impediu que o INCRA atuasse na regularização de nossas terras e paralisou vários processos de desapropriação que estavam em curso. Transferiu a responsabilidade pela titulação das terras de quilombo para um órgão (a Fundação Cultural Palmares do MINC) sem experiência, pessoal e orçamento para esta tarefa.

O Ministério da Cultura, através da Fundação Cultural Palmares, chegou ao absurdo que outorgar 11 títulos para comunidades quilombolas com os fazendeiros dentro!
Alega o governo que já fez a sua parte e que agora os quilombolas é que têm que retirar os fazendeiros de suas terras. Muitos cartórios se recusaram a registrar tais títulos alegando que os mesmos não têm validade.

A situação, Presidente Lula, é muito grave. Nenhuma terra de quilombo foi titulada pelo governo federal em 2001 e 2002.

Assim, aproveitamos o Dia Nacional da Consciência Negra, para apresentar a reivindicações dos quilombolas do Pará:

Alteração da Medida Provisória que delega ao Ministério da Cultura competência exclusiva para o cumprimento do artigo 68 do ADCT da Constituição federal.

Revogação do Decreto Nº 3.912 de 10 de setembro de 2001 que restringi os direitos dos quilombolas e fere a Constituição Federal.

Criação de um Programa de Regularização Fundiária e Desenvolvimento Sustentado para as Comunidades Quilombolas dentro do ministério responsável pela reforma agrária e desenvolvimento rural.

Retomada do uso da desapropriação para fins da regularização das terras de quilombos.

Comissão Estadual de Comunidades Quilombolas do Pará

Madeireiras derrubam cem mil árvores na Ilha de Marajó

Ibama – No período de 30 de setembro a 31 de outubro deste ano, agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Policiais do Batalhão de Policiamento Ambientai (BPA) realizaram a Operação Marajó em Belém (distritos de Mosqueiro, Icoaraci, Outeiro), Barcarena, Acará, Abaetetuba, Igarapé Miri, Moju, Melgaço, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista, Portel e Breves, sudoeste do estado. Durante a ação foram vistoriadas 167 embarcações e aplicados 69 autos de infração que resultaram em R$-1.726.355,60 (Hum milhão setecentos e vinte e seis mil trezentos e cinqüenta e cinco reais e sessenta centavos). A fiscalização atingiu os Rios Guamá, Barcarena, Acará, Abaetetuba, Moju, Pará, Pacajá, Aruanã, Anapu e Camaripi e apreendeu 1.121 animais da fauna silvestre e aquática; 411 ovos de tartaruga/tracajá; 10 kg de carne de caça (paca, tatu, macaco e capivara); 6.710,794 metros cúbicos de madeira em tora; 278,499 m³ de madeira serrada; embargo de uma serraria em Breves; 2,5 toneladas de peixe da espécie pargo; 1.100 unidades de palmito “in natura”; 14 barcos a motor e 400 metros cúbicos de seixo.

Ilegalidade
Ambientalistas calculam que a extração ilegal de madeira e palmito sacrifica cerca de cem mil árvores por ano no Marajó. Os ribeirinhos vendem árvores ao preço de 8,00 reais, com a tora colocada a beira do rio. Em seguida o produto florestal é retirado, pelo intermediário do madeireiro em balsas, “esquentado” em serrarias da região e enviado a Belém. Os corredores dessa ilegalidade, que envolve madeira, palmito e o tráfico de animais silvestres, são os municípios de Breves, Portel, Anajás, Curralinho, Pacajá e Melgaço. A extração ilegal da madeira é promovida por comerciantes e proprietários de pequenas serrarias na região das ilhas. Os madeireiros pressionam para que o caboclo venda a madeira e estabelecem o valor da árvore, em torno de R$ 8,00.

A fome e a miséria na região de Breves e Portel determinam a subjugação do ribeirinho que se torna agente e vítima deste esquema fraudulento que movimenta milhões de reais entre extração ilegal e sonegação de impostos nesses municípios. Breves e Portel estão entre os municípios mais populosos da Ilha do Marajó, que somam 140 mil habitantes, onde tudo gravita em torno do extrativismo vegetal. O exemplo típico desta situação é do Senhor Eloi dos Santos Pantoja, ribeirinho morador do Igarapé Acagantá afluente do Rio Camarapi. Pantoja herdou uma área de 300 hectares rica em espécies florestais como massaranduba, angelim, jatobá, quaruba, entre outras, de alto valor comercial. Durante a Operação Marajó a extração irregular do ribeirinho foi flagrada pelo IBAMA e o BPA. O comprador da madeira fugiu de abandonou o acampamento com dezenas de árvores abatidas no local. A fiscalização do órgão responsabilizou o ribeirinho que foi multado em R$ 34.000,00. No dia seguinte Pantoja foi ao escritório do IBAMA em Breves e apresentou Atestado de Pobreza.

Jangadas
De forma legal ou ilegal o extrativismo vegetal gera o PIB- Produto Interno Bruto na região, onde 90% da receita tributária são oriundos da extração, beneficiamento e exportação de madeira. As balsas e jangadas com toras de madeira que descem os Rios Pacajá, Aruanã, Anapu e Camaraipi, provocam uma visão impressionante refletida no belo Rio Pacajá.

Durante as noites de luar em Portel e Breves a lua parece ser de madeira, tal a quantidade de toras que navega e entope a calha dos rios fruto da extração ilegal feita em glebas de pequenos lavradores ao longo dos Rios Anapu, Pacajá e Camaraipi.

Outro fato constatado de como circula madeira ilegal na região foi à jangada apreendida no Rio Pacajá pelo IBAMA e BPA, com 950 toras de madeira pertencente à Marajó Islands Bussiness, A empresa foi multada em R$ 195.000,00 por transportar com ATPF (Autorização de Transporte de Produto Florestal) vencida, 1.950 metros cúbicos de madeira em tora das espécies quaruba, sumaúma, entre outras,

EDSON GILLET BRASIL

Europa busca no Brasil alternativas energéticas ecológicas

Agência Brasil – ABr – A Comunidade Econômica Européia está negociando com o Brasil, através do Laboratório de Produtos Florestais do IBAMA, a compra de tecnologia para geração de energia limpa proveniente da biomassa, para transferência a países tropicais, prioritariamente da Ásia e da África. A França, por exemplo, busca no IBAMA alternativas para substituir a energia fóssil e nuclear, que o LPF tem à disposição. Em troca, a CEE ajudará o Brasil na exportação destas tecnologias e na difusão interna de projetos de valorização de resíduos vegetais e de outros ecologicamente corretos.

Nesta procura, a Comunidade Econômica Européia está acertando com o LPF/IBAMA a exportação de briquetes (pó de serragem e de cascas vegetais compactadas) – processo difundido pelo pesquisador do Laboratório de Produtos Florestais do Instituto, Waldir Ferreira Quirino, para a valorização energética dos resíduos brasileiros que apodrecem a céu aberto poluindo o meio ambiente. Trinta quilos de briquetes seriam suficientes para iluminar com energia limpa, proveniente da biomassa, uma residência que consome 100 kWh/mês de luz elétrica de fonte hidráulica, garante Quirino.

A Comunidade Econômica Européia também busca no LPF/IBAMA a transferência de uma outra tecnologia desenvolvida por Waldir F. Quirino para tratamento de resíduos químicos, que isola apenas da parte contaminada por produtos tóxicos usados na conservação da madeira, deixando o restante do produto intacto. O processo conhecido por Valorização Energética de Resíduos Contaminados por Pirólise em Estágios (degradação térmica em ambiente controlado efetuada em patamares de temperatura), poderá ser empregado, da mesma forma, em madeira preservada com o polêmico CCA – cromo, cobre, e arsênico – comum em todo o mundo.

Adotando este processo, Quirino garantiu que as empresas poderão reduzir significativamente o alto custo do tratamento dos efluentes poluentes – a parte financeira mais pesada para a indústria moderna. Na conservação dos aglomerados de madeira, por exemplo, apenas seis por cento são resinas tóxicas que precisam ser tratadas. O método convencional trata toda a madeira, encarecendo muito o procedimento. Já o procedimento desenvolvido pelo pesquisador do LPF/IBAMA trata apenas os seis por cento contaminados.

Para chegar a este resultado e degradar apenas a parte contaminada do produto, Waldir F. Quirino explicou o tratamento é exclusivamente térmico. A madeira é colocada em forno especial, a 250 graus Celsius, ficando o restante intacto para outras utilizações ou como energia limpa. Ele informou que a Comunidade Econômica Européia não permite mais a incineração normal desse resíduo, motivo pelo qual busca novas tecnologias de tratamento disponíveis no Brasil, através do LPF/IBAMA.

Para reforçar a participação do LPF/IBAMA no intercâmbio científico-tecnológico de cooperação bilateral Brasil/França na área de energia alternativa da madeira o representante do CIRAD – Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento, órgão do governo francês equivalente à Embrapa, permanecerá até meados de dezembro no país conhecendo o trabalho dos pesquisadores do Laboratório de Produtos Florestais do Ibama. Waldir F. Quirino – PhD em Valorização Energética de Resíduos, com tese defendida na França, é o interlocutor oficial brasileiro junto ao CIRAD.

Sustentabilidade nos quilombos é tema de seminário

Agência Brasil – ABr – A Fundação Cultural Palmares e a Universidade de Brasília realizam, nos dias 4 e 5 de dezembro, o Seminário “Quilombos no Brasil: terra, cultura, educação e sustentabilidade”, no auditório Dois Candangos, da Faculdade de Educação da UnB. O objetivo é, transformar as propostas surgidas do evento em sugestões aos governos para a consolidação de políticas públicas voltadas para essas populações. Pretende-se ainda organizar um fórum, com a participação dos governos, da sociedade e de quilombolas remanescentes, para promover o resgate dos direitos desses povos, já assegurados pela Constituição Federal.

Informações adicionais podem ser obtidas no endereço eletrônico www.unb.br/dex/quilombos ou em www.palmares.gov.br. O ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal (STF), fará a abertura, falando da legislação antidiscriminatória do Brasil. A sustentabilidade será discutida no âmbito das políticas públicas nos quilombos, bem como a evolução dos estudos históricos e geográficos, entre outros temas. No encerramento, haverá manifestações culturais de comunidades remanescentes.

Lana Cristina

Relatório propõe regularizar a vazão do Rio São Francisco

Jornal do Senado – Senadores da comissão querem garantir a eficiência de projetos de irrigação e a produção de energia no São Francisco.

A comissão especial que acompanha o projeto de revitalização do Rio São Francisco aprovou ontem (20) o relatório final apresentado pelo senador Waldeck Ornélas (PFL-BA). O texto aponta a necessidade emergencial de que se realize trabalho de articulação, coordenado pela Agência Nacional de Águas (ANA), para definir a estratégia e política de novos barramentos de usos múltiplos, com ou sem aproveitamento energético. Implantados na bacia do rio, teriam por objetivo a regularização da vazão e potencialização do rio.

Segundo o relatório, a revitalização da bacia do São Francisco deve envolver o aumento no volume de água, mediante a regularização da vazão do rio. Será essa a função, disse o relator, dos barramentos, que poderão regularizar o nível das águas do São Francisco, viabilizando com mais eficiência projetos de irrigação, a produção de energia elétrica e o funcionamento da hidrovia.

A comissão, segundo o relator, mapeou os principais problemas que ameaçam o rio. São “três áreas problemáticas localizadas no Baixo e no Alto São Francisco e no Lago de Sobradinho”, disse.

O documento preconiza a viabilidade técnica de uma cheia artificial anual, a ser provocada no Baixo São Francisco, pelo aumento da vazão do rio para 4 mil metros cúbicos por segundo, a partir de Xingó, durante sessenta dias ao ano. A cheia artificial garantiria o restabelecimento das condições ambientais do rio e possibilitaria a execução de uma política de desenvolvimento. Essa região do rio merece “prioridade absoluta”, segundo o relatório, em conseqüência dos problemas surgidos a partir da implantação da hidrelétrica de Xingó. Construída na divisa de Alagoas e Sergipe, Xingó criou um lago de 65 quilômetros de extensão no canyon do São Francisco.

Sobradinho

Em decorrência da grande evaporação do espelho d’água em sua superfície de 300 quilômetros, o Lago de Sobradinho possui alta taxa de evaporação. Desse modo, as populações vêem-se obrigadas a se afastar por vários quilômetros do lago, o que resulta em graves prejuízos para suas lavouras e o abastecimento humano.

O relatório propõe que seja implementado plano de desenvolvimento sustentável específico para esse segmento do rio.

Quanto ao Alto São Francisco, Ornélas propõe que a ANA faça convênio com Minas Gerais para realizar estudos sobre o dimensionamento de medidas necessárias no trecho abaixo de Três Marias, permitindo elevação das vazões no curso principal do rio.