Congresso discute saúde, sociedade e ética em Brasília

Agência Brasil – ABr – Uma sessão plenária com a presença do médico e sanitarista sul-africano Solomon Benatar; do sanitarista e ex-senador italiano, Giovanni Berlinguer; e do presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), Volnei Garrafa, abriu hoje de manhã o primeiro dia de discussões do VI Congresso Mundial de Bioética, que se realiza até domingo (3) na Academia de Tênis de Brasília.

Em seu discurso, Volnei Garrafa, também presidente do Congresso, destacou a necessidade de trazer para a pauta de discussão da bioética problemas persistentes nos países pobres do hemisfério sul que são renegados nas abordagens bioéticas tradicionais, feitas por representantes de países desenvolvidos.

Dentre esses problemas persistentes, Garrafa elenca “a exclusão social e a concentração de poder; a globalização econômica internacional e a evasão de divisas das nações mais pobres para os países centrais; a inacessibilidade dos grupos economicamente vulneráveis às conquistas do desenvolvimento científico e tecnológico e a desigualdade de acesso das pessoas pobres aos bens de consumo básicos indispensáveis à sobrevivência humana”.

Segundo Débora Diniz, professora do Instituto de Medicina Social em Bioética, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a bioética pode ser definida como um projeto de intervenção política em saúde. “Ela lida com questões como aborto, eutanásia, células-tronco, mercado de órgãos visando o estabelecimento de um consenso acadêmico e governamental. Para tudo aquilo que a sociedade já tem definição, como por exemplo as vacinas, não há necessidade de discussões éticas ”, explica.

Débora salienta que esse consenso não pode ser determinado por uma regra ou legislação sem que seja discutido e absorvido pela sociedade. “Simplesmente, proibir o aborto por uma lei, não significa que a questão esteja eticamente resolvida”, acrescenta. Ela lançou hoje, no evento, o livro “O que é bioética”, pela editora Brasiliense, na coleção Primeiros Passos.

Para Garrafa, essas duas vertentes da bioética, a persistência de problemas sociais nos países em desenvolvimento e o surgimento de outras questões provocadas pelo avanço da ciência e da tecnologia, fundamentarão as discussões do congresso. A expectativa do professor da Universidade de Brasília (UnB) é que a realização de um encontro desse nível no país motive o governo federal a criar uma Comissão Nacional de Bioética, entidade pluralista e multidisciplinar, de caráter consultivo e ligada à Presidência da República. (Hebert França)

Especialistas querem evitar a morte de onças por proprietários rurais no Nordeste

Ibama – O Centro Nacional de Pesquisas para Conservação dos Predadores Naturais-Cenap realiza entre os dias 4 e 8 de novembro, em Pernambuco, um treinamento com servidores do Ibama, oficiais da Polícia Florestal Ambiental e colaboradores de outras instituições com o objetivo de torná-los capazes de orientar os fazendeiros nos casos de ataques de onças contra rebanhos domésticos (bovinos e cabras) na região Nordeste. O treinamento do Cenap será no Cepene/Ibama, localizado à rua Dr. Samuel Hadmam s/n – Tamandaré – PE – Fone 81 3676 1109/ 1310.

Apesar de raros, os ataques quase sempre resultam em perseguições mortais às onças por parte dos fazendeiros que têm seus animais abatidos. Tal atitude, além de não resolver o problema, cria outro ainda mais grave. A matança leva as onças cada vez mais para a beira a extinção. Animais representantes do topo da cadeia alimentar, as onças regulam a quantidade de presas e de outros carnívoros na região onde vivem, sendo responsáveis pelo equilíbrio ambiental. Se elas desaparecerem do ecossistema, toda a cadeia alimentar sofrerá as conseqüências.

“O mais importante neste momento é definir uma estratégia de ação específica para o Nordeste, região cujas peculiaridades são um desafio para os pesquisadores”, afirma José de Anchieta dos Santos, diretor de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama. Segundo ele, além de possuir uma realidade sócio-econômica diferente de outras regiões do país – onde já existe uma metodologia definida para o trabalho com os predadores, – verifica-se no Nordeste um modo peculiar de manejo do gado caracterizado pela criação extensiva. Essa característica da pecuária regional faz com que as formas já conhecidas de prevenção contra os ataques de onças não sejam tão eficazes.

“Teremos que estabelecer uma forma de trabalho completamente nova para a região, de modo que o gado seja protegido e as onças possam continuar vivas”, diz o biólogo Rogério Cunha de Paula, coordenador do Cenap. Outro aspecto que será levando em consideração é o tráfico de animais silvestres no Nordeste. Ao retirar animais das matas, os traficantes deixam as onças sem condições naturais de subsistência, forçando-as a procurar suas presas nos rebanhos domesticados. No Nordeste, um animal doméstico pode significar o sustento da família ao longo de vários anos. “Se faltar alimento para as onças no meio selvagem, elas vão procurar comida próximo às comunidades humanas”, diz Rogério.

Segundo ele, as duas espécies de onças brasileiras – onça-pintada Panthera onca) e onça-parda ou sussuarana (Puma concolor) – podem ser encontradas no Nordeste. A onça-pintada tem hábitos extremamente arredios. Os casos de ataques de onças a regiões onde há a presença de comunidades são mais comuns com a onça-parda. Mesmo assim, a predação geralmente acontece contra animais que se desgarram do grupo e procuram pastagens em locais distantes, tornando-se presas fáceis.

Mitos e verdades

De acordo com Rogério de Paula, há mais mitos do que verdades cientificamente conhecidas por parte da população em relação às onças. Primeiro, é preciso ficar claro que as onças só atacam os rebanhos domésticos quando os alimentos se tornam escassos nas matas. As onças não atacam os animais domésticos porque são ferozes ou más. “Elas só querem sobreviver”, explica o biólogo. “O maior inimigo do homem é o mito da onça malvada”, diz ele. Ataques a humanos são ainda mais raros. Somente um caso foi registrado no Brasil, no fim da década de 90, em Carajás, no Pará.

Mais informações: Jaime Gesisky – (jornalista) 61 9976 1596 – Rogério C. de Paula (biólogo/Cenap) 11 – 99962204

MJ dá posse de terras a comunidades indígenas

Agência Brasil – ABr – O Ministério da Justiça publica hoje portaria que dará posse permanente de 9.300 hectares da terra indígena Ñande Ru Marangatu ao grupo Guarani-kaiowá, em Mato Grosso do Sul. A comunidade é considerada uma das maiores do Brasil com mais de 18 mil índios. Este ano, 16 terras indígenas já foram demarcadas e 32 estão em processo de demarcação pela Funai. Onze processos estão em análise no MJ.

Desde 1999, 48 grupos indígenas receberam autorização para a demarcação das terras, totalizando, aproximadamente, 11,5 milhões de hectares. Os estados de Roraima e do Amazonas tiveram, respectivamente, cinco e quatro terras indígenas demarcadas, enquanto que Acre, Pará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Ceará, Minas Gerais e Santa Catarina tiveram uma, cada. Com a publicação da portaria, a Funai inicia o processo de demarcação no local.

Vandalismo ameaça sítios arqueológicos de MS

Agência Brasil – ABr – Os sítios arqueológicos de Mato Grosso do Sul estão ameaçados pelo vandalismo e é preciso se buscar medidas urgentes que garantam sua preservação. A colocação é do professor Gilson Rodolfo Martins e foi exposta à semana passada no 6º Encontro Nacional de Turismo com Base Local em Campo Grande (MS).

Martins, doutor em arqueologia, disse que além da ação humana os sítios arqueológicos do estado também sofrem a deterioração natural, principalmente na arte rupestre, por meio da erosão, dos cupins, do excesso de sol e da chuva. Entre os tópicos mais ameaçadores ele listou o desmatamento, as queimadas, as atividades agropastoris, as usinas hidrelétricas, as estradas, os gasodutos e o vandalismo de visitantes sem educação.

O arqueólogo também exemplificou algumas soluções: “No estado ainda não há o turismo arqueológico e Mato Grosso do Sul terá benefícios econômicos por intermédio de um turismo cultural, educacional e preservacionistas dos sítios”. Martins ainda sugere a elaboração de projetos para controlar a visita e diminuir os processos erosivos dos sítios.

Ubirajara Jr

Venda de bebidas alcóolicas a índios é proibida no Acre

Funai – As polícias civil e militar do Acre vão fiscalizar a venda e a disseminação de bebidas alcóolicas a índios não integrados no estado. A medida foi determinada em portaria de 4 de outubro, editada pelo secretário de Justiça de Segurança Pública, Cassiano Marques de Oliveira, com a finalidade de coibir a venda dessas mercadorias aos indígenas.

O secretário se baseou no Estatuto do Índio e nas Constituições Federal e Estadual para esse fim. De acordo com o Estatuto, é crime “propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de bebidas alcóolicas, nos grupos tribais ou entre índios não integrados.” A punição prevista em caso de infração é a detenção pelo período de seis meses a dois anos, com agravante se o infrator for servidor da Funai.

O administrador da Funai em Rio Branco (AC), Antônio Pereira Neto, afirma em memorando ao presidente da instituição, Artur Nobre Mendes, a necessidade de tal atitude. Diversos incidentes envolvendo consumo de álcool entre índios, inclusive crimes com morte, já preocupavam a AER/Rio Branco, que já havia recorrido à Secretaria de Segurança Pública.

Recentemente, em Governador Valadares (MG), um vendedor ambulante de 66 anos foi acusado de vender cerca de 5 litros de cachaça à um casal de índios. A bebida foi apreendida por servidores da Fundação Nacional de Saúde, instituição responsável pela saúde dos índios no domingo passado.

Carmen Lustosa

Biólogos descobrem nova espécie de papagaio na Amazônia

Agência Brasil – ABr – Uma nova espécie de papagaio, cuja principal característica é a cabeça careca com forte coloração laranja, foi descoberta por cientistas brasileiros na Amazônia. A ave foi descrita na edição de julho da revista de ornitologia The Auk e ganhou o nome científico de Pionopsitta aurantiocephala.

Os pesquisadores Renato Gaban-Lima e Marcos Raposo descobriram o novo animal em setembro de 1999, quando coletavam espécimes para o mestrado de Gaban-Lima e para o doutorado de Raposo, ambos alunos do curso de Pós-graduação do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP e bolsistas da FAPESP.

O papagaio de cabeça laranja, com cerca de 25 cm e 160 gramas, já havia sido capturado pelo ornitólogo Helmut Sick nos anos 50, mas ele pensou se tratar de um exemplar ainda sexualmente imaturo de uma espécie já conhecida, a Curica-urubu (Pionopsitta vulturina). A Curica-urubu também é careca, mas tem a pele preta nessa região. Gaban-Lima afirma que características da morfologia externa e o padrão de distribuição dessa ave foram suficientes para defini-la como uma nova espécie.

A região onde os espécimes foram encontrados também indicou que não se tratava da Curica-urubu. O papagaio foi encontrado no sudeste do Pará, nas margens do rios Cururú-açú e São Benedito, dois afluentes da margem direita do rio Teles Pires, no alto Tapajós. Nessa região a Curica-urubu nunca foi encontrada, ela ocorre somente no médio e baixo Tapajós, a leste, até as proximidades da costa.

Segundo os pesquisadores, o conhecimento sobre a distribuição da Pionopsitta aurantiocephala ainda é muito limitado, pois se restringe a somente cinco localidades onde esse animal já foi coletado (três delas na região do alto Tapajós, uma no médio e outra próxima à foz do rio Madeira), mas provavelmente esta nova espécie e a Curica-urubu se encontram nas regiões do médio e baixo Tapajós e do baixo Madeira.

Os cientistas continuarão a trabalhar com o caso a fim de descobrir qual o status de conservação da ave. Além disso, os autores pretendem entender melhor como foi a evolução da P. aurantiocephala e das espécies “aparentadas” a ela, a fim de compreender a história dos ambientes florestais na Amazônia. “Tal conhecimento é vital para o estabelecimento de áreas prioritárias para a conservação” diz Gaban-Lima. (Hebert França com informações da Agência USP)

Hebert França
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MMC

UnB desenvolve revestimento acústico a partir de fibras vegetais e papel reciclado

Agência Brasil – ABr – Combinando baixo custo e preocupação ambiental, a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Fau), da Universidade de Brasília (UnB), Rosana Stockler, desenvolveu placas de absorção sonora feitas de fibras vegetais e papel reciclado. Elas diminuem a reverberação do som, o que as torna ideal para a instalação em ambientes onde o prolongamento do som não é interessante como estúdios e salas de aula.

Rosana explica que ambientes montados com materiais lisos e rígidos – chapas metálicas, vidros, fórmicas, madeiras envernizadas – refletem o som, promovendo a reverberação. O que não ocorre em espaços cujo acabamento privilegia materiais porosos, macios e flexíveis como os carpetes, cortinas e nos casos em que o isolamento acústico é necessário, a espuma e a própria placa criada pela pesquisadora.

Os experimentos conduzidos pela equipe da Fau, com a participação de alunos do Instituto de Artes e do curso de engenharia mecatrônica, foram realizados com fibras de tronco de bananeira e papel reciclado, mas, segundo Rosana, outras fibras como o capim da soja também apresentam resultados parecidos. “As fibras são necessárias porque inibem a decantação (separação) do papel. Optamos pela bananeira porque era o material mais acessível e otimizava a continuidade da pesquisa”, explica a professora.

Além da fibra de bananeira cozida em água e soda cáustica e da polpa de papel, em partes iguais, a mistura é alimentada com um componente aerante responsável pela formação das bolhas de ar e que tornam a placa porosa. O custo de fabricação dessas peças corresponde a no máximo 10% do valor do metro quadrado das placas convencionais existentes no mercado.

A idéia das placas surgiu após um trabalho feito pela Fau, nas escolas e hospitais públicos do Distrito Federal para avaliar o conforto sonoro e o controle de ruído nesses ambientes. Visando contornar a alta reverberação detectada nesses ambientes o grupo criou essa alternativa aplicável só às escolas porque, por questões de assepsia, não é recomendável o uso de materiais porosos em hospitais. Uma das idéias de Rosana é que as placas sejam empregadas como material pedagógico em salas de aula. “Os alunos poderiam desenvolver trabalhos com formas e cores e até o acabamento das placas poderia ser realizado por eles”, acrescenta.

Na maioria dos casos, construídas quando da fundação da cidade, no início da década de 60, as escolas de Brasília não têm preocupação acústica. Como resultado, mesmo após o professor ter acabado sua explanação, sua voz continua reverberando pelo ambiente e comprometendo o entendimento. Com dúvida o aluno pede que o professor repita e, na tentativa de tornar-se mais claro, o professor fala mais alto o que com o passar do tempo compromete sua voz. Rosana ressalta que o padrão arquitetônico de Brasília, que utiliza predominantemente materiais lisos e rígidos – concreto, vidros de alta espessura e esquadrias metálicas – privilegia a reverberação.

Testadas e aprovadas pelo Laboratório Acústico do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), do Rio de Janeiro, as placas obtiveram índice de absorção superior aos das fibras de aglomerado e semelhante ao da espuma, material tradicionalmente empregado para fins de isolamento acústico. ‘‘Para freqüências médias ou altas, o índice de absorção do som foi de 60% a 90%.’’, informa Rosana.

O processo de patenteamento das placas está em andamento e a pesquisadora aguarda interessados em investir na industrialização e comercialização do produto. “Nesses três anos de pesquisa trabalhamos, sempre, com poucos recursos e tirando dinheiro do próprio bolso, sem investimentos não há como industrializar o processo”, confessa Rosana. Devido ao baixo custo de investimento e a facilidade de produção, a pesquisadora acredita que essa poderia ser uma alternativa de ocupação e renda para entidades associativas que atendem menores carentes, meninos de rua, ou clínicas de recuperação. A prefeitura de São Carlos, em São Paulo, tem uma chácara onde desenvolve atividades profissionalizantes com meninos de rua e deve em breve começar a produzir placas com a tecnologia desenvolvida na UnB.

Hebert França

Muito além dos olhos puxados

Jornal da Unicamp – A polêmica em torno da origem dos povos nativos americanos ainda está longe de ser superada, mas uma pesquisa realizada para a tese de mestrado da bióloga Daniela Maria Ribeiro, apresentada à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, traz subsídios adicionais para as discussões em torno do assunto. A tese de Daniela foi aceita para publicação no American Journal of Physical Anthropology, uma das revistas mais conceituadas do mundo no segmento da antropogenética. Ao promover o estudo de um marcador genético em duas populações indígenas brasileiras, os Parakanã e os Xikrin, ambas do Sul do Pará, ela identificou uma semelhança genética entre estas e os habitantes do Sudeste da Ásia e das Ilhas do Pacífico. O resultado corrobora com as hipóteses de uma predominante origem asiática dos ameríndios e sugere que os índios brasileiros e as populações oceânicas podem não ser geneticamente independentes. Há, todavia, uma outra corrente de cientistas que defende que os primeiros humanos a povoarem a América descendem de povos africanos.

A originalidade do trabalho de Daniela está justamente no marcador genético tomado para análise. Estudos realizados anteriormente no Brasil já haviam chegado ao mesmo resultado, mas partindo de outros marcadores. Pela primeira vez, a bióloga investigou o elemento alfa-MRE (alpha-Major Regulatory Element), um segmento de DNA de 300 pares de base que controla a expressão dos genes da globina alfa humana (cadeia polipeptídica que constitui, juntamente com a globina beta, a molécula de hemoglobina, pigmento respiratório de todos os organismos vertebrados, contida nos glóbulos vermelhos do sangue).

Este elemento, ainda pouco estudado em âmbito mundial, nunca havia sido investigado em populações nativas da América do Sul, em geral, ou em populações nativas brasileiras, em particular. O objetivo da pesquisa foi determinar os polimorfismos (variações genômicas responsáveis pela diversidade genética entre os indivíduos) presentes nessa pequena seqüência de DNA e compará-los aos encontrados nas populações já investigadas por cientistas estrangeiros, particularmente as asiáticas.

Para isso, Daniela analisou 70 amostras de DNA de integrantes da tribo Parakanã e 95 amostras de membros da tribo Xikrin. As duas populações foram escolhidas em razão da disponibilidade do material genético, obtido junto ao Hemocentro da Unicamp e à Escola Paulista de Medicina, respectivamente. Ao final do trabalho, que envolveu o seqüenciamento manual de todas as amostras, a autora da tese identificou apenas os haplótipos (combinações de polimorfismos que são transmitidos em bloco de geração para geração) dos tipos A e B. Daniela observou que, em 330 cromossomos dos indígenas estudados, havia o predomínio do haplótipo A (80% contra 20%), sendo este o mais freqüente nas populações da Ásia.

De acordo com a bióloga, investigações promovidas por pesquisadores estrangeiros identificaram que entre os habitantes da Indonésia, da China e da Índia também há predominância do haplótipo A (variação de 67% a 78%). Ao comparar os resultados do seu trabalho com o realizado junto às populações asiáticas, Daniela concluiu que os Parakanã não diferem de nenhum dos povos do Sudeste Asiático e nem da Indonésia já estudados. A tribo Xikrin, que apresentou a freqüência do haplótipo A extremamente elevada (87%), diferiu significativamente das populações chinesa e indiana, mas não da indonesiana, que apresenta maior prevalência do haplótipo A (78%) entre todas as populações já estudadas.

“Meu trabalho é uma pequena contribuição às discussões sobre a ancestralidade dos ameríndios. Ele não trata sobre tempo de chegada dos primeiros habitantes da América e nem se eles foram africanos ou asiáticos, mas corrobora com as teorias de que eles de fato descendem de povos asiáticos”, afirma a pesquisadora, que teve bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e auxílio do Fundo de Apoio ao Ensino e à Pesquisa (Faep-Unicamp). De acordo com a orientadora da pesquisa, professora Maria de Fátima Sonati, resultados semelhantes já haviam sido observados em relação a tribos indígenas brasileiras, mas a partir de outros marcadores genéticos.

“A originalidade do trabalho da Daniela está na análise dessa pequena seqüência de DNA, que controla todo um agrupamento de genes. Isso é muito pouco estudado em nível mundial, e não há registro de iniciativa anterior no Brasil. Nós não sabíamos sequer como seria o comportamento desse marcador”, revela Maria de Fátima.

Viajantes incógnitos

O povoamento da América sempre foi alvo de intensa polêmica. Estudos antropológicos, lingüísticos e genéticos têm tentado responder à pergunta que não quer calar: qual a origem dos habitantes do Novo Mundo? A teoria mais aceita dá conta de que os nativos americanos descendem de povos asiáticos que chegaram ao continente através do Estreito de Bering, extensão de terra de 64 quilômetros de largura que separa a Rússia dos EUA. Essa migração teria ocorrido entre 10 mil e 12 mil anos atrás, segundo estudos antropológicos.

Há, entretanto, quem conteste essa possibilidade. É o caso do bioarqueólogo Walter Neves, professor da USP. Para ele, a ocupação da América teria ocorrido antes desse período (há cerca de 14 mil ou15 mil anos), protagonizada inicialmente por populações africanas, que teriam deixado seus locais de origem e cumprido o mesmo roteiro. Os asiáticos, de acordo com ele, só teriam vindo depois. Reforçam a tese de Neves as medições feitas em crânios americanos com mais de 8 mil anos, entre eles o de Luzia (de 11,5 mil anos), encontrado num sítio arqueológico de Lagoa Santa, em Minas Gerais.

“Gente de verdade”

Os Parakanã, que vivem numa área isolada do Sul do Pará, são conhecidos como “índios brancos”, devido à cor clara de sua pele quando comparados aos demais povos indígenas. Eles se autodenominam awaete, que significa “gente de verdade”. Falam a língua akwawa, do tronco lingüístico Tupi. Atualmente, vivem em uma área de 351.697,41 hectares.

Como a maioria das nações indígenas brasileiras, os Parakanã mantêm relação com os não-índios. Datam de 1910 os relatos dos primeiros contatos, que tiveram lugar no rio Pacajá. Dentro da Terra Indígena Parakanã existem hoje cinco aldeias: Maroxewara, Inaxyganga, Paranatinga, Paranowaona e Itaygo. Ao todo, são 476 indivíduos, conforme levantamento realizado em 1999. Eles retiram da floresta a maior parte de seu sustento.

Entre os Parakanã não existe um único chefe. A liderança política se dá por meio dos líderes de grupos domésticos, denominados Moroiroa. O casamento poligâmico é aceito na sociedade Parakanã. Um homem pode ter mais do que uma mulher, desde que tenha o respeito da comunidade e seja um bom caçador. São incentivadas as uniões entre tios e sobrinhas.

Caçadores e guerreiros

Os Xikrin constituem uma tribo guerreira, que também habita a faixa sul do Pará. Eles se relacionam bem com os Kayapo, pois pertencem ao mesmo tronco lingüístico. Os Xikrin exibem seus corpos bem decorados, são excelentes caçadores e extrativistas. Atualmente, a reserva indígena tem 1.655.000 hectares, onde vivem cerca de 1.050 indivíduos, conforme levantamento feito em 2000. Existem registros da presença dos Xikrin desde o ano de 1896 nas cabeceiras dos rios Vermelho e Branco, afluentes do Rio Itacaiúnas.

Esses índios têm uma cultura muito rica, marcada pela forte liderança dos homens, que dirigem seus clãs familiares. Exibem pinturas complexas e rebuscadas, com um forte impacto visual, tanto nos corpos dos homens quanto nos das mulheres. Estas, ainda exibem a característica de rasparem a cabeça, na parte superior frontal. Os numerosos colares e pulseiras de contas coloridas imprimem um aspecto único e diferenciado para este povo, que impressiona os não-índios com os seus envolventes cantos, danças e rituais.

Os Xikrin são excelentes agricultores. Cultivam grandes roças de mandioca, milho, banana, mamão, algodão e outras culturas. Têm a tradição de manter uma roça comunal, onde as crianças são formadas nos conhecimentos ancestrais, repassados pelos líderes antigos. Os pequenos aprendem desde logo tudo sobre agricultura, importância de cada planta, local de plantio, tamanho e distância entre as covas e controle de pragas e ervas daninhas.

Manuel Alves Filho

Projeto de Bambuzaria prevê a geração de emprego e renda

Secom MT – A Fundação de Promoção Social do Estado (Prosol) e o Sebrae assinaram, quinta-feira (24/10), convênio para implantação do Projeto de Bambuzaria, nos municípios de Santo Antônio do Leverger e Chapada dos Guimarães. O projeto tem o objetivo de gerar emprego e renda, capacitando pessoas que estejam em situação de exclusão social, desempregadas ou em subempregos, para trabalharem com artefatos de bambu.

O projeto é desenvolvido em parceria com a organização não governamental Bancrus, que já realiza este trabalho em outras 52 localidades do Brasil. Serão selecionadas 100 pessoas, que irão compor uma cooperativa, denominada Unidade Produtiva de Bambu. Nesta unidade, os participantes aprenderão a confeccionar artefatos de bambu, inicialmente kits de brinquedos educativos, cujo principal mercado consumidor é a Europa. O kit é composto por várias peças de encaixe e, além disso, a caixa é feita de papel artesanal, confeccionada a partir de resíduos do bambu.

O presidente da Bancrus, Lúcio Ventania explica que a seleção dos participantes será rigorosa, procurando atender a parcela mais carente da população. “Daremos preferência a pessoas excluídas, que sofrem preconceitos e por isso, em geral, não conseguem trabalhar, como ex-detentos e deficientes físicos. Também queremos atender as comunidades e famílias mais carentes, que não têm uma renda mínima por mês”. Segundo Lúcio, após o término da fase capacitação dos participantes, a previsão é começar a produzir 500 kits de brinquedos, que serão vendidos a R$ 70,00. “Até o final de 2003, estaremos confeccionando 1000 kits por mês. Com isso cada família poderá ter uma renda mensal de até R$ 700,00”.

O projeto segue as diretrizes do Desenvolvido Local Integrado e Sustentado (DLIS), do programa Comunidade Ativa – Chapada dos Guimarães e Santo Antônio do Leverger fazem parte do Comunidade Ativa. “São municípios que tem o Índice de Desenvolvimento Humano muito baixo, cuja população é extremamente carente, e este projeto realiza o verdadeiro trabalho social, que é o investimento no ser humano. Dá educação, capacitação, estimula talentos, cuida da saúde e da auto-estima das pessoas”, ressalta a presidente da Prosol, primeira-dama Marília Salles. Os participantes receberão também atendimento médico, odontológico, psicológico e assistência jurídica.

Além a Unidade de Produção, serão implantados dois viveiros de bambu, um em cada município. Cada viveiro terá três mil mudas, e o bambu pode já ser utilizado a partir de seis meses do plantio. “Esse é um projeto amplo, que contempla todas as áreas. Além da geração de emprego e renda, tem o cuidado com a preservação ambiental. O bambu, por exemplo, é ótimo para reconstituição de matas ciliares”, explica o superintendente do Sebrae, José Guilherme Barbosa.

Angela Jordão

Funai reconhece identificação da terra dos Apurinã

Agência Brasil – ABr – A Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu os estudos de identificação da terra indígena Apurinã do Igarapé Mucuim, da etnia dos Apurinã. A terra demarcada tem 73 mil hectares e 131 Km e fica localizada no município de Labras, no Estado do Amazonas. O grupo técnico que identificou e delimitou a átra contou com a participação de técnicos da Funai, da Superintendência de Urbanização, Habitação e Assuntos Fundiários do Amazonas e da Universidade Estadual Paulista.

Os Apurinã constituem uma sociedade pertencente à família lingüística dos Aruák. Os índios estão distribuídos pelo rio Purus e seus afluentes, e somam aproximadamente mais de 3 mil índios, distribuídos em 26 terras indígenas e 10 municípios, no Amazonas. A pesca é uma das principais atividades produtivas desenvolvidas pelos Apurinã, assim como a agricultura, dando destaque ao plantio de mandioca. Os frutos silvestres ocupam um lugar central na sua alimentação, e são consumidos naturalmente ou em forma de vinho (caiçuma), como o açaí e o buriti.