O que é patrimônio genético

Agência Câmara – A Medida Provisória 2186/01 editada pelo Governo considera patrimônio genético as informações de origem genética contidas em amostras do todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico, microbiano ou animal, na forma de moléculas e substâncias provenientes do metabolismo desses seres vivos e de extratos obtidos desses organismos vivos ou mortos, encontrados em condições in situ (no lugar), inclusive domesticados, ou mantidos em coleções, desde que coletados no território nacional, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva.

Também são patrimônio a informação ou prática de comunidade indígena ou local, com valor real ou potencial, associada ao patrimônio genético (conhecimento tradicional associado); e, ainda, o acesso ao conhecimento tradicional associado para fins de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção, visando sua aplicação industrial ou de outra natureza.

Complexidade Ecológica

O Brasil é o país mais rico do mundo em patrimônio genético. 20% do número total das espécies terrestres vivem em território brasileiro. São cerca de 56 mil espécies de plantas superiores já descritas, que correspondem a cerca de 22% do total mundial. Em relação aos animais, o País abriga a maior diversidade biológica do mundo, em dois grupos: mamíferos, que representam 27% do total mundial; e peixes, com mais de três mil espécies de água doce, duas vezes mais do que em qualquer outro país. Quanto aos anfíbios, o Brasil está em segundo lugar, com 517 espécies, e em terceiro lugar em aves. São 1.677 espécies. Estima-se que existam no território brasileiro entre cinco e dez milhões de insetos, a maior parte ainda não descrita pela ciência.

Os seis biomas do país

A diversidade biológica brasileira está distribuída em seis biomas. São eles:

– A Floresta Amazônica, maior floresta tropical remanescente do planeta, que representa 40% de toda cobertura de florestas tropicais do mundo, com 3,7 milhões de km2 em território brasileiro;

– O Cerrado, incluindo campos rupestres, com cerca de dois milhões de km2, que é a maior área de savana em um único país;

– A Mata Atlântica, que se estende do Nordeste ao Sul do País em área de cerca de um milhão de km2, e é um dos mais importantes repositórios de diversidade biológica brasileira, pois inclui campos de altitude, restingas, mangues, florestas de araucária e campos sulinos;

– A Caatinga, com vastas extensões semi-áridas, matas decíduas (que se desprendem facilmente) e remanescentes de florestas úmidas, com área de aproximadamente 1 milhão de km2;

– O Pantanal Mato-Grossense, que representa a mais significativa área úmida do mundo, com cerca de 140 mil km2 em território brasileiro;

– Os biomas costeiros e marinhos, que ocupam cerca de 3,5 milhões de km2 sob jurisdição brasileira, com águas frias nas costas sul e sudeste (zona argentina) e águas quentes, nas costas leste, nordeste e norte, dando suporte a uma grande variedade de ecossistemas que incluem recifes de coral, dunas, áreas úmidas, lagoas, estuários e manguezais.

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Câmara recebe projeto de combate à biopirataria

Câmara quer patrimônio genético no controle da União

Política Nacional de Biodiversidade

Por Antônio Carlos Silva/PR

Política Nacional de Biodiversidade

Agência Câmara – As discussões no âmbito da Câmara não se restringiram à questão do acesso aos recursos genéticos, mas alcançaram também a criação de uma Política Nacional de Biodiversidade. Os debates envolveram várias comissões temáticas e tiveram a participação de especialistas, representantes do Governo e políticos.

A criação da Política Nacional de Biodiversidade (PNB) foi, por exemplo, tema da audiência pública conjunta promovida em junho pela Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias; e a Subcomissão de Biodiversidade da Amazônia (Comissão da Amazônia).

A PNB, elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente com base em estudos técnicos realizados em biomas brasileiros, tem como objetivo definir ações integradas para assegurar a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos.

Conservação e Sustentabilidade

Durante a audiência, representantes do Ministério do Meio Ambiente explicaram a proposta para a PNB. De acordo com o diretor do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, a proposta para uma política nacional nessa área baseou-se em três pontos: conservação, uso sustentável e repartição dos benefícios oriundos dos recursos da biodiversidade. A Política Nacional de Biodiversidade, segundo ele, tem origem em compromisso assumido pelo Brasil quando assinou a Convenção da Biodiversidade, na Eco-92.

Bráulio Dias informou que o documento sobre a PNB está dividido em duas partes: os nove relatórios temáticos e os documentos técnicos. O trabalho foi elaborado por cerca de mil especialistas, que receberam sugestões de todo o País, vindas de organizações não-governamentais, empresas, universidades e entidades de pesquisa. Entre os documentos técnicos, o diretor destaca um estudo sobre o estado atual da biodiversidade brasileira, que analisou segmentos como águas doces, genética, animais invertebrados marinhos e terrestres, micróbios, plantas terrestres e animais vertebrados.

Mais de 200 mil espécies de plantas e animais já foram identificados, número que representa apenas 10% do existente no País. O Brasil detém 20% da biodiversidade mundial – a maior do planeta.

Biomas não contemplados

O secretário da Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro Costa, destacou, no entanto, que a PNB não é a conclusão do trabalho, mas um caminho para a definição dos planos de ação. “A política fala de conservação da biodiversidade, que estamos fazendo há muito tempo, com a criação de áreas protegidas e reservas. O conhecimento da biodiversidade também deve ser ampliado. Esse é um trabalho que não foi concluído em nenhum país do mundo, sobretudo no que tange à distribuição dos benefícios e do uso sustentável do meio ambiente”.

O deputado Paes Landim (PFL-PI) lamentou o abandono de outros biomas, além da Mata Atlântica, como o cerrado e a caatinga, que estariam sendo destruídos e desertificados, e denunciou a falta de recursos para que o Ministério do Meio Ambiente cumpra a Agenda 21.

O deputado Babá (PT-PA) alertou para a situação do meio ambiente na Amazônia, que, segundo ele, está sendo “vorazmente destruído” pelos extratores de mogno e donos de serrarias. Como agravantes, ele destacou os “grandes projetos” de exploração de minérios, de exportação de matéria-prima e de energia, como a construção da usina de Belo Monte, na região do Xingu.

O parlamentar paraense também criticou a falta de recursos do Ministério, provocada pelos cortes orçamentários e pelo contingenciamento de verbas. Segundo ele, o Ministério do Meio Ambiente não tem recursos suficientes para cumprir as metas de preservação e sequer para deslocar os fiscais na Amazônia.

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Câmara quer patrimônio genético no controle da União

O que é patrimônio genético

Por Antônio Carlos Silva/PR

Câmara quer patrimônio genético no controle da União

Agência Câmara – Criada em 1999, a Comissão Especial destinada a apreciar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 618/98) que trata do patrimônio genético deve retomar suas discussões neste semestre. A PEC, apresentada em agosto de 1998 pelo Poder Executivo, inclui entre os bens da União o patrimônio genético – exceto o humano – e exige que o acesso e a utilização desses recursos sejam regulados por lei.

De acordo com o presidente da Comissão, deputado Gerson Gabrielli (PFL-BA), a realização de debates com autoridades envolvidas no tema é de fundamental importância para o País. “Patrimônio genético e biodiversidade tratam do nosso futuro”, disse.

O deputado afirma que a receptividade de vários segmentos da população e de parlamentares para debater o assunto tem sido boa, mas lembra que, por outro lado, não há por parte da Imprensa e da sociedade conhecimento mais aprofundado e consistente sobre o tema. “Com as audiências públicas, estamos tentando popularizar o assunto, para que o cidadão comum conheça e entenda a importância dos ativos da biodiversidade, como a flora e a fauna, que podem ser transformados em medicamentos”, disse.

Os esclarecimentos, segundo Gerson Gabrielli, referem-se também ao domínio desse patrimônio genético. “Vamos continuar os debates para chamar a atenção do Brasil sobre a importância dessa discussão”.

Votação

Gabrielli admite que será difícil a votação da PEC 618/98 ainda neste semestre, por dois motivos: a realização das eleições de outubro, que mobiliza parlamentares, e a realização de um único esforço concentrado, nesta semana, para a votação de outras matérias que pressionam a pauta. Ele informa que a Comissão Especial está tentando sensibilizar o Executivo para a apreciação da matéria, mas, enquanto isso não ocorre, os deputados vão continuar debatendo o tema e buscando novos parceiros.

Prioridades

O presidente da Comissão Especial citou alguns temas considerados de maior relevância. A participação da multinacionais é um deles. “A participação das multinacionais é histórica e forte, mas temos de trabalhar para que o material genético não seja levado para fora do País, transformado e vendido de volta ao povo brasileiro.

O cuidado com o patrimônio dos índios também foi apontado pelo deputado como uma das preocupações que devem marcar os debates. “Tão importante quanto esses temas, está a preservação das matas brasileiras, para evitar danos ao patrimônio genético e à biodiversidade”, conclui Gerson Gabrielli.

Medida Provisória

Enquanto tramitam no Congresso várias propostas sobre o tema, o acesso aos recursos genéticos está sendo regulamentado pela Medida Provisória 2186/01, que tem força de Lei e já encontra-se em sua 16ª reedição. A MP em vigor revogou a Medida Provisória 2126/00 que, por sua vez, substituiu a 2052/00. Esta última não foi apreciada dentro do prazo regimental pela Comissão Especial, mas foi bastante debatida em audiências públicas. A Medida em vigor (2186/01) tramita, no momento, em Comissão Especial, onde será relatada pelo deputado Ney Lopes (PFL-RN). O presidente da Comissão ainda não foi eleito.

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Política Nacional de Biodiversidade

O que é patrimônio genético

Por Antônio Carlos Silva/PR

Câmara recebe projeto de combate à biopirataria

Agência Câmara – A Câmara dos Deputados recebeu no início do mês o Projeto de Lei 7211/02, de autoria do Poder Executivo, que combate a biopirataria.

O texto prevê penas de um a oito anos de prisão e multa para quem desrespeitar a legislação que protege a fauna e a flora brasileiras, enviando para o exterior amostra de material genético; usando esses componentes para fins ilícitos, práticas nocivas ao meio ambiente e à saúde humana; ou ainda para desenvolver armas biológicas ou químicas.
O PL, que tramita em regime de prioridade e em caráter conclusivo, foi distribuído às comissões de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias; e de Constituição e Justiça e de Redação.

Comissões Especiais

Duas comissões especiais da Câmara já tratam do patrimônio genético. Uma delas analisa a Proposta de Emenda à Constituição 618/98, que transforma os recursos genéticos em patrimônio da União. A outra analisa vários projetos de lei que regulam o acesso aos recursos genéticos e seus produtos derivados.

Mas o assunto é tão polêmico que o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), integrante das duas comissões especiais, atribui a lentidão dos trabalhos nas comissões à falta de interesse de um grupo de parlamentares em regulamentar a questão. “Há um jogo de interesses maior do que o interesse de definir o encaminhamento da comissão para, enfim, tomar uma posição sobre o projeto”.

O relator das duas comissões especiais, deputado Ricarte de Freitas (PSDB-MT), afirma que a Medida Provisória 2186/01 esvaziou a Comissão sobre o acesso aos recursos genéticos. Em relação ao novo projeto do Governo, o parlamentar espera “que ele seja também apensado a essa Comissão que já foi instalada. Agora, acho muito difícil que isso seja analisado até o fim do ano”.

Complemento

O diretor de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama, José Anchieta dos Santos, afirma que o Governo enviou o projeto de lei à Câmara porque a medida provisória, por si só, é insuficiente para combater a biopirataria, já que pela Constituição MP não pode prever penas. “Hoje, nós temos uma lacuna que é a falta de uma definição legal de aplicação dessas leis. O Conselho de Patrimônio Genético já funciona, mas é importante que esse projeto seja aprovado para que nos dê outra ferramenta, a fim de tornar nosso trabalho mais eficiente”.

O Ibama, em parceria com institutos de pesquisa, está tentando determinar o valor da biodiversidade brasileira. Esse trabalho está em andamento, mas resultados preliminares de 2000 já indicavam um patrimônio de R$ 4 trilhões.

CPI

A Câmara deverá instalar, logo após o segundo turno das eleições, uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o tráfico ilegal de animais e plantas silvestre da fauna e flora brasileiras, a biopirataria. A CPI será composta de 17 integrantes e terá o prazo de 120 dias para concluir seus trabalhos.

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Política Nacional de Biodiversidade

O que é patrimônio genético

Por Alexandre Pôrto e Natalia Doederlein/ LC

Unicef avalia situação de crianças indígenas em Mato Grosso do Sul

Agência Brasil – ABr – Os representantes do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Reiko Nimi, e no Centro-Oeste, Sudeste e Sul, Salvador Soler, visitaram hoje a aldeia Jaguapiru, onde vão fazer um diagnóstico da situação das crianças indígenas Kaiowá e Guarani. Eles também se reuniram no campus da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, em Dourados, com representantes das fundações do Índio e da Terra e da prefeitura local, professores e agentes de saúde, para discutir o desempenho do trabalho.

Segundo Soler, ao ouvir o que os índios têm a dizer sobre saúde e educação das crianças, será possível melhorar os programas assistenciais, diminuindo os índices de mortalidade. O representante da Unicef, disse também que está disposto a conhecer os programas já existentes, no âmbito estadual e federal, e colaborar com eles.

Marília de Castro
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TB

Etnias indígenas do Acre recebem indenização de jornalista

Funai – No início do mês, as 17 etnias indígenas do Acre obtiveram uma decisão favorável do Ministério Público Federal, em que receberão uma indenização no valor de R$ 4 mil reais a serem pagos pela jornalista Beth Passos, condenada por discriminação e racismo contra as etnias do estado, em conseqüência de seu texto ofensivo escrito no jornal O Rio Branco. O texto foi publicado na época do II Encontro da Cultura Indígena, realizado pelo Governo do estado do Acre, em Rio Branco, no ano de 2001. Por meio da parceria da União das Nações Indígenas e Funai, as comunidades indígenas conseguiram o pagamento da multa, que será utilizada em melhorias para as etnias lesadas.

A ação dos índios do Acre representa uma luta em favor da tolerância, do respeito ao pluralismo e às diferenças culturais, religiosas e sociais, como condição essencial nos dias de hoje para a paz entre os povos, além de reforçar a consciência de que não existe cultura, civilização, ou sociedade melhor que outra, mas apenas diferente.

Vanessa Silva

Pesquisa com seres humanos é o foco central de congresso de bioética

Agência Brasil – ABr – “Bioética, Poder e Injustiça” é o tema do 6° Congresso Mundial de Bioética, que reune, de 30 de outubro a 3 de novembro, na Academia de Tênis de Brasília, especialistas internacionais, para debater questões relacionadas à clonagem, eutanásia, aborto, células-tronco, comércio de órgãos humanos, entre outros temas emergentes e permanentes, no contexto das diferenças entre os hemisférios Norte e Sul.

De acordo com o presidente do Congresso e da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), professor Volnei Garrafa, esta é uma ciência que trabalha a ética no sentido da legitimidade, defendendo o respeito ao pluralismo moral. Para ele, o desenvolvimento científico e tecnológico acelerado tem sido antidemocrático e excludente. “As descobertas são maravilhosas, porém muito caras e inacessíveis para a grande maioria das pessoas”.

O que acontece, nos últimos anos, é uma tentativa de universalização de princípios éticos, por parte dos países de primeiro mundo, baseada em seus referenciais. O que é impossível, se levarmos em consideração cada contexto, cada cultura e cada região do mundo, explicou Garrafa. Segundo ele, a questão mais aprofundada durante o evento será a pesquisa com seres humanos, ou seja, a utilização de “cobaias” dos países pobres e em desenvolvimento, como meio para desenvolver técnicas e medicamentos.

O sanitarista italiano e ex-senador Giovanni Berlinguer e o filósofo Peter Singer, australiano; o médico e filósofo H.T. Engelhardt Jr. e Ruth Macklin, da área da antropologia médica, ambos norte-americanos, o médico e sanitarista Solomon Benatar, da África do Sul, e o filósofo da Universidade de Cambridge (Inglaterra), John Harris, entre outros especialistas, são alguns dos conferencistas convidados.

São parceiros na realização do encontro, o Núcleos de Bioética da Universidade de Brasília (UnB), o Centro Universitário São Camilo (SP), o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a Unesco e o Ministério da Saúde. As inscrições podem ser feitas pelo site: www.bioethicscongress.org.br

Cadija Tissiani

Projeto reverte quadro de desnutrição de índios no Mato Grosso

AUN – USP – O que a USP pode fazer para melhorar a vida dos índios xavantes no Estado do Mato Grosso? A ligação parece distante, mas o Projeto de Adensamento do Cerrado, realizado pelo Laboratório de Geografia Agrária da USP e que faz parte da campanha “Salve o Cerrado”, tem tornado a porção do Araguaia do Mato Grosso cada vez mais próxima da universidade.

Apoiado pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão e coordenado pelo professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, o projeto nasceu de um “pedido de socorro” de um xavante, estudante de Ciências Sociais, que veio em busca de alguma maneira de impedir o desmatamento que fazendeiros da região leste de Mato Grosso – onde se encontram os territórios xavantes – estavam promovendo dentro da reserva indígena. A reserva, que já se caracterizava em ser uma “ilha de cerrado” numa área cuja vegetação já havia sido quase totalmente devastada para o plantio de soja, além de vivenciar a destruição de “rö” (que na língua a’úwê significa o mundo e é uma metáfora para a razão de viver da população indígena) ainda passava por um período de fome, provocado pela diminuição da caça na região.

Desenvolveram-se, a partir daí, duas frentes para combater os problemas da região. A primeira foi elaborar um laudo técnico sobre o desmatamento na área, encaminhado ao Ministério Público, comparando, através de fotos de satélite, a situação da vegetação em 1988 e 1999 e cobrando uma maior fiscalização dos órgãos públicos. A segunda consiste na implementação de medidas para conter a fome na região – de maneira diferente do que fez a FUNAI, que tentou fazer com que os índios cultivassem arroz em uma lavoura mecanizada e mais tarde passou a distribuir cestas básicas nas aldeias – com sugestões que partissem muito mais dos próprios índios do que dos pesquisadores da universidade. Esse objetivo de que a saída para a fome surgisse mesmo da cultura indígena veio, além do sentido de preservar suas tradições, da tentativa de tornar os povos da região independentes, a médio prazo, de qualquer ajuda externa.

A melhoria da alimentação na região está sendo conquistada através do plantio de frutas típicas no cerrado e da formação de pequenas criações de animais nativos. Assim, fez-se um levantamento entre os índios de quais mudas e quais animais típicos de sua alimentação deveriam ser adquiridos e quais alimentos da cultura não-índia – que eles haviam assimilado e estavam acostumados a comer – deveriam integrar o seu roçado e seu rebanho. A universidade providencia os meios para começar esses cultivos, pensa junto com os xavantes a melhor maneira de montar a infra-estrutura necessária para mantê-los, e promove intercâmbios entre os índios e pequenos agricultores para que possam aprender as técnicas de cultivo das variadas culturas que passam a desenvolver nas aldeias. Mas é o índio quem fica responsável – com certa ajuda de custo – por levar o projeto adiante.

Essa iniciativa, que de início foi implantada em apenas três das 13 aldeias da região, carrega a responsabilidade de trazer, como define o professor Ariovaldo o “efeito-demonstração”. Nesse momento, mais quatro aldeias estão sendo contempladas em uma segunda leva do projeto, que tem seus meios materiais providos pela USP, mas cujos “agentes implantadores” são os xavantes das três primeiras tribos em que o projeto foi implementado.

Para dar ainda mais esperança aos índios na recuperação do cerrado e na garantia de soberania de seu território, o Ministério do Meio Ambiente encomendou um relatório etno-ambiental da terra xavante em Mato Grosso, realizado pelo Laboratório de Geografia Agrária da USP, que acaba de ser concluído detalhando todos os problemas de divisas e de zoneamento, com especificação de áreas que precisam ser incorporadas ao território indígena. Segundo o coordenador do projeto “ele só vem a cumprir um dos papéis da universidade que é a extensão, a atuação em várias frentes. Trazer para o debate na universidade a questão da geografia dos povos indígenas é enriquecer a própria geografia.”

Por Thais Gurgel
thaisgurgel@zipmail.com.br

Decreto de FHC protege interesses militares em terras indígenas e causa polêmica

ISA – A pretexto de regulamentar uma situação que se arrasta há pelo menos uma década, o Decreto nº 4412, de 7 de outubro de 2002, trata da questão da atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal em terras indígenas de forma unilateral e autoritária.

Diversas organizações indígenas e instituições não-governamentais, que trabalham em parceria com os índios, protestaram publicamente por meio de notas e manifestos contra a legislação que visa legitimar a presença militar em terras indígenas sem estabelecer regras de conduta e convivência entre militares, policiais e índios.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, saiu na frente, questionando a inconstitucionalidade do decreto e apontando contradições, por meio de representação encaminhada ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 11/10. O Cimi considera que o decreto infringe a Constituição por desrespeitar o que dispõe o parágrafo 6º, do artigo 231, da Constituição Federal. Também a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e o Conselho Indigenista de Roraima (CIR) divulgaram notas. O CIR afirma no texto que pretende entrar com representação contra o decreto. A Foirn, de sua parte, considera positivo que se tenha abordado o assunto, porém, não sem ouvir os índios, especialmente porque o Ministério da Justiça havia se comprometido a realizar uma consulta prévia.

Ainda a propósito do assunto, ontem (07/10), as lideranças do distrito indígena de Iauareté – Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauareté (Coidi) e Organização Indígena do Centro Iauareté (Oici) -, povoado multiétnico situado às margens do Alto Rio Uaupés, na linha de fronteira Brasil/Colômbia, formularam uma carta dirigida ao Comandante Militar da Amazônia, na qual levantam duas questões: problemas de convivência com recrutas de fora e o funcionamento precário do Hospital Calha Norte (Veja as cartas e notas na íntegra, ao final do texto).

ISA vê retrocesso

O decreto poderia ter sido uma resposta às demandas indígenas sobre a regulamentação da presença militar em suas terras. Seu texto, porém, é composto por linhas gerais, sem comprometimento efetivo com questões como a proteção à vida e ao patrimônio indígena, de sua comunidade, de seus costumes e de suas tradições. Além do mais, não explicita a necessidade da superação dos conflitos gerados pela presença militar em terras indígenas.

Na opinião dos advogados do Instituto Socioambiental, o decreto, infelizmente, indica um retrocesso na política de relação com os povos indígenas no Brasil, principalmente face aos compromissos que o governo brasileiro assumiu internacionalmente durante a Conferência de Durban (África do Sul) contra o racismo e a discriminação, em agosto do ano passado. “Pelo decreto, os índios sequer são vistos como sujeitos de direitos (inúmeros deles consagrados na Constituição). Ou seja, não serão consultados acerca da implementação de estradas e batalhões do exército, que, muitas vezes, são construídos nas próprias aldeias causando sérios conflitos socioambientais”, analisa André Lima, coordenador do Porgrama Direito Socioambiental do ISA. “O retrocesso é tamanho que chega ao ponto de o decreto estabelecer a possibilidade de infraestrutura não somente nas áreas de fronteira, mas para TIs em qualquer região do país”.

ISA, 18/10/02

Leia a seguir o texto do decreto:

DECRETO Nº 4.412, DE 7 DE OUTUBRO DE 2002

Dispõe sobre a atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal nas terras indígenas e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973, no art. 15 da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, e nos arts. 142 e 144, § 1, inciso III, da Constituição,

D E C R E T A :

Art. 1º No exercício das atribuições constitucionais e legais das Forças Armadas e da Polícia Federal nas terras tradicionalmente ocupadas por indígenas estão compreendidas:

I – a liberdade de trânsito e acesso, por via aquática, aérea ou terrestre, de militares e policiais para a realização de deslocamentos, estacionamentos, patrulhamento, policiamento e demais operações ou atividades relacionadas à segurança e integridade do território nacional, à garantia da lei e da ordem e à segurança pública;

II – a instalação e manutenção de unidades militares e policiais, de equipamentos para fiscalização e apoio à navegação aérea e marítima, bem como das vias de acesso e demais medidas de infra-estrutura e logística necessárias;

III – a implantação de programas e projetos de controle e proteção da fronteira.

Art. 2º As Forças Armadas, por meio do Ministério da Defesa, e a Polícia Federal, por meio do Ministério da Justiça, deverão encaminhar previamente à Secretaria-Executiva do Conselho de Defesa Nacional plano de trabalho relativo à instalação de unidades militares e policiais, referidas no inciso II do art 1, com as especificações seguintes:

I – localização;

II – justificativa;

III – construções, com indicação da área a ser edificada;

IV – período, em se tratando de instalações temporárias;

V – contingente ou efetivo.

Parágrafo único. A Secretaria-Executiva do Conselho de Defesa Nacional poderá solicitar manifestação da Fundação Nacional do Índio – FUNAI acerca de eventuais impactos em relação às comunidades indígenas das localidades objeto das instalações militares ou policiais.

Art. 3º As Forças Armadas e a Polícia Federal, quando da atuação em terras ocupadas por indígenas, adotarão, nos limites de suas competências e sem prejuízo das atribuições referidas no caput do art. 1, medidas de proteção da vida e do patrimônio do índio e de sua comunidade, de respeito aos usos, costumes e tradições indígenas e de superação de eventuais situações de conflito ou tensão envolvendo índios ou grupos indígenas.

Art. 4º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 7 de outubro de 2002; 181º da Independência e 114º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Geraldo Magela da Cruz Quintão

Paulo de Tarso Ramos Ribeiro

Alberto Mendes Cardoso

Cientistas seqüenciarão genoma do guaraná

Agência Brasil – ABr – Grupos de pesquisa de todos os estados da região Norte, reunidos numa rede de pesquisa e desenvolvimento, farão o seqüenciamento genético do guaraná do Amazonas. A rede está em fase de finalização, mas até o momento 12 grupos estão envolvidos no projeto. O guaraná foi escolhido por ser produto típico, nativo da região Norte; por ter exploração econômica significativa; e por ser um símbolo da região amazônica.

Os grupos de pesquisa participantes da rede são formados por universidades de todos os estados da região Norte, Centros da Embrapa e institutos de pesquisa, como o INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia), órgão vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

O financiamento do projeto para seqüenciamento do guaraná contará com parceria do MCT/CNPq – Programa de Biotecnologia e Recursos Genéticos, dos estados e órgãos finaciadores da região amazônica. Os trabalhos terão início em novembro e deverão ser concluídos em dois anos.

O coordenador da rede é o professor Spartaco Astolfi, da Universidade Federal do Amazonas.