Agência Câmara – Índios das tribos Xavante, Terena, Kaiapó, Waura e Xokleng reuniram-se ontem com o ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, para mostrar descontentamento com o Projeto de Lei 1610/96, que autoriza a mineração em terras indígenas. Os índios são contra a proposta que se encontra na Câmara, de autoria do senador Romero Jucá (PSDB-RR), por entender que o tema deveria fazer parte do Estatuto das Sociedades Indígenas, em análise no Congresso desde 1994.
Índios no processo de mineração
As organizações indígenas acreditam que a exploração de minérios ficou fora do Estatuto por pressão das empresas mineradoras, que estão impedidas de atuarem nas terras dos índios, uma vez que não existe uma legislação específica regulamentando a atividade nessas áreas.
Cacique Raoni fala a jornalistas, no Ministério da Justiça. Foto: Victor Soares / ABr
Segundo Crisanto Xavante, um dos dirigentes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o projeto apresenta muitas falhas. Entre elas, a de não definir a participação dos índios no processo de mineração de suas terras. Crisanto explicou que a resistência ao PL se deve principalmente ao fato de as comunidades indígenas terem sido excluídas do debate em torno da proposta, já votada no Senado.
Há seis anos tramitando na Câmara, a matéria já foi aprovada pelas comissões de Minas e Energia, e da Amazônia e de Desenvolvimento Regional.
Ambientalistas na oposição
O projeto também é visto como uma ameaça pelos ambientalistas, pesquisadores e parlamentares. Para o deputado Fernando Gabeira (PT-RJ), integrante da Comissão de Defesa do Consumidor, do Meio Ambiente e Minorias, a proposta representa um grande perigo ambiental, uma vez que dispensa a avaliação dos impactos que a mineração pode provocar nas reservas indígenas, abrindo caminho para a devastação das áreas exploradas. Gabeira não é contrário à mineração em terras indígenas, mas não como está estabelecida no projeto. “Só no ano que vem, quando nós criamos uma comissão para elaborar um substitutivo que possa de certa maneira resolver o problema, permitir a exploração dentro de regras bastante rígidas e aceitáveis por todos, é que o projeto deverá ser votado e discutido”, avalia o deputado.
Mais discussão
O relator do projeto na Comissão de Meio Ambiente, deputado José Borba (PMDB-PR), argumenta que a exploração mineral em terras indígenas sempre aconteceu a revelia, trazendo prejuízo para o País e para as comunidades indígenas, e que agora a atividade será disciplinada. O parlamentar apresentou parecer favorável à aprovação do PL.
Apesar de considerar o projeto bem fundamentado e pronto para ser votado, José Borba admite a possibilidade de dar mais tempo para discutir a matéria. “Um projeto que já está há vários anos em discussão nada implicará que demande um pouco mais de tempo para que ele se ajuste de maneira que todos ganhem”.
Antes do recesso parlamentar, representantes de 27 nações indígenas conseguiram apoio do presidente da Câmara, Aécio Neves, para votar a proposição somente depois de ser amplamente debatido na Casa. Por ser um ano eleitoral, a expectativa é que esta matéria seja votada somente no próximo ano.
Por Carmem Fortes/ND