No início da década de 50, parte da família de Abdel Aziz Ali Saleh chegou a cidade-dormitório de Barra do Garças, vizinha da movimentada Aragarças, sede da Fundação Brasil Central. Seu irmão procurava um lugar para estabelecer um pequeno comércio, longe dos conflitos entre judeus e palestinos que estouravam na época. Hoje, meio século depois, os árabes palestinos são uma das forças econômicas do município que cresceu e tornou-se maior que seu vizinho.
“Para nós, patrícios, para toda a comunidade árabe daqui, não tem festa, não tem noite, a persistência é do nosso povo. Adotamos o Brasil como segunda pátria e viemos para vencer”, explica Aziz Ali Saleh, professor de inglês, proprietário de uma loja de roupas da cidade, a ‘Casa Enxoval’, e representante da comunidade palestina na cidade.
"Quem bebe água do Araguaia nunca mais vai esquecer. Vim para ficar uns quatro ou cinco anos e já estou aqui há mais de 30." Foto: Fábio Pili
A comunidade árabe-palestina, ou “os turcos”, como são conhecidos pela população, são proprietários dos quatro maiores hotéis da cidade, de uma rede de supermercados local, de lojas de material para construção, várias confecções, lojas de roupas e sapatarias. Segundo Aziz, cerca de 60% do comércio varejista está nas mãos de famílias árabe-palestinas.
Mascates e família
Os árabes palestinos começaram a chegar na região de Barra do Garças no início da década de 1950. Trabalhavam como mascates, comprando mercadorias em São Paulo e vendendo de porta em porta nas cidades do Vale do Araguaia. O comércio era promissor, pois além da carência de equipamentos e bens diversos e da falta de infra-estrutura, havia a movimentação provocada pela Fundação Brasil Central.
“Quando chegamos aqui, tinha um movimento de expansão, esta era uma terra não descoberta. Mas não tinha uma casa de comércio de brasileiros, nem mesmo em Aragarças. Tudo que a gente vendia vinha de São Paulo, pela Transportadora Caçula, e passava por Uberlândia e Goiânia”, contextualiza Aziz.
A escolha por Barra do Garças ao invés de Aragarças – na época sede da Fundação e pólo do desenvolvimento – foi devido a maior movimentação de fazendeiros e, posteriormente, gaúchos, no município matogrossense. “As terras desse lado do rio também eram mais baratas”, diz Aziz.
Assim que se estabeleciam, os palestinos traziam seus parentes das áreas de conflito – Israel, Cisjordânia e Palestina – para ajudar no comércio ou montar um empreendimento próprio. Dessa maneira, estabeleceram na região uma tradicional e familiar estrutura econômica, na qual a empresa é dirigida e passada de pai para filho, e todos os negócios da comunidade são interligados. Hoje, os árabes estão presentes em cidades como Balizas, Piranhas, Jataí e Caiapônia, todas localizadas no Vale do Araguaia.
A união entre os palestinos de Barra do Garças é tão marcante que, em 1980, fundaram a Sociedade Árabe-Palestina Brasileira. A organização, com cerca de 150 membros, funciona como fórum de discussão empresarial e centro cultural. Lá, explica Aziz, decisões sobre negócios são discutidas e as tradições e crenças da comunidade são celebradas.