Segunda-feira, 14/05/2001

A confusão se instalou de vez e me impede de escrever qualquer coisa para o diário. As dúvidas sobre a relação entre índios e não-índios são muitas, principalmente depois de uma conversa com o Guilherme Carrano, indigenista da Funai que se juntou ao grupo hoje e vai nos acompanhar até o fim do trajeto. É muito complicado até mesmo encarar o conflito, pois a situação mexe com diversas idéias e crenças desde pequeno difundidas, é um exemplo explícito, palpável, da dúvida sobre (a existência do) o certo e o errado, sobre o processo histórico.

Já ouvi reclamações sobre a superficialidade dos assuntos. Tenho defesas: não tenho tempo e, principal, aprendi a resolver meus problemas (no caso, um prazo diário para atualizações) com o que tenho, mesmo sabendo não ser esta a melhor solução.

guilhermecarrano.jpgMas, neste caso específico – o equilíbrio tenso entre índios e não-índios ou entre índios e civilizados, como insistem alguns -, a falta de referencial é uma barreira. Então, acredito que o melhor seja permanecer quieto, sem expressar opiniões, pelo menos até conhecer o outro lado. Espero que no Xingu eu consiga escrever algo. Desculpem a confusão, mas o assunto é confuso.

Guilherme Carrano, indigenista da Funai e novo menbro da expedição. Com quase trinta anos de experiência entre diversas etnias, sua ajuda vai ser fundamental. Foto: Fernando Zarur

Bruno Radicchi

Domingo, 13/05/2001

Engraçado, as fãs que ontem estavam se descabelando na porta do hotel, hoje nem apareceram…

Nesse domingo, dia das mães, Água Boa parecia mais uma cidade fantasma. Até os restaurantes estavam fechados.

O marasmo nos contaminou. Vamos amanhã para Canarana.

Fábio, Pedro e Equipe do Rota Brasil Oeste

Cerrado e chimarrão

O processo de colonização do Brasil é muito mais extenso do que é ensinado nas escolas. Não só as Capitanias Hereditárias, Bandeiras e a construção de Brasília, em 1960, resumem este processo. Uma importante parte da história recente da ocupação do país ainda é ignorada.

Há 58 anos atrás, a Expedição Roncador-Xingu e a Fundação Brasil Central construíram rodovias e fundaram cidades, criando novas fronteiras econômicas no Centro-Oeste brasileiro. No final da década de 1960, projetos do Governo Federal de incentivo à colonização da região, como o Proterra, chamaram a atenção de agricultores gaúchos, dando início a uma segunda onda de ocupação.

m1305.jpgLogo, trabalhadores rurais e pequenos proprietários do Rio Grande do Sul se organizaram em torno de cooperativas a fim de obter terras e maquinários financiados em 10 anos e a juros fixos no Mato Grosso. Segundo Elcides Salamoni (na foto ao lado), um dos colonos e fundador da extinta Cooperativa 31 de Março, “a colonização aconteceu devido ao alto preço da terra no sul. Não viemos por amor ao país, e sim para ficar rico.”

Nessa época, o tamanho médio da pequena propriedade no Rio Grande do Sul era de apenas 2,5 hectares, enquanto que o colono associado à 31 de Março que vinha para o Vale do Araguaia recebia um lote rural de 400 hectares e 3 lotes urbanos com 800 m2 cada. Segundo Salamoni, cidades como Água Boa e Canarana foram planejadas em Tenente Portela (RS), antes mesmo da vinda dos colonos. “Fizemos que nem Brasília, com ruas largas e espaço de sobra”, afirma o pioneiro.

Apesar de todos os incentivos, as dificuldades encontradas foram grandes. A área era completamente desabitada e sem infraestrutura. “Aqui não tinha nada, nem posto de gasolina. Tínhamos que trazer o diesel para as máquinas de Barra do Garças”, explica Salamoni. E completa: “Tivemos que construir toda a infraestrutura das cidades, desde a escola, igreja até as pontes”.

De 1974 a 1980, duas mil famílias gaúchas vieram para região de Água Boa (MT). Destas, 35 % tiveram sucesso e permaneceram, o que é considerada uma excelente média, bem acima dos 20% a 25% previstos para esse tipo de empreendimento. “Não trouxemos empresários, mas sim agricultores. Houve muitas frustrações e mesmo assim fomos bem sucedidos”, conta Salamoni.

Mesmo com todo o planejamento prévio, o processo de ocupação do Mato Grosso é muito criticado. O Projeto Proterra, por exemplo, não exigia qualquer estudo de impacto ambiental, o que gerou uma grande destruição da fauna e da flora local. Hoje Salamoni lamenta a ocupação desenfreada: “não tivemos a menor preocupação com o cerrado, queríamos fazer lavouras. Hoje estamos vendo rios assoreados e as terras virando areia.”

Xingu: Primeiras Impressões I

Pela primeira vez deixamos de atualizar nossa página, mas fomos pegos por uma grata surpresa. Hoje fomos pela manhã à Atix (Associação Terra Indígena Xingu), em Canarana, e descobrimos que nossa lancha para descer o rio Kuluene já estava nos esperando no ponto combinado. Nos dividimos, Pedro e Fábio providenciaram 450 litros de gasolina e 27 frascos de óleo para abastecer o barco. Bruno, Guilherme e Fernando seguiram para o supermercado, onde compramos suprimentos para a viagem.

Ainda tivemos de organizar nossa bagagem, fechar o hotel, arranjar um frete e alguma coisa para fingir que almoçamos. Em três horas conseguimos botar tudo numa caminhonete e seguir para as margens do Kuluene. Bruno, Fernando e Pedro atravessaram os mais de 100km de estrada de terra na carroceria, o Fábio estava meio gripado e achamos melhor que ele fosse na cabine. Para nossa sorte, a chuva, que não havia aparecido nenhuma vez desde Brasília, resolveu cair.

embarquexingu.jpgAtravessamos diversas fazendas de gado e algumas matas ainda preservadas. Chegamos ao rio às 18h, descemos os tambores de combustível e nossa bagagem com a ajuda do motorista, Seu Reizinho, fretista e vereador de Canarana. Nos esperando estava Ualá, piloto e filho do cacique Aritana, da tribo Yawalapiti.

Equipamentos sendo carregados no barco para a viagem até a aldeia Yawalapiti. Foto: Fábio Pili

Saímos uma meia hora mais tarde, pegando o fim do dia no início da viagem, prevista para seis horas. Logo escureceu e continuamos navegando graças à habilidade de Ualá, acostumado a viajar de noite. Com muito vento e umidade, o frio começou a piorar cada vez mais. Nos encolhendo como podíamos, tentávamos improvisar algum apoio para a coluna e nos defender dos mosquitos, que não picavam, mas esborrachavam na cara.

Apesar de não termos lua, acompanhamos o caminho sob um céu incrivelmente estrelado. De vez em quando, o Guilherme iluminava os olhos dos jacarés nas praias, o que nos fazia encolher um pouco mais. Tremendo e morrendo de cansaço aportamos na aldeia Iaualapiti. Com fome, empoeirados, molhados e com frio subimos uma trilha passando pelas primeiras ocas, uma delas, ainda em construção, nos lembrava algo de outro mundo. Acordamos Aritana por volta da meia-noite, ele nos recebeu como todo grande chefe xinguano, usando apenas um cordão em torno da cintura.

Desembarcamos todos os apetrechos para dentro da oca da família de Aritana. Dentro da casa estava agradavelmente quente, volta e meia alguém atiçava o fogo de baixo das redes. Tentando não atrapalhar, o Bruno e o Guilherme amarraram as redes e o resto esticou os sacos de dormir.

A indústria agropecuára em Água Boa

A história de Água Boa confunde-se com a evolução de sua economia. A fundação da cidade, em 1975, foi feita por colonos gaúchos que vieram para a região fugindo da escassez de terras para agricultura no Sul. Este movimento foi viabilizado por um planejamento prévio de desenvolvimento agrário, e auxiliado por programas governamentais de crédito para a terra.Água Boa começou como um município voltado para a agricultura. Os primeiros migrantes implantaram na região, por volta de 1974, a cultura do arroz, desenvolvida em propriedades de médio porte (basicamente 400 hectares) e apoiada por um sistema de cooperativas. Este método possibilitou uma rápida industrialização da produção, que, ainda na década de 70, era uma das maiores do país.

A introdução da soja veio alguns anos depois, com a necessidade de diversificação das culturas plantadas. Trazido por empresários paulistas ao Vale do Araguaia, o grão tornou-se a segunda atividade econômica do município.

No início da década de 90, o governo Collor acabou com o financiamento agrícola para as cooperativas que atuavam na região. Com isso, a estrutura produtiva do município foi abalada: a antiga associação, a Cooperativa Agropecuária Mista Canarana Ltda(Coopercana), entrou em falência. Eucides José Salamoni, um dos fundadores da instituição e vice-prefeito de Água Boa no período 1980-1986, diz que “a alternativa para a gauchada foi a pecuária: o investimento inicial era pouco e não dependia dos incentivos do governo.”

Parte considerável das terras destinadas à produção de grãos foram transformadas em pasto. O rebanho, dividido em propriedades com uma média de 1000 hectares, atinge hoje a quantidade de 450 mil cabeças de Nelore PO. Além disso, por ser localizada no centro do pólo pecuário do Vale do Araguaia e do Xingu, a cidade se destaca na comercialização de gado melhorado de raça. A Estância Bahia, maior da região, foi responsável, no final do ano passado, pela venda de 12,8 mil cabeças num único leilão, que movimentou R$ 5,2 milhões.

“Água Boa é a capital da comercialização de bovinos. Nossos leilões, realizados durante todos os fins de semana de junho a outubro, atraem investidores paulistas, paranaenses, goianos e estrangeiros”, afirma Cesar Friedrichs, um dos responsáveis pela Estância Bahia.

m1205.jpgEm busca da revitalização da agricultura e de alternativas para o pequeno produtor, empresários locais começam a explorar novos tipos de cultivo. O algodão, amplamente explorado em outras áreas do Mato Grosso, é uma das grandes promessas para o município.

Uva: uma das alternativas de produção para a economia de Água Boa. Foto: Fernando Zarur

A uva, segundo Eucides Salamoni, é uma outra opção para a região. Estudando há cinco anos uma plantação de parreiras de diversas espécies, Salamoni afirma que a exploração comercial do tipo Niágara é viável e pode gerar renda para os pequenos produtores, com terrenos de até 50 hectares. “Aqui o clima é favorável. Você pode, facilmente, ter duas colheitas por ano e obter uma produção de 25 toneladas por hectare, enquanto no Sul, a média é de 15 toneladas”.

Sábado. 12/05/2001

fasaguaboa.jpgNão sabia que a gente estava com a popularidade tão alta. Lá pelas 8 da noite, uma legião de menininhas enlouquecidas ficaram gritando em frente ao hall do hotel. Foi algo como uma histeria coletiva. Eu tenho certeza que nenhum de nós quatro nunca foi tantas vezes chamado de lindo e maravilho (e coisas do tipo) por tantas garotas ao mesmo tempo. Ainda bem que montaram um esquema de segurança muito eficiente, senão estaríamos desnudos, arranhados e sujos de Boca Loca. Só não consigo entender bem o porquê de tanto barulho, a gente só fica tirando umas fotos por aí.

O assédio na porta do Hotel, logo que chegamos à cidade, nos assustou. Foto: Pedro Ivo Alcântara

Gostaria muito de agradecer ao pessoal da organização (infelizmente não tivemos oportunidade de conhecê-los ainda) pelo bom trabalho em zelar pela nossa integridade física.

Pedro

P.S.: Agora quero ver se o recepcionista do hotel não vai trocar o meu colchão de compensado maciço com aqueles cantores também hospedados aqui, são os… Sei lá! Acho que é do Jogo de Varetas, Baralho ou seria Dominó?

Cotidiano na Aldeia

O dia no Posto Indígena Leonardo Villas Bôas, lugar onde estamos hospedados no Alto Xingu, começou antes do sol nascer. Ainda escuro, o cozinheiro preparava a refeição: leite, café e umas bolachas água e sal que trouxemos de Canarana. Enquanto isso, as mulheres e crianças índias tomavam banho no rio, fazendo um barulho que tornou impossível o sono.

construcao_oca_fernando.jpgÀs 7:30, quando levantamos, Aumary, irmão do cacique Aritana, da tribo Yawalapiti, já nos esperava com a Toyota. Nos preparamos, subimos na caçamba e tomamos o rumo da aldeia. Ao chegar, encontramos os homens ajudando na construção de uma maloca. Eles fazem mutirões no qual o dono da casa deve arrumar todo material, como imbira, sapê e madeira para armação, enquanto o resto dos homens da tribo ajuda na construção. No meio de toda a atividade, foi morta uma inocente jararaca que perambulava por ali, motivo de agitação e curiosidade entre as crianças da aldeia.

Com trabalho coletivo, os homens da tribo ajudam na construção de cada oca da aldeia. Foto: Fernando Zarur

Após vermos e fotografarmos o trabalho na oca, passamos o resto da manhã conversando no centro da aldeia. Este seria o local da casa dos homens, hoje, provisoriamente, substituída por uma choupana. No ano passado uma forte tempestade derrubou a casa do Piracumã, irmão do Aritana e diretor do Parque Indígena do Xingu, e a antiga casa dos homens. Normalmente, este seria um lugar reservado aos homens, onde estariam guardados máscaras, flautas e diversos instrumentos rituais proibidos para as mulheres. Do modo como está, é somente um local de reunião.

Conversamos e comemos peixe com beiju com a maioria dos chefes de família Yawalapiti. Entre eles, chamava a atenção o velho Parú, pai de Aritana, antigo cacique e rezador da tribo. Grande amigo de Orlando Villas Bôas e responsável pela reunião de sua tribo (espalhada e reduzida a somente 12 membros na década de 1940), ele é capaz de encontrar raízes que sugam veneno de qualquer cobra, de rezar para manter onça afastada e fazer peixe pular na rede durante a pesca do timbó.

Por volta do meio-dia, fomos com mais uns 15 meninos tomar banho no rio Tuatuari. Com certeza foi um dos momentos mais divertidos da viagem. Jogamos uma partida de futebol das mais confusas da história, ninguém tinha idéia de que time era, só sabíamos o lado do gol. Também descobrimos que existe uma divisão entre a praia das mulheres e a dos homens. Ontem, desavisados, tomamos banho na praia das mulheres, mas hoje fomos levados pelas crianças ao local correto.

huka_huka_fabio.jpgDuas horas depois, voltamos para a tribo. Era hora de começar o treinamento do Huka-Huka. A luta é muito semelhante ao judô e à greco-romana, envolve força e, sobretudo, muita técnica. O treino dura mais de uma hora e só permite aos participantes rápidos descansos de um ou dois minutos. Participavam alguns guerreiros que treinavam para competição com outras aldeias do Alto Xingu, e três jovens que estão passando pelo Awawoiá.

Jovens descansam durante poucos minutos entre cada combate de huka-huka. Foto: Fábio Pili

O Awawoiá é a passagem da criança para a fase adulta. O jovem Yawalapiti, entre 14 e 17 anos (a idade depende do participante), começa uma preparação para se tornar um adulto respeitado diante da tribo. Para isso, fica isolado dentro de sua casa, sem nenhum contato com mulheres, sem poder sair e participar do cotidiano tribal. A exceção é o treinamento diário de huka-huka, uma das condições para o fim da transição. Até o banho acontece à noite, quando os outros índios não usam mais o rio. O Awawoiá só termina quando o treinador do jovem o considera preparado, o que pode durar de dois a cinco anos.

PS – Fernando pede espaço para comentar que depois de vários dias tomou água gelada, em segredo, na casa do Kokoti.

Sexta-feira, 11/05/2001

A palestra no Colégio Municipal JK foi muito bacana. Falamos para uma platéia de 8a série a 3o ano sobre um pouco da história da colonização do Brasil Central e o nosso projeto. É gratificante poder mostrar um pouco do nosso trabalho e tocar num assunto tão importante para a região e que normalmente não é ensinado. Depois da palestra, um professor de história da escola disse que pretendia incluir o assunto no currículo.

palestraescola.jpgQuando acabamos o sermão, montamos o computador e os equipamentos pra mostrar como funciona a publicação na Internet. Tiramos várias fotos com a câmera digital, que sempre faz o maior sucesso. O que nos deixou sem jeito foi a sessão de autógrafos não planejada. Morremos de vergonha, mas tiramos a maior onda. 🙂

Convidados pela direção do Colégio JK, conversamos com os alunos sobre a Expedição Roncador-Xingu, respeito ao meio-ambiente e às tradições indígenas. Foto: Fernando Zarur

Em seguida, tocamos para Água Boa com dois dias de atraso. A Lúcia, nossa anfitriã, agora não vai ter mais quem queimar o cabo da panela de pressão e acabar com a dispensa. Agora um jabazinho mais que merecido: fica a dica para quem pretende conhecer o lado místico e as belezas da região, basta ligar para 0xx65 438-2028 e procurar Lúcia Kirsten.

Agradecemos também a Carol, pela ótima companhia e orientação, ao Adão, que matou trabalho pra nos levar ao garimpo, e aos entrevistados: Zé Goiás, Seu Raimundo, Sinvaldo Rodrigues, Archimedes Carpentieri, Seu Godofredo, Pe. Bartolomeo Giaccaria, Marcos Piza Pimentel e a todos que nos receberam.

A partir de agora escrevemos diretamente de Água Boa.

Quarta-feira, 09/05/2001

Recebemos uma notícia que deixou o dia um pouco turbulento. Teremos que alterar o roteiro da viagem, pois o cacique Xavante da aldeia de Pimentel Barbosa, Supitó, vai estar em Brasília no dia em que entraríamos na reserva indígena. Sem problemas. Conversamos com o Guilherme Carrano, nosso apoio na Funai, e acertamos tudo.

Início da semana que vem devemos estar entrando, via Rio Kuluene, no Xingu, onde ficaremos uns 15 dias. Saindo de lá, teremos o privilégio de acompanhar a furação, o ritual de passagem dos xavantes em que os jovens têm suas orelhas furadas com osso de onça.

Pedro Ivo

Água Boa

Antigo território de nações indígenas hoje desaparecidas, como os Tsuvá e Marajepéi, a região onde hoje está localizada Água Boa começou a ser explorada em 1673, quando o bandeirante Manoel de Campos Bicudo teria iniciado uma busca pelas lendárias Minas dos Martírios. Logo após, a região foi praticamente esquecida, sendo habitada apenas por povos nativos.

No final da década de 1940, a Expedição Roncador-Xingu chegou ao território. Junto com as Forças Armadas, procurava um lugar mais seguro para, em caso de necessidade, transferir a capital da República do litoral para o interior.

Nessa mesma época, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) teve os primeiros contatos com os Xavantes, nação indígena que habitava a área e ainda era arredia. Atualmente, os índios habitam a Reserva Indígena dos Areões.

Existem duas explicações para o nome da cidade de Água Boa. Numa delas, a denominação teria surgido quando a Fundação Brasil Central inaugurou a BR-158. O morador “Mané da Água Boa” canalizou um córrego à beira da estrada e utilizava a água para seu rancho, conhecido como Pousada dos Viajantes. Com o aumento do movimento na rodovia, Manoel inaugurou um posto de gasolina, que ficou conhecido como o ponto de referência dos limites entre Água Boa, MT, e Canarana, MT.

ruas.jpgA versão do sertanista Orlando Villas Bôas é um tanto diferente. Segundo ele, a tropa de vanguarda da Expedição Roncador-Xingu estava há vários dias sem encontrar nenhuma fonte de água potável e alguns trabalhadores estavam muito fracos. “Resolvi sair à procura de um riozinho. Foi quando encontrei um fio d’água, comecei a gritar: Água boa, água boa!”, explica Orlando. Próximo ao local foi montado pelos expedicionários o acampamento de Água Boa.

As largas avenidas de Água Boa e seu traçado foram inspirados pelo urbanismo de Brasília. Foto: Bruno Radicchi

Entretanto, a colonização da área se consolidou apenas em 1958, estimulada pelo governo do Mato Grosso, que vendia terras a preços reduzidos. Em contrapartida, os colonos deviam abrir estradas e montar a infra-estrutura. A primeira fazenda foi implantada pelo pioneiro gaúcho Paulo Jacob Thomaz. A iniciativa atraiu outras famílias do Rio Grande do Sul e impulsionou o desenvolvimento da comunidade que ficou conhecida como Vau dos Gaúchos.

Na década de 70, a região recebeu novos colonos e passou a ser um dos marcos do desenvolvimento agrícola no Estado do Mato Grosso. Diversos órgãos do governo federal, como a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a Superintendência para o Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), estimularam a produção agropecuária no cerrado por meio de projetos específicos, caso do Proterra e Polocentro.

Em 1979, a cidade conquistou emancipação administrativa e política, tornando-se um município independente. Hoje, Água Boa se destaca no Vale do Araguaia como uma das cidades que mais cresce, devido principalmente às grandes plantações de arroz e soja e ao rebanho bovino.