Agência Brasil – ABr – A tese de que a floresta amazônica é uma grande emissora de gás carbônico já está ultrapassada. Pesquisas recentes revelam que a floresta pode ser um sorvedouro de carbono, contribuindo para minimizar o aquecimento global.
Outra descoberta recente: a densa vegetação tropical da região foi savana há 14 mil anos. O alto grau de poluição urbana nas cidades da Amazônia também foi constatado. Essas e outras teses de pesquisas foram apresentadas durante a II Conferência Científica Internacional do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), realizada em Manaus, desde o dia 7 e encerrada no dia 10. As alterações no clima e na floresta Amazônica como um todo são fonte de estudo do projeto LBA.
De acordo com Flávio Luizão, presidente da II Conferência do LBA e também pesquisador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), a Conferência serviu para mostrar que a floresta é muito mais complexa do que se poderia imaginar. “O estudo da região exige pesquisas em diferentes linhas e, por isso, o LBA tem juntado pesquisadores de diferentes formações para obter um resultado melhor nas pesquisas”, acrescentou Flávio Luizão. Além de todas as mudanças ocorridas no ecossistema da Amazônia e suas conseqüências para o meio ambiente, o Projeto LBA se ocupa também com o estudo dos impactos que a ocupação da região tem causado à vida e à saúde dos que vivem na Amazônia.
Entre os principais resultados divulgados durante a II Conferência Científica Internacional do LBA estão temas relacionados ao balanço do carbono, o papel dos rios no ciclo do CO2, o impacto da poluição urbana em ecossistemas intactos e técnicas de preparo da terra para o cultivo sem o uso do fogo.
Segundo o pesquisador Flávio Luizão, do INPA, a maioria dos trabalhos apresentados durante a 2ª Conferência Científica do LBA aponta para uma pequena absorção de CO2 pela floresta em torno de 1 tonelada por hectare ao ano, uma tendência que vem se consolidando nos resultados das ultimas pesquisas. No entanto, Luizão lembra que ainda h[a estudos indicam o sequestro de até 9 toneladas por hectare ao ano. De qualquer forma, ressalta, não se acredita mais na idéia de que a Amazônia seja fonte emissora deste gás, um dos componentes responsáveis pelo efeito estufa. É, portanto, cada vez mais forte a idéia entre os pesquisadores de que a floresta está fixando carbono.
Outro resultado destacado pelo pesquisador é a descoberta de uma relação entre água e carbono mais forte do que se imaginava anteriormente, quando iniciaram-se os estudos do LBA. Estudos indicam uma maior quantidade de carbono dissolvido nos rios e uma consequente maior emissão pelos rios. Segundo Luizão, tal constatação reforça a importância da floresta no ciclo do carbono. Campanhas científicas do LBA irão se concentrar nos próximos anos em regiões de áreas degradadas, onde a perda de biomassa e emissão de carbono não é compensada pela absorção da floresta.
Uma campanha científica realizada entre julho e agosto do ano passado, em Manaus, cujos resultados foram apresentados na conferência, revela que a poluição atmosférica de centros urbanos na Amazônia podem interferir no clima da região, diminuindo os níveis de chuva e aumentando o calor. De acordo com os pesquisadores Paulo Artaxo da USP e A. Andreae, do Instituto Max Planck, da Alemanha, coordenadores do estudo, a poluição de Manaus atinge níveis de partículas igual ou superior ao da cidade de São Paulo.
Além de provocar problemas à saúde, a poluição altera o equilíbrio de ecossistemas intactos. Medidas feitas de avião mostraram que a pluma da poluição de Manaus incidiram sobre a reserva ecológica do arquipélago fluvial de Anavilhanas, a cerca de 70 quilômetros de Manaus.
O papel da floresta amazônica no ciclo da água tem ganho importância com novos estudos de formação de nuvens na região. Ela estaria inserida dentro de um ciclo de água em equilíbrio e portanto econômico, sem perda de água, segundo o pesquisador Flávio Luizão. Essas informações estão sendo acentuadamente consolidadas com a ampliação do conhecimento científico sobre os mecanismos de formação das chuvas, um dos assuntos de destaque na Conferência de Manaus.
Para o pesquisador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e coordenador científico da II Conferência, Flávio Luizão, a consolidação dos dados deve-se, sobretudo, à interdisciplinariedade que tem marcado o LBA. “Há cerca de dez anos as pesquisas já vinham acontecendo, mas faltava o engajamento de outras especialidades”, lembra Luizão. Ele explica ainda que “a formação das chuvas na região tem relação direta com a emissão de compostos orgânicos voláteis, os chamados aerossóis, que servem de núcleos de formação de chuva, formando nuvens mais baixas que rapidamente se transformam em chuvas”.
A sistematização das informações permitirá, inclusive, um refinamento dos modelos de previsão de clima utilizados até hoje. As chuvas têm sido um foco de destaque no LBA. A partir de seus projetos, já é possível afirmar, por exemplo, que a floresta amazônica depende das chuvas para se manter mas, também, contribui na sua própria formação. Um equilíbrio natural perfeito. E, quando as florestas são substituídas por pastos, há uma alteração dessa sintonia, causando, entre outras conseqüências, uma alteração no regime de chuvas na região (e até em outras partes do mundo), gerando até mesmo um atraso no início do período de chuva. Pesquisas desenvolvidas pelo LBA comprovam que em regiões desmatadas de Rondônia chove menos que em regiões com floresta.
Outro tema abordado na II Conferência e que despertou o interesse dos participantes é a tradição secular de usar o fogo para preparar áreas agrícolas na Amazônia. O sistema consiste em derrubar a vegetação (nativa ou não) e depois queimar, para em seguida plantar culturas de ciclo curto como o milho e a mandioca. Um dos projetos do LBA está estudando e comparando o sistema tradicional com uma experiência que reúne pesquisadores e agricultores no município paraense de Igarapé-Açu, à frente a Embrapa Amazônia Oriental e a Universidade de Göttingen, Alemanha.
O sistema proposto e em fase experimental e que se propõe a reduzir drasticamente as queimadas na Amazônia consiste em substituir o fogo pela área preparada através do corte e trituração da vegetação, utilizando uma máquina trituradeira desenvolvida com essa finalidade. Após o cultivo do milho e da mandioca são plantadas mudas de espécies leguminosas arbóreas de rápido crescimento, que apressam o crescimento da capoeira, tecnicamente conhecida como “capoeira melhorada”.
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