Questão fundiária centralizou discussões no Encontro de Comunidades Tradicionais, diz participante

O acesso aos recursos naturais, principalmente à terra, foi a questão central das discussões do 1º Encontro Nacional de Comunidades Tradicionais, segundo informou o diretor do Departamento de Agroextrativismo de Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Jorg Zimmermann.

"Temos um conflito instalado em relação à questão fundiária", afirmou Zimmermann, ao participar do encontro, que termina hoje em Luziânia (GO). Ele disse que a questão do acesso à terra centralizou as discussões.

Durante três dias, caiçaras, babaçueiros, pescadores artesanais, extrativistas, ciganos, povos indígenas e quilombolas debateram políticas públicas que possam atender a essas comunidades, respeitando suas diferenças. A regularização da terra faz parte das necessidades apresentadas por grupos como, por exemplo, os quilombolas e os moradores de faxinais, que são áreas localizadas no Paraná onde as famílias vivem de atividades como a criação de pequenos animais e a agricultura familiar.

A representante da Coordenação Nacional de Quilombos, Jô Brandão, ressaltou que a posse da terra é uma revindicação antiga dos quilombolas e é importante para garantir a implementação de políticas públicas nos quilombos. "Os quilombolas estão na terra, mas elas não são regularizadas. Muitas outras políticas não conseguem ser implementadas em função disso".

No encontro, os remanescentes de quilombos discutiram também a necessidade de uma educação diferenciada para esse tipo de comunidade. "Queremos uma educação que seja diferenciada, que leve em conta a diversidade étnica dos quilombolas, a realidade de vida dessas populações", disse Jô Brandão.

Segundo a representante da Coordenação Nacional de Quilombos, outro ponto é o fortalecimento institucional das organizações quilombolas para que tenham capacidade de gerenciar seus projetos. "Não tem sentido pensar um grupo como prioridade se esse grupo não consegue acessar recursos, discutir seus projetos e participar da elaboração. Ele vai sempre ter intermediários e isso pode trazer o insucesso da maioria das ações voltadas para essas populações", explica.

O 1º Encontro Nacional de Comunidades Tradicionais pretende também elaborar as diretrizes para uma proposta de Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais. O Encontro é realizado pela Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais, que foi criada em dezembro de 2004 e é presidida pelo ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é a secretária executiva da comissão, que tem entre seus membros representantes de diversos ministérios.

Carta presidente do Ibama, Dr. Marcus Barros

Brasília, 16 de agosto de 2005.

Excelentíssimo Senhor Dr. Marcus Barros
Presidente do Ibama

C/ cópia ao Diretor de Proteção Ambiental do IBAMA, ao Procurador-geral do Ibama e à Ministra de Meio Ambiente, Marina Silva

Ref.: informações sobre desmatamentos na Amazônia legal brasileira

Prezado Presidente,

O Grupo de Trabalho de Florestas do Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e Desenvolvimento, diante da constatação irrefutável revelada em estudo do Ministério de Meio Ambiente recém apresentado durante 1º Fórum de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Mato Grosso em Cuiabá (entre 03 e 05 de agosto), de que a impunidade e a falta de transparência são dois dos principais fenômenos que impulsionaram os índices de desmatamentos na Amazônia legal Brasileira nos últimos ano, vem a V. Exa., com respaldo no art. 2º, § 1º combinado com o art. 4º da Lei Federal nº 10.650/2003, que trata do direito à informação ambiental e na Instrução Normativa 03 de 2002 do Ministério de Meio Ambiente solicitar ao Ibama que haja:

   1. Divulgação permanente pela internet, a toda sociedade interessada, de informações básicas sobre licenças e autorizações para desmatamento, queimadas e atividades florestais na Amazônia legal brasileira, com dados sobre localização da atividade, número das licenças e autorizações, indicação do total de desmatamento (queimada ou atividade florestal) autorizado em hectares; e
   2. Divulgação permanente pela internet, a toda sociedade interessada, de informações e dados sobre multas lavradas pelo IBAMA por desmatamento, queimada e atividade florestal, com indicação do número do processo, do auto de infração, data da autuação, valor autuado, infração cometida (indicação de artigo da lei infringido), hectares desmatados, queimados ou explorados, coordenadas geográficas do local da infração, municípios do local do dano, celebração de termos de ajustamento de conduta, situação atualizada (permanentemente) dos recursos administrativos contra as referidas multas e informação sobre quitação e redução de valores de multas.

Tais informações são de extrema valia para que a sociedade brasileira, cada vez mais interessada no efetivo controle aos desmatamentos na Amazônia legal, possa aferir o grau de eficiência e de eficácia nas ações de controle ambiental desempenhadas pelo maior e mais importante órgão ambiental brasileiro, de forma inclusive a apoiar suas iniciativas, assim como atuar junto aos seus representantes políticos por maiores investimentos na melhoria de condições de trabalho do referido órgão.

Vale acrescentar que algumas organizações que integram o GT Floresta do FBOM vêm solicitando já há algum tempo informações sobre autorizações para desmatamento e sanções administrativas sem sucesso junto ao Ibama o que reforça a necessidade da instituição oferecer as informações acima solicitadas.

Sendo o que nos apresentava para o momento e colocando-nos à disposição para os esclarecimentos julgados necessários, subscrevemo-nos.

Atenciosamente,

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Grupo de Trabalho de Florestas

Fazem parte do GT Florestas do FBOMS:

Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
Centro de Trabalhadores da Amazônia – CTA/AC
Comissão de Meio Ambiente da CUT
Comissão Pastoral da Terra – CPT Xingu
Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE
Fundação CEBRAC
Fundação Pró-Natureza – Funatura
Fundação Vitória Amazônica – FVA
Fundação SOS Mata Atlântica
Greenpeace
Grupo Ambientalista da Bahia – GAMBÁ
Grupo de Trabalho Amazônico – GTA (rede de 603 entidades locais)
Instituto Centro de Vida – ICV
Instituto de Manejo e Certificação Agrícola e Florestal – IMAFLORA
Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM
Instituto Socioambiental – ISA
Rede de ONGs da Mata Atlântica (rede de 256 entidades locais)
The Nature Conservancy – TNC
Vitae Civilis – Instituto para Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz
WWF Brasil

Comunidades tradicionais debatem políticas públicas para indígenas, quilombolas e ribeirinhos

Brasília – O 1º Primeiro Encontro Nacional de Comunidades Tradicionais, que começou hoje (17) em Luziânia (GO) e vai até a próxima sexta-feira (19), busca discutir a aplicação de políticas públicas nas populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas, entre outras. A idéia é unir os programas de inclusão social e cidadania, criados por diversos ministérios, e adaptá-los às comunidades, avaliando também a integração entre comunidade, governo e sociedade civil.

Para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a expectativa é transformar as boas experiências das comunidades em políticas públicas. "Essas comunidades têm uma contribuição fantástica para o país no que diz respeito aos conhecimentos que têm, então associados à biodiversidade dos mais diferentes ecossistemas. Elas aprenderam a conservar e manejar esses biomas", explica a ministra.

Marina Silva afirma que é preciso ter um programa que atinja as comunidades e respeite suas características. "As várias necessidades precisam ser integradas a uma ação mais ampla de governo, em parceria com as próprias comunidades e com os governos locais e estaduais."

Nos três dias do encontro serão montados grupos de trabalho com os diversos representantes das comunidades tradicionais – quilombolas, povos indígenas, comunidades ribeirinhas, por exemplo – para a discussão de temas relacionados à diversidade dos participantes.

O representante do povo Terena, do Mato Grosso do Sul, Claudionor do Carmo Miranda, comenta que a criação de políticas públicas para as comunidades tradicionais deve permitir a valorização do conhecimento empírico: "Todo povo tradicional mantém uma cultura específica, um certo conhecimento tradicional. São conhecimentos empíricos que têm de ser valorizados".

Ao todo são 17 ministérios, coordenados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, além da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República e de representantes da sociedade civil e das comunidades tradicionais de todo o país. Está prevista a elaboração, ao final do encontro, de uma proposta de Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável para as Comunidades Tradicionais.

Produtores indígenas eliminam atravessadores e vendem produtos pela internet

Brasília – A comunidade indígena Pamaáli, localizada no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), produz um tipo de cesta de fibra natural comercializada em todo o Brasil. Poucos sabem, no entanto, que os fabricantes da cesta recebiam apenas R$ 1, enquanto a cesta era vendida por R$ 60 nos grandes centros urbanos.

Hoje isso não acontece mais. Eles estão conectados à rede mundial de informações através de pontos de presença (PP) do Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), programa do Ministério das Comunicações. "Com o Gesac essa comunidade começou a descobrir o valor de sua mercadoria e o atravessador desapareceu da vida da comunidade, fazendo com que a diferença ficasse com a comunidade", conta o diretor de inclusão digital do Ministério das Comunicações, Antônio Albuquerque Neto.

Presente em comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano, o programa Gesac fornece conexão à internet, em alta velocidade e via satélite, e já atende a 4 milhões de pessoas em 3.200 pontos de presença espalhados pelo país. Segundo Antônio Albuquerque, outros 1.200 pontos serão incorporados ao programa até dezembro, ampliando o número de pontos de presença para 4.400 ainda este ano.

Dos pontos de presença, 75% ou 2.400 estão instalados em escolas municipais e estaduais, 400 em postos militares, 100 no Programa Fome Zero e 300 em associações, sindicatos, organizações não-governamentais (ONGs) e telecentros. São mais de 18 mil computadores conectados. Dessas máquinas, 4.500 adotam o software livre, número que, segundo Albuquerque, deve chegar a 11 mil até o final do ano.

Ele explica que o custo total do programa Gesac, para um período de 30 meses, é de R$ 110 milhões. Desse total, R$ 12 milhões foram investidos na compra de softwares livres. "É a maior compra de serviços em software livre do governo federal até o momento em toda a história desse país", explica Antônio Albuquerque.

Justiça Federal interdita “a maior área grilada do Brasil”

O Ministério Público Federal (MPF) no Pará entrou com uma Ação Civil Pública (ACP)em 18 de abril para impedir que a criação da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio, localizada na região da chamada Terra do Meio, no sudoeste do Pará, resultasse no pagamento pelo Ibama de indenização – a título de desapropriação – à uma empresa que alega ser dona de metade da área incluída na reserva. A notícia foi dada em primeira mão pelo Instituto Socioambiental (ISA). No último dia 12 de agosto, finalmente, a Justiça Federal em Santarém respondeu de forma positiva ao pedido dos procuradores da República. Para o MPF, a resposta da Justiça abre o último capítulo da novela de um dos casos de grilagem de terra mais famosos da história do País.

Em decisão liminar, o juiz federal substituto Fabiano Verli ordenou que a empresa Incenxil – do grupo CR Almeida, pertencente ao empreiteiro paranaense Cecílio Rego de Almeida – interrompesse qualquer atividade ou ocupação na suposta propriedade, chamada fazenda Curuá, que o imóvel permanecesse indisponível para venda ou troca e que qualquer pagamento por indenização pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fosse suspenso. A liminar ainda determina o fim da utilização de forças policiais por parte da empresa, conforme denúncias feitas por comunidades ribeirinhas e movimentos sociais da região em janeiro deste ano, também divulgadas pelo Instituto Socioambiental com exclusividade.

Na próxima segunda-feira, 22 de agosto, os procuradores Felício Pontes e Ubiratan Cazetta, dois dos autores da Ação Civil Pública que ensejou a liminar, devem ser reunir em Belém com membros do Exército e da Polícia Federal para planejar uma operação conjunta sobre os mais de 4.7 milhões de hectares da “fazenda Curuá” com o objetivo de retirar todos os funcionários e instalações da empresa. “Nossa preocupação agora é limpar a área”, afirma Felício Pontes.

O procurador acredita que a Incenxil deve entrar com recurso no Tribunal Regional Federal em Brasília para tentar derrubar a liminar, mas está confiante de que a decisão será confirmada em segunda instância. Pontes e seus colegas já vislumbram inclusive o fim da disputa judicial entre órgãos públicos do Pará e da União contra a Incenxil, que se arrasta há mais de uma década. “O pontapé final para esta novela acabar será a publicação de sentença, a partir da avaliação de um pedido final do Ministério Público, confirmando a nulidade do registro do imóvel em todos os cartórios do Pará”, projeta o procurador.

A chamada fazenda Curuá – além de incidir praticamente sobre metade dos 736 mil hectares da Resex Riozinho do Anfrísio, criada em novembro pelo governo federal – também está sobreposta a toda a extensão das Terras Indígenas Xypaia e Curuaya, toda a área da Floresta Nacional de Altamira, 82% da Terra Indígena Baú, do povo Kayapó, e toda a gleba de dois assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Na Ação Civil Pública que deu origem à liminar os procuradores afirmam que “esse imóvel é reconhecido como a maior área grilada do Brasil”.

Real objeto: comprar terras no Pará

O juiz federal Fabiano Verli, de acordo com sua decisão publicada na sexta-feira passada, parece suspeitar do mesmo. Ao fundamentá-la, Verli escreve que “pairam fortíssimas suspeitas de que ela (Incenxil) tenha indevidamente se considerado dona de uma enorme gleba de terras no Pará”. O juiz também remete a suspeita à origem do caso, quando coloca que “uma área que era pequena e do Estado do Pará, arrendada para extrativismo, depois se transformou num colosso de terras…”.

O juiz ainda aponta irregularidades no registro do imóvel nos cartórios de Altamira: “…vejo erros crassos na condução da função notarial por parte da cartorária Eugênia (denunciada em alguns feitos). Ela parecia averbar tudo sem o mínimo de conferência…parecia permitir a multiplicação de áreas sem qualquer critério, sem nenhuma checagem…”.

Um dos trechos mais interessantes da decisão trata do interrogatório de Roberto Beltrão, que seria o representante da Incenxil na região, pelo juiz. Fabiano Verli escreve que Beltrão lhe disse “não conhecer atividades práticas, reais, que sejam objeto social da Incenxil. Admitiu que, na prática, a empresa foi criada com um único real objeto: comprar terras no Pará”.

O suposto funcionário foi além e declarou em juízo que “não tem notícia de onde seria a sede da empresa, nunca viu seus sócios, não tem idéia de qual seria o objeto social, não conhecia outros bens eventualmente de propriedade da Incenxil, nem tinha informações diretas sobre sua atuação, funcionamento e idoneidade de seus sócios”.

A colheita de depoimentos de pessoas diretamente envolvidas no caso foi uma opção do magistrado Verli. Ele ouviu também o representante do Ibama na região e advogados da empresa. A demora em decidir sobre a medidas pedidas na ACP – quase quatro meses – se deu em parte por esta opção, em parte pela atuação dos defensores da Incenxil, que protocolaram mais de 10 volumes de documentos – com a intenção de invalidar a ação – para serem estudados em detalhe.

“Ainda que demorada, a decisão judicial satisfez plenamente o Ministério Público Federal, pois demonstra que a Justiça Federal está sensível à questão da grilagem de terras”, avalia Felício Pontes. “Os juízes parecem compreender, mais do que nunca, que a violência dos conflitos fundiários na Amazônia é um grave problema e que medidas drásticas devem ser tomadas para a conciliação do desenvolvimento das comunidades ribeirinhas com a preservação ambiental”.

Brasil e China assinam acordo de cooperação ambiental

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Claudio Langone, e o vice-ministro da Administração da Proteção Ambiental da China, Zhu Guangyao (foto), assinaram, hoje, um acordo para cooperação ambiental entre os dois países. As áreas prioritárias para troca de informações sobre políticas e tecnologias são manejo de parques e reservas, florestas, qualidade da água, energias renováveis, legislação, educação ambiental e proteção do ambiente marinho.

Até o fim do ano, um representante do MMA deve ir à China para um intercâmbio de experiências na área florestal.

Durante a reunião, em Brasília (DF), Langone explicou ao vice-ministro chinês os esforços que o Ministério vem desenvolvendo para que as questões ambientais sejam avaliadas ainda no planejamento de obras de infra-estrutura e geração de energia, por exemplo. Os resultados já podem ser avaliados no novo modelo do Setor Elétrico e nas licitações da área de petróleo e gás.

O secretário também informou Guangyao quanto as estratégias para preservação dos recursos naturais, criação de parques e reservas, avaliação de impactos por bacias hidrográficas e mudanças climáticas. Conforme Langone, a entrada em vigor do Protocolo de Quioto, em fevereiro, trouxe uma série de oportunidades para ambas as nações. "É fundamental que países megadiversos, como Brasil, China e Índia, dialoguem mais sobre os compromissos e possibilidades do protocolo", disse.

Questionado sobre o acordo paralelo ao Protocolo de Quioto assinado por China, Estados Unidos, Austrália, Índia, Coréia do Sul e Japão, Guangyao disse que a iniciativa vai ao encontro dos objetivos da Convenção sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas. "O acordo não substitui Quioto. Faremos novos acordos com outras nações para reduzir nossas emissões", disse. Os Estados Unidos e os cinco países asiáticos são responsáveis por cerca de metade das emissões de gases de efeito estufa do mundo.

O vice-ministro chinês afirmou que seu país está em pior situação ambiental do que o Brasil. Segundo ele, 60% dos rios estão poluídos, há muito desmatamento, poluição, elevado consumo de energia e de recursos naturais. "A indústria do aço consome 21% mais energia do que a média mundial", disse. "O futuro preocupa, já que, até 2020, a China deverá ter 1,46 bilhão de habitantes".

Entre as medidas que aquele país está adotando para reverter este quadro, conforme Guangyao, está uma ampla revisão da legislação ambiental, pesquisas, zoneamentos ecológico-econômicos, projetos piloto de desenvolvimento sustentável em cidades e vilarejos e a criação de parques e reservas. "A área protegida na China saltou de 5,7%, em 1992, para os atuais 12,8% do território", disse.

A delegação chinesa também visitará o Ibama, a Agência Nacional de Águas (ANA), a Hidrelétrica de Itaipu e o Parque Nacional do Iguaçu.

Sociedade civil reivindica ao Ibama acesso público a dados sobre desmatamentos e licenças

O Grupo de Trabalho (GT) de Florestas do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS) enviou ontem, dia 16 de agosto, uma carta ao presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcus Barros, requerendo a disponibilização via Internet das informações sobre desmatamentos, multas e licenças ambientais na Amazônia (confira abaixo a íntegra do texto). O documento lembra que a impunidade e a falta de transparência são, hoje, os dois principais fatores que contribuem para os índices alarmantes de desmatamento na região, conforme os resultados do estudo "Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais do Estado do Mato Grosso: análise de lições na sua implementação". A pesquisa foi realizada pelo ISA para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e apresentada durante I Fórum de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Mato Grosso, realizado em Cuiabá, de 3 a 5 de agosto.

A carta avalia que é fundamental que todos os segmentos sociais interessados possam acessar os dados sobre o problema de forma ágil. "Tais informações são de extrema valia para que a sociedade brasileira, cada vez mais interessada no efetivo controle aos desmatamentos na Amazônia legal, possa aferir o grau de eficiência e de eficácia nas ações de controle ambiental desempenhadas pelo maior e mais importante órgão ambiental brasileiro", diz o texto. O GT lembra ainda as organizações do FBOMS vêm cobrando já algum tempo do Ibama o acesso a informações sobre desmatamentos, sanções administrativas e autorizações para desmates, queimadas e outras atividades realizadas em áreas de floresta.

O encaminhamento do documento ao Ibama faz parte das ações do GT de monitoramento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado pelo presidente Lula, em 15 de março de 2004. O governo deve pronunciar-se sobre o assunto na próxima reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que ocorrerá em Cuiabá, no dia 2 de setembro. Na última segunda-feira, dia 15, o grupo protocolou na Casa Civil da Presidência da República uma outra carta, encaminhada à ministra-chefe Dilma Rousseff, com uma série de críticas sobre a implementação do plano. O GT considera que as ações do governo contra o desmatamento ainda são "esporádicas e demonstrativas". Desde o dia 7 de julho, as entidades integrantes do FBOMS aguardam uma resposta para um pedido de audiência com a ministra.

Carta do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

Exma. Sra. Dilma Vana Roussef
Ministra-Chefe da Casa Civil
Presidência da República
Brasília (DF)

15 de agosto de 2005

Exma. Sra. Ministra,

As entidades da sociedade civil firmatárias desta carta – que se reúnem no Grupo de Trabalho de Florestas do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – expressam grave preocupação com o estado de implementação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República em 15 de março de 2004 e coordenado pela pasta ora chefiada por V. Exa.

O Plano em objeto ganhou amplos reconhecimentos por parte da sociedade civil, em decorrência da análise corajosa do fenômeno e de suas dinâmicas, da novidade representada pela participação de treze ministérios e da própria coordenação por parte da Presidência da República. Embora constasse do plano um número e diversidade de ações específicas que extrapolava em alguns casos os limites do necessário realismo, ou até mesmo o objeto do plano em si, sua estratégia e abordagem foram respaldadas amplamente pelas entidades firmatárias desta carta.

Decorridos 17 meses de seu lançamento, é possível afirmar que o Plano, formulado de acordo com uma estrutura que continha quatro componentes, está sendo implementado de forma tão limitada e parcial que acaba esvaziando seu desenho e estratégia originais. Isso diz respeito tanto ao processo, com substancial ausência da abordagem transversal e de coordenação da Casa Civil, quanto ao mérito, com redução do foco e insuficiente instrumentalização.

O primeiro componente do Plano diz respeito às grandes obras de infra-estrutura, com a introdução de rigorosos procedimentos cautelares preventivos e a revisão do portfólio do atual PPA. A própria análise do Plano tratava este tema como crucial para o conjunto das demais ações. Hoje, este componente não apenas deixou de ser implementado, mas foi até formalmente removido, de acordo com o relatório divulgado pela Casa Civil, em maio deste ano.

O segundo componente do Plano está relacionado com "Ordenamento Fundiário e Territorial". O próprio governo, no referido relatório, afirma que "os recursos financeiros para a realização dessas atividades têm sido insuficientes e não têm chegado a algumas superintendências" do Incra. Todas as oito ações previstas para serem executadas, até março de 2005, deixaram de cumprir a maioria de suas metas. Enquanto isso, nem sequer a legislação de 2002 que estabelece obrigações básicas de cadastro fundiário está sendo cumprida, gerando uma ilegalidade progressivamente difusa no meio rural.

O terceiro componente do Plano, "Monitoramento e Controle", é aquele que apresentou, relativamente, o grau mais avançado de implementação. Mesmo assim, até abril deste ano, quando entidades que fazem parte de nosso grupo realizaram uma apuração direta, apenas três das 19 bases operacionais haviam sido de fato implantadas. No ano de 2004, dos R$ 82 milhões estimados para as ações deste componente, foram repassados ao Ibama apenas R$ 40 milhões, em agosto de 2004, já no fim da época do desmatamento na maior parte da região, e outros 20 milhões em 29 de dezembro, apenas dois dias antes do fechamento do ano fiscal. Isso faz com que dificilmente eles podem ter sido efetivamente destinados às ações previstas no Plano. A situação de 2005, pelo que foi possível verificar, é ainda mais preocupante, em decorrência de contingenciamento orçamentário.

No caso do quarto e último componente do Plano, "Fomento para Atividades Sustentáveis", de novo o próprio relatório do governo admite que “… o planejamento operacional e execução inicial desse eixo temático demonstram entraves significativos, no que se refere à definição de foco estratégico, integração entre ações, cooperação interministerial e incorporação das diretrizes e prioridades do Plano na rotina de instituições executoras. Essa situação contribuiu para um baixo grau de desempenho do eixo temático Fomento em 2004, bem como problemas de execução desequilibrada entre os componentes". Algumas ações avançaram por estarem contempladas em outros projetos já em execução, com seus próprios cronogramas e recursos de cooperação internacional, não contingenciados. Ações fundamentais da área de agricultura, como recuperação e intensificação em áreas alteradas ou degradadas, deixaram de ser realizadas. Mas, em geral, o fomento público na região em geral parece congelado, frente ao atraso de quase dois anos no lançamento do PAS e ao impasse orçamentário-legislativo que caracteriza a ADA ou nova SUDAM.

Gostaríamos de reiterar que a redução drástica do desmatamento, conforme compromisso público do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, é uma tarefa que requer investimento e empenho constante, estrutural e amplo do Poder Público, em todas suas esferas. Também é tarefa que não pode se limitar a ações esporádicas e demonstrativas, ou, pior ainda, estar vinculada, em termos de prioridade, ao andamento conjuntural da pressão econômica sobre as florestas, em razão de fatores temporários como preços de commodities ou endividamento de produtores.

Procuramos, ao longo do último mês, marcar um encontro com V. Exa. para manifestar e discutir as preocupações acima descritas. Não foi possível encontrar disponibilidade por parte de V. Exa. É nossa interpretação que V. Exa. não deixou de atender nosso grupo por desinteresse em relação à interlocução com a sociedade civil, e sim, mais provavelmente, pela baixa prioridade que este tema representa na intensa agenda operacional de V. Exa. Gostaríamos de deixar registrado o inconformismo da sociedade civil organizada com o abandono substancial do Plano em objeto. Retomaremos as iniciativas mais adequadas para que a mobilização da sociedade brasileira coloque o tema em pauta com renovado vigor, pois trata-se de uma questão de interesse estratégico do país.

Atenciosamente,

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Grupo de Trabalho de Florestas

Fazem parte do GT Florestas do FBOMS:

Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
Centro de Trabalhadores da Amazônia – CTA/AC
Comissão de Meio Ambiente da CUT
Comissão Pastoral da Terra – CPT Xingu
Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE
Fundação CEBRAC
Fundação Pró-Natureza – Funatura
Fundação Vitória Amazônica – FVA
Fundação SOS Mata Atlântica
Greenpeace
Grupo Ambientalista da Bahia – GAMBÁ
Grupo de Trabalho Amazônico – GTA (rede de 603 entidades locais)
Instituto Centro de Vida – ICV
Instituto de Manejo e Certificação Agrícola e Florestal – IMAFLORA
Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM
Instituto Socioambiental – ISA
Rede de ONGs da Mata Atlântica (rede de 256 entidades locais)
The Nature Conservancy – TNC
Vitae Civilis – Instituto para Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz
WWF Brasil

Programa Pantanal precisa de novo formato

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participou hoje de reunião com parlamentares do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para debater sobre o Programa Pantanal. Para a ministra, o contrato do governo brasileiro com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)  para financiamento do programa precisa ser revisto. Segundo ela, o acordo traz prejuízos aos cofres públicos e à própria continuidade da iniciativa, fundamental para o desenvolvimento sustentável do  Pantanal. "O programa continua sendo prioridade para o governo federal", ressaltou a ministra. 

O Ministério do Meio Ambiente deve anunciar no início de setembro as alterações ou o   encerramento do acordo com o BID. Caso o contrato não seja renovado, o programa deverá  prosseguir  em um novo formato, com recursos da União e dos estados. Conforme a ministra,  o momento é de  dificuldades orçamentárias, mas, frente à importância do Pantanal,  governos federal e estaduais,  parlamentares e sociedade devem fazer um esforço para garantir os recursos necessários e a continuidade  do programa.  

Participaram da reunião o coordenador do Programa Pantanal, Paulo Guilherme Cabral, do  Ministério do Meio Ambiente, os senadores Juvêncio da Fonseca (PDT/MS), Ramez Tebet (PMDB/MS) e  Serys Slhessarenko (PT/MT), os deputados  Wellington Fagundes (PL/MT) e Ricarte de Freitas (PTB/MT),  entre outros.  

O Programa Pantanal foi criado em 1995, atendendo a pedidos de governos estaduais.  Para sua  execução, estavam precistos US$ 400 milhões, do BID, do governo japonês, do  governo federal e dos  estados. O programa seria executado em duas fases, entre 2001 e  2009. A primeira fase é mais voltada  ao necessário planejamento, e se encerra no fim do  ano. O programa prevê ações nas áreas de águas,  solos, agrotóxicos, conservação da fauna,  saneamento, economia, além da criação de estradas parque e  criação de parques e reservas. 

Na época, o Ministério do Meio Ambiente foi definido como coordenador do programa, responsável pela gestão ambiental e também pela construção de estradas e obras de  saneamento, algo  fora das atribuições da pasta. Além disso, o acordo com o BID previa a contratação de uma empresa  gestora para o programa. Devido a falhas no processo  licitatório, uma ação judicial se arrastou por 18  meses, trazendo prejuízos ao andamento do  programa. "O arranjo inicial do programa foi equivocado. O  Ministério do Meio Ambiente  deveria ter ficado apenas com o componente ambiental", disse Marina Silva.  

De acordo com o secretário-executivo Claudio Langone, o Ministério do Meio Ambiente não tem  condições de arcar sozinho com a condução do Programa Pantanal. Para ele, obras  de estradas e de  saneamento básico podem ser conduzidas pelos ministérios da Integração e das Cidades, por exemplo.  Reuniões do Ministério do Meio Ambiente com esses ministérios,  com a Casa Civil e governos estaduais  têm sido realizadas desde o início de 2003 na  tentativa de reorganizar o programa.  

Entre as medidas tomadas pelo Ministério do Meio Ambiente, está a redução  orçamentária do  governo federal para a primeira fase do programa, de US$ 85 milhões para  US$ 24 milhões. Manter o  contrato da forma inicial resultaria em mais gastos públicos com  as taxas de manutenção do contrato.  "Talvez seja melhor que o programa siga com recursos  nacionais do que usar verbas públicas para  assegurar recursos estrangeiros", disse Langone. 

FBOMS avalia que governo não cumpre Plano de Combate ao Desmatamento

O Grupo de Trabalho (GT) de Florestas do Fórum Brasileiro de Movimentos Sociais e ONGs para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento enviou hoje, dia 15 de agosto, à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, uma carta com uma análise crítica das ações do governo federal no âmbito do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado pelo presidente Lula, em 15 de março de 2004 (confira a íntegra do texto). Para o GT, as iniciativas da administração federal para o setor não podem limitar-se a intervenções "esporádicas e demonstrativas". As 22 entidades que compõem o grupo, entre elas o ISA, aguardam, desde o dia 7 de julho, por uma resposta da ministra a um pedido de audiência.

Quando veio a público, o Plano foi anunciado como uma solução inovadora e emergencial para os altos índices de desmatamento registrados na Amazônia – entre 2003 e 2004, 26 mil quilômetros quadrados de floresta desapareceram. Uma das novidades da iniciativa seria justamente o espaço dado às organizações da sociedade civil para discutir, acompanhar e fazer a avaliação estratégica do andamento das ações do Plano. Tal avaliação não foi feita até hoje. (Para conhecer o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, clique aqui)

“Decorridos 17 meses de seu lançamento, é possível afirmar que o Plano, formulado de acordo com uma estrutura que continha quatro componentes, está sendo implementado de forma tão limitada e parcial que acaba esvaziando seu desenho e estratégia originais”, afirma o documento. O texto aponta a “grave preocupação” do GT com o processo de implementação observado até agora dos componentes do Plano: obras de infra-estrutura, ordenamento fundiário e territorial, monitoramento e controle, e fomento a atividades sustentáveis.

Entre outros pontos, a carta lista o contingenciamento e a falta de recursos orçamentários, a ausência de determinação política para fazer cumprir a legislação e a desarticulação administrativa entre os ministérios envolvidos como causas para o baixo índice de execução das ações. As organizações do GT também consideram que Dilma Roussef não deixou de atender o grupo “por desinteresse em relação à interlocução com a sociedade civil, e sim, mais provavelmente, pela baixa prioridade que este tema representa na intensa agenda operacional” da ministra.

No dia 2 de setembro, acontece uma reunião extraordinária do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em Cuiabá (MT), atendendo um requerimento das organizações não-governamentais apresentado pelo ISA (saiba mais). A expectativa é que o governo federal deverá finalmente apresentar sua avaliação sobre o Plano e os governos estaduais relatarão o que estão fazendo para reduzir os desmatamentos na Amazônia Legal.