Marina Silva reitera defesa de substitutivo à Lei de Biossegurança

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reiterou hoje que defende o substitutivo do deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE) à Lei de Biossegurança. "A posição do Ministério é de conhecimento público em favor do substitutivo que está tramitando na Câmara dos Deputados e que já foi aprovado. O Ministério do Meio Ambiente não concorda com o substitutivo aprovado no Senado", afirmou.

O texto aprovado pelos senadores dá mais poderes à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) nas deliberações sobre os transgênicos. Segundo Marina Silva, essa decisão contraria a posição do Ministério do Meio Ambiente, de dar mais poder a órgãos como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para decidir sobre o uso de produtos geneticamente modificados.

O projeto da Lei de Biossegurança está na pauta de votação da Câmara, mas só deverá ir a plenário depois que os parlamentares apreciarem as 15 Medidas Provisórias editadas pelo governo.

Marina Silva participou, na cidade, do seminário sobre a repartição de competência de gestão ambiental e assinou portaria criando mais oito comissões tripartites estaduais. Agora são 23 comissões formadas pelo Ibama e órgãos estaduais e municipais de meio ambiente, com a missão de evitar os conflitos de sobreposição de responsabilidades.

PEC submete demarcação de terras indígenas ao Congresso

A Câmara vai examinar a Proposta de Emenda à Constituição 319/04, apresentada pelo deputado Zequinha Marinho (PSC-MA), segundo a qual a demarcação de terras indígenas – que é de competência da União – deverá ser submetida ao Congresso Nacional. Para o parlamentar, estados e municípios da Região Amazônica têm sido inviabilizados pela criação desordenada de reservas indígenas.

Zequinha Marinho ressalta que a legislação permite a demarcação de áreas onde a presença de não-índios é consolidada – áreas com aglomerações urbanas e até mesmo sedes de municípios.

Para o parlamentar, a questão indígena tem contrariado a Constituição de 1988. "Vastas extensões de terra têm sido entregues a uma parcela extremamente diminuta da população brasileira, sem que se considerem questões relativas à igualdade de todos perante a lei, à integridade e segurança do território nacional, à segurança jurídica de situações licitamente constituídas pelo Poder Público e à sustentabilidade dos entes federativos onde essas reservas se localizam", avalia o deputado.

População indígena
A população indígena, que chegou a apenas 100 mil pessoas há algumas décadas, voltou a crescer em uma média de 3,5% ao ano – índice superior ao crescimento populacional do restante do País. O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), feito em 2002, aponta que existem 358 mil indivíduos de 215 etnias em 588 áreas indígenas identificadas, que representam quase 12% do território nacional. Dois terços desse total estão devidamente delimitados e regularizados.

O grande crescimento das áreas indígenas no Brasil ocorreu a partir de 1988, quando, pela nova Constituição Federal, o governo ficou obrigado a demarcar as áreas desses povos. Elas somavam 212 e chegaram a 391 em 2002 – um aumento de quase 85% em menos de 15 anos.

Outra evolução foi a parceria com organizações não-governamentais e com os próprios índios, que se organizaram em associações para administrar as reservas.

Tramitação
A PEC será encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania para exame de constitucionalidade e juridicidade. Se aprovada, segue para análise de uma comissão especial de deputados e, em seguida, para dois turnos de votação em Plenário.

Maria do Carmo é contra a transposição do Rio São Francisco

A senadora e secretária do Combate à Pobreza, Maria do Carmo Alves, reafirmou a posição contrária à transposição do rio São Francisco, durante a consulta pública realizada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF, na cidade de Propriá, no dia de ontem (14.10). Esse encontro deu prosseguimento ao processo de decisão participativa sobre as prioridades de uso das águas do São Francisco como parte do Plano da Bacia.

"Eu gostaria que saíssemos daqui com um plano pronto, com um planejamento para rebater a transposição do São Francisco. Essa é uma obra que tem que ser planejada de forma responsável e continuo na luta contra a transposição do "Rio da Integração Nacional" da forma que o Governo Federal quer fazer. Saibam que não haverá água para a transposição caso não realizem a revitalização. O governador João Alves também continua contra a transposição, inclusive nós temos estudos que indicam que esse projeto não tem finalidade", discursou Maria do Carmo Alves.

A secretária do Combate à Pobreza fez questão de afirmar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está continuando o projeto do governo anterior, de simplesmente transpor o rio sem promover meios de sobrevivência para a população dos Estados cortados pelo São Francisco. "A transposição não vai resolver o problema do Nordeste, vai é piorar a situação dos Estados que ele margeia e não resolverá a seca nos demais", afirmou a secretária.

"O Comitê foi criado para promover a gestão participativa e democrática das águas do São Francisco. No nosso entendimento as prioridades são de uso interno da bacia, há muita carência a ser suprida e somente após as soluções destes problemas é que poderemos criar soluções para a transposição do rio. O governo Lula, para a nossa decepção, encomendou um parecer jurídico procurando desqualificar essa célula eletiva legal de poder, sendo esse parecer muito tendencioso e tenta desfazer um comitê que luta pelo seu povo. Essa obra faraônica atende aos objetivos de grandes empreiteiras ávidas pela realização dessa obra", declarou o secretário executivo do CBHSF – Luiz Carlos Fontes.

De acordo com o prefeito eleito de Propriá, Luciano de Menininha, o rio São Francisco tem importância grandiosa para a nossa economia, para a nossa sobrevivência, não somente para Propriá, mas para todo o estado de Sergipe. Essa transposição é maléfica porque precisamos revitalizar o São Francisco, porém o Governo Federal diz que não tem recurso para isso, para desenvolver projetos às margens do rio, e resolve gastar bilhões de reais alegando levar a água para os nossos irmãos do Ceará e do Rio Grande do Norte. Às margens do rio, tanto em Sergipe quanto em Alagoas, existem projetos, assentamentos e comunidades de pessoas que sobrevivem das águas do Velho Chico".

MP estabelece que soja transgênica poderá ser comercializada até 2006

A medida provisória (MP) estabelece que a soja transgênica colhida na safra 2004/2005 só poderá ser comercializada até o dia 31 de janeiro de 2006. Este prazo pode ser prorrogado por até 60 dias por ato do Poder Executivo. De acordo com o texto, o estoque existente após esta data deverá ser destruído, com completa limpeza dos espaços de armazenagem para o recebimento da safra de 2006. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem a MP, que foi publicada hoje no Diário Oficial da União.

A MP proíbe a comercialização do grão de soja geneticamente modificada como semente, bem como a sua utilização como semente em propriedades situadas em estado diferente daquele em que o grão foi produzido.

Segundo a medida, os produtores somente poderão promover o plantio e a comercialização de soja transgênica se assinarem o Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta. O documento deverá ser assinado até o dia 31 de dezembro de 2004 e entregue nos postos ou agências dos Correios, nas agências da Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil.

O produtor de soja geneticamente modificada que não assinar esse termo, de acordo com o texto, ficará impedido de obter empréstimos e financiamentos de instituições integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR).

Se causarem danos ao meio ambiente ou a terceiros, segundo a MP, os produtores responderão pela indenização ou reparação integral do dano.

A MP proíbe o plantio e a comercialização de sementes relativas à safra de soja geneticamente modificada de 2005. A proibição permanecerá, segundo o texto, até a existência de legislação específica que regulamente a comercialização de semente de soja geneticamente modificada no país.

De acordo com o texto, os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente vão fazer o acompanhamento da multiplicação das sementes, mantendo rigoroso controle da produção e dos estoques.

Incêndios em áreas agrícolas, protegidas e indígenas aumentam 13%

Os incêndios provocados em áreas de produção agrícola e pecuária, terras indígenas e áreas protegidas aumentaram 13% em todo o país neste ano. Com base nas imagens do satélite americano NOAA-12, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou, até o último dia 10, 162.289 focos de calor. No mesmo período de 2003, os focos de calor atingiram a marca de 143.440.

Segundo o coordenador do monitoramento de queimadas, Alberto Setzer, o aumento verificado evidencia não só o crescimento da expansão agrícola e o uso cada vez mais freqüente do fogo como forma de preparar o solo, mas principalmente a pressão por áreas protegidas na forma de unidades de conservação, sejam federais ou estaduais. Os focos de calor nas áreas protegidas, até 10 de outubro, alcançavam a cifra de 13.002, número 21% maior que o de 2003.

"Para defender as queimadas, o setor agropecuário alega que há um retorno benéfico para a sociedade, com mais alimentos, mais produção", conta o pesquisador. Setzer usa o índice das queimadas nas unidades de conservação para mostrar que a agricultura não pode ser justificativa para a destruição de florestas. "Se nem nas áreas protegidas, se consegue controlar queimadas, e se esse número só aumenta, então há algo errado nesse discurso", avalia.

O pesquisador ressalta que incêndios em coberturas vegetais quase sempre são provocados. A ocorrência natural de queimadas em florestas é muito menos freqüente, conforme explica Setzer. O fogo pode ser provocado por raios que, numa área como o cerrado, com uma estação seca bem definida e outra chuvosa, chegam a resultar em queimadas no máximo três vezes a cada década.

Segundo Setzer, os incêndios nas áreas protegidas ocorrem devido a invasões. O fogo sai do controle de caçadores e pescadores que entram nas unidades de conservação e preparam fogueiras para se aquecer ou para o preparo de alimentos. E há casos de unidades de uso misto (proteção ambiental e uso econômico), áreas de litígio e invasões por parte de agricultores totalmente ilegais.

Maior número de focos de calor está na Amazônia Legal

A Amazônia Legal tem o maior número de focos de calor neste ano e também o maior índice de crescimento da atividade ilegal em 2004, em comparação com 2003. Dados do Programa de Prevenção e Controle de Queimadas e Incêndios Florestais na Amazônia Legal (Proarco), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mostram que o satélite NOAA-12 captou 116.574 focos de calor até setembro na região. Houve um crescimento de 19% em relação ao mesmo período do ano passado.

Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para todo o Brasil explicam o fenômeno que ocorre na Amazônia. Mato Grosso é o estado campeão em número de focos de calor e responde por mais de 70 mil deles neste ano. As ocorrências são majoritariamente no norte do estado. No ano passado, o estado registrou quase 50 mil focos de calor até 10 de outubro. O segundo estado em que há mais incêndios em cobertura vegetal é o Pará. Foram pouco mais de 24 mil focos de calor até 10 de outubro deste ano, contra pouco mais de 17 mil até 10 de outubro de 2003.

Ambos, Mato Grosso e Pará, estão no perímetro que define a Amazônia Legal e foram incluídos no que o governo batizou de Arco do Desflorestamento, área onde a pressão pelo uso da terra é mais intensa e, portanto, onde é maior o nível de desmatamento e o índice de focos de calor.

O coordenador de monitoramento de queimadas, Alberto Setzer, enfatiza que os dados podem ser ainda mais impressionantes se forem somadas as imagens coletadas por outros satélites que cobrem o território brasileiro, o NOAA-16, o Terra, o Acqua e o GOES-12. "Quando somamos todas elas, que perfazem horários diferenciados ao longo do dia, temos quase 1 milhão de focos de calor até outubro no país", revela. O coordenador conta que o uso do fogo é indiscriminado em todo o Brasil. "Até aqui no Vale do Paraíba, onde o nível industrial é grande, os agricultores ateiam fogo na vegetação. A situação é genérica e sem controle", observa.

Para o pesquisador, os dados mostram uma realidade contraditória. O Brasil tem um nível de monitoramento sem igual no mundo, com informações atualizadas diariamente e oferecidas por meio eletrônico para qualquer usuário, de qualquer parte do mundo. Mas o país colabora em nível muito alto nas emissões de gás carbônico por não conseguir controlar as queimadas. "A fumaça preta é prejudicial de qualquer forma. Se um carro está soltando fumaça, os departamentos de Trânsito de cada estado ou secretarias estaduais de Meio Ambiente vão multar. Mas o que fazer no caso da fumaça emitida pelas queimadas, que fazem mal à saúde, à camada de ozônio e ao meio ambiente tanto quanto à fumaça que sai dos carros?", questiona Setzer.

O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) é o instituto do INPE que monitora queimadas desde 85. Com a criação do PROARCO em 98, o CPTEC passou a coordenar o acompanhamento das imagens de satélite para verificação de focos de calor. Os maiores usuários dos dados oferecidos pelo centro são o próprio Ibama, as secretarias estaduais de Meio Ambiente, as organizações não-governamentais que trabalham em conjunto com parques nacionais e grupos que administram áreas privadas de conservação ambiental.  

Aumento de focos de incêndio na região amazônica já era previsto

O aumento do número de focos de incêndio na região amazônica já era esperado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). De acordo com o diretor de Proteção Ambiental do órgão, Flávio Montiel, no ano passado foram desmatados mais de 25 mil quilômetros quadrados de floresta e “toda vez que isso ocorre há um aumento proporcional de focos, decorrente do acúmulo de matéria orgânica seca”, disse. Além disso, também aumentou o número de focos em áreas de produção agrícola, já desmatadas anteriormente. Normalmente, focos de incêndio em áreas agrícolas são intencionais e controlados.

Do total de 25 mil quilômetros quadrados de floresta desmatada, o estado de Mato Grosso responde pela maior parte, seguido pelo Pará e pela região sul do Amazonas. Segundo o Ibama, esse índice de desmatamento é o maior registrado nos últimos anos e ocorre principalmente por causa das frentes de expansão de áreas agrícolas, com o estímulo dos governos estaduais. Mas o problema não está na falta de fiscalização, e sim no não cumprimento da legislação ambiental por parte dos estados. Pela legislação brasileira, cabe ao Ibama garantir a preservação das áreas de proteção ambiental e da União, restando aos estados a tarefa de fiscalizar outras áreas.

De acordo com Flávio Montiel, o governo está ampliando o plano de combate ao desmatamento e intensificando a fiscalização. Uma ação inédita no país integra diversos órgãos de governo no processo de fiscalização, ao mesmo tempo que mapeia a situação da área. Só neste ano foram aplicados mais de R$ 250 mil em multas, e a área desmatada já foi reduzida em quatro quintos em relação ao ano anterior.

Estudante diz que matou porque Apoena reagiu a assalto

Um jovem de 17 anos, de classe média, aluno de um bom colégio e sem passagem pela polícia é o suposto assassino do sertanista Apoena Meireles, de 55 anos. O sertanista foi morto no último sábado (9), numa agência bancária em Porto Velho (RO). Detido na madrugada de hoje, o suspeito já foi encaminhado para o Juizado da Infância e Juventude.

Em entrevista à Rádio Nacional AM, o diretor-geral da Polícia Civil de Rondônia, Carlos Eduardo Ferreira, informou que os policiais chegaram ao suposto assassino após rastrearem o celular de Apoena, que foi vendido pelo menor e repassado para outras duas pessoas. O adolescente detido disse, durante o depoimento, que não sabia quem estava roubando e que a única motivação do crime teria sido o dinheiro.

Ele afirmou também que a arma utilizada no crime, um revólver de calibre 38, foi emprestada de um amigo. Antes do crime, ambos bebiam cachaça com refrigerante. Por volta das 20 horas, o jovem infrator saiu de casa de bicicleta e seguiu direto para o Banco do Brasil. O menor disse que não teve coragem de roubar o primeiro casal que viu porque eram jovens e resolveu atacar Apoena e Cleonice, funcionária da Fundação Nacional do Índio (Funai), que acompanhava o indigenista.

Segundo o menor, após o anúncio do assalto, Apoena reagiu com socos e pontapés. Durante a luta, o adolescente roubou o celular de Apoena e disparou dois tiros em seu abdômen. Em seguida, roubou a carteira de Cleonice e fugiu.

O menor foi abordado por policiais na noite de ontem, em frente a sua casa, e não reagiu à prisão. A roupa que o jovem vestia na noite do crime e a bicicleta usada na fuga foram encontradas na casa dele. A arma do crime ainda não foi achada. Ele confessou o assassinato e foi reconhecido pela funcionária da Funai que acompanhava Apoena.

Aqüífero Guarani é tema de debate internacional

Representantes de governos, técnicos e ambientalistas brasileiros, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai reúnem-se, dias 14 e 15, em Foz do Iguaçu (PR), para debater sobre questões ligadas ao Aqüífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo, semelhante a uma enorme caixa d´água subterrânea.

O Seminário Internacional Aqüífero Guarani – Gestão e Controle Social, realizado pela Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, tem como objetivo divulgar a importância do  manancial e discutir estratégias de uso e de controle social. Até o fim do ano, a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH/MMA) realizará um encontro entre representantes dos estados atingidos pela reserva para troca de experiências e apresentação de iniciativas adotadas para preservação da água.

O Aqüífero Guarani é considerado o maior reservatório do água doce do mundo, com uma área aproximada de 1,2 milhões de quilômetros quadrados, localizado nos territórios da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Do total dessa  área,  71% está no Brasil, em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.

A preocupação com o uso crescente e indiscriminado e com a possível poluição de toda essa água levou os governos dos quatro países a discutir um projeto de gerenciamento comum e conjunto para garantir a preservação do reservatório. Desde então, a iniciativa para elaboração do Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani conta com o apoio do Banco Mundial, como agência implementadora dos recursos, e da Organização dos Estados Americanos (OEA), como agência executora internacional.

No ano passado, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai começaram a promover encontros e seminários sobre o aqüífero e discutir propostas de gestão e de uso consciente dos recursos. No Brasil, o trabalho é coordenado pela SRH e inclui a capacitação de agentes multiplicadores para envolver e levar à sociedade informações sobre a importância do aqüífero e a necessidade de adotar medidas para preservá-lo.

Programa beneficia 10 milhões de pessoas na fronteira

Cerca de 10 milhões de pessoas, distribuídas em 588 municípios de 11 estados, localizados ao longo dos 16 mil quilômetros de fronteira do Brasil com diferentes países sul-americanos, passam a ter agora oportunidade de trabalho e produção a partir do Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira, do Ministério da Integração Nacional. Segundo o secretário de Programas Regionais do ministério, Carlos Gadelha, o objetivo do projeto é descobrir a vocação econômica de uma determinada região, capacitar os cidadãos, organizar a atividade produtiva em cooperativas e apresentar linhas de financiamento para aquisição de equipamentos e material.

“Esse é mais um projeto de inclusão social do governo Lula”, disse Gadelha. De acordo com o secretário, é preciso acabar com a idéia de que a população fronteiriça é marginalizada e ligada ao tráfico. “Com esse programa estamos dando a oportunidade para essas pessoas mostrarem que sabem e podem fazer excelentes trabalhos.”

Mas Carlos Gadelha lembra que é necessário respeitar a diversidade cultural para que os projetos dêem certo. O ministério da Integração Nacional instalou fóruns nos municípios da fronteira para que a população se organize e defina suas prioridades, vocações econômicas e as raízes do projeto. Tudo isso em um trabalho bem estruturado para cada região. “O trabalho feito com o artesanato indígena na região Norte não pode ser o mesmo dos criadores de gado do Sul”, concluiu.

A região do Alto Solimões -AM, que faz fronteira com a Colômbia e é uma das faixas prioritárias do Programa, já tem implantado um trabalho com piscicultura e artesanato indígena. Os pescadores da região foram treinados e capacitados pelo Ministério da Integração e agora, além de terem aprendido novas técnicas de captura e tratamento do peixe, tem também unidades de resfriamento do pescado. A população indígena envolvida com o artesanato também foi capacitada e já produz peças de acordo com os novos designs ensinados pelos especialistas do Faixa de Fronteira.

O Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira conta ainda com um grupo de trabalho interministerial que reúne 21 ministérios para colaborarem dentro de suas áreas de competência como saúde e educação.

Sertanistas são alvo constante de ameaças de morte

A história da demarcação de terras indígenas está diretamente relacionada a constantes ameaças de morte. A afirmação é do administrador da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Goiás, Edson Beiriz. Ele chegou em Brasília para participar do velório do sertanista Apoena Meireles, assassinado na noite de sábado em Porto Velho (RO), por volta de 21h30, durante assalto quando se encontrava em uma agência do Banco do Brasil.

Apesar de a polícia de Rondônia suspeitar, no primeiro momento, de latrocínio (roubo seguido de morte), Beiriz não descarta a possibilidade da morte de Apoena ter relação com o trabalho feito junto aos índios Cinta-larga. “O trabalho que a Funai vinha fazendo em Porto Velho em relação aos Cinta-larga era muito pesado. É difícil prever à distância, mas eu não duvido que o assassinato tenha alguma relação com isso. Ele era o coordenador da área e as ações eram muito visadas ali. Vamos esperar as investigações da polícia e ver no que vai dar”, afirma.

O próprio Beiriz, responsável pela demarcação de terra dos Xavante, em Mato Grosso, também é alvo constante de ameaças de morte. “É uma realidade comum. Trabalhar com a questão indígena mexe com interesses políticos e econômicos, principalmente no que se refere à posse de terras. A história da demarcação de terras indígenas está ligada a ameaças de morte”.

Funcionários da Funai poderão ter poder de polícia

O vice-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Roberto Lustosa, disse hoje, durante velório do sertanista Apoena Meireles, em Brasília, que o Ministério da Justiça estuda a possibilidade de conceder poder de polícia aos funcionários da instituição, vítimas de constantes ameaças de morte. "Uma das coisas importantes que o governo está preparado para resolver é conceder poder de polícia ao nosso pessoal. Essa concessão dará ao servidor uma condição melhor para se defender nas operações de risco", afirmou Lustosa.

Ele explicou que o poder de polícia permitirá que funcionários em operação utilizem armas, dêem voz de prisão, façam apreensões e apliquem multas. Roberto Lustosa lamentou a morte do indigenista. "Para nós, que somos colegas e amigos dele, foi um choque muito grande. Além de ser uma pessoa de caráter forte e solidário, ele também tinha um papel importantíssimo nesse processo de reestruturação da Funai e na solução das crises que estavam surgindo em Rondônia com os Cinta-larga", acrescentou.

Índios de diversas etnias cantaram e dançaram no velório de Apoena Meireles, na sede da Funai, prestando a última homenagem. O corpo do sertanista sairá de Brasília às 14h30 e chegará ao aeroporto do Galeão, no Rio às 16h10. O enterro está marcado para as 10h desta terça-feira.

Perfil de Apoena Meireles

“(…)Eu prefiro morrer lutando ao lado dos índios em defesa de suas terras e seus direitos do que viver para amanhã vê-los reduzidos a mendigos em suas terras”, Apoena Meirelles.     

apoena4.jpgNascido na reserva indígena de Pimentel Barbosa, Apoena seguiu os passos do pai, Francisco Meireles, dedicando a vida à questão indígena desde cedo.  Em 1967, aos 17 anos e ao lado do pai (foto), fez o primeiro contato com os Cintas-larga. Nesta época, ele revoltava-se com a invasão de áreas indígenas por colonos protegidos por leis estaduais e pelos projetos de expansão de fronteira agrícola e de assentamentos do Incra.

Apoena começou cedo na trilha do indigenismo, nos moldes preconizados por Francisco Meirelles e de integrantes de uma geração de sertanistas que aprendeu e preconizou o respeito à vida humana e aos costumes indígenas. Seus principais trabalhos foram a consolidação da atração dos Kren-Akarore, os índios descritos como “gigantes”, em Mato Grosso, e dos Waimiri-Atroari, na Amazônia, que acuados por invasores, estavam em pé-de-guerra. Além dessas etnias, Apoena comandou as frentes de atração dos Suruí e Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, estado onde fez quase toda a sua carreira de indigenista. Consolidou as atrações dos Zoro, em Mato Grosso; Avá-Canoeiro, em Goiás e Cinta-Larga, em Mato Grosso e Rondônia.   

Com uma visão equilibrada, ao mesmo tempo em que trabalhava para preservar as comunidades, Apoena entendia que os índios tinham direito ao conforto de parte da sociedade brasileira, desde que não perdessem os elos ancestrais de sua cultura, seus costumes e tradições religiosas. apoena2.jpg

Apoena (foto) foi assassinado no dia 10 de outubro de 2004 aos 55 anos depois de ser vítima de um assalto numa agência do Banco do Brasil de Porto Velho, RO. Ainda há suspeitas de que o indigenista tenha sido executado. Em sua última missão, Meireles estava coordenava uma força-tarefa criada para impedir a entrada de garimpeiros nas aldeias dos Cinta-Larga e na área de mineração de diamantes da Reserva Roosevelt, RO. Além disso, trabalhava para esclarecer a morte de 29 garimpeiros que invadiam a área indígena e foram executados.

Com informações e fotos da Funai