Padre Giaccaria, elo entre a Igreja e os índios

Seguindo a tradição de catequização da igreja Católica, a ordem dos Salesianos atua no Mato Grosso desde 1894. Alguns dos primeiros religiosos que estiveram na região sofreram fins trágicos, como os padres João Funcks e Pedro Socilotte, massacrados pelos Xavantes. Apesar disso, as missões continuaram no início do século XX, contatando povos como os Bororos, Carajás e empreendendo seguidas tentativas de atração dos Xavantes. Padre Hipólito Chovelon, Mestre Francisco Fernandes e Padre Pedro Sbardellotto, são alguns dos que visitaram o território desde o final da década de 1930.

padregiaccaria.jpgO Padre Bartolomeo Giaccaria, italiano naturalizado brasileiro, continua esse trabalho, com mais de 45 anos de experiência entre os Xavantes. Pós-graduado em antropologia pela Universidade de Brasília em 1980, o pároco é autor de diversos livros como “Xavante, Povo Autêntico”, “Jerônimo Xavante Conta”, além de cartilhas e projetos de educação envolvendo os índios e suas tradições. Entre suas publicações mais conhecidas, está o primeiro dicionário Xavante-Português, uma iniciativa pioneira escrita em 1958.

“O maior absurdo é que várias das plantas nativas que utilizo em meu trabalho estão patenteadas pelos americanos”. Foto: Fábio Pili

Além da produção acadêmica, padre Giaccaria, 69 anos, desenvolve pesquisas com plantas medicinais, especialmente com espécies nativas do cerrado. Trabalhando num pequeno herbário montado em Nova Xavantina, ele prepara emplastos, xaropes e outros remédios naturais. “Esta foi uma maneira de contornar os problemas do abastecimento farmacêutico na região e nas aldeias”, explica o padre.

Grupo – Em que ano o senhor começou seu trabalho entre os Xavantes?

Pe. Giaccaria – Eu vim para o Brasil em 1954 e passei dois anos em Campo Grande. Só em 1956 é que vim para a Missão de Sangradouro, onde trabalhava como professor. Lá nós ensinávamos aos filhos de fazendeiros de cidades vizinhas, como Poxoréu e Barra do Garças, além dos índios bororos. Mas nesta época os bororos já estavam sumindo, eles foram todos dizimados ou aculturados. Logo depois, em 57, comecei a trabalhar com os xavantes.

Grupo – Nesta época o senhor conheceu o trabalho da Expedição Roncador-Xingu e dos Villas Bôas?

Pe. Giaccaria – Para mim eles encaravam o índio como um obstáculo ao progresso. Acho que o trabalho dos Villas Bôas era limpar a região para o desenvolvimento, eles ligavam mais para este progresso. A idéia era fazer obras como a estrada Cuiabá-Santarém. Eles também nunca permitiram a presença de padres dentro do Parque do Xingu, então não sei ao certo como é a situação dos índios lá dentro.

Grupo – Como o senhor encara a filosofia de trabalho da igreja naquela época e hoje em dia?

Pe. Giaccaria – Quando em vim para o Brasil tínhamos uma visão muito romântica e fantasiosa da região. Na época o trabalho da igreja era no sentido de integrar o índio. Hoje, nós deixamos isso de lado, mas esta é uma questão muito complexa. Não dá pra falar assim. Nosso trabalho atual é de explicar melhor o porquê das coisas. Além disso, respeitamos a maneira como eles expressam seus ritos. Nas missas usamos cantos tradicionais deles e eles mesmos se organizam para fazer um batizado, por exemplo. Existe até um índio que vai se tornar padre, o nome dele é Aquilino. Portanto, eles incorporam tudo isso. Boa parte do meu trabalho visa a preservação cultural, especialmente da língua indígena. Por isso produzi a primeira cartilha bilíngüe Xavante-Português. Neste sentido, nos esforçamos para prepará-los melhor para o contato com os civilizados. Os choques culturais são inevitáveis, mas não adianta isolá-los.

Grupo – Porque o senhor começou a trabalhar com plantas medicinais?

Pe. Giaccaria – Pela necessidade. Eu via crianças com feridas nas mãos, velhos com problemas de reumatismo e não havia muito suprimento de remédios para ajudá-los. Então, comecei a ler e estudar sobre as propriedades de cada espécie. Preparo um emplasto, por exemplo, que é bom para quase todo tipo de problemas de pele no qual uso cerca de 15 plantas como babosa, hortelão, orégano e própolis. Dessa forma, atendo a cerca de 80 aldeias com mais de 12,000 xavantes. O maior absurdo, porém, é que várias das plantas nativas que utilizo em meu trabalho estão patenteadas pelos americanos. São plantas aqui do cerrado, utilizadas pelos índios a milhares de anos, como o urucum, a sucupira e o quebra-pedra. Essas são apenas as que eu lembro agora, e eles ainda estão estudando outras sete mil plantas brasileiras.

A natureza como alternativa

Situada numa região de rara beleza natural, Nova Xavantina, MT, encontra-se numa posição estratégica para o turismo. Cercada pela Serra do Roncador e cortada pelo Rio das Mortes, a antiga área mineradora tem um enorme potencial não aproveitado.

Com parte de seus bens naturais relativamente bem preservados, o município luta hoje pelo aumento da arrecadação de impostos, que decaiu muito com a desativação do garimpo de Araés, em 1996. A prefeitura alega que necessita dessa verba para investir na fiscalização ambiental.

riodasmortes.jpgEntretanto, para algumas pessoas, a melhor alternativa para gerar esta renda e ainda conservar o ecossistema da região seria o ecoturismo. Segundo o ex-garimpeiro e atual proprietário do hotel-fazenda Encantos do Roncador, Valmor Berté, o maior obstáculo para isso é a falta de interesse das administrações em investir no desenvolvimento da atividade. “O que nós temos aqui, o mundo todo gostaria de ter: o misticismo da Serra do Roncador, um grande rio com água pura e aldeias indígenas”, afirma Berté. Em sua opinião seria necessário um apoio maior ao setor para organizar palestras, cursos e outros eventos.

O Rio das Mortes, como vários outros do Centro Oeste brasileiro, sofre com queimadas e mineração nos seus arredores. Foto: Fernando Zarur

Marco Piza Pimentel, Secretário Municipal de Educação e Cultura (responsável pelas áreas de Turismo e Meio Ambiente), alega que todo material sobre os pontos turísticos da cidade desapareceu na gestão anterior. “Estamos fazendo um novo levantamento destes locais, para poder estabelecer como iremos atuar”, explica Pimentel. Segundo ele, a implantação da Faculdade de Turismo, que começará a funcionar em julho na Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat), é uma medida que trará benefícios em médio prazo para Nova Xavantina.

Hoje os principais eventos na cidade são a Festa do Peão Boiadeiro e os festivais de praia, realizados no meio do ano. A prefeitura estima que cerca de cinco mil pessoas visitam o município no mês de julho, considerado alta temporada. Mesmo assim, o ecoturismo não ocupa lugar de destaque como geração de renda.

A controvérsia do garimpo

Marcos Pimentel admite a intenção em reabrir o garimpo de Araés, e justifica que a iniciativa trará mil empregos diretos para o município. No entanto, a posição da prefeitura está gerando polêmica. Para Lúcia Kirsten, moradora local, “o garimpo só deixa para as cidades sujeira, criminalidade, doenças e filhos sem pai”. Ela cita como exemplo o garimpo na cidade de Poxoréu, que foi um dos maiores do Mato Grosso. “Hoje essa cidade é pobre, feia e com o rio assoreado. O dinheiro do garimpo é uma ilusão, pois acaba rápido”, conta Lúcia.

Outra conseqüência da reabertura do Araés é o risco à saúde dos trabalhadores e da população vizinha. Como não há nenhum estudo sobre o impacto ambiental na área, a constatação da existência de urânio no local e a possibilidade de despejo de resíduos tóxicos, como cianureto e mercúrio, preocupam os ecologistas e alguns moradores.

Sinvaldo Vieira Rodrigues, ex-garimpeiro, afirma “a única coisa que o Araés já fez foi matar muita gente”. Doente de silicose há cinco anos, ele conta que perdeu seu irmão e mais de sessenta colegas pela mesma doença ou acidentes de trabalho nas minas. Por ter trabalhado sem carteira, ele vive à custa de sua mulher, da ajuda de vizinhos e de uma aposentadoria conseguida há apenas cinco meses no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Conscientização

Além da ameaça do garimpo, os arredores de Nova Xavantina sofrem com outros tipos de devastação comuns na área. O principal deles é o desmatamento e os incêndios para aumentar os campos de agricultura e pecuária, o que já está causando assoreamento de alguns cursos d’água, como o Ribeirão Antárctico.

Para Lúcia Kirsten o problema é a falta de conscientização. Ela afirma que “as pessoas daqui valorizam mais o que vem de fora. A prefeitura, por exemplo, mandou retirar as árvores nativas da principal rua da cidade para plantar Fícus.” Apesar do descaso, ainda há uma infinidade de ilhas, cachoeiras e córregos bem preservados, mas a moradora, na região desde 1980, afirma que a situação “ainda não é alarmante, mas as pessoas mais antigas, principalmente quem nasceu aqui, já nota a diferença”.

Zé Goiás, bandeirante do século XX

Nascido em Aruanã, Goiás, antiga cidade de Leopoldina, José Celestino da Silva foi mais um dos personagens anônimos que desbravaram o Brasil Central. Zé Goiás, como ficou conhecido em Nova Xavantina (MT), se integrou em 18 de junho de 1946 à Expedição Roncador-Xingu.

Nessa época Seu Zé Goiás era um rapaz franzino de 22 anos, que havia abandonado uma vida de dificuldades no garimpo, onde ganhava um salário de apenas 680 mil réis, com o ideal de se tornar um bandeirante do século XX. Logo no primeiro dia de acampamento, Orlando Villas Bôas pediu que ele saísse para pescar. A pescaria foi tão boa que o sertanista disse: “Esse menino vai enraizar aqui”. Dito e feito. Zé Goiás não só acompanhou desde o início o desbravamento do Brasil Central, mas também ajudou a fundar Nova Xavantina, onde mora até hoje.

Aos 78 anos, o veterano guarda com orgulho fotografias, relíquias e, principalmente, preserva o mesmo ânimo e alegria do tempo da Marcha.

zegoias.jpgGrupo – O senhor acompanhou todo o desenvolvimento dessa região e de Nova Xavantina?

Zé Goiás –Quando cheguei aqui vim de avião, naquele tempo era muito difícil. A primeira vez que passei por cima da cidade pensei onde ficava toda a gente. Aqui só tinha três casinhas de palha. Participei até da missa que fundou a cidade. O pessoal queria dar o nome de São Pedro do Rio das Mortes, mas o Orlando Villas Bôas falou que achava que tinha que dar um nome sobre a origem da cidade. Como aqui era terra Xavante, ficou Nova Xavantina.

"Eu sou um bandeirante do seculo XX(…)". Foto: Fábio Pili

Grupo – Quando o senhor se integrou à expedição?

Zé Goiás – Cheguei aqui em 18 de junho de 1946 pra abrir picada na expedição. Eu queria muito conhecer o Rio das Mortes, aqui tinha muita história, muita lenda. A gente ouvia falar do nego d’água, da mãe d’água, mas nada disso existe não. Eu era muito disposto. No dia 7 de setembro, o Coronel Vanique reuniu o pessoal, tinha umas 20 pessoas. Ele perguntou quem estava disposto a fazer um juramento e eu fui o único que fiz a jura: “Morrer se preciso, matar nunca”. Eu não tinha medo, não (risos).

Grupo – Como era a situação do acampamento no início da Expedição?

Zé Goiás – Era muito dura. Nessa época não tinha carne. Uma vez, seu Acary Passos mandou um pedaço de carne para o Coronel Vanique. Quando os trabalhadores viram o almoço do Coronel, aí fizeram uma greve. Por causa disso foram cortadas 72 pessoas. Vieram dois aviões C47 do Correio Aéreo Nacional para levar o povo de volta pra Aragarças. O avião foi cheio e ficou pouquinha gente. Mar era bom, rapaz, aquele tempo era bom.

Grupo – Havia muita amizade entre os trabalhadores?

Zé Goiás – Aqui estava todo mundo animado pra sair logo com a Marcha, e estava tudo pronto. Demorou muito por causa do suicídio da esposa do Coronel Vanique. A gente ficou por aqui trabalhando no acampamento, limpando, capinando. Era assim, a gente terminava o trabalho, tomava banho e ia jogar baralho, caçar, pescar… Eu mesmo preferia pescar. O pessoal também era muito gozador. Quando os novatos chegavam aqui, eles mandavam a gente pegar uma tal “caixinha de tiché” no almoxarifado. Quando o sujeito chegava lá, o encarregado, Seu João, dava uma bronca danada. Eu já sabia desta história, quando falaram para que eu fosse ir lá, eu respondi: “Não precisa, eu trouxe a minha de casa”. (risos)

Grupo – E como era o trabalho na Marcha?

Zé Goiás – O trabalho era duro, muito duro. Saímos no dia 21 de abril de 1947, dia de Tiradente, a gente saiu daqui e fomos até o (rio) Sete de Setembro. A gente recebia um (revólver) .38, um mosquetão e ia em lombo de burro e a pé. Eu desci com eles até o Garapu e depois voltei de férias. Na volta, vim de avião até o Kuluene. Chegando lá no rio, já tinha o campo de avião. Os índios ajudaram a arrumar tudo, capinando, destocando a área. Ficou pronto em cinco dias. Os índios eram muito fortes, arrancavam os tocos como se fosse mandioca, com raiz e tudo. Eu pegava mel, pescava, mas não comia esses animais impuros do campo, como quati, macaco e etc. Eu também aprendia a ler. De noite a gente amarrava uma linha com um sininho em volta do acampamento. Se passasse bicho a gente ouvia. O Seu Orlando também ensinava a gente a escrever. Quando eu cheguei aqui, não sabia nem assinar o nome. Aí o Seu Orlando me deu uma cartilha chamada “Vamos Estudar” e eu comecei a aprender. Umas duas semanas depois eu já sabia escrever e separar as sílabas.

Grupo – O senhor se orgulha de ter participado disso tudo?

Zé Goiás – Era bom demais. Eu sou bandeirante do século XX! Outro dia apareceu uma mulher aqui na porta de casa pedindo entrevista pra televisão. Logo juntou uma roda de gente para ouvir a história. Eu sempre fui alegre toda vida. Sempre tive muita boa vontade e nunca tive medo. Passei por cobra, índio e estou aqui vivo. (risos)

O sumiço do Indiana Jones

serraroncador.jpgMistério é o que não falta na Serra do Roncador. Bandeiras como a de Pires Campos e Anhanguera procuraram durante anos as lendárias Minas dos Martírios, diversas seitas religiosas esperam aqui o surgimento da raça dourada (grosso modo, a fusão de todas a raças) e mais uma série de incontáveis histórias. Porém, o fato mais intrigante e de grande repercussão internacional foi o desaparecimento, em 1925, do Comandante da Guarda Real inglesa, o Coronel Percy Harrison Fawcett. Suas aventuras inspiraram o cineasta Steven Spielberg a criar o personagem Indiana Jones.

Uma das teorias sobre o desaparecimento de Fawcett é que ele haveria, de fato, encontrado o portal para a civilização subterrânea que procurava. Foto: Fernando Zarur

Para se entender melhor sua história é preciso esclarecer certos fatos na vida de Fawcett. Logo no início do século XX, ele serviu no Ceilão (antigo Sri Lanka) e foi vice-rei da Índia. Dizem que nesse período participou de diversos rituais tibetanos e começou a se interessar cada vez mais por esoterismo.

As primeiras andanças do coronel pela América do Sul foram em 1906/1907, quando ele esteve nos Andes e na Amazônia Boliviana. A partir daí organizou sucessivas expedições (1910, 1911, 1913…) pelo continente até o seu sumiço, na década de 1920. O que ele procurava ninguém sabe ao certo.

Segundo o historiador e morador de Nova Xavantina (MT), Archimedes Carpentieri, Fawcett ganhou de Sir H. Rider Haggard, autor do livro As minas do Rei Solomão, uma estatueta que tinha indicações para se encontrar a embocadura de uma cidade subterrânea na Serra do Roncador. “Ele estava à procura de uma civilização remanescente de Atlântida, que desapareceu 9mil anos antes de Cristo”, explica Carpentieri.

O documento 512, conservado na Biblioteca Nacional, descreve ruínas gigantescas e inscrições cuneiformes encontradas no século XVII por um grupo de tropeiros vindos da Bahia. Fawcett obteve uma cópia desse material, o que o ex-senador, Valdon Varjão, diz que “encaixou como uma luva, pois provava que a tal cidade perdida estava no maciço central brasileiro”.

São várias as versões que explicam o desaparecimento do explorador, algumas até um tanto fantásticas. Uma reportagem publicada no jornal Folha da Noite, em abril de 1937, trazia relato de um caçador suíço chamado Stephan Rattin. Ele dizia que encontrou Fawcett prisioneiro dos “índios morcegos”, no interior do Mato Grosso.

De acordo com o sertanista Orlando Villas Bôas, o coronel inglês foi morto por Kuikuros. “Os índios me contaram que mataram o sujeito que batia no peito e dizia ‘miguelesi’, ou seja, ‘mim inglês’”, conta Orlando. Segundo ele, o explorador foi morto a bordunadas (uma espécie de tacape) por pais de dois curumins que Fawcett havia maltratado. Uma suposta ossada do britânico foi encontrada pelo sertanista, porém, a família dele se recusou a fazer o exame de DNA.

Algumas comunidades místicas acreditam que Fawcett cumpriu seus objetivos, achando uma embocadura, ou entrada para a tão procurada cidade intraterrena. Para estas pessoas, isto está comprovado por meio de mensagens que o Coronel enviaria regularmente falando sobre sua vida no interior da terra.

Envolto em mistérios, o destino do militar britânico continua obscuro. Do pouco que existe de concreto sobre o assunto, sabe-se que Fawcett estava confiante no sucesso de sua expedição. Na última correspondência enviada a sua esposa, ele afirmava: “Vou me encontrar com índios selvagens em breve, mas você não deve temer nenhum tipo de fracasso”.

Nova Xavantina, primeira cidade da Roncador-XIngu

As primeiras notícias da região que hoje compreende Nova Xavantina vêm de meados do século XVII. Bandeiras como a de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, e Pires de Campos percorreram a área por volta de 1660, capturando índios para depois vendê-los como escravos.

Estas expedições foram responsáveis pelo surgimento da lenda da Serra dos Martírios, um lugar fantástico indicado por formações geográficas que lembravam os martírios de Cristo, onde haveria muito ouro de superfície. O local descrito pelos bandeirantes nunca foi encontrado, mas rapidamente surgiram pequenas vilas garimpeiras, como a de Araés, ao longo do Rio das Mortes.

igrejanovaxavantina.jpgEntretanto, com o fim do ouro de lixiviação, os povoados logo foram abandonados. Somente em 1944, com a chegada da Expedição Roncador-Xingu, começou a ser erguida uma nova cidade. Em 28 de fevereiro daquele ano, um dos expedicionários avistou – de cima de um “pau d’óleo”, tipo de árvore típica da região – o Rio das Mortes. Em torno desta árvore foi construído o acampamento de Xavantina, nome escolhido pela Expedição em homenagem aos índios Xavantes, habitantes originais do lugar.

Uma das construções iniciais de Nova Xavantina, a Igreja faz parte da Praça Cívica, onde ficava o antigo acampamento da expedição. Foto: Pedro Ivo

Aos 76 anos de idade, Lídio Pereira da Silva, operário que trabalhou na construção dos primeiros prédios, lembra que “a região era um Brasil novo sem nenhum vestígio de civilização”. Estimulado pela Fundação Brasil Central, o vilarejo começou a crescer e a atrair a atenção de colonos. Há quem diga que, durante o governo Getúlio Vargas, o lugar foi cogitado como um dos possíveis locais para a construção da nova capital brasileira.

O segundo impulso desenvolvimentista ocorreu décadas depois, com a construção da ponte sobre o Rio das Mortes, parte da rodovia BR-158. Assim, nasceu o povoado de Nova Brasília, na margem oposta do rio. Com o estímulo do governo federal, especialmente com o Estatuto da Terra, em pouco tempo os povoados tornaram-se distritos cada vez mais populosos, abrigando migrantes de todo o país e, principalmente, do Sul.

Finalmente, em 1980, as duas cidades fundiram-se num município independente denominado Nova Xavantina. Segundo Archimedes Carpentieri, um dos responsáveis pela emancipação, “foi uma luta dura, o pessoal de Barra do Garças não queria deixar a gente se separar”.

Com uma população de aproximadamente 20 mil habitantes, a principal atividade econômica da cidade é a pecuária extensiva. Nova Xavantina também preserva sua maior riqueza, belezas naturais com um grande potencial para o eco-turismo ainda inexplorado, como o Rio das Mortes.