Crescimento econômico não pode neutralizar esforços pelo meio ambiente, defende ministra

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse hoje (12) que o estímulo ao crescimento da produção do país, o que inclui a área de biocombustíveis, “não pode neutralizar” os esforços feitos pela preservação ambiental, inclusive porque há dependência entre os fatores.

“Nossa economia depende 50% da nossa biodiversidade. Quem destruiria sua galinha dos ovos de ouro?”, comparou ao defender uma “nova narrativa” para o crescimento do país, baseada no desenvolvimento sustentável durante lançamento do Programa Brasileiro de Inventário Corporativo de Gases de Efeito Estufa.

Segundo Marina Silva, além da utilização de terras férteis e de recursos hídricos pelos setores produtivos, o regime de chuvas do país depende da manutenção da Floresta Amazônica.

A ministra voltou a afirmar que “o Brasil não quer ser a Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] dos biocombustíveis”. A organização foi criada em 1960 para centralizar e unificar a política petrolífera dos países membros, que inclui controle de preços e do volume de produção, com poder de pressão sobre o mercado.

“Queremos dar nossa contribuição em relação aos biocombustíveis, mas observando nossa capacidade de suporte. E de forma que não comprometa a segurança alimentar nem a questão ambiental”, apontou.

O zoneamento agrícola da cana-de-açúcar – prometido para o próximo mês pelo ministro da Agricultura, Reinholds Stephanes – e a definição de áreas prioritárias de conservação da biodiversidade foram citados pela ministra como medidas que garantiriam a produção sustentável dos agrocombustíveis.

Energia brasileira para italianos

Reduzir o consumo e a poluição provocada por motores veiculares é o objetivo de um acordo de cooperação firmado entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e o Instituto Motori (IM), do Conselho Nacional da Pesquisa da Itália. A previsão é de que o acordo represente a abertura da Comunidade Européia para a utilização de álcool brasileiro em larga escala.

“O acordo prevê a execução de projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento, reunindo atividades educacionais e profissionais”, disse João Mamede Cardoso, assessor de relações internacionais do IPT, à Agência FAPESP. “A idéia é que os projetos em conjunto possam trazer ganhos para a indústria nacional, além de estimular investimentos europeus na substituição de energia derivada de petróleo, em particular no que diz respeito aos países em desenvolvimento.”

Uma das primeiras medidas concretas do acordo é fornecer álcool para a produção de mistura combustível não poluente. A Itália quer chegar a índices próximos de zero para atender às diretrizes do European Trade Scheme, acordo em andamento nos países da comunidade. O país sofre com o problema da emissão de poluentes, especialmente por 50% dos automóveis serem movidos a diesel.

O IPT deverá coordenar, junto ao Instituto Motori, ensaios com mistura combustível composta por gasolina e 10% de álcool. “Os testes em veículos italianos com o álcool combustível produzido aqui no Brasil devem começar em breve”, afirma Cardoso. Deverão ser desenvolvidas, além das pesquisas de misturas álcool/gasolina, estudos para redimensionar os motores, diminuindo seu consumo, tamanho e peso.

A meta é fabricar motores menores, mais leves e menos poluentes. Uma outra linha de pesquisas contemplará a mistura diesel/álcool, procurando atingir níveis de emissões poluentes próximas de zero. Além disso, ao mesmo tempo em que novas tecnologias de uso de álcool deverão ser exportadas para a Europa, o IPT pretende desenvolver novas tecnologias de gás natural para uso em automóveis no Brasil.

“Temos um potencial muito grande de exportação e precisamos alcançar certos padrões europeus para conseguirmos fornecer o álcool brasileiro”, acredita Cardoso.