Além do turismo, outro fator que está revolucionando a economia local é a crescente popularidade do artesanato de capim dourado. A planta, que só existe nessa região, permite a realização de trabalhos de extrema beleza. As bolsas, cintos, pulseiras, bandejas, descansos e chaveiros feitos com a palha ficam com a aparência e o impressionante brilho do ouro. Valorizadas quase como o metal, algumas peças de capim dourado chegam a custar US$ 500,00 no exterior.
A arte originou-se no vilarejo de Mumbuca, TO, composto por remanescentes de antigos quilombos que ainda enfrentam sérios sociais, como desnutrição e falta de saneamento básico e doenças, como a hanseníase. O artesanato, no entanto, está começando a melhorar a vida no local. Além disso, a demanda já é tão forte que a técnica hoje é difundida nas diversas vilas da região. Com isso começam a surgir as primeiras associações de produtores, tendo os turistas como principal mercado consumidor.
Artesã trabalha em bolsa enquanto exibe outros produtos à venda para turistas em Ponte Alta do Tocantins. Foto: Fernando Zarur.
Uma das mais antigas artesãs do capim é Dona Miúda (na foto ao lado), 72 anos. Ela ficou conhecida por ter popularizado a arte na região e nos recebeu na soleira de sua casa para uma conversa. Sentada num banco feito de galhos de buriti, em frente à sua casa de adobe, Dona Miúda conta que aprendeu a técnica de sua mãe e sua avó que, por sua vez, aprenderam de índios que habitavam a região. Desde cedo, ela conta que a arte ajudou a alimentar seus 12 filhos. Enquanto conversa ela tece mais um de seus trabalhos para mostrar que continua em plena atividade e nos dar uma idéia da complexidade do trabalho que ela reclama estar sendo superexplorado.
Na sua opinião falta qualidade em muitos trabalhos que não respeitam a tradição. Ela diz que "agora qualquer um faz" e defende algum tipo de identificação para diferenciar a origem das peças. "O dinheiro ajuda a gente comprar coisas, mas podia ser melhor. Agora na posse do Lula eu mandei um chapéu que fiz especialmente para ele lembrar aqui da gente" , afirma.ete a situação com uma forte inflação. Algumas peças que podiam ser compradas por R$15,00 em novembro do ano passado, por exemplo, passaram a custar R$35,00 em março de 2003.
Estimulados pelo lucro, o aumento da produção começa a desequilibrar o meio-ambiente local. "Hoje a gente anda cada vez mais longe para pegar o capim", admite Dona Miúda. "Mas isso é porque bicho come e muita gente não sabe cortar", conclui. Assim como a maioria dos vizinhos, para ela é impossível acabar cA exploração incondicional do artesanato também pode ameaçar a existência da planta, que cresce nas margens dos vários rios que entrecortam o Jalapão. Além de arrancar o capim pela raiz, os moradores usam o fogo para fazer a colheita. Alguns argumentam que isso ajuda o capim a crescer mais forte depois. Porém, não há estudos conclusivos sobre o assunto. Soma-se a isso outro fator: a linha usada para trançar o capim é extraída do chamado "olho do buriti" . Ou seja, é necessário abater um buriti inteiro para extrair-lhe a parte interior e fazer os fios usados no artesanato.
A palha do Buriti, utilizada para trançar os fios de capim dourado no artesanato, é extraída do chamado "olho" da palmeira, seu broto central. Os artesãos locais afirmam que para remover a palha não causam danos à plantas, mas algumas pessoas argumentam que o processo mata rapidamente o Buriti. Em meio à controvérsia, a falta de planos de manejo e pesquisa ameaçam a vegetação utilizada para o extrativismo na região. Foto: Fábio Pili.
Por outro lado, a produção também ajudou os moradores que se organizam em cooperativas para produzir e vender peças aos visitantes. A associação de Mumbuca mantém uma casa de vendas no centro do vilarejo, que também serve como centro de reunião para a comunidade artesã. Em abril deste ano, por exemplo, a comunidade realizou uma exposição em Brasília apoiada pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Cultura. O evento, que contou com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, celebrou a exportação do artesanato para outros países.
A alternativa econômica está começando a ajudar a população, uma das mais pobres de toda a região, mas precisa ser administrada com cuidado. Os estudos sobre o assunto agora concentram-se em entender o manejo auto-sustentável do capim. O segundo passo será conscientizar os produtores. Enquanto isso, a confiança fica em Deus e a culpada é a vaca.
Peças de capim dourado expostas na associação de produtores da comunidade de Mumbuca. Foto: Fábio Pili.
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