Entidades ambientais vão entregar estudo do cerrado à ministra Marina Silva

As entidades ambientais, responsáveis pelo estudo que subsídiará a formulação do programa "Cerrado Sustentável", entregam nesta sexta-feira os resultados do trabalho à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Segundo a secretária-executiva da Rede Cerrado, Mônica Nogueira, além de propor critérios de sustentabilidade ambiental e inclusão social para a produção agropecuária na região, o estudo tem foco na de criação de uma atmosfera favorável ao desenvolvimento de experiências de uso sustentável da biodiversidade.

O trabalho também propõe medidas de valorização das populações e das suas culturas, assim como o aumento, em cobertura e em número, de unidades de conservação do cerrado. “Esperamos que o programa seja implementado em breve”, disse Mônica.

Segundo ela, na reunião com a ministra também será apresentada a proposta de criação de um portal na Internet destinado ao bioma. A Rede Cerrado faz parte do comitê gestor do portal. A idéia é que, além de conter informações sobre o cerrado, o portal seja um espaço de divulgação de trabalhos da população local. “Queremos que os povos do cerrado se beneficiem com isso, que possam expor seus produtos, divulgar a cultura e também ter acesso a informações que possam ser relevantes para a luta deles”, explicou.

Índios fazem corrida de toras na Esplanada dos Ministérios

59571_1.jpegEm defesa da preservação do cerrado, que representa cerca de 22% do território brasileiro e cobre 11 estados e o Distrito Federal, índios das etnias Timbira e Xavante participaram de uma corrida de toras na Esplanada dos Ministérios. A atividade marcou o início do Grito do Cerrado, uma série de manifestações e eventos culturais para alertar governo e comunidade sobre os riscos da devastação do bioma, que já perdeu 57% da sua área. Segundo a Rede Cerrado, que reúne entidades sócio-ambientais, se o desmatamento continuar no mesmo ritmo, em trinta anos o cerrado poderá desaparecer.

Durante a corrida, índios passaram de mão em mão duas toras de buriti, de cerca de 80 quilos cada uma, em um percurso do Ministério do Meio Ambiente ao Congresso Nacional. Ao chegarem ao Congresso, os participantes tentaram entrar no prédio, mas só conseguiram depois que o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) interveio. O parlamentar estava chegando ao local no momento em que os índios pediam autorização aos seguranças para deixar as toras na Câmara ou no Senado.

Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr

O senador disse que assumiria a responsabilidade e acompanhou os índios até o interior do Senado. Conforme o combinado com Suassuna, os índios deixariam as duas toras na entrada do Plenário, mas eles acabaram colocando-as em frente à mesa da Presidência da Casa. Segundo o líder indígena Hiparido Toptira, da etnia Xavante, o ato foi uma forma de chamar a atenção das autoridades para a devastação do cerrado, acentuada nos últimos anos devido à ocupação desordenada do solo e ao crescimento do agronegócio, principalmente da plantação de soja na região. “Nós não queremos soja em torno dos territórios indígenas, porque está tendo problema seriíssimo de agrotóxico nos nossos rios, e a caça e as frutas estão diminuindo”.

59572_1.jpegPara o líder indígena, é preciso uma lei específica para proteger a fauna e a flora do cerrado. “Nós dependemos do cerrado e o cerrado depende da gente. Sem o cerrado, a gente não tem corrida de toras, não tem pintura. Para nós, como xavantes, só com o cerrado a gente consegue sonhar e aí poder fazer música”, explicou Hiparido Toptira.

Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr

Segundo Ney Suassuna, as toras ficarão em exposição no museu da Casa. O senador explicou que resolveu autorizar a entrada dos índios no Senado porque se trata de uma causa justa. “O Brasil hoje tem 62 milhões de hectares de área plantada. Faltam 92 milhões de hectares. Então, a gente pode preservar uma boa parte do cerrado porque não há necessidade de ocupar tudo”, disse o senador, ao destacar que o ideal é que o bioma passe a ser Patrimônio Nacional.

As atividades do Grito do Cerrado continuam ao longo da tarde desta quinta-feira e terminam amanhã (10), um dia antes do Dia Nacional do Cerrado, comemorado no dia 11 de setembro. Hoje, às 15h, será realizada na Câmara uma mesa-redonda sobre a Proposta de Emenda Constitucional que dá ao Cerrado o título de Patrimônio Nacional. Também haverá debate, até às 18h, sobre problemas socioambientais e alternativas para o cerrado, na tenda montada no gramado da Esplanada. A programação prevê também exposições, apresentações de danças e cantos indígenas.

Sem preservação, cerrado pode desaparecer em 20 anos

No próximo sábado, dia 11, será celebrado o Dia Nacional do Cerrado. Esse dia coincidirá com o último dia do Grito do Cerrado, um evento de mobilização política que servirá de alerta a sociedade e ao Estado sobre o processo de degradação que vem ocorrendo nos últimos anos. A iniciativa será promovida pela Rede Cerrado, uma articulação entre diversas entidades que atuam em defesa do bioma.

O cerrado brasileiro compreende uma área de 2 milhões de Km² e possue diversos ecossistemas e uma riquíssima flora, com mais de 10 mil espécies de plantas. Porém, a região vem sofrendo um intenso processo de desmatamento e degradação, acentuado nos últimos anos.

Segundo a secretária-executiva da Rede Cerrado, Mônica Nogueira, ainda é necessário que a sociedade brasileira se conscientize da importância do potencial, em termos econômicos e sociais, da biodiversidade presente no cerrado. “Internacionalmente, o bioma já tem alcançado algum reconhecimento. No entanto no Brasil, o cerrado tem sido visto unicamente como uma área de para expansão da fronteira agropecuária. Há estimativas de que, em menos de 20 anos ele possa desaparecer”, afirma.

O evento também buscará alertar sobre os povos que habitam historicamente o cerrado, como os povos Xavante e Timbira, além de remanescentes dos quilombos e outros grupos que buscam reconhecimento como comunidades tradicionais. “A gente sempre faz questão de destacar que, junto à diversidade biológica do bioma, há também uma grande diversidade social e cultural. A gente vem buscando valorizar e dar instrumentos para que elas possam continuar fazendo uso das espécies e de como manejá-las adequadamente, recebendo os benefícios pelo uso dessa biodiversidade”, diz Nogueira.

O evento terá nesta quinta-feira e contará com a presença da ministra do Meio ambiente, Marina Silva, para a entrega oficial dos resultados de um grupo de trabalho interministerial, que foi criado para gerar subsídios para a elaboração de um programa “Cerrado Sustentável”, que será implementado pelo ministério.

Grito do Cerrado começa com corrida indígena

Uma corrida indígena de toras abre nesta quinta-feira (9), às 9h, na Esplanada dos Ministérios, o Grito do Cerrado, série de manifestações e eventos culturais em defesa do bioma. De acordo com a organização do Grito, índios das etnias Timbira e Xavante vão passar toras de Buriti de mão em mão do Ministério do Meio Ambiente até o Congresso Nacional.

Cerca de 500 pessoas de outros estados chegaram nesta terça-feira a Brasília para participar da manifestação, que termina na sexta-feira, dia Nacional do Cerrado. Fazem parte do grupo moradores de comunidades de quilombo, índios e representantes de populações tradicionais, reconhecidos como defensores do Cerrado.

A vegetação do Cerrado cobre 14 estados, com uma extensão de dois milhões de quilômetros quadrados. A antropóloga Mônica Nogueira lembra que a alta diversidade biológica e cultural da área está ameaçada. Mônica é secretária-executiva da Rede Cerrado, grupo de organizações e comunidades que trabalha pela preservação do bioma.

“O Cerrado está ameaçado pelo avanço de um modelo de desenvolvimento que não considera modelos de desenvolvimento ambiental”, alerta a antropóloga. “O Grito é uma forma de chamar a atenção da opinião pública, do poder público. Temos encontrar uma forma de desenvolvimento que considere a sustentabilidade ambiental e o respeito às populações tradicionais.”

Estão previstos na programação do Grito do Cerrado uma sessão solene na Câmara Legislativa do Distrito Federal e um debate no Congresso Nacional. Os parlamentares vão receber uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que eleva o Cerrado à condição de Patrimônio Nacional. O título já foi dado à Mata Atlântica e à Amazônia e pode aumentar a rede de proteção em torno do Cerrado.

Um grupo interministerial entrega esta semana para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o Programa Cerrado Sustentável, com várias sugestões de como preservar a área. Entre elas, o aumento no número de unidades de conservação e a aplicação de mais critérios para a expansão da agropecuária, um dos principais setores da economia que ameaça o Cerrado.

Soja pode representar ameaça a florestas e cerrados da América do Sul

WWF Brasil

A expansão do cultivo da soja ameaça destruir cerca de 22 milhões de hectares (ou 220 mil quilômetros quadrados) de florestas e de cerrados na América do Sul até 2020 – uma área maior do que a do estado do Paraná e quase do tamanho do estado de São Paulo. Mas um estudo publicado hoje pela Rede WWF-Internacional, da qual faz parte o WWF-Brasil, mostra que esse dano poderia ser minimizado intercalando-se o cultivo da soja em pastagens existentes com a criação de gado, em lugar de se converter em novas áreas agrícolas as florestas e cerrados que ainda estão em pé e constituem um valioso habitat natural.

Este assunto será alvo do Fórum Global para Suntentabilidade da Soja a ser promovido nos dias 10 e 11 de março de 2005 no Brasil pelo WWF-Brasil, juntamente com o grupo Amaggi, Unilever, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – Fetraf-Sul/CUT, Cordaid (ONG holandesa) e o grupo varejista suíço Coop. O evento pretende reunir todas as partes interessadas na questão para discutir propostas com vistas à diminuição dos impactos negativos desta produção no ambiente.

Segundo o estudo, intitulado “Manejando a expansão da soja: dois cenários para a expansão da produção da soja na América do Sul”, nos últimos 10 anos a área de cultivo de soja mais do que dobrou de tamanho nos principais países produtores do continente – Argentina, Bolivia, Brasil e Paraguai. As exportações de soja desses países aumentaram devido à alta demanda da União Européia e da China, onde é usada para alimentar porcos, frango e gado e populações humanas, respectivamente. O relatório destaca que a agropecuária em geral e o cultivo de soja em especial já provocaram o quase total desaparecimento da Mata Atlântica no sul do Brasil durante as décadas de setenta e oitenta e a destruição de milhões de hectares do Chaco argentino e do Cerrado brasileiro – as savanas de maior diversidade do mundo e que servem de habitat para animais como o tamanduá, a onça e muitos outros.

O relatório adverte que a demanda de soja deve aumentar 60% nos próximos 20 anos e que isso pode resultar na preda de outros 16 milhões de hectares de savanas e 6 milhões de hectares de florestas tropicais na América do Sul. No entanto, seria possível reduzir esse estrago para cerca de 3,7 milhões de hectares desde que os produtores de soja concordem em arrendar as terras de pastagem usadas na pecuária e fazer um uso integrado das mesmas, alternando o cultivo de soja com o pastoreio. Testes de campo financiados pela Rede WWF mostraram que tal rotação melhora o solo e aumenta a produtividade do cultivo bem como aumenta a densidade por hectare, graças à melhor utilização dos recursos de pastagem e solo.

“O estudo mostra que é possível alcançar uma maior produtividade de soja sem destruir a natureza”, declara Matthias Diemer, diretor da Iniciativa de Conversão Florestal da Rede WWF-Internacional. Ele acrescenta que “o desenvolvimento de um uso mais intenso e eficiente da terra ao longo das estradas existentes e próximo a grandes centros populacionais irá reduzir a necessidade de desmatar habitats intactos”

Mas o estudo também destaca que para que tal cenário se torne real será preciso que os produtores de soja, investidores, compradores e reguladores apoiem, adotem e promovam práticas mais sustentáveis. Isso inclui incentivar os governos a aplicarem as leis e regulamentações ambientais e de uso da terra. É urgente a necessidade de adoção de critérios de rastreabilidade e o desenvolvimento de diretrizes de produção por meio de um organismo que envolva todas as partes interessadas. Uma primeira iniciativa nesse sentido ocorreu na Suíça, onde a cadeia de supermercado Coop, juntamente com o WWF, está discutindo critérios para a produção sustentável da soja.

“O WWF vai procurar outras empresas para participar da discussão”, disse Matthias Diemer, “pois a soja é um dos cultivos de maior demanda hoje no mundo e é fundamental que os consumidores possam, no futuro, comprar um produto que não contribua para a destruição das riquezas naturais da América do Sul”.

Brasil terá levantamento detalhado de cobertura vegetal por bioma

Até o segundo semestre de 2005 o Brasil terá um levantamento detalhado dos remanescentes da cobertura vegetal em cada um de seus seis biomas: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Campos Sulinos. O trabalho inédito, encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), fornecerá instrumentos para formulação de políticas públicas e utilização sustentável da biodiversidade do país. Como resultado, o país irá dispor de atlas, mapas gerais e regionais e uma base de dados sobre a cobertura vegetal.

A iniciativa irá uniformizar as informações sobre os biomas brasileiros, permitindo maior eficácia no planejamento de ações de conservação. Há uma grande diferença, também, em termos de qualidade e quantidade de informações sobre os diferentes biomas. A maior quantidade de dados é sobre a Amazônia e a Mata Atlântica, os únicos com programas permanentes de monitoramento da evolução da cobertura vegetal. Na Caatinga, por exemplo, o último levantamento parcial foi realizado há 15 anos. Para o Cerrado há apenas mapeamentos parciais realizados em alguns estados, mas sem dados gerais sobre o bioma.

Mesmo nas áreas mais documentadas, como a Amazônia e Mata Atlântica, os mapas são parciais e utilizam metodologias diferenciadas, dificultando análises comparativas. O gerente de Conservação da Biodiversidade do MMA, Bráulio Dias, informa que o trabalho deverá trazer novidades até mesmo sobre a Amazônia, que conta com um levantamento anual do desmatamento feito pelo INPE, mas que mapeia apenas a perda de floresta densa. "O levantamento irá mostrar as modificações também em áreas de cerrado da Amazônia, nos campos de lavradio e nas campinas, ecossistemas típicos da região mas que não são alvo do monitoramento do INPE", explica Dias.

O mapeamento encomendado pelo MMA abrange a totalidade dos biomas e exige a utilização da mesma metodologia por todas as instituições contratadas. Os resultados serão apresentados na escala de 1:250.000. Nos mapas finais devem ser inseridas as bases cartográficas de hidrografia principal, divisão política, áreas urbanas, cidades, municípios, malha viária principal e tipologias de vegetação. Os mapas digitais serão fornecidos pelo MMA e o ano-base é o de 2002.  Para a obtenção das imagens foi firmado acordo com o Inpe/Funcate. O IBGE irá fornecer a base cartográfica além de realizar o acompanhamento dos trabalhos juntamente com o MMA.

Um comitê de especialistas aprovou as propostas enviadas para cinco biomas. A proposta para a Mata Atlântica foi rejeitada por apresentar problemas técnicos e o Probio/MMA irá lançar, em breve, novo edital para o bioma.

Instituições responsáveis pelo levantamento:

CAATINGA
Associação Plantas do Nordeste – APNE
 
CAMPOS SULINOS
Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – FAURGS
 
CERRADO
Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Agronegócio – FAGRO
 
PANTANAL
Embrapa Informática Agropecuária – CNPTIA
 
AMAZÔNIA
Inpe/Funcate

Embrapa ensina o uso das plantas medicianais do cerrado

Comunidades situadas no nordeste de Goiás estão recebendo cursos de capacitação do projeto Conservação e Manejo da Biodiversidade do Bioma Cerrado – CMBBC, uma parceria entre a Embrapa Cerrados (Planaltina-DF), o Ibama, a UnB, o Ministério para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido-DFID, a Finatec e o Jardim Botânico de Edimburgo.

Três comunidades, situadas em Mambaí, Guarani de Goiás e Simolândia, recebem uma atenção especial. Elas são atendidas desde o início do projeto, em 2002, e receberam recursos para desenvolver planos de uso de recursos naturais do Cerrado de forma sustentável para a geração de renda junto com outras comunidades dentro de um edital que concedeu R$ 100 mil entre novembro de 2003 e janeiro deste ano.

Nos municípios, os cursos são abertos a toda a população. Os assuntos são associativismo rural aplicado ao manejo do Cerrado, planejamento estratégico participativo em comunidades rurais, o bioma Cerrado, culturas agrícolas tradicionais sustentáveis para agricultura familiar, horta orgânica para agricultura familiar no cerrado, criação e preservação da fauna silvestre para o cerrado, viveiro e produção de mudas de espécies nativas, plantas medicinais, processamento e aproveitamento alimentar de frutas nativas do Cerrado e legislação ambiental.

Farmácia do Cerrado

Entre os recursos concedidos pelo edital do CMBBC a partir do final de 2003, o que deu resultados mais rápidos foi o desejo da comunidade da Agrovila Mambaí de fazer sua própria farmácia a partir de plantas do Cerrado. Seus membros, que já sabiam identificar diversas espécies vegetais terapêuticas, conheceram outras e criaram até uma horta, ao lado da farmácia, para fazer os remédios.

Eles já tiveram um curso de preparação de remédios com uma farmacêutica e repetirão a dose nos dias 1 e 2 de outubro. Mas a falta de acesso à saúde faz com que o interesse pela farmácia do Cerrado também esteja presente em outros municípios. Por isso, o CMBBC oferece um curso em Alto Paraíso, também no nordeste de Goiás, entre 4 e 7 de setembro. O assentamento Belo Horizonte, em Guarani de Goiás, recebe o curso em 29 e 30 de outubro. Outros municípios participantes da programação de cursos são Colinas do Sul, Damianópolis e Pirenópolis.

A Embrapa Cerrados é uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, empresa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuário e Meio Ambiente.