A comercialização do defensivo agrícola aldicarbe, também usado para produzir o raticida popularmente conhecido como chumbinho, foi tema hoje (30) de audiência na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. A reunião teve o objetivo de esclarecer os parlamentares sobre a conveniência de manter ou proibir a venda do Temik 150, que tem a substância como principal componente.
O pesticida tem a produção proibida no Brasil, sendo lícita somente a venda controlada para uso em culturas de café, laranja, batata e cana-de-açúcar. No entanto, o produto, é comercializado ilegalmente para a produção do chumbinho.
Projeto do deputado Fernando Coruja (PPS-SC) propõe a proibição da entrada em todo o país do produto, atualmente comercializado em Minas Gerais, Bahia e São Paulo. O relator do projeto, deputado Cláudio Diaz (PSDB-RS), defende o cancelamento de todos os registros de agrotóxicos com aldicarbe na composição.
De acordo com o relator, o projeto poderá ser levado a votação amanhã (31) na reunião da comissão. Ele reconheceu, entretanto, que a aprovação da proibição enfrentará muitas dificuldades. “Especialmente entre os que defendem a lucratividade da agricultura a qualquer custo”, salientou.
Segundo Diaz, o prazo para a proibição pode ser negociado, mas ele recomenda aos agricultores que utilizam o produto que procurem alternativas para o pesticida. “A pesquisa no Brasil deveria ser incentivada para isso”, ressaltou durante o debate.
O parlamentar ressaltou que o aldicarbe foi proibido em vários países. Ele afirmou ainda que o uso do agrotóxico pode afetar as exportações brasileiras. “O Japão já proibiu a compra de café que utiliza no seu cultivo esse produto, assim como fará o Mercado Comum Europeu no final deste ano na compra de cítricos”, afirmou.
Segundo o biólogo Sérgio Greif, que também esteve na audiência, o defensivo é responsável por um terço dos envenenamentos dos humanos. Entre os animais, 89% dos casos de envenenamento de cães e 94% das intoxicações de gatos são causadas pelo aldicarbe.
Greif divulgou estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) segundo o qual as principais vítimas do aldicarbe são os que fabricam, manipulam e aplicam o produto. No Brasil, há alto índice de envenenamento de crianças, em casos acidentais, e também entre suicidas.
O biólogo disse ainda que a ingestão de 0,02 miligrama por quilo de massa corpórea é suficiente para causar danos irreversíveis aos seres humanos. “Quando não é letal, o veneno afeta todo o sistema nervoso e imunológico, causando toda uma série de distúrbios como diarréias, cólicas abdominais, suor excessivo, contração e dilatação alternada da pupila, câimbra, fraqueza, sonolência entre muitos outros efeitos”, afirmou.
A proposta já recebeu voto em separado do deputado Dilceu Sperafico (PP-PR), que apresentou voto em separado discordando da proibição. Sperafico argumentou que o aldicarbe é o único ingrediente ativo registrado para o controle de algumas pragas que atacam a citricultura.
Para Sperafico, a possível proibição da venda do aldicarbe não coibirá a fabricação do chumbinho, já que o raticida pode ser fabricado também com outros defensivos agrícolas. “Além disso, o aldicarbe ser mais um produto contrabandeado, pois é vendido livremente nos países vizinhos do Brasil”, argumentou.