Ministério do Meio Ambiente anuncia série de ações para a Mata Atlântica

O MMA – Ministério do Meio Ambiente anuncia nesta sexta-feira (18), no Vale do Ribeira, em São Paulo, o repasse de recursos para a criação de unidades de conservação federais, estaduais, municipais e privadas, implantação de corredores ecológicos, plantio de florestas, pesquisas e promoção do ecoturismo na Mata Atlântica. No Vale, encontram-se importantes remanescentes da floresta que cobria 1,3 milhão de quilômetros quadrados, do nordeste ao sul do país.

O evento contará com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e será realizado a partir das 10h no Salão do Registro Base-Ball Clube, no município de Registro, a 180 quilômetros da capital paulista. As ações serão realizadas em parceria com os ministérios do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário.

Os recursos são da Cooperação Alemã e do próprio MMA e servirão para projetos que serão executados por organizações civis sem fins lucrativos. Essas poderão realizar parcerias com instituições públicas e de ensino e pesquisa. "Os investimentos são resultado de amplo debate com diversos setores da sociedade, em especial com a Rede de ONGs da Mata Atlântica", disse Wigold Schäffer, diretor de Mata Atlântica e Pampa do MMA.

Para o repasse, serão realizadas duas chamadas para projetos, em nível nacional e local/regional. Além da chamada nacional, ao longo do ano serão lançadas outras iniciativas para: implantação de um programa de monitoramento participativo da Mata Atlântica; estudos sobre os serviços ambientais da Mata Atlântica e desenvolvimento de mecanismos financeiros inovadores; campanha de conscientização e mobilização sobre preservação do bioma; elaboração de planos e implantação de corredores ecológicos em áreas prioritárias.

A Mata Atlântica, Patrimônio Nacional de acordo com a Constituição, cobria originalmente mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados do território brasileiro. Se estendia total ou parcialmente por dezessete estados, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Hoje, a floresta está reduzida a cerca de 8% de sua área original. Além de ser um dos biomas mais ricos do  mundo em biodiversidade, tem importância vital para mais de 120 milhões de brasileiros que vivem em seu domínio.

Em sua área de abrangência, é gerado mais de 70% do Produto Interno Bruto, o que eleva a importância estratégica da região para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Além disso, presta importantíssimos serviços ambientais, principalmente relacionados à conservação da água. Algumas bacias hidrográficas localizadas na Mata Atlântica são responsáveis pelo abastecimento da maior parte da população brasileira.

Soja pode representar ameaça a florestas e cerrados da América do Sul

WWF Brasil

A expansão do cultivo da soja ameaça destruir cerca de 22 milhões de hectares (ou 220 mil quilômetros quadrados) de florestas e de cerrados na América do Sul até 2020 – uma área maior do que a do estado do Paraná e quase do tamanho do estado de São Paulo. Mas um estudo publicado hoje pela Rede WWF-Internacional, da qual faz parte o WWF-Brasil, mostra que esse dano poderia ser minimizado intercalando-se o cultivo da soja em pastagens existentes com a criação de gado, em lugar de se converter em novas áreas agrícolas as florestas e cerrados que ainda estão em pé e constituem um valioso habitat natural.

Este assunto será alvo do Fórum Global para Suntentabilidade da Soja a ser promovido nos dias 10 e 11 de março de 2005 no Brasil pelo WWF-Brasil, juntamente com o grupo Amaggi, Unilever, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – Fetraf-Sul/CUT, Cordaid (ONG holandesa) e o grupo varejista suíço Coop. O evento pretende reunir todas as partes interessadas na questão para discutir propostas com vistas à diminuição dos impactos negativos desta produção no ambiente.

Segundo o estudo, intitulado “Manejando a expansão da soja: dois cenários para a expansão da produção da soja na América do Sul”, nos últimos 10 anos a área de cultivo de soja mais do que dobrou de tamanho nos principais países produtores do continente – Argentina, Bolivia, Brasil e Paraguai. As exportações de soja desses países aumentaram devido à alta demanda da União Européia e da China, onde é usada para alimentar porcos, frango e gado e populações humanas, respectivamente. O relatório destaca que a agropecuária em geral e o cultivo de soja em especial já provocaram o quase total desaparecimento da Mata Atlântica no sul do Brasil durante as décadas de setenta e oitenta e a destruição de milhões de hectares do Chaco argentino e do Cerrado brasileiro – as savanas de maior diversidade do mundo e que servem de habitat para animais como o tamanduá, a onça e muitos outros.

O relatório adverte que a demanda de soja deve aumentar 60% nos próximos 20 anos e que isso pode resultar na preda de outros 16 milhões de hectares de savanas e 6 milhões de hectares de florestas tropicais na América do Sul. No entanto, seria possível reduzir esse estrago para cerca de 3,7 milhões de hectares desde que os produtores de soja concordem em arrendar as terras de pastagem usadas na pecuária e fazer um uso integrado das mesmas, alternando o cultivo de soja com o pastoreio. Testes de campo financiados pela Rede WWF mostraram que tal rotação melhora o solo e aumenta a produtividade do cultivo bem como aumenta a densidade por hectare, graças à melhor utilização dos recursos de pastagem e solo.

“O estudo mostra que é possível alcançar uma maior produtividade de soja sem destruir a natureza”, declara Matthias Diemer, diretor da Iniciativa de Conversão Florestal da Rede WWF-Internacional. Ele acrescenta que “o desenvolvimento de um uso mais intenso e eficiente da terra ao longo das estradas existentes e próximo a grandes centros populacionais irá reduzir a necessidade de desmatar habitats intactos”

Mas o estudo também destaca que para que tal cenário se torne real será preciso que os produtores de soja, investidores, compradores e reguladores apoiem, adotem e promovam práticas mais sustentáveis. Isso inclui incentivar os governos a aplicarem as leis e regulamentações ambientais e de uso da terra. É urgente a necessidade de adoção de critérios de rastreabilidade e o desenvolvimento de diretrizes de produção por meio de um organismo que envolva todas as partes interessadas. Uma primeira iniciativa nesse sentido ocorreu na Suíça, onde a cadeia de supermercado Coop, juntamente com o WWF, está discutindo critérios para a produção sustentável da soja.

“O WWF vai procurar outras empresas para participar da discussão”, disse Matthias Diemer, “pois a soja é um dos cultivos de maior demanda hoje no mundo e é fundamental que os consumidores possam, no futuro, comprar um produto que não contribua para a destruição das riquezas naturais da América do Sul”.