Pesquisa mostra que terras indígenas ajudam a prevenir desmatamento

Manaus – As terras indígenas ajudam a prevenir o desmatamento tanto quanto as unidades de conservação de uso indireto, como os parques nacionais, que não admitem a presença de moradores. Esta é a principal conclusão de um estudo que comparou o desmatamento dentro e fora de 121 terras indígenas brasileiras, 15 parques nacionais, dez reservas extrativistas e 18 florestas nacionais, entre 1997 e 2000.

"Existe a idéia de que a presença de pessoas pode ser prejudicial ao meio ambiente. Mas isso nem sempre é verdade", declarou à Radiobrás o pesquisador norte-americano coordenador do estudo, Daniel Nepstad. Ele trabalha há 21 anos no Brasil e atualmente dá aulas como professor visitante no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (Naea/UFPA), além de fazer parte do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipam).

Entre 2002 e 2004, pesquisadores de sete instituições brasileiras e norte-americanas analisaram as imagens de satélite e mediram o desmatamento em uma faixa de dez quilômetros para dentro e para fora das reservas, a partir da linha demarcatória. "Assim a gente consegue comparar parques que estão em áreas isoladas, com praticamente nenhuma pressão, com terras indígenas em áreas disputadas por madereiros e pelo agronegócio", justificou Nepstad. Apesar de ter sido finalizado há meses, a pesquisa ganhou visibilidade apenas neste ano, a partir da publicação na revista especializada Conservation Biology.

"O desmatamento no interior das terras indígenas foi dez vezes menor do que no seu entorno. Nos parques nacionais, esse coeficiente foi de vinte vezes menos desmatamento", informou o pesquisador. "Mas se a gente considerar que o desmatamento ao redor das áreas indígenas é em média o dobro observado às margens dos parques nacionais, veremos que na prática o efeito inibidor é o mesmo".

"Nós somos os verdadeiros ambientalistas e preservadores da natureza. Há mais de 500 anos de invasão do Brasil, estamos aqui. E a gente continua do jeito que sempre foi, sem degradar, sem desmatar", afirmou um dos diretores da Coordernação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jenival dos Santos, da etnia Mayoruna.

A Coiab existe desde 1989 e reúne 75 organizações indígenas representantes de 165 etnias. Há dois anos, a entidade criou um departamento Etno-Ambiental. "Ele é responsável pelo levantamento de dados sobre as terras indígenas ameaçadas. No dia 25 de fevereiro, vamos divulgar um balanço em Brasília", revelou Santos. "Vamos confirmar com detalhes o que essa pesquisa apontou. E também dar uma resposta aos governantes que dizem que o país tem muita terra para pouco índio".

Presidente da Funai demite Sidney Possuelo por fazer críticas

O sertanista Sidney Possuelo foi exonerado do cargo de Coordenador Geral de Índios Isolados na última sexta-feira por fazer críticas ao posicionamento do presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, sobre as terras indígenas. Mércio afirmou à agência de notícias Reuters, no dia 12 de janeiro de 2006, que “É terra demais. Até agora, não há limites para suas reivindicações fundiárias, mas estamos chegando a um ponto em que o Supremo Tribunal Federal terá de definir um limite”.

Discordando de Mércio, Possuelo afirmou ao jornal O Estado de São Paulo, do dia 14 de janeiro: “já ouvi esse discurso de fazendeiro, grileiro, garimpeiro, madereiro. Mas de presidente da Funai é a primeira vez. É de assustar”.

Para Possuelo, “se a nossa autoridade maior diz que tem muita terra para o índio, ela está afirmando que a sociedade nacional e os destruidores têm razão”.

“É a mesma coisa que um ministro dizer que não defende a Justiça e a ministra do Meio Ambiente pedir a derrubada de árvores”, comparou o sertanista.

Sertanista brasileiro receberá medalha na Inglaterra

Com a aprovação da Rainha da Inglatera, Elizabeth II, a “The Royal Geographical Society” (Sociedade Real Geográfica), fundada em 1830, entregará na próxima segunda-feira (7), em Londres, a Medalha de Benfeitor, de ouro, ao coordenador-geral de Índios Isolados da Fundação Nacional do Índio (Funai), o sertanista brasileiro Sidney Possuelo. O prêmio será dado ao ex-presidente da Funai por sua contribuição “ao meio ambiente e aos direitos humanos” e pelos resultados apresentados nos últimos 40 anos de dedicação à causa dos indígenas.

No discurso de três minutos, já escrito, Possuelo garantiu, durante entrevista por telefone ao programa "Revista Amazônia", da Rádio Nacional da Amazônia, que primeiro agradecerá à Rainha por ter aprovado a concessão do prêmio e depois lembrará que não o receberia se não fosse a existência dos povos indígenas "e dos companheiros, inclusive mateiros, que se esforçaram pela causa ao longo destes anos, na Amazônia toda". Possuelo falou por telefone porque estava na aldeia dos índios Ué, na fronteira Brasil-Suriname.

Ainda na entrevista, o sertanista lamentou o conceito de segurança nacional que impede a existência de aldeias indígenas em áreas de fronteira e disse que "os índios vão ficando parecidos com os brancos, inclusive na violência". Defendeu o trabalho atual de defesa dos índios isolados e da floresta ameaçada. E garantiu que é preciso “acabar com esta história de acusar a Funai, como se ela fosse um órgão estrangeiro”, lembrando que ela pertence ao Ministério da Justiça e portanto luta sempre pela soberania nacional.

Prêmio ajudará debate "tranqüilo" da causa indígena, diz sertanista

A medalha de ouro que o sertanista brasileiro Sidney Possuelo receberá na próxima segunda-feira, na Inglaterra, poderá servir para ajudar a melhorar “indiretamente”, o que ele chamou de “debate calmo e tranqüilo" da causa indígena, "que o povo brasileiro em geral não consegue enxergar, olhando as condições históricas e sem muita pressão ou emoção, principalmente neste momento difícil, às vezes até de violência.”

Sidney Possuelo no momento trabalha apenas com índios ainda isolados na Amazônia, em cinco pontos diferentes, para evitar, segundo disse, que “seja feito um contato indiscriminado com eles”. Também está envolvido na “preservação de grandes áreas de floresta, tão importantes para os indígenas e também para o futuro da nação brasileira”.

O sertanista começou a trabalhar com os irmãos Cláudio e Orlando Villas Boas, que já receberam a mesma medalha da Sociedade Real Geográfica, há 37 anos. E classifica o atual momento de "difícil" em relação a alguns conflitos, como o dos índios Cintas-Largas, de Rondônia. “Os índios, à medida que o tempo passa, vão ficando parecidos com aqueles que fizeram contato com eles e tendo problemas, às vezes, até de violência”, disse Possuelo, para quem os índios integrados – ao contrário dos isolados, que ainda vivem da caça e pesca e andam nus – "têm que arrumar maneiras de sobreviver na sociedade brasileira, que não é feita por eles ou para eles e na qual são inseridos forçosamente e, geralmente, sem grandes opções.”

Sobre o conceito de segurança nacional para as áreas de fronteira em que existam povos indígenas, invocado recentemente na discussão para a homologação da Reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, o sertanista lembrou que quando é demarcada uma terra indígena em área de fronteira “a propriedade é da União e não do índio”. Explicou que com isso evita-se inclusive que a área seja ocupada por “narcotraficantes e contrabandistas”. E defendeu o atendimento aos índios em saúde e educação: "Quanto mais forem auxiliados, mais se sentirão brasileiros".

Medalha

Desde 1830, quando foi criada, a Sociedade Real Geográfica, da Inglaterra, já concedeu a medalha de ouro que será entregue a Sidney Possuelo no dia 7, a figuras famosas de todo o mundo. Em 1855, por exemplo, foi a vez do missionário David Livingstone que combateu o tráfico de escravos e foi o descobridor das cataratas Vitória, na África, onde pediu para ter seu coração enterado.

Em 1892, o naturalista inglês Alfred Russel Wallace, que viveu quatro anos nas selvas do Pará e Amazonas, recebeu a medalha, entregue depois, em 1898, a Robert Peary, primeiro a chegar ao Pólo Norte; e em 1907, a Roald Amundsen, o primeiro a ver o Pólo Sul. Dois outros premiados têm relação com a Amazônia brasileira: em 1916, Percy Harrison Fawcett, que desapareceu na Serra do Roncador; e na década de 80, Jacques Cousteau, que navegou com o barco Calypso pelo Rio Amazonas.

O sertanista brasileiro Sidney Possuelo tem 64 anos, seis filhos, e hoje fica mais tempo no Vale do Javari, no Amazonas, fronteira do Brasil com a Colômbia e Peru, onde existem cinco áreas de povos indígenas em isolamento.

Funai termina Expedição Tenente Alípio Bandeira no Amazonas

A expedição que verificou a extensão das terras ocupadas por índios isolados no extremo oeste do estado do Amazonas, na Terra Indígena Vale do Javari, iniciada dia 8 de agosto deste ano, chegou ao fim no início de setembro. O grupo de 34 pessoas, composto por índios e sertanistas, foi chefiado por Sydney Ferreira Possuelo, chefe do Departamento de Índios Isolados da FUNAI.

No total foram percorridos quase 4.000km, sendo a maior parte, 3.476km, em barcos motorizados, 267km a pé na selva e 371km de canoa.
Os índios que acompanharam Possuelo pertenciam às etnias Marubo, Kanamari e Matiz.