É um tanto intangível para as gerações mais novas imaginar porque o Velho Francisco foi o Rio da Integração Nacional. Rio de Janeiro era a capital, e o Nordeste era o Brasil a que ela se integrava. Mas isso fica ainda mais claro quando ouvimos as histórias de quem viveu essa época exatamente no meio do caminho, entre Pirapora – MG e Juazeiro – BA, no porto de Itacarambi – MG.
Seo Jaime Pacheco, 76 anos, 40 pescando no São Francisco, lembra-se muito bem da época em que 12 vapores faziam o trajeto, trazendo riqueza e comércio para a região. “Na época da guerra os vapores foram a salvação”, lembra-se orgulhoso. “Os expedicionários brasileiros subiram dentro dos vapores para embarcar para a Europa, evitando serem torpedeados pelo inimigo”, lembra-se orgulhoso.
“Durante a guerra os vapores foram a salvação”, lembra-se seo Jaime. Foto: Marcello Larcher
Dona Floripes Leles de França Andrada, 75 anos, foi ainda menina para Itacarambi, aos 13 anos partiu de sua Bahia natal no Barão de Cotegipe, um dos vapores mais famosos. Em Minas cresceu, casou-se, trabalhou por 25 anos no grupo escolar e criou seis filhos. Aliás, fica difícil saber o que é Minas e o que é Bahia, tudo fica um sertão só.
Dona Floripes, veio da Bahia mas considera-se mineira. Foto: Marcello Larcher
Outro que veio da Bahia foi seo Salustiel Leão de Sousa, 79 anos. Ele se ressente dos vapores ancorados em Juazeiro e Pirapora e da falta de peixes. Ele diz que antes das barragens o rio corria mais, e que assim parado ele come as margens, mata as árvores e afasta os peixes. Para ele a solução só Deus pode dar, pois são as chuvas que trazem as cheias. Mal sabe seu Salatiel que, com Três Marias e Sobradinho, as cheias só podem vir por obra das comportas.
Para seo Salustiel, só um milagre pode salvar o rio. Foto: Marcello Larcher.