Projeto aprovado na Câmara prevê exploração sustentável de florestas públicas

Combater o desmatamento da Amazônia sem deixar de aproveitar o potencial econômico da região. Em síntese, esse é o objetivo do projeto de lei 4776/05, aprovado anteontem (6), às 23h45, pela Câmara dos Deputados. De autoria do poder Executivo, o projeto prevê a concessão de florestas públicas para exploração sustentável da iniciativa privada.

"Esse projeto foi concebido no âmbito do plano de prevenção e controle ao desmatamento, pois é consenso entre os especialistas e as instituições que trabalham com a Amazônia que somente a valorização da floresta em pé é que poderá mudar o modelo de desenvolvimento econômico hoje implementado na região, que se baseia na substituição da floresta", explica o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco.

A concessão será feita por meio de licitação, com o objetivo de privilegiar as empresas que oferecerem o melhor preço e cujos projetos tenham o menor impacto ambiental e o maior benefício socioeconômico. Capobianco afirma ainda que os vencedores não terão direito à posse da terra, apenas receberão o direito de uso das florestas, que continuam a ser patrimônio da União.

"O projeto não é um projeto de concessão, é um projeto de gestão de florestas públicas sendo que a possibilidade de concessão só é analisada após a identificação se aquela área deve ser transformada em reserva ambiental ou se ela deve ser destinada ao uso de uma população tradicional. Somente depois de esgotadas essas duas alternativas é que ela pode ser objeto de concessão", informa o secretário.

As florestas poderão ser utilizadas tanto para fins extrativistas, como a retirada de madeira, quanto para atividades não-extrativistas, como o ecoturismo. A concessão será limitada ao prazo máximo de 40 anos e apenas para empresas brasileiras. Segundo Capobianco, com exceção das áreas protegidas, que compreendem as terras indígenas e as unidades de conservação, cerca de 45% da Amazônia é de terras da União. Dentro desse percentual, a projeto de lei estabelece que, nos primeiros dez anos, apenas 20% das terras da União poderá se licitada.

No projeto aprovado também consta uma emenda que protege os pequenos empreendedores e garante o direito de continuidade por cinco anos das atividades que já são desenvolvidas em terras de até 2,5 mil hectares.

O controle das concessões e gestão das florestas ficará a cargo do recém-criado Serviço Florestal Brasileiro (SFB), e os recursos advindos das concessões irão compor o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (FNDF). O projeto será agora analisado pelo Senado Federal e, se aprovado, segue para a sanção presidencial. Segundo o secretário, o objetivo é aplicar alguns dos dispositivos previstos na lei ainda neste ano.

Projeto de gestão de floresta deve aumentar fiscalizações do Ibama, diz presidente do instituto

O presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcus Barros, diz acreditar que o projeto de lei de gestão de florestas públicas, se aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente da República, aumentará as fiscalizações exercidas pelo órgão. Com mais trabalho, Barros afirma que novos concursos públicos para o Ibama poderão ser realizados.

"O Ibama é fiscalizador do meio ambiente, e isso vai se ampliar porque parte dos recursos vindos da concessão de florestas virá para o Ibama para essa atividade de fiscalização", disse Marcos Barros. "Mais possibilidades se abrem e, além do concurso que fizemos no último domingo, até março devemos fazer novo concurso, no qual chamaremos mais 600 pessoas, para ampliar esse papel do Ibama na preservação da Amazônia a partir da lei de florestas públicas", completou.

Hoje (8), em entrevista à Agência Brasil , Barros afirmou que a essência do projeto será a de "dar ordem" à Amazônia, racionalizando a exploração de madeiras pelas indústrias que possuem certificação e, conseqüentemente, diminuindo o desmatamento ilegal.

Barros previne, no entanto, que a concessão deverá estar "sob os olhos do Estado", sob a fiscalização do Ibama. "Essa concessão tem que estar sob os olhos do Estado. Para aquele que recebe a concessão, existem condicionantes fortes a serem cumpridos, como a questão do manejo e do relacionamento com as populações tradicionais. Há que se buscar, e o próprio projeto traz esse reforço, melhorar a fiscalização do Ibama nessa área específica de concessão de florestas."

Duas florestas nacionais do Amazonas com 567 mil hectares terão plano de manejo

Duas Florestas Nacionais (Flonas) de Boca do Acre, no sudoeste do Amazonas, criadas na década de 80, terão enfim o Plano de Manejo: a Flona Purus e a Mapiá-Inauini. A primeira tem 256 mil hectares e foi criada pelo decreto 96.190/88; a segunda tem 311 mil hectares e foi estabelecida pelo decreto 98.501/89.

"Os técnicos do Ibama e da Universidade Federal de Viçosa (UFV) há uma semana percorrem a área para fazer o laudo biológico e sócio-econômico", informou Virgílio Ferraz, chefe de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Amazonas. Segundo ele, o instituto não sabe hoje quantas famílias moram nas duas reservas nem tem clareza ainda do potencial extrativista dessas áreas. "Por isso esse levantamento é etapa fundamental para a elaboração do Plano de Manejo, que deve contar com a participação dos moradores das Flonas", esclareceu Ferraz.

Flonas são unidades de conservação de uso sustentável – ou seja, áreas de proteção ambiental que permitem a existência de moradores. O objetivo principal delas é o de promover a exploração regulada dos recursos madereiros. Desde a publicação da Lei nº 9.985, de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), toda unidade de conservação foi obrigada a ter um Plano de Manejo – documento que estabelece como e por quem as riquezas naturais podem ser economicamente aproveitadas, com baixo impacto ambiental.

Segundo Ferraz, outro ponto importante do levantamento é que ele possibilitará que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheça as famílias que moram nas duas Flonas como beneficiárias da Reforma Agrária. De acordo com Miguel Abi Abib, chefe da administração do Incra no Amazonas, a visita às Flonas Purus e Mapiá-Inauini está na programação dos técnicos da unidade avançada do Incra em Boca do Acre. "Eles já deveriam estar em campo para fazer o cadastramento dessas famílias, mas o trabalho foi adiado porque o escritório local do Incra foi ocupado há uma semana", informou.

Projeto da Funai preserva o Tracajá

A Coordenação de Proteção às Terras Indígenas, da Coordenação-Geral de Patrimônio Indígena da Funai, implantou no Parque Indígena do Xingu um projeto de manejo de tracajá. A idéia foi do índio Pablo Kamayurá, da Aldeia Morena. Há algum tempo Pablo Kamayurá vinha tentando a execução desse projeto, em função do decréscimo populacional da espécie, acarretado principalmente pela introdução de novas técnicas de captura utilizadas pelos índios. Antigamente os deslocamentos à procura do tracajá eram feitos a pé ou nas canoas tradicionais. Além disso, os índios se utilizavam apenas do arco e da flecha para fazer a captura. Ultimamente, com o advento de embarcações motorizadas, que permite percorrer distâncias maiores, os índios já utilizam meios de captura mais eficientes de captura, como o anzol e o espinhel (corda enorme que presa nas duas margens de um rio e na qual são afixadas enormes quantidades de anzóis).

tracaja.jpgO projeto teve a sua implantação planejada em três etapas. A primeira, já realizada, durou 15 dias: entre 20 de agosto a 5 de novembro. Nesse período ocorreu a desova e foi feito o trabalho de proteção dos ovos, para evitar a ação de predadores. Durante essa fase, o estudante de Biologia do Uniceub e colaborador da CPTI, Ladislau Brito, e Pablo Kamayurá fizeram a seleção das praias a serem protegidas e manejadas. Foram protegidas 170 covas. Em cada uma foi fixada uma caixa telada (espécie de gaiola), para evitar a ação dos predadores. Além da proibição do consumo de ovos de tracajá pelos Kamayurá, houve uma vigília constante, para evitar que outros índios fossem recolher os ovos. O consumo de ovos de tracajá é uma tradição dos Kamayurá e de outros índios que vivem próximos a rios onde também há ocorrência da espécie.

Toda a comunidade Kamayurá da Aldeia Morena foi envolvida no projeto. Os índios tiveram aulas de educação ambiental e foram eles, também, os fiscais das praias, até a eclosão dos ovos. Placas educativas, escritas em português e na língua Kamayurá, foram colocadas nas praias, alertando para a importância do projeto.Mas o interesse não foi apenas dos Kamayurá. Em função da veiculação do projeto, via rádio para todas as aldeias do Xingu, diversas lideranças demonstraram interesse em participar de projeto semelhante no próximo ano. Houve grande aceitação, por exemplo, entre os Kayabi e os Ikpeng.

A segunda etapa foi desenvolvida entre os dias 6 de novembro a 20 de dezembro. Nesse período os filhotes foram coletados e levados para um criatório provisório, até que pudessem ser soltos nos rios. Foram coletados 337 filhotes.O período de permanência no criatório é de aproximadamente um mês, tempo suficiente para que percam o cheiro forte que exalam e que atrai os predadores. Essa ação aumenta a taxa de sobrevivência.

A terceira e última etapa consiste na soltura dos filhotes. Para que a eficiência do trabalho seja mantida, serão escolhidos locais mais adequados, preferencialmente os de difícil acesso aos predadores, ou seja, praias de rios que tenham vegetação mais densa e acesso mais difícil. Durante o período de permanência nos viveiros os tracajás serão alimentados com peixes, folhas de vegetais e frutas como a melancia e a manga. Os recursos para a implantação do projeto foram disponibilizados pela CPTI/CGPIMA.

RAN/Ibama inicia projeto para proteção de tartarugas e jacarés

O Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN), centro especializado do Ibama com sede em Goiânia, inicia hoje, auge da desova da tartaruga, o Projeto Quelônios da Amazônia que, em sua 1ª etapa, fará um trabalho de recuperação das tartarugas (répteis da ordem dos quelônios) que se reproduzem nas praias da bacia do rio Araguaia. Esse trabalho de campo é realizado pelo RAN, juntamente com a Área de Proteção Ambiental (APA) Meandros do Araguaia, voluntários das Universidades Federal de Goiás (UFG) Católica de Goiás (UCG) e agentes de praia contratados pelo Ibama. O projeto se estende 6 de outubro.

Durante os meses de agosto a dezembro, a APA Meandros do Araguaia realiza o manejo das tartarugas da Amazônia. No local, há vários rios, praias e ninhos. Nesse período, é proibido o uso de jet ski, barcos de pesca e barcos de turismo, trânsito de pessoas e animais domésticos, uso de fogo e objetos que causam reflexos e ruídos altos, sendo permitido apenas o trânsito por barco realizado pelos ribeirinhos. Isso evita que as tartarugas caminhem para praias não protegidas, ficando expostas à captura por pescadores. Nesse ano, o Projeto Quelônios inicia o manejo na área conhecida como Remansão, situada próxima ao município de Luís Alves seguindo até Bandeirantes, totalizando 100 km de rio.

Em média, cada tartaruga põe l00 ovos, que permanecem no ninho durante 55 dias. Os ovos só podem ser retirados do ninho quando os umbigo das tartarugas encontram-se sarados, sem vitelo. Nesse período, especialistas do Projeto Quelônios abrem os ninhos e retiram os filhotes, colocando-os em berçários durante uma semana, antes que eles subam para a areia. Os berçários são formados no barranco do rio, onde é perfurado um buraco de 40 centímetros de profundidade forrado por uma lona, onde se colocam água e os filhotes. Do total dos filhotes que nascem, somente 10% ficam disponíveis para criadouros comerciais. O restante é solto nos lagos.

De cada 1.000 animais que nascem, apenas cinco chegam à idade adulta. Por isso, o RAN/Ibama disponibiliza uma parte da produção dos filhotes para os criadouros comerciais sem cobrar nada, visando fomentar o programa de criação de quelônios em cativeiro.

Noventa por cento dos filhotes doados aos criadouros sobrevivem e podem ser comercializados. O RAN doa somente uma vez e delega ao criador a tarefa de promover a reprodução dos filhotes no próprio criadouro. O processo de criação em criadouro comercial evita o mercado clandestino, estimula a produção e oferta de proteína de qualidade para as comunidades ribeirinhas da Amazônia, gerando também maior oferta de emprego e de renda. A Portaria RAN/Ibama nº 142, de 1992, permite a criação de tartaruga e tracajá e a portaria nº 70, de 1996 permite sua comercialização.

O Projeto Quelônios da Amazônia tem feito um trabalho com a comunidade ribeirinha visando a proteção das tartarugas, estimulando o manejo do animal e a proteção das praias. Os ribeirinhos são os maiores consumidores destas espécies. O projeto também permite a fixação do ribeirinho ao seu local de origem.

Operação jacaré – Também tem início hoje uma pesquisa sobre o jacaré-açu, que integra o anexo 1 da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção (Cites). A pesquisa, que se estende até 1º de outubro, será realizada na área de Remansão, na bacia do rio Araguaia, no período noturno, visando obter um levantamento científico para melhor conhecimento das atividades do jacaré-açu.

Pesquisadores do Brasil consideram que essa espécie não está ameaçada. No entanto, a Convenção exige uma pesquisa de levantamento populacional do jacaré-açu. O Ibama realiza esta pesquisa em vários pontos do país. Maiores informações poderão ser obtidas com Kelly pelo telefone: 225-0770 ou 9975-8899 ou com Weber no fone (062) 364-1606.