Aproveitamos o dia de hoje para fazer uma pequena viagem, fomos conhecer o Narro na aldeia Kuikuro. Com mais de 90 anos de idade, ele foi o primeiro índio xinguano a falar português, servindo de intérprete logo que a Expedição Roncador-Xingu chegou aqui. Muito velhinho, porém lúcido, ele tem sérios problemas de audição.
O caminho até lá foi bem cansativo, navegamos cerca de duas horas, aportamos, e andamos mais uma hora até a aldeia. Chegando lá, atravessamos um pântano com água até a cintura. Sem enxergar o chão, fomos tropeçando em paus e pedras. Enquanto tentávamos afastar o pensamento no que mais poderia estar nadando ali embaixo, ficamos apreciando um pouco da natureza do lugar, em especial as plantas aquáticas. Na volta, o Pedro até viu um pouco da fauna local, uma cobrinha que passou à nossa frente nadando.
Fomos recebidos na casa do cacique Kuikuro, chamado Afukaká. Explicamos nosso trabalho e conversamos um pouco com ele sobre a chegada dos não-índios e a situação atual da comunidade. Depois, seguimos para nos encontrar com o Narro. Por causa do problema de audição, não foi possível conversar com ele como queríamos. Mesmo assim, batemos um longo papo com seu filho, Jakalo.
Voltamos ao barco por volta das 15h, atravessando o mesmo caminho num sol ainda mais quente. Chegamos ao Posto Leonardo só no início da noite. Por isso mesmo, decidimos publicar hoje apenas este diário de viagem.
Fernando Zarur
PS – Ontem o Pedro Ivo foi, sozinho, visitar a aldeia Kamaiurá. Voltou besuntado de urucum, com a pele ridiculamente vermelha. Por falar em rubro e negro, o papo na aldeia Yawalapiti foi que o Parú (colega flamenguista) teve uma premunição espiritual do final do jogo e ficou triste ainda no primeiro tempo. Eu faço minhas previsões otimistas para semana que vem, Flamengo 3 X 0 Vasco.