Logo na saída do porto de Itacarambi – MG, a Expedição Américo Vespúcio entrou no que parecia ser um pequeno rio, afluente do Velho Chico. Era na verdade o canal de adução do maior projeto de irrigação da América Latina, o Jaíba, uma área de 100 mil hectares entre o alto rio Verde Grande e o São Francisco, responsável pela produção da maior parte dos alimentos produzidos no norte de Minas. Em 2000 foram 58 mil toneladas, entre frutas, sementes de hortaliças e grãos.
Além de ser um afluente ao contrário, com potencial de retirar do São Francisco até 80 m³/s de água, vazão maior que a de rios pequenos, também é uma hidrelétrica às avessas, chegando a gastar 300 kw/h nos meses de seca, em que há maior bombeamento, para subir a água necessária para a irrigação. A área irrigável é de 67 mil hectares, mas apenas 33 mil hectares estão ocupadas, com mais 17 mil prontos para receber irrigação nos próximos anos.
“À medida em que utilizamos novas técnicas de irrigação poupadoras de água, como a aspersão e o gotejamento, podemos aumentar a área irrigável sem dispor de mais águas do rio”, explica Carlos Antônio Landi Pereira, gerente do projeto Jaíba. Foram 1400 pequenos irrigantes, como são chamados os colonos instalados até o momento, com propriedades de cinco hectares. Há também 82 empresas agrícolas, com empreendimentos que variam entre 20 e 160 hectares. Os pequenos são selecionados por entrevistas, e os grandes por concorrências públicas.
Canal principal do Jaíba – MG. O rio artificial tem uma calha semelhante à do rio São Francisco em Iguatama, onde a expedição embarcou. Foto: Marcello Larcher
Algo preocupante é a situação do rio, que pode afetar o projeto. O rio atingiu 438,54 metros acima do nível do mar na última estação seca, enquanto as bombas do Jaíba só operam com 438,5, ou seja, 4 cm de margem. Na opinião de Landi, isso se deve à mudança na prioridade da usina de Três Marias. “O objetivo passou a ser gerar energia, quando a barragem deveria regularizar a vazão do São Francisco”, explica. Com o reservatório agora comprometido, Três Marias não pode garantir os 290 m³/s necessários para que o andamento do projeto.
E Landi conta que desde 1992 o rio não vê uma grande enchente, o que poderia repovoar de peixes o rio. “Teve ano que o rio chegou a 30cm de inundar as lagoas, precisava ter alguém para avisar Três Marias para que soltasse mais água”, defende. O projeto foi acusado de devastar a mata da região, mas Landi defende o contrário. “Se não fosse o Parque Estadual criado pelo Jaíba, as matas teriam sido devastadas há muito tempo”, argumenta, mostrando que dentro do projeto há duas áreas de preservação somando 34 mil hectares, todas ligadas por um corredor ecológico.
Para Landi a situação é preocupante, o rio já esteve a 4 cm de inviabilizar o bombeamento. Foto: Marcello Larcher