Prazo para inscrições no Projeto Rondon vai até 30 de outubro

Brasília – Instituições de ensino superior podem se inscrever até o dia 30 de outubro nas operações Grão-Pará e Verão 2008 do Projeto Rondon, coordenado pelo Ministério da Defesa. Os estudantes vão participar de ações de cidadania, desenvolvimento sustentável, bem-estar e gestão pública em nove estados: Acre, Amapá, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Sergipe, Mato Grosso e Minas Gerais.

A Operação Grão-Pará será realizada entre os dias 11 e 28 de janeiro do ano que vem. Cerca de 720 jovens universitários participarão de atividades com os moradores do Pará e do Piauí.

Nesses estados, eles vão capacitar organizações da sociedade civil na defesa dos direitos de cidadania; agentes de saúde em saúde da família, saúde ambiental, doenças endêmicas locais, acolhimento e humanização do atendimento em saúde; produtores locais; servidores municipais em gestão pública e de projetos; servidores municipais em assuntos de informática e servidores municipais na elaboração e gestão do Plano Diretor local.

Além disso, vão realizar ações de incentivo ao cooperativismo e ao associativismo para a geração de renda e de disseminação de soluções auto-sustentáveis que melhorem a qualidade de vida nas comunidades.

Já a Operação Verão 2008 ocorrerá nos meses de janeiro e fevereiro e retomará as operações realizadas este ano pelo Projeto Rondon nos estados do Acre, Amapá, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Sergipe e Tocantins.

As inscrições estão abertas para instituições de todo o país que não estejam sob falência, concurso de credores, dissolução ou liquidação. As informações sobre o procedimento de inscrição estão disponíveis na página eletrônica do Projeto Rondon na internet.

O projeto é desenvolvido desde 1967 com o objetivo de integrar a juventude universitária à realidade do Brasil e proporcionar aos estudantes a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento social e econômico do país.

A iniciativa tem o apoio dos Ministérios da Educação, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Saúde, Meio Ambiente, Integração Nacional, Esporte e Desenvolvimento Agrário.
 

Participantes do Projeto Rondon apresentarão diagnóstico e soluções para cidades visitadas

Os participantes do novo Projeto Rondon terão 11 dias para fazer um diagnóstico dos problemas das 13 cidades da Amazônia Ocidental atendidas pelo programa. No início de março, os 200 estudantes e professores deverão enviar um relatório das atividades para as universidades a que estão ligados. As cidades amazônicas visitadas apresentam problemas como falta de saneamento básico e alto índice de analfabetismo, por exemplo.

Para o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, esse levantamento deverá pressionar o governo a adotar políticas públicas que solucionem as carências da região. "O projeto anterior tinha um caráter mais assistencialista. Este fará um diagnóstico e apresentará soluções que precisam ser respondidas pelas esferas públicas, pelo poder público local, federal e estadual".

O documento elaborado pelos universitários deve detalhar as necessidades detectadas e propor soluções. "As universidades também terão que cumprir esse papel, de apresentar soluções criativas, mas permanentes para solucionar os problemas", completa Petta.

O Projeto Rondon foi relançado nesta quarta-feira (19), em Tabatinga (AM), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o Ministério da Defesa, o custo da primeira fase do Projeto Rondon está estimado em R$ 2 milhões. A segunda etapa do projeto deve começar em julho.

Em entrevista à Rádio Nacional AM, o ministro da educação, Tarso Genro, disse que a cidade foi escolhida por se tratar de "uma região de integração não muito forte com a estrutura de um Brasil desenvolvido, além de ser uma área de bastante pobreza e um território de grande importância para o governo federal, no sentido de integrar a região amazônica na visão do Brasil".

O ministro também ressaltou a importância social e educativa do projeto. "O Projeto Rondon é excelente porque esta relação dos estudantes com a realidade viva do Brasil é muitas vezes mais educativa do que a própria vivência em sala de aula. Também porque tem uma incidência concreta social nestas regiões mais pobres e menos articuladas do Brasil moderno".

Todas as pesquisas e projetos são acompanhados pela equipe organizadora do Rondon. Na segunda-feira (17), as equipes do Projeto Rondon participaram de uma ambientação na selva amazônica e conheceram o 1° Batalhão de Infantaria da Selva (BIS). Ontem, o grupo visitou o Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia (Inpa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Hospital de Medicina Tropical e ao Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam).

Projeto Rondon embarca amanhã estudantes e professores para Manaus

Um grupo de 35 professores e universitários de instituições públicas e privadas embarca amanhã (15), às 8h40, na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, para Manaus. A viagem será feita em um avião Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB) e marca a retomada do Projeto Rondon, pelo qual estudantes universitários participam do processo de desenvolvimento do país, entrando em contato direto com populações carentes das mais remotas regiões do país.

A informação foi dada pela pela Assessoria de Comunicação Social da FAB. A reativação do Projeto Rondon foi decidida pelo presidente em agosto do ano passado, em atendimento a pleito formulado no ano anterior pela União Nacional dos Estudantes (UNE). O avião Hércules da FAB fará escala em Brasília, onde mais estudantes se juntarão ao grupo.

Entrevista: Oswaldo Reis

Jornal do Brasil – Em julho de 1967, o médico Oswaldo Reis chegava à Brasília como um dos fundadores do Departamento de Ciências de Saúde da Universidade de Brasília (UnB). Na época, empolgado com a proposta inovadora do novo curso superior, o jovem doutor de 30 anos deixou seu trabalho com medicina tropical em países da América Central pela Organização Mundial da Saúde para se dedicar ao projeto na Nova Capital.


"O que a gente fez primeiro era evitar que isso não fosse um turismo. (…) Eu não queria isso, então eu criei atividade curricular. Todas as áreas da universidade tinham um estágio rural não obrigatório." Foto: Fábio Pili

Dois anos mais tarde, Reis assumia como Decano de Assuntos Comunitários, cargo que manteve até 1976. Nesse período, montou o campus avançado da UnB em Aragarças, MT. O ponto recebia estudantes que participavam do Projeto Rondon e serviu como uma importante base de apoio para o desbravamento da região localizada próxima ao Parque Indígena do Xingu. Os universitários prestavam assistência para garimpeiros, pioneiros que fundavam novas cidades e aos índios que habitavam uma região ainda pouco conhecida.

O médico conversou com o Jornal do Brasil e Rota Brasil Oeste sobre os desafios e a importância da interiorização da saúde pública no Centro-Oeste.

– Como foi a implantação do Campus Avançado da Universidade de Brasília?

– Em 1969, eu fui para o Chile, logo que retornei, criei o campus avançado da Universidade de Brasília, que era parte do projeto Rondon. Mas eu era crítico da maioria dos outros campi. Tinha um teco-teco na UnB, ganhado na época do Darcy, que foi exatamente para fazer trabalhos antropológicos. E esse teco-teco estava encostado, inclusive tinha um piloto da universidade que não fazia nada. Então a gente recuperou esse teco-teco, que se chamava Espírito de Filadélfia e o piloto era o Custódio, muito conhecido na região. Comecei então a trabalhar, indo de teco-teco para a região todo fim de semana e comecei a montar o campus avançado.

– E como era a preparação para os alunos que ia à região?

– O que a gente fez primeiro era evitar que isso não fosse um turismo. Era muito comum o cara conhecer a região amazônica e bater foto com índio, com papagaio ou com macaco. Eu não queria isso, então eu criei atividade curricular. Todas as áreas da universidade tinham um estágio rural não obrigatório. Quem quisesse aquela disciplina, tinha de ter interesse e supervisão docente. Eles iam para lá por períodos determinados, de acordo com cada estágio, de cada carreira. Eu tinha dois médicos docentes permanentes na área. Eles eram professores assistentes da universidade e ficaram morando lá e coordenavam localmente as atividades.

– O campus era multidisciplinar?

– Sim, todas as áreas da UnB. Por exemplo, o pessoal de pedagogia ia para lá para treinar as professoras leigas, capacitá-las. Então tinha um professor da UnB, que é o Paulo Vicente Guimarães, que era também o que dava suporte na região. O fundamental, para nós, era que eles não substituíssem o pessoal local, que era contrário à filosofia que o Projeto Rondon tinha de levar aluno para substituir os locais. O nosso objetivo era treinar indivíduos, fazer treinamento em serviço. Enfim, todas as áreas da UnB atuaram lá, o pessoal de geologia também, que fazia estudos mineralógicos naquela região toda, e faziam com os alunos.

– Como funcionava a assistência no caso da saúde?

– Nós treinávamos estudantes para ser médicos rurais. Criei um programa de educação continuada, pegando esse aluno formado, interiorizando-o em cidades do Centro-Oeste. Os municípios que tinham o interesse, eu estudava as condições para ver se era viável e fazia um chamado consórcio intermunicipal. Isto é, para reunir recursos de vários pequenos municípios para manter um profissional em tempo integral na região. Isso foi um trabalho de interiorização e de saúde pública. Eram médicos treinados com a patologia, com os problemas de medicina tropical.

– Como era a estrutura?

– Nunca me preocupei em conseguir equipamentos sofisticados para a região. O que eu queria era mostrar como era um hospital rural. Eu podia pegar equipamentos do hospital de Sobradinho, ou do meu laboratório de pesquisas do minhocão e colocar lá. Mas não me interessava. Queria um hospital real, fazer os exames comuns de qualquer cidade do interior. A preocupação nossa era não artificializar. O cirurgião trabalhava lá com as condições de roça.<~/p>

– Quais eram os atendimentos mais comuns?

Aragarças estava dentro do paralelo para ganhar incentivos fiscais, aquelas grandes fazendas iam nascendo. Empresários do sul estavam comprando terras lá e começaram a entrar para fazer a sua exploração. Eu reunia essas pessoas e mostrava que seria um investimento com alto retorno se ajudassem os nossos hospitais. Ali é uma zona de malária, de leshmaniose, de febre amarela. Um indivíduo com malária perde vários dias de trabalho. Isso tem um custo. Nós mostramos que se eles permitissem a gente treinar um capataz da fazenda para as coisas mais elementares. Aí, através de rádio eu dava instruções. E toda vez que precisasse internar um peão de uma fazenda dessas também não era gratuito. Tinha uma lista de soro, de seringas, de gases, de remédios. As vezes, os fazendeiros se reuniam e me davam uma quantia em dinheiro para comprar material.

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Fernando Zarur