Uma das mais tradicionais manifestações populares brasileiras, a congada é realizada em todo o interior, principalmente de Goiás e Minas, incluindo regiões banhadas pelo São Francisco. A festa acontece anualmente entre os meses de outubro e novembro como parte das comemorações em homenagem a Nossa Senhora do Rosário e Santo Expedito.
Foto: Fernando Zarur
A festa reafirma a religiosidade de seus participantes e é um dos exemplos mais claros do sincretismo brasileiro. Elementos católicos e de religiões africanas ancestrais se misturam e tornam-se indissociáveis. Assim, as imagens de santos e terços misturam-se a tambores, conchas e bengalas, enquanto hinos são entoados com ritmo africano.
Com trajes festivos, bandeiras, tambores e guizos, os congados representam personagens que imitam cortes européias, com reis, rainhas, princesas e capitães. Antigamente era conhecida como “festa dos pretos”, devido a suas origens africanas, mas hoje participam pessoas de várias comunidades. Há dois grupos principais, os congos, com roupas coloridas, e os moçambiques, de roupas brancas.
A tradição passa de pai para filho, como atesta seo Espedito Francisco Martins (foto), que tem toda a família envolvida nas festividades. Ele é capitão do moçambique e condutor dos reis e rainhas, que no coletivo formam o reizado. Também o pescador Clotário Pinheiro viu a tradição seguir em sua família: herdou do pai o título de Rei Perpétuo. “A primeira vez em que brinquei o congado, estava nos braços de minha mãe”, conta Clotário, hoje com 67 anos.
A exploração dos recursos hídricos, minerais, vegetais e humanos de toda a bacia do Rio São Francisco durante 500 anos trouxeram danos, alguns irreparáveis, a toda a região. Assoreamento, desmatamento, erosão e poluição são problemas enfrentados pela população do vale há anos, e o tipo de impacto ambiental está diretamente ligado à atividade econômica desenvolvida em cada região.
O uso indiscriminado dos recursos naturais é, atualmente, o maior perigo à sobrevivência do rio. Certas análises apontam que esses abusos podem resultar em um desgaste e até mesmo esgotamento dessas fontes.
No Alto São Francisco, a concentração demográfica, as atividades econômicas do quadrilátero ferrífero e as indústrias de transformação da Grande Belo Horizonte respondem pela degradação ambiental daquele trecho. Além destes, o garimpo de diamantes desfigura o leito do rio com grandes dragas, lançando depois o material retirado em suas margens que voltam ao rio nas enxurradas.
Ainda no Alto São Francisco, mas já entrando no Médio e Sub-Médio, a principal fonte de poluição é a agricultura, praticada sem preocupações com a preservação dos recursos hídricos. Os projetos de irrigação e a agricultura provocam o desmatamento da mata ciliar e, conseqüentemente, carregam sedimentos para o leito do Rio. A vegetação nativa, que em 1970 cobria 85% dos 12 milhões de hectares do norte de Minas Gerais, em 1990 estava reduzida a 35%. E a cada ano, mais de 400 mil hectares de cerrado são desmatados na bacia, o equivalente a mais de mil hectares por dia.
O desmatamento das margens do lago da represa de Três Marias, assim como de vários trechos das margens do Velho Chico, provoca processos violentos de erosão, como a voçoroca acima. Foto: Fernando Zarur
A construção de hidrelétricas ao longo do rio também é um grave problema, que põe em risco sua própria existência. Além das transformações significativas que obras como barragens e usinas provocam na área onde são instaladas, com reflexos diretos na vegetação e vida animal, o regime das águas também é afetado. No Baixo São Francisco, uma preocupação de cientistas e ambientalistas é a regularização do fluxo de água, prejudicado e tornado irregular com todas as mudanças feitas no percurso e pelo uso excessivo do recurso.
As sucessivas barragens feitas ao longo do rio provocam um processo quase irreversível de assoreamento, pois diminuem a correnteza natural, formam bancos de areia e transformam os drenos naturais de água em áreas pantanosas. Além disso, a regularização dessas usinas tem provocado efeitos também na atividade pesqueira e na cultura do arroz feitas pela população da área. A extinção de lagoas e várzeas naturais onde ocorria a reprodução e captura dos peixes, e onde tradicionalmente se fazia a plantação do arroz, ameaça a sobrevivência de espécies naturais e da própria população local.
Américo Vespúcio, um dos primeiros europeus a visitar a costa brasileira ainda em 1501, foi quem batizou um dos rios mais belos que encontrou em suas viagens, o São Francisco. Além disso, o navegador empresta seu nome ao continente que ajudou a mapear.
Amerigo Vespucci, como na grafia original, herdou o nome de seu avô quando nasceu, no ano de 1454. Ele era o terceiro filho de Natasagio Vespúcio, membro de uma tradicional família de ricos mercadores, ligados aos poderosos Médici e moradores da vizinhança de “Todos Los Santos”, na cidade de Florença.
Ainda jovem, mudou-se para Pisa onde iniciou sua educação formal sob os cuidados de seu tio, Giorgio Antonio Vespúcio. Nesta época, graças à boa influência do tio, Américo aprofundou seus estudos em geografia, astronomia, cosmografia e conviveu ao lado de algumas das mentes mais brilhantes de seu tempo, como Marcilio Ficino, Pulci, Poliziano, Botticeli.
Anos mais tarde, Américo começa a trabalhar para a família Médici. Em pouco tempo, torna-se amigo de seu chefe, Lorenzo di Pier Francesco de Médici que lhe envia para Sevilha, Espanha, no ano de 1491 com a missão de explorar novas oportunidades de negócios na cidade. Lá estabelecendo-se, começou a trabalhar sob a chefia de Gianotto Berardi equipando navios para longas viagens. Em 1497, após a morte de Berardi, Vespúcio assumiu o comando da empresa e embarcou em sua primeira viagem às Índias.
A expedição, comandada pelos espanhóis Díaz de Solís e Yañez Pinzón, chegou ao Golfo do México e subiu um pouco do litoral que hoje é a Flórida e outras regiões dos Estados Unidos. Em sua segunda missão, ocorrida entre 1499 e 1500, ele atingiu pela primeira vez a costa da América do Sul.
Com informações colhidas nestas viagens, o navegador florentino começou a elaborar seus primeiros mapas da região. Acreditava, porém, estar conhecendo o extremo leste da Ásia. Em 1501, Vespúcio navega sob a bandeira de Portugal, financiado pelo comerciante Fernão de Noronha, para mapear o litoral das terras portuguesas de acordo com o tratado de Tordesilhas, assinado sete anos antes.
Partindo de Lisboa em maio do mesmo ano, o florentino demorou 64 dias para atravessar o Atlântico e chegar ao sul do novo mundo. Mapeando o litoral, ele descobriu o Cabo de Santo Agostinho, além dos Rios São Miguel e São Gerônimo. Em 4 de outubro, Américo Vespúcio enxerga um rio que desemboca no mar e o batiza em homenagem ao santo do dia: São Francisco. Na época, o navegador ficou maravilhado com a beleza natural da região, mas não poderia imaginar que o recém batizado Rio São Francisco seria parte fundamental da construção de uma futura nação, correndo por mais de 2.700km terra adentro.
Foi nesta viagem, também, que Américo levantou os primeiros dados que o auxiliaram na formulação da tese de haver chegado a um novo continente. As cartas que o florentino escrevia para seus amigos mais próximos haviam se popularizado em sua terra natal. Seus relatos e teorias influenciaram o início da colonização e os alteraram os estudos de cartografia.
Em 1507, o cartógrafo alemão Martin Waldseemuller produz uma carta geográfica em que aparece pela primeira vez um novo continente, batizado como América. O mapa tornou-se popular nas universidades de toda a Europa e imortalizou a obra de Américo Vespúcio.
Um ano depois, o navegador florentino naturaliza-se espanhol e é nomeado piloto-mor da Espanha, onde passa a viver. Aos 58 anos de idade, sofrendo por causa de malária contraída em suas viagens, Américo Vespúcio morre em Sevilha.
Cerca de um ano após a descoberta de Pedro Alvarez Cabral, o navegador Américo Vespúcio chegou à foz de um enorme rio que desaguava no mar. A data era 04 de outubro de 1501, dia de São Francisco, santo em cuja homenagem os navegadores europeus batizaram o rio. Para as diversas nações indígenas que habitavam aquela região, aquelas águas tinham um nome antigo: Opará, que significa algo como “rio-mar”.
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Desde então, o São Francisco passou a ser visitado regularmente pelas naus européias e, mais tarde, seria o principal pavimento para a colonização dos sertões goianos, o chamado Brasil-Central. No primeiro momento, porém, o terreno desconhecido e a resistência dos índios dificultaram o domínio da região.
Duas décadas depois de seu descobrimento, em 1522, o primeiro donatário da capitania de Pernambuco, o português Duarte Coelho, funda a cidade de Penedo, em Alagoas. Com a autorização da coroa portuguesa, em 1543 começa a criação de gado na região, atividade econômica que marca a história do vale do São Francisco que chegou a ser chamado de “ Rio-dos-Currais”. Estes foram os primeiros passos para o início da colonização.
Mesmo assim, a exploração estava limitada ao litoral, principalmente por causa das tribos indígenas que defendiam seus territórios no interior. Os Pankararu, Atikum, Kimbiwa, Truka, Kiriri, Tuxa e Pankarare, são alguns dos remanescentes atuais das populações que originalmente ocupavam o local.
Apesar disso, lendas sobre pedras preciosas e riquezas inacreditáveis atraíam diversos aventureiros para a região. Guiados pela cobiça, estes colonizadores foram dizimando os índios, que fugiam dali para o planalto central. Assim, ergueram-se os primeiros e pequenos arraiais, iniciando o domínio da região, onde o ouro e as pedras preciosas.
Em 1553, o rei D. João III, ordenou ao Governador Geral Tomé de Souza a exploração das margens interiores do rio. A organização da empreitada ficou a cargo de Bruza Espinosa, que teve em seu lado o Padre Aspilcueta Navarro para formar a primeira companhia de penetração. O roteiro dessa viagem e uma carta do Padre Navarro são os primeiros documentos descritivos sobre o São Francisco.
A partir daí, as águas do rio foram navegadas por dúzias de expedicionários que, aos poucos, consolidaram o domínio sobre a exploração do São Francisco. A ocupação, entretanto, ocorreu principalmente através das sesmarias, tendo sido o São Francisco ocupado parte pela Casa da Torre de Garcia DÁvila e parte pela Casa da Ponte, de Antônio Guedes de Brito. O primeiro, Garcia DÁvila, apossa-se das terras em 1573, sendo mais de 70 léguas entre o Rio São Francisco e o Parnaíba no Piauí.
Conflitos
Em 1637, os holandeses invadiram o povoado de Penedo por causa de sua localização estratégica, na foz do São Francisco. Ali construíram um forte batizado Maurício, em homenagem a Maurício de Nassau. O domínio holandês permaneceu forte até 1645, quando os portugueses retomaram a região.
Outro fator importante da ocupação nesta época, foram as missões religiosas, iniciadas por padres capuchinhos bretões a partir de 1641. Com isso, as nações indígenas sumiam do mapa, atacadas por doenças, miscigenação e pela aculturação.
Em 1675, jazidas de ouro são encontradas em afluentes do São Francisco pela bandeira de Lourenço de Castanho que assassina os índios cataguáses, habitantes originais da região. Desde então, dezenas de bandeirantes navegaram o rio, entre eles: Matias Cardoso, Domingos Jorge Velho, Domingos Sertão, Fernão Dias Paes, Borba Gato e Domingos Mafrense.
Nesta época, os portugueses também enfrentaram a resistência dos escravos fugitivos. Os quilombos formavam uma verdadeira república negra que desafiou por muito tempo o domínio da Coroa. Em 20 de dezembro de 1695, uma tropa mercenária, contratada por Portugal e os usineiros de açúcar da capitania de Pernambuco, destruiu o último foco da resistência armada dos escravos, ligadas ao famoso Quilombo dos Palmares.
Relevo
O Vale do São Francisco é uma depressão alongada que parte da Serra da Canastra, na parte sul da bacia, sendo formada pela Serra do Espinhaço a leste e a Serra Geral de Goiás a oeste, com altitudes variam de 1.000 a 1.300 metros do nível do mar. Já no Médio São Francisco, o curso d’água encontra-se com a Serra da Tabatinga, ao norte, cujas alturas são de 800 a 1.000 metros, formando o divisor com o vale do Parnaíba, no Piauí.
Nesse ponto, o vale toma a direção leste, margeado pela chapada do Araripe, ao norte, com 800 metros de altitude, divisor de águas com o vale do Cariri, no Ceará, sendo ao sul limitado pela Bacia de Tucano e Vaza-Barris, onde se localiza o raso da Catarina.
Dos divisores de águas de suas nascentes, onde as altitudes variam de 1.600 a 600 metros, o Alto São Francisco apresenta topografia levemente ondulada, entalhada em arenitos, ardósias e calcário. No Médio São Francisco, próximo aos limites de Goiás até a divisa de Maranhão e Piauí, os chapadões constituem as feições predominantes, com vertentes sulcadas por vales profundos. As altitudes situam-se entre 800 a 900 metros. No Baixo São Francisco, perto da foz e do nível de base, o rio perde velocidade e dá origem a depósitos sedimentares.
Solos
Há vários tipos de solos na Bacia do São Francisco, desde solos arenosos, até solos argilosos. Muitas áreas dispõem de solos salinos, ou areia pura, ambos inúteis para a agricultura. As margens e ilhas são formadas por solos transportados, que são chamados de aluviões, e sempre foram utilizados pelos ribeirinhos para cultura de subsistência, de feijão, batata, milho ou mandioca, aproveitando as vazantes, ou lameiros.
Vegetação
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A cobertura vegetal da Bacia do São Francisco é bastante variada, sendo formada em sua maior parte pelos cerrados e pela caatinga. Mas em sua extensão encontramos áreas de mata, nas zonas úmidas, e de mata caducifólia, em regiões de boa precipitação com solos profundos e férteis. Como exemplo podemos citar os vales dos rios Carinhanhas, Corrente e Grande, na Bahia, e do Verde Grande, na Bahia e em Minas Gerais. Nessas matas, a vegetação é alta, densa e com espécies da chamada “madeira de lei”. Há também no São Francisco uma formação vegetal própria de terrenos alagadiços, cujas espécies, na grande maioria, têm frutos ou sementes que fazem parte da alimentação dos peixes de água doce.
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