leo de dendê poderá ser produzido sem ameaçar florestas

Os consumidores agora já podem utilizar sabonetes, xampus e muitos outros produtos que contém óleo de palma com a consciência limpa. Os participantes do terceiro Fórum Global sobre Óleo de Palma Sustentável (RSPO), que reuniu representantes de produtores, compradores, processadores, instituições financeiras e ONGs, aceitaram uma série de critérios para a produção responsável de palma ou dendê, como é mais conhecido no Brasil. A Rede WWF, uma das organizações fomentadoras do processo de diálogo, agora vai se empenhar em convencer as empresas a implementar os critérios o mais rápido possível para garantir a conservação da biodiversidade das florestas tropicais em todo o mundo, valiosas tanto para o ser humano quanto para as espécies animais.
 
Conhecidos como "Os Princípios e Critérios para Produção de Óleo de Palma Sustentável do RSPO", os critérios dão às empresas as linhas gerais necessárias para produção de palma de maneira socioambientalmente correta e responsável. Essa ratificação foi resultado de um ano inteiro de processo participativo envolvendo vários atores da cadeia produtiva.
 
O óleo de palma é utilizado em muitos produtos consumidos no dia-a-dia como sabonetes, barras de chocolate, sorvetes, refeições prontas congeladas e margarina. Pode também ser usado para a produção de biocombustíveis. A demanda por óleo de palma tem aumentado significativamente a nível mundial e as plantações cobrem uma área de 11 milhões de hectares no planeta. A produção global deve dobrar até 2020.
 
No Brasil, as plantações de palma ou dendê ocupam cerca de 40 mil hectares e grande parte da produção está localizada na região Amazônica. Na Malásia e Indonésia, os maiores produtores mundiais, práticas agrícolas implementadas de maneira incorreta já custaram muito ao meio ambiente. O crescimento deste setor industrial, em muitas regiões do mundo, tem impactado negativamente a biodiversidade das florestas tropicais, pressionando as espécies que lá habitam. O desmatamento com queimadas para preparar o solo para produção, são práticas comuns no Brasil e em parte da Ásia, o que causa graves problemas de saúde.
 
A produção de óleo de palma sustentável é a melhor maneira para atender a crescente demanda mundial pelo produto sem causar mais prejuízo para as pessoas e para o meio ambiente. "A ratificação dos critérios do RSPO é um passo importantíssimo na direção certa e isso só foi possível porque todo o setor trabalhou junto", afirma Denise Hamú, Secretária Geral do WWF-Brasil.
 
A iniciativa de construir o RSPO foi da Rede WWF junto com outros parceiros em 2003. A última reunião do grupo terminou quarta-feira, em Singapura. O desafio agora é fazer o mesmo com a produção de soja que, no Brasil, é a commodity mais importante do país. O primeiro Fórum Global sobre Soja Responsável (RTRS) aconteceu este ano, em Foz do Iguaçu. O próximo está previsto para 2006.
 
"Os resultados do RSPO nos incentivam a continuar trabalhando de forma integrada para estabelecer critérios também para a produção de soja responsável. Apesar de termos realidades diferentes e a soja ser uma cultura anual e não perene como o Dendê, é importante aprender e multiplicar os resultados positivos do RSPO", afirma Ilan Kruglianskas, coordenador do Projeto Agricultura e Meio Ambiente do WWF-Brasil.

Critérios do RSPO (para produção de óleo de palma):

Princípio 1: Compromisso com a transparência
Princípio 2: Obediência à legislação
Princípio 3: Compromisso com a viabilidade econômica e financeira de longo prazo
Princípio 4: Uso de melhores práticas por produtores e processadores
Princípio 5: Responsabilidade ambiental e conservação dos recursos naturais e da biodiversidade
Princípio 6: Respeito aos direitos de empregados, indivíduos e comunidades afetados pela produção e processamento
Princípio 7: Responsabilidade na implantação e desenvolvimento de novas áreas para produção
Princípio 8: Compromisso para melhoria contínua nas áreas-chave da atividade

Não basta preservar a floresta

A Amazônia abriga 20% de toda a água doce do planeta, ocupa 5% da área do globo terrestre, guarda 30% das florestas tropicais ainda vivas, mas é habitada por apenas 3,5 milésimos da população mundial. A grandiosidade da região é inversamente proporcional à sua fragilidade e vulnerabilidade perante a antiga ameaça da mão do homem. Mas a velha idéia de preservar a floresta intocada já está ultrapassada. O futuro é explorar o que ela pode oferecer enquanto está viva, em pé. O assunto foi apresentado detalhadamente no livro Brasil – Estado de Uma Nação, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a ser lançado neste mês, mais especificamente no capítulo "Amazônia: desenvolvimento e soberania", coordenado pela geógrafa Berta Becker.

Desafios – A senhora cita em suas palestras e livros que o dilema da Amazônia é a conservação com inclusão social. No que ele difere do conceito preservacionista dos anos 90?

É uma diferença conceitual, mas bastante importante. Preservação é diferente de conservação. Preservar é não tocar, é deixar como está. Conservação é utilizar sem destruir. E eu prefiro a conservação com inclusão, acredito piamente no uso não-destrutivo do patrimônio natural de modo a gerar trabalho e renda sem deteriorá-lo.

Desafios – E depois de tanta experiência na academia e em consultorias, a senhora acredita que é possível, operacionalmente, atingir o objetivo da conservação com inclusão?

Acredito. É possível, mas é difícil. São muitos os obstáculos, especialmente a questão fundiária, que no Brasil é estrutural e está ligada ao poder. As elites, historicamente, querem ter terras, e não estamos falando só do momento presente. Querem terras não somente para a produção organizada, mas porque significa poder, status, reserva de valor para o futuro. No Brasil e em boa parte da América Latina, o crescimento da produção agrícola foi baseado na expansão da fronteira, ou seja, o crescimento sempre foi feito a partir da exploração contínua de terras e recursos naturais, que eram percebidos como infinitos. O problema continua até hoje. E a questão fundiária está intimamente ligada a esse processo, em que a a terra dá status e poder, com o decorrente avanço da fronteira da produção agrícola, que rumou para a Amazônia nos últimos anos.

Desafios – Mas a modernização agrícola, pela lógica, não deveria ter diminuído o avanço da fronteira, pois atingiu mais produtividade num mesmo espaço de terra?

A modernização da agricultura propiciou, por um lado, maior produtividade nas lavouras, mas fez aumentar a velocidade na incorporação de novas áreas, apoiada também pelas tecnologias da informação. É a chamada cronopolítica, que começa a superar até a geopolítica. A iniciativa privada sabe muito bem se mover nessa nova velocidade, enquanto o Estado ainda se mexe no mesmo tempo pretérito. Portanto, acaba sendo criado na Amazônia todo um sistema logístico, de armazéns, cidades, redes de comunicação, que permite uma rapidez muito maior da expansão da fronteira. Isso é muito nítido por lá, basta chegar em qualquer cidade para perceber, pois são os empresários que dominam tudo, que instalam e comandam essa logística, e o Estado está sempre atrás.

Desafios – Além da questão histórica da terra, quais outros fatores dificultam a conservação com inclusão?

Sou adepta da tese de que a floresta amazônica só vai ser conservada quando lhe for atribuído um valor tal que a torne competitiva, com o valor que ela pode ser capaz de gerar enquanto está em pé. Seus produtos precisam assumir preços de commodities.

Desafios – A senhora se refere também aos produtos de extrativismo e à prestação de serviços ambientais, como os projetos de venda de crédito de carbono?

Também estou falando dos serviços, mas não tenho muita paixão por essa alternativa, porque não gera trabalho direto e renda para a população. E também porque implica a existência de um certo controle externo sobre nossas florestas, porque, se alguém paga por algum serviço, vai querer cobrar. Não me sinto maravilhada com a idéia de vender créditos de carbono, porque não leva dinheiro para a mão da população, que quer se desenvolver, crescer. Dou preferência ao aproveitamento das riquezas da floresta, pois já existem mercados a serem explorados e muitos outros a serem abertos. Há vários exemplos de campos comerciais que estão prontos para serem aproveitados. O ramo biomédico, por exemplo, embora seja difícil concorrer com os grandes laboratórios mundiais. O da nutracêutica, que é gigantesco, e para quem não sabe diz respeito aos alimentos naturais que geram bem-estar e saúde. E a dermocosmética, que algumas empresas brasileiras estão começando a explorar muito bem, inclusive internacionalmente. A alta tecnologia precisa entrar na Amazônia para permitir a descoberta de novos produtos e mercados.

Desafios – E a população está preparada para tal mudança?

A região amazônica, primeiramente, não pode ser encarada como algo único. É um caldeirão de diferenças sociais, é grande e diversa. Mas uma coisa é comum: o nível de aspirações se elevou enormemente para todos os atores sociais daquela região, desde empresários, agricultores e governos, até ribeirinhos, índios e pequenos produtores agrícolas. Todo mundo quer se desenvolver, é um caminho sem volta. Acabou a fase de ocupação pura e simples. É urgente a concepção de uma política de consolidação do desenvolvimento. Por isso eu acredito que estão preparados e muitos até mobilizados, em diferentes níveis, trabalhando em conjunto para melhorar aqui e ali.

Desafios – A senhora já afirmou que está na hora de o movimento ambientalista fazer uma auto-avaliação e rever alguns de seus princípios básicos. Quais seriam esses pontos a serem revistos?

O movimento ambientalista foi muito importante, fundamental, eu diria. Ele foi o responsável por barrar o avanço da fronteira agrícola e a depredação madeireira da região amazônica nos anos 90. Certamente atingiu os objetivos a que se propunha. Hoje, 30% do território amazônico está protegido, o equivalente à área da Espanha. Mas o mundo mudou e a Amazônia também, assim como os atores envolvidos. Agora eles precisam de trabalho, emprego, dinheiro, pois querem consumir produtos e serviços, desejam fazer parte da nação, como qualquer outro cidadão. Não dá mais para pensar que basta proteger áreas para solucionar os problemas, porque os conflitos aumentam e resultam em casos e mais casos de violência e morte. Não basta delimitar áreas protegidas para solucionar a questão da Amazônia. É necessário passar do preservacionismo para o conservacionismo.

Desafios – Essa tendência de mudança é mundial?

Ninguém fala disso abertamente, mas eu acredito que sim. Prova disso são os selos criados para atestar que os produtos vendidos no exterior foram produzidos de maneira a não agredir a natureza. Eles são um instrumento de trabalho nesse sentido. Ou seja, o capital natural que foi preservado na década de 90 pode agora ser utilizado. O que nos resta é encontrar as formas de explorar isso tudo da melhor forma possível.

Desafios – Ciência e inovação podem ajudar nesse processo?

Ciência, tecnologia e inovação são fundamentais. Primeiro porque patrimônio amazônico ainda não é conhecido e precisa ser considerado também em termos de América do Sul. Quando se pensa em geopolítica, é mais relevante atuar em bloco com outros países, trabalhar em conjunto, com mais presença internacional. A ciência é peça-chave para desenvolver tecnologias criativas para a implementação de um novo modelo de uso dos recursos naturais. Temos de encontrar saídas. Um bom exemplo de tecnologia a

plicada na Amazônia é a produção de biodiesel a partir do óleo de dendê, que é tem origem na Bahia mas está sendo plantado em áreas desmatadas da Amazônia. Não vejo o menor problema nisso, até acho ótimo, mas seria melhor ainda se fossem desenvolvidos mecanismos para criar biodiesel a partir de outros produtos da floresta que não precisassem de área plantada, mas sim de extração organizada. Para isso é necessária a presença forte do Estado, organizando essa pesquisa, para tornar realidade a produção.

Desafios – A ausência do Estado é nítida na região amazônica. Como ele poderia se fazer mais presente, uma vez que aquela é uma área tão vasta e de difícil acesso, com pouca densidade demográfica?

A população amazônica pede a presença do Estado. Depois de muito ouvir aqui e ali eu me arrisquei e codifiquei como é que o Estado pode se fazer presente na Amazônia sem estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Inicialmente é essencial definir com clareza as regras do jogo. Para quem é proprietário, para quem é beneficiário de assentamentos, para quem vai ser funcionário. E, à medida que ficarem claras as regras do jogo, elas têm de ser cumpridas e o Estado precisa trabalhar no monitoramento desse processo. Esse é o cerne da questão institucional na região. Mas atualmente existe uma grande balbúrdia, ninguém sabe direito quais são as regras, nem mesmo quem são os proprietários das terras.

Desafios – A senhora citou os assentamentos na região. Eles têm se mostrado ineficientes, com altas taxas de evasão. O que está acontecendo?

O modelo tradicional de assentamento rural, aquele em que cada família ganha um pedaço de terra para trabalhar isoladamente, não funciona na Amazônia. É obsoleto e não atende nem às necessidades ambientais nem ao povo da região. É uma atitude perversa pegar um monte de gente vulnerável, despreparada, e mandar para uma região sem estradas, sem infra-estrutura, sem informação, sem nada. É por essa razão que a evasão dos assentados ao redor de Santarém, no Pará, chegou a 70%. Não é porque exista má vontade ou preguiça dos assentados, mas sim porque não dá para produzir desse jeito, não dá para trabalhar no meio do nada, de forma isolada. Até agora o governo não deu o apoio necessário e não vai dar, simplesmente porque não é possível em termos operacionais. Imagine que estão planejados hoje 177 assentamentos ao longo de uma só estrada, a Cuiabá-Santarém. São milhares de pessoas, sendo impossível dar estrada, luz, assistência técnica, estrutura de comercialização para todo mundo. Os assentados ficarão lá alguns meses e depois irão embora, e quem ficará com as terras, como acontece há décadas, serão os grandes agricultores.

Desafios – E como resolver esse impasse?

Eu tenho uma proposta polêmica, mas que, na minha cabeça, depois de tudo o que eu já vi, faz todo o sentido. Proponho que sejam implementadas grandes fazendas de colonos, num esquema cooperativo. Elas precisam ser enormes, nas proporções amazônicas, para possibilitar produção em escala Em vez de colocar cada assentado num pedaço pequeno, em que ele só poderá utilizar 20% da área, conforme a legislação ambiental, será melhor partir para unidades maiores, exploradas cooperativamente. Numa grande propriedade, usar 20% da área permitirá uma grande produção, muitas vezes maior do que se fossem utilizados os pedacinhos de cada assentamento individual Além disso, esse modelo facilita a organização de infra-estrutura, ao criar um pequeno pólo populacional com luz, esgoto, escola e apoio técnico. Não se deve dar o título de propriedade da terra, pelo menos por um tempo, mas apenas garantir a concessão. A escolha das áreas deve ser precedida de um estudo de mercado, estabelecendo o que deverá ser produzido, dependendo da existência de condições de comercialização. Com pouco mais de uma dúzia dessas fazendas na região da mesma BR-163, as coisas estariam mais bem equacionadas, elas seriam capitalizadas em pouco tempo e assim se poderia enfrentar muito melhor o problema da invasão da pecuária e da soja sobre a floresta. Os assentados, trabalhando cooperativamente, poderiam ganhar algum dinheiro e o governo teria, assim, condição de dar apoio a uma dúzia de núcleos desse tipo, em vez de 200 assentamentos com milhares de pedaços de terra dispersos, que acabariam produzindo apenas para a subsistência. E, de quebra, a área protegida por lei não seria difusa em pequenos pedaços de cada assentado, continuaria sendo protegida, mas estaria interligada em apenas uma fazenda.

Desafios – As organizações não-governamentais (ONGs), tanto nacionais quanto internacionais, ocupam importante espaço no cenário ambiental brasileiro. Elas conseguem exercer forte influência no campo das políticas públicas e mobilizar a população. A senhora já questionou em seus livros o papel de tais organizações. Na sua opinião, o que deve ser observado no trato com elas?

Acredito que precisamos sempre prestar atenção ao papel dessas organizações no que diz respeito à geopolítica. Algumas entidades, muitas delas bastante fortes e representativas de interesses internacionais, fazem de certa forma um jogo anti-Estado. Elas pregam um pouco a tese de que o Estado diminuiu e que são elas que precisam ocupar o espaço deixado, como as salvadoras da pátria. Na verdade não foi nada disso. Os Estados não acabaram, estão aí definindo políticas e muitos deles têm braços que apóiam aberta ou secretamente as grandes ONGs e organismos multilaterais, para financiar políticas em outros países em desenvolvimento. As ONGs acabam sendo ferramentas de influência direta de alguns governos sobre outros. Também chamo a atenção para o fato de que muitas vezes são essas organizações e organismos que ditam a agenda de discussão. E quem define a agenda tem o poder, porque o que entra em discussão pode ser definido e o que não entra não tem nem chance. São as regras do jogo.

Desafios – E o Brasil tem conseguido influenciar mais a agenda ambiental de discussão?

Eu diria que o Brasil, durante muito tempo, teve uma atitude até infantil nesse ponto. As posições eram radicais: ou se era totalmente contra o imperialismo americano ou era uma posição de "venha e pegue tudo". Agora estamos aprendendo a negociar, o que é fundamental. Porque a cooperação técnica é importantíssima. Mas ela precisa ser negociada e discutida, e nós aprendemos muito sobre isso nos últimos tempos.

Desafios – Qual o seu sentimento sobre o futuro ambiental do Brasil, sobretudo da Amazônia? É otimista ou pessimista?

Eu gostaria de manter o meu histórico otimismo, especialmente porque tenho trabalhado bastante em consultorias para implementar novos modelos de uso da floresta amazônica. Mas às vezes me sinto um pouco pessimista. O importante é que há um grande debate sobre o assunto. O processo demanda debate, criatividade e repercussão, para que consigamos mostrar a quem decide o que é mais importante para aquela região. Eu amo muito aquilo tudo, amo muito o Brasil. Estou cheia de idéias, e isso é que é bom, é o que importa.

Famílias que vivem em Floresta de Maués, no Amazonas, recebem direito real de uso da terra

Até a próxima quinta-feira (12), 155 famílias que moram na Floresta Estadual de Maués, no Amazonas, e 77 famílias que vivem em cinco comunidades do entorno receberão a concessão do direito real de uso da terra. O documento de regularização fundiária do Instituto de Terras do Amazonas (Iteam) garante a permanência das famílias na área de proteção ambiental e facilita a implantação da unidade familiar produtiva. "A concessão possibilita que essas pessoas tenham acesso a políticas públicas de incentivo à produção, como o crédito, por exemplo", explica o presidente do Iteam Aniceto Barroso.

A concessão é válida por trinta anos e pode ser prorrogada inúmeras vezes. "Existem concessões coletivas e individuais. No caso da Floresta Estadual de Maués, estamos distribuindo as concessões individuais para atender a uma demanda das próprias comunidades. Mas, em um segundo momento, emitiremos a concessão de direito real de uso na modalidade coletiva para toda a área", diz Aniceto.

Ele afirma que somente com a concessão coletiva é possível aprovar planos comunitários de manejo ou outras formas coletivas de uso dos recursos naturais da unidade de conservação. "Isso é fundamental porque os habitantes de lá já têm práticas coletivas, como a plantação de guaraná em áreas comuns e o beneficiamento conjunto da cana. Por outro lado, para eles a concessão individual também é importante porque o produtor pode conseguir um crédito familiar sem ter que para isso contar com a aprovação de toda a comunidade".

A Floresta Estadual de Maués é uma unidade de conservação de uso sustentável, ou seja, que permite a existência de populações tradicionais em seu interior e o uso econômico regulado dos seus recursos naturais. Ela foi criada pelo governo do Amazonas em 2003. Aproximadamente 420 famílias vivem nos 438.440 hectares localizados no município de Maués.

Projeto da Funai preserva o Tracajá

A Coordenação de Proteção às Terras Indígenas, da Coordenação-Geral de Patrimônio Indígena da Funai, implantou no Parque Indígena do Xingu um projeto de manejo de tracajá. A idéia foi do índio Pablo Kamayurá, da Aldeia Morena. Há algum tempo Pablo Kamayurá vinha tentando a execução desse projeto, em função do decréscimo populacional da espécie, acarretado principalmente pela introdução de novas técnicas de captura utilizadas pelos índios. Antigamente os deslocamentos à procura do tracajá eram feitos a pé ou nas canoas tradicionais. Além disso, os índios se utilizavam apenas do arco e da flecha para fazer a captura. Ultimamente, com o advento de embarcações motorizadas, que permite percorrer distâncias maiores, os índios já utilizam meios de captura mais eficientes de captura, como o anzol e o espinhel (corda enorme que presa nas duas margens de um rio e na qual são afixadas enormes quantidades de anzóis).

tracaja.jpgO projeto teve a sua implantação planejada em três etapas. A primeira, já realizada, durou 15 dias: entre 20 de agosto a 5 de novembro. Nesse período ocorreu a desova e foi feito o trabalho de proteção dos ovos, para evitar a ação de predadores. Durante essa fase, o estudante de Biologia do Uniceub e colaborador da CPTI, Ladislau Brito, e Pablo Kamayurá fizeram a seleção das praias a serem protegidas e manejadas. Foram protegidas 170 covas. Em cada uma foi fixada uma caixa telada (espécie de gaiola), para evitar a ação dos predadores. Além da proibição do consumo de ovos de tracajá pelos Kamayurá, houve uma vigília constante, para evitar que outros índios fossem recolher os ovos. O consumo de ovos de tracajá é uma tradição dos Kamayurá e de outros índios que vivem próximos a rios onde também há ocorrência da espécie.

Toda a comunidade Kamayurá da Aldeia Morena foi envolvida no projeto. Os índios tiveram aulas de educação ambiental e foram eles, também, os fiscais das praias, até a eclosão dos ovos. Placas educativas, escritas em português e na língua Kamayurá, foram colocadas nas praias, alertando para a importância do projeto.Mas o interesse não foi apenas dos Kamayurá. Em função da veiculação do projeto, via rádio para todas as aldeias do Xingu, diversas lideranças demonstraram interesse em participar de projeto semelhante no próximo ano. Houve grande aceitação, por exemplo, entre os Kayabi e os Ikpeng.

A segunda etapa foi desenvolvida entre os dias 6 de novembro a 20 de dezembro. Nesse período os filhotes foram coletados e levados para um criatório provisório, até que pudessem ser soltos nos rios. Foram coletados 337 filhotes.O período de permanência no criatório é de aproximadamente um mês, tempo suficiente para que percam o cheiro forte que exalam e que atrai os predadores. Essa ação aumenta a taxa de sobrevivência.

A terceira e última etapa consiste na soltura dos filhotes. Para que a eficiência do trabalho seja mantida, serão escolhidos locais mais adequados, preferencialmente os de difícil acesso aos predadores, ou seja, praias de rios que tenham vegetação mais densa e acesso mais difícil. Durante o período de permanência nos viveiros os tracajás serão alimentados com peixes, folhas de vegetais e frutas como a melancia e a manga. Os recursos para a implantação do projeto foram disponibilizados pela CPTI/CGPIMA.

Cerrado ganha programa para preservação e uso sustentável

O cerrado é o segundo maior bioma do país, com cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados. A partir de agora, o governo federal vai ter um programa nacional de preservação e uso sustentável do cerrado.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, recebeu nesta sexta-feira o documento do Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Cerrado – Programa Cerrado Sustentável. O projeto foi elaborado pelo grupo de trabalho criado com esse objetivo há um ano e tem a participação de pessoas do governo e da sociedade civil. A entrega do documento faz parte das comemorações do Dia Nacional do Cerrado, que acontece neste sábado (11).

O Cerrado se estende em área contínua por 11 estados brasileiros: Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo e Tocantins.

Representante da Rede Cerrado de Organizações Não Governamentais no grupo de trabalho do ministério, Manoel Santos alertou para o processo de desertificação do cerrado provocado, principalmente, pelo agronegócio nessas regiões.

Para a ministra, a preservação tem que ser vista como um fator positivo para os investimentos e negócios que envolvem recursos naturais. “O Cerrado é uma espécie de guardião das águas desse país”, disse.

Segundo Marina Silva, os investimentos do agronegócio podem ser prejudicados se não houver uma preocupação com a preservação dos recursos hídricos. “A preservação não é em oposição ao desenvolvimento, nem o desenvolvimento tem que ser em oposição à conservação”, defendeu.

A ministra informou que já estão disponíveis R$ 5 milhões do Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) para assistência técnica a pequenos agricultores e à população local. Marina Silva assinou uma Portaria prorrogando o prazo de existência do grupo de trabalho para que o programa possa ser detalhado.

Oficina discute turismo sustentável no Baixo São Francisco

O Ministério do Meio Ambiente promove de amanhã (09/09) até sexta-feira, em Aracaju (SE), oficina de Integração e Planejamento do Turismo Sustentável no Baixo São Francisco. O evento é uma das ações do Programa Nacional de Ecoturismo da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do MMA, lançado este ano. O objetivo é iniciar processo de desenvolvimento de dois pólos de turismo na região do Baixo São Francisco: Pólo Foz do São Francisco, incluindo a APA de Paiaçabuçu, Penedo (AL) e Propriá (SE), e o Pólo do Cânion do São Francisco, incluindo Xingó e Paulo Afonso.

A proposta da oficina é discutir com os parceiros locais um planejamento estratégico participativo, com base nos principais projetos de turismo já existente, seja no âmbito federal e também nos estados e nas regiões envolvidas. As ações de capacitação nos pólos ecoturísticos estão sendo desenvolvidas pelo MMA por meio de parceria ou convênios com empresas e instituições de ensino.O Programa Nacional de Ecoturismo busca construir uma agenda multilateral e estruturar o desenvolvimento do segmento turístico no país, focalizando as áreas protegidas e seus entornos, onde se concentram os principais destinos ecoturísticos nacionais. São parceiros do evento: Ministério do Turismo, por meio do Programa Roteiros do Brasil; e o Programa de Turismo Sustentável do Baixo São Francisco da Codevasf.

São Carlos adere ao programa “Cidade Amiga da Amazônia”

Na presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o prefeito de São Carlos, Newton Lima Neto (PT-SP), e o diretor executivo do Greenpeace Brasil, Frank Guggenheim, assinaram o termo “Compromisso pelo Futuro da Floresta”, que faz parte do programa Cidade Amiga da Amazônia do Greenpeace (1). O prefeito assinou um decreto criando uma comissão de gestão de compras sustentáveis para impedir a compra de madeira de origem criminosa pela prefeitura, proposta central do programa. Com mais de 190 mil habitantes, São Carlos, na região central do Estado de São Paulo, é o sexto município (2) a aderir a esta iniciativa de consumo responsável.

“Parabenizo a prefeitura pela parceria que evitará a compra de madeira de áreas griladas, indígenas e sem certificação”, disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. “É importante que as pessoas comecem a se conscientizar de que não estão comprando apenas uma mesa ou uma cadeira; estão comprando um conteúdo e um conceito”, complementa a Ministra.

O Greenpeace aproveita a participação da ministra Marina Silva para lembrar o governo federal da importância de controlar o mercado de madeira amazônica, hoje caracterizado pela ilegalidade. O Ibama é o órgão da União responsável pelo monitoramento da extração e do comércio de madeira no País. “Os municípios que participam do programa Cidade Amiga dependem das informações do Ibama para verificar a procedência do produto madeireiro que estão consumindo”, disse Gustavo Vieira, coordenador político do programa. “Tais informações devem ser disponibilizadas de maneira transparente e confiável para permitir que as leis municipais criadas nas Cidades Amigas da Amazônia sejam efetivamente cumpridas”.

A indústria madeireira é uma das principais forças de destruição da Amazônia, maior floresta tropical do planeta. Entre 2001 e 2003, mais de 5 milhões de hectares foram perdidos, o equivalente a nove campos de futebol desmatados por minuto. Cerca de 85% da madeira produzida na região amazônica é consumida no Brasil – a maior parte da matéria-prima é oriunda de desmatamentos irregulares ou da extração ilegal. O Estado de São Paulo consome 20% deste total e a madeira é proveniente principalmente do Mato Grosso, Rondônia e Pará.

Para tornar-se uma “Cidade Amiga da Amazônia”, as administrações devem formular leis municipais que: proíbam o consumo de mogno (3); exijam a apresentação, como parte dos processos de licitação, de documentos que identifiquem a origem legal da madeira (legalidade da cadeia de custódia); evitem o uso de madeira de áreas de desmatamento, dando preferência à madeira proveniente de exploração sustentável (Planos de Manejo Florestal), inclusive madeira certificada pelo FSC (4); orientem construtores e empreiteiros a substituir madeiras descartáveis utilizadas em tapumes, fôrmas de concreto e andaimes por alternativas reutilizáveis como ferro ou chapas de madeira resinada.

“Esperamos que o governo federal siga o exemplo das Cidades Amigas da Amazônia e implemente políticas de consumo consciente em todo o País”, afirmou Frank Guggenheim.


(1) O objetivo do “Cidade Amiga da Amazônia” é que as prefeituras brasileiras implementem políticas de consumo consciente e incentivem o mercado de madeira de manejo sustentável adotando critérios para a compra de produtos madeireiros provenientes da Amazônia.

(2) No Estado de São Paulo, os municípios de Piracicaba, Sorocaba, São José dos Campos, Botucatu e Campinas participam do programa. São José do Rio Preto e Jundiaí já demonstraram interesse e estão em fase de análise do conteúdo. No final de julho, o Greenpeace lançou o “Cidade Amiga da Amazônia” no Rio de Janeiro (RJ), ao denunciar a utilização de madeira amazônica de origem criminosa na reforma dos deques da Lagoa Rodrigo de Freitas.

(3) O mercado de mogno – a mais valiosa madeira da Floresta Amazônica – foi paralisado desde dezembro de 2001, quando o Ibama proibiu a exploração, transporte e comércio da espécie após comprovar a enorme ilegalidade que caracteriza o setor. Ações de fiscalização realizadas nas áreas de extração e nas empresas exportadoras constataram a exploração ilegal em terras indígenas e áreas públicas, fraude e desrespeito à legislação florestal. Em 2003, o governo federal criou uma legislação específica para a exploração de mogno na Amazônia, mas até hoje não existem empresas capazes de realizar o manejo do mogno de acordo com tais padrões.

(4) Atualmente, os melhores padrões e critérios de manejo florestal são os estabelecidos pelo FSC (Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal). O FSC é o único sistema de certificação independente que adota padrões ambientais internacionalmente aceitos, incorpora de maneira equilibrada os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos e tem um selo amplamente reconhecido no mundo todo. O sistema FSC assegura a integridade da cadeia de custódia da madeira desde o corte da árvore até o produto final chegar às mãos dos consumidores. O FSC oferece a melhor garantia disponível de que a atividade madeireira ocorre de maneira legal e não acarreta a destruição das florestas primárias como a Amazônia.