Lançado Plano de Turismo Sustentável na Bacia do Rio São Francisco

Gerar desenvolvimento social e econômico na região da Bacia do Rio São Francisco através da exploração do turismo é um dos principais objetivos do Plano de Turismo Sustentável na Bacia do Rio São Francisco, lançado hoje (23) em Brasília.

A meta, segundo Fernando Ferreira, coordenador de Turismo Sustentável do Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, é explorar o potencial dos recursos naturais da região de modo que haja, além do desenvolvimento do turismo, a melhoria da infra-estrutura local. Para ele, “o turismo sustentável pode contribuir significativamente para a revitalização do rio São Francisco”.

Fazem parte da Bacia Hidrográfica do São Francisco os estados da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e o Distrito Federal. O rio se estende por 2.700 quilômetros e atravessa quatro trechos, que correspondem às regiões geográficas do Baixo, Submédio, Médio e Alto São Francisco. Em cada uma dessas regiões, o turismo a ser explorado vai desde as praias fluviais e câniones até a cultura, gastronomia e folclores sertanejos.

No Baixo São Francisco, de acordo com o Plano, o Cânion do São Francisco e a Foz do Velho Chico, em Alagoas, e o Pólo Foz do Velho Chico, em Sergipe, são as principais regiões turísticas. A caatinga também apresenta grande potencial, mas o documento elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente ressalta que o baixo grau de escolaridade da população e o alto grau de pobreza, junto com a falta de água e pouca oferta de emprego, restringem o desenvolvimento socioeconômico da região. A degradação ambiental também é grande: apenas 2% da vegetação são protegidos por unidades de conservação.

No Submédio São Francisco, formado 25 municípios da Bahia, destacam-se o sítios paleontológicos e o passado histórico do Cangaço e da saga de Antônio Conselheiro. Também são destaques as unidades de conservação Raso da Catarina e Parque Nacional do Catimbau. “Esse é o grande interesse do turista: conhecer a história do sertanejo, como é que viveu Lampião. Como foi a história de Canudos. Hoje o sertanejo convive com o semi-árido e isso é atratividade turística”, explicou o coordenador. Ele acrescentou que “as unidades de conservação são o cerne do desenvolvimento do ecoturismo”.

A oferta de meios de transporte, hospedagem e alimentação aparecem com um dos principais desafios para o desenvolvimento do turismo na região. No Médio São Francisco, região formada por Minas Gerais, Goiás, Bahia e Distrito Federal, os parques nacionais são apontados como atrativos-chave. O Plano sugere a população seja instruída sobre o funcionamento do turismo na região, tipo ainda como atividade incipiente.

No Alto São Francisco, 40 municípios, divididos em três pólos turísticos, são grandes potenciais para o desenvolvimento da atividade. Eles compreendem o Parque Nacional da Serra da Canastra, o Lago Três Marias, o Parque Nacional da Serra do Cipó, além da nascente do São Francisco. Também apresenta vasto patrimônio cultural e, diferentemente dos outros trechos pelos quais o rio passa, possui infra-estrutura básica para o turismo.

Fernando Ferreira destaca que a principal vantagem da região da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco é o clima quente durante a maior parte do ano. “Isso facilita o acesso aos atrativos. São áreas de interesse turístico muito grande e que a gente pode transformar em produto turístico se nós tivermos infra-estrutura e serviços agregados a esses atrativo”

O Plano de Turismo Sustentável na Bacia do Rio São Francisco levou três anos para ser concluído. Ao todo foram identificadas 385 ações que deverão ser desenvolvidas ao longo da implementação do projeto. De acordo com Ferreira, elas serão iniciadas na Serra da Canastra e deverão alcançar populações de mais de 180 municípios da Bacia do São Francisco.

Fernando Ferreira informou ainda que parte dos investimentos para a implementação do Plano, cerca de R$ 13 milhões, provém do Programa de Revitalização do rio São Francisco, previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Oficina discute turismo sustentável no Baixo São Francisco

O Ministério do Meio Ambiente promove de amanhã (09/09) até sexta-feira, em Aracaju (SE), oficina de Integração e Planejamento do Turismo Sustentável no Baixo São Francisco. O evento é uma das ações do Programa Nacional de Ecoturismo da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do MMA, lançado este ano. O objetivo é iniciar processo de desenvolvimento de dois pólos de turismo na região do Baixo São Francisco: Pólo Foz do São Francisco, incluindo a APA de Paiaçabuçu, Penedo (AL) e Propriá (SE), e o Pólo do Cânion do São Francisco, incluindo Xingó e Paulo Afonso.

A proposta da oficina é discutir com os parceiros locais um planejamento estratégico participativo, com base nos principais projetos de turismo já existente, seja no âmbito federal e também nos estados e nas regiões envolvidas. As ações de capacitação nos pólos ecoturísticos estão sendo desenvolvidas pelo MMA por meio de parceria ou convênios com empresas e instituições de ensino.O Programa Nacional de Ecoturismo busca construir uma agenda multilateral e estruturar o desenvolvimento do segmento turístico no país, focalizando as áreas protegidas e seus entornos, onde se concentram os principais destinos ecoturísticos nacionais. São parceiros do evento: Ministério do Turismo, por meio do Programa Roteiros do Brasil; e o Programa de Turismo Sustentável do Baixo São Francisco da Codevasf.

Aproveitar o turismo é o maior desafio

formiga.jpgÉ inegável que os visitantes, a venda de capim dourado, a chegada do asfalto e da televisão; transformam a vida em cidades como Ponte Alta do Tocantins. Apesar do relativo isolamento que persiste para a população local, todo final de semana e principalmente durante as férias, cruzam a praça da cidade dezenas de carros importados preparados para enfrentar as estradas de terra, areia e lama.

Com o aumento do afluxo e da fama, um assunto que preocupa é o controle e o cuidado que devem ter os visitantes. Mesmo que vários jipeiros procurem preservar a natureza, as erosões provocadas por motoristas menos atenciosos preocupam. Os veículos com tração 4X4 abrem caminho para água passar pelo frágil solo arenoso do Jalapão. Cada pista improvisada no meio do mato tem potencial de se transformar numa enorme erosão em poucos anos.

A cachoeira da Formiga é um dos pontos turísticos que continuará aberto à visitação, por se encontrar fora das áreas da nova reserva. Foto: Fábio Pili.

Outros lugares, como o fervedouro, sofrem com abusos e excesso de visitantes. A mina dágua encanta pelo inusitado: é simplesmente impossível afundar. Nem mesmo um homem adulto, saltando de boa distância, com todo seu peso; consegue mergulhar. O fenômeno é explicado pelo lençol freático que aflora com força total. Uma prova da abundância da região.

Há cerca de dois anos as bordas do pequeno poço se romperam por causa do excesso de nadadores ávidos para sentir o impressionante efeito da corrente. As margens tiveram de ser escoradas por sacos de areia e a situação está temporariamente sob controle. A estimativa é que a solução improvisada resolva o problema por menos de dois anos.

florencio.jpgAlém disso, os grupos que vêm de todo o país passam, às vezes, sem deixar benefícios econômicos para os locais. As iniciativas de turismo de maior envergadura são raras e estão praticamente limitadas à única pousada de grande porte, localizada longe das cidades, e ao caminhão que faz uma espécie de safári pela região. Na prática, a estrutura turística é incipiente e os estímulos governamentais estão sempre ligados a apadrinhamentos políticos.

Seu Florêncio controla o acesso à cachoeira da Formiga, um dos principais pontos turísticos da região. Cada visitante paga uma taxa de R$ 5 pela entrada. Foto: Fábio Pili.

Em Ponte Alta, por exemplo, só agora começam a surgir os primeiros tímidos negócios relacionados ao turismo. A Pousada e Restaurante Planalto, o Hotel e Restaurante Coelho, o Hotel e Restaurante Turibe e o Restaurante Beira-Rio – que tem um ótimo PF com pescado frito – são os quatro únicos estabelecimentos do tipo localizados na cidade.

Entre eles, o destaque fica para a Pousada Planalto, administrado pela Dona Lázara Silva. A hospedaria não traz grandes luxos, mas acolhe o viajante como parte da família. Lembrando as antigas pousadas de interior, o visitante tem privilégios que nenhum hotel cinco estrelas oferece, como o direito a saborear um bolo de milho caseiro.

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A fé no Bom Jesus

A religiosidade do povo brasileiro expressa-se ao longo do Velho Chico: cada cidade, povoado e lugarejo, por menor que seja, conta com uma capela ou igrejinha. Às margens do rio, também está um dos mais famosos pontos religiosos do nordeste, o Santuário de Bom Jesus da Lapa. Verdadeira Meca dos sertões, a igreja regula a vida da cidade que leva seu nome e atrai milhares de romeiros todos os anos.

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Para o padre Tadeu Mazokievski a cidade precisa preparar-se para receber os turístas. Foto: Fernando Zarur

Considerada milagrosa, a gruta de Bom Jesus da Lapa tornou-se um dos maiores símbolos religiosos do interior. As histórias são muitas: paraplégicos voltam a andar e cegos a enxergar, inimigos se reconciliam, outros se arrastam de joelhos e há quem não agüente e morra só de tocar o chão sagrado. O povo se reúne aos milhares na esperança de conseguir favores e agradecer uma benção. Numa região de natureza sofrida e, principalmente, negligenciada por seus governantes, a gruta de Bom Jesus da Lapa representa a esperança na fé, muitas vezes a única que prevalece.

Por causa disso, na Bahia, o município só perde em potencial turístico para grandes centros como Salvador e Porto Seguro. Em 6 de agosto, 15 de setembro e 4 de outubro – Festa do Bom Jesus, Nossa Senhora da Soledade, Festa do Romeiro – mais de 200mil visitantes lotam a cidade de apenas 50mil habitantes. A estimativa anual indica um fluxo de turistas em torno de um milhão de pessoas. “Em dia de festa, não dá para andar, todo lugar tem gente”, explica Expedito Nunes, funcionário local da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).

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O escultor Cosmo Duarte ao lado do trabalho que leva oito meses para ser feito e não tem saída porque, segundo ele, o turista não fica mais na cidade. Foto: Fernando Zarur

Entretanto, esse fluxo de romeiros esbarra na falta de infra-estrutura local. Não existem leitos suficientes, e muitos precisam alugar quartos ou camas nas casas ao redor do santuário ou acampar nas margens do São Francisco. Segundo o padre Tadeu Mazokievski, esses problemas são recorrentes, resultado da falta de visão das administrações locais. Os únicos banheiros públicos da cidade, por exemplo, foram feitos pela diocese. “O povo, cada vez mais, desenvolve sua consciência, mas ainda tem medo dos nossos políticos. O prefeito sempre assume e pensa primeiro em empregar toda sua família e destruir o que foi feito na gestão anterior”, afirma o religioso.

O município não possuiu indústrias ou grandes plantações. Por isso, a economia depende quase unicamente do dinheiro trazido pelos romeiros e turistas. Com exceção dos funcionários contratados pela prefeitura ou pela Codevasf, o resto da população trabalha em função dos visitantes.

Para Mazokievski, parte do problema poderia ser solucionado com a criação de escolas técnicas e com mais interesse das administrações em trazer empresas para a cidade. Ele afirma que em duas oportunidades fábricas de doces e de sucos fizeram contatos com o município, mas desistiram por falta de incentivos.

Outro caminho seria a estruturação do turismo. Além de ser um marco religioso às margens do rio São Francisco, a cidade também é ponto de parada de turistas de Brasília e Goiânia com destino ao litoral baiano. “Eles vêem e passam uma noite aqui, antes de continuar viagem. Precisamos pensar em uma maneira de fazer com que passem um ou dois dias na cidade”, diz o artesão Cosmo Duarte, 36 anos fazendo carrancas.

Segundo o carranqueiro, o turismo religioso já existente não satisfaz as necessidades do comércio local: a maioria dos romeiros gasta pouco na cidade. Assim, o ideal seria a viabilização pela prefeitura de projetos de exploração sustentável do Velho Chico, transformando Bom Jesus da Lapa em um balneário.

Ecoturismo em São Roque de Minas

O município de São Roque de Minas tem um patrimônio ambiental invejável. Dentro de seus limites está localizado o Parque Nacional da Serra da Canastra (Parcanastra), uma das formações mais típicas de Minas Gerais, além de mais de 30 cachoeiras que passam dos 40 metros de altura. Isso sem falar que São Roque abriga as nascentes do rio São Francisco.

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Abraço às nascentes do rio São Francisco, em São Roque de Minas – MG. Foto: Marcello Larcher

Mas toda essa abundância pode estar ameaçada, não por indústrias poluidoras ou desastres ambientais, mas pela exploração desorientada do turismo na região. Foi o que contou à equipe da Expedição Américo Vespúcio o secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Edílson Romer de Faria.

“Nosso potencial turístico é único, mas o que existe hoje é um turismo espontâneo, que não sustenta um desenvolvimento econômico”, explica Edílson, relatando dados de que a cidade conta com mais de 700 leitos em hotéis e pousadas, além de áreas para camping. Mas mesmo com tanto movimento, segundo o secretário, os negócios de turismo não se sustentam com apenas picos durante feriados prolongados. “Que dono de pousada vai contratar pessoas se ele não sabe quando vai haver movimento novamente? São Roque precisa de um projeto de ecoturismo racional.”

ecoturismo_2.jpgAs dificuldades são muitas. A arrecadação de São Roque, embora seja um município extenso, depende quase que exclusivamente de repasses da União. Até mesmo o levantamento de potencial turístico, que depende da contratação de técnicos, não pôde ser feito, e o prazo para conseguir verbas para o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) encerra-se em abril. “Nem mesmo verbas para que eu participasse do encontro preliminar do PNMT semana passada conseguimos levantar no município”, contou Edílson.

Imagem de São Francisco colocada na nascente do rio, no alto da Serra da canastra. Foto: Fernando Zarur

Enquanto isso o prazo vai se fechando também para o patrimônio natural. Nos próximos meses a estrada até São Roque deve ser asfaltada e espera-se um aumento desenfreado de visitantes. Edílson teme que aconteçam cenas como as que foram vistas quando um grupo de motoqueiros organizou uma rota pelo meio da nascente do São Francisco, um terreno frágil, que mal pode ser pisado. Outro problema são os incêndios, cada vez mais freqüentes. O último, que destruiu 30% do Parcanastra, deixou um saldo de 20 tamanduás mortos. “Eu convido vocês em agosto do ano que vem para assistirem a outro grande incêndio”, indigna-se Edílson.